Quem pensa que as Olimpíadas são apenas um evento esportivo, tende a estar enganado. O atleta é o melhor case de inteligência emocional que se pode ter.
A preparação de um ciclo de quatro anos para um momento que, em muitos casos, dura segundos exige um controle emocional que se assemelha à luta diária do empreendedor no mundo dos negócios.
Um grande exemplo de sucesso em liderança, gestão de pessoas e inteligência emocional é Bernardinho, que como atleta e técnico da Seleção Brasileira de Vôlei soma mais de cinquenta conquistas, sendo sete delas medalhas olímpicas.
Sem essas soft skills, mesmo que haja talento, esses resultados não podem ser alcançados.
Então como tirar lições valiosas para a vida com os exemplos inspiradores das Olimpíadas? Continue lendo este artigo e adquira uma nova percepção sobre esse evento que move o mundo esportivo.
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A liderança é um fator primordial para conquistar um objetivo.
Sem ela, não há metas, não há senso de direção e muito menos um comando que te guia em um momento de dificuldade. Aliada à gestão de pessoas, a liderança é valiosa e imprescindível para a superação de obstáculos.
Alguns exemplos na história das Olimpíadas provaram que essas habilidades são essenciais para as conquistas, confira-os:
Os Super Eagles 96, como ficaram conhecidos os jogadores da seleção nigeriana de futebol das Olimpíadas de Atlanta de 1996 colocaram a África na trilha de conquistas do futebol masculino após uma virada histórica contra a tradicionalíssima Argentina.
Num contexto de um país dividido em centenas de tribos, que convivia com guerras diárias e problemas estruturais sérios, os nigerianos superaram essas adversidades, especialmente pela liderança do zagueiro Taribo West.
"Só o futebol poderia nos fazer esquecer desses problemas"
Lembra West, em um documentário que conta o feito histórico da Nigéria.
O jogo começou com um gol cedo dos argentinos, marcado por Carlos López aos 3 minutos da etapa inicial. Aos 28 minutos, a Nigéria respondeu com Celestine Babayaro, empatando a partida.
Hernán Crespo, de pênalti, colocou novamente os argentinos em vantagem, já na etapa final, aos 13 minutos. Faltando quinze minutos para o fim do jogo, Amokachi empatou o jogo e forçou a prorrogação.
No minuto inicial da prorrogação, Amunike fez o gol heróico que coroou a vitória nigeriana. A Nigéria conquistou a medalha de ouro no futebol masculino pela primeira vez em sua história e na história de qualquer país africano.
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Na história do esporte, poucas vitórias são tão doces como quando surgem de um confronto contra um rival de longa data.
No caso do vôlei masculino Brasileiro, sua luta contra a Itália na fase de grupos dos Jogos Olímpicos de Atenas 2004 foi um desses momentos marcantes.
A equipe italiana, reconhecida como uma força dominante do vôlei mundial, rapidamente começou o jogo, proporcionando um grande desafio para o Brasil.
Com certo equilíbrio, a seleção brasileira conquistou a vitória no primeiro set por 25 a 21. No entanto, no segundo set, tudo parecia começar a desmoronar: a Itália venceu por 25 a 15, não dando chance alguma para o Brasil.
Ainda assim, a equipe brasileira, liderada pelo experiente Bernardinho, estava pronta para a batalha. No terceiro set, domínio verde e amarelo e vitória por 25 a 16. Tudo encaminhado, só faltava combinar com os italianos.
Os azzurri não baixaram a cabeça e fizeram um quarto set extremamente eficiente, voltando a vencer por 25 a 21. Era a hora do tie-break.
E veio aí um dos momentos mais históricos do vôlei nas Olimpíadas. Para quem não conhece muito do esporte, o tie break acaba em 15 e não em 25, como é tradicional nos outros sets. No entanto, é necessário que uma equipe abra uma vantagem de dois pontos para o jogo ser encerrado.
Sessenta e quatro pontos foram necessários naquele set para sacramentar a vitória heróica brasileira, que venceu por 33 a 31, com 26 pontos do talentoso Giba, que viria a ser coroado como campeão olímpico alguns jogos depois.
Essa lição de resiliência ensinada por Bernardinho é uma das forças que mais movem os resultados, sejam eles esportivos ou corporativos.
Saber sair de um 25 a 15, vencer, voltar a perder e entregar o seu 100% para vencer no momento decisivo é saber gerir talento e liderar.
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Em Londres 2012, a seleção brasileira de vôlei feminino enfrentou um começo de competição difícil, com duas derrotas consecutivas. No entanto, sob a liderança do técnico José Roberto Guimarães, a equipe se reergueu e traçou um caminho brilhante rumo ao ouro olímpico.
As derrotas para a Coreia do Sul (3-0) e Estados Unidos (3-1) na fase de grupos não abalaram o emocional das jogadoras, que mesmo se classificando apenas na última rodada contra a Sérvia, avançou e se reergueu.
Zé Roberto, com sua experiência e habilidade na gestão de pessoas, soube como motivar suas jogadoras e reestruturar a estratégia da equipe.
A recuperação começou a tomar forma com vitórias convincentes nas partidas seguintes. No último jogo, contra as sérvias, por exemplo, o Brasil fez um set de 25 a 10, o que mostrava que, àquela altura, todo o moral já havia sido reerguido.
Jogadoras como Sheilla, Fabiana e Jaqueline se destacaram, demonstrando habilidade, determinação e trabalho em equipe. A cada jogo, a seleção brasileira mostrava mais coesão e força, superando adversários fortes e avançando na competição.
Na final, o Brasil enfrentou os Estados Unidos, uma das equipes mais fortes do torneio. No entanto, a seleção brasileira, agora confiante e unida, dominou a partida.
Com uma performance impressionante, venceram por 3 sets a 1, mesmo resultado que haviam perdido durante a fase de grupos, conquistando a medalha de ouro.
A conquista do ouro em Londres 2012 foi mais do que uma vitória esportiva. Foi a prova de que a resiliência, a gestão eficaz e a liderança inspiradora podem superar qualquer desafio.
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Os esportes coletivos destacam o poder da liderança e da gestão de pessoas, mas os esportes individuais são os que colocam à prova a inteligência emocional dos atletas.
Fazendo um paralelo com a vida no dia-a-dia empresarial, os donos de negócio são líderes e gestores de pessoas em atividades coletivas, mas precisam da inteligência emocional para tomar uma decisão sozinho, confiando em si mesmo.
Abaixo, você vai conhecer algumas histórias de superação e resiliência que podem inspirar qualquer gestor:
Em Sydney 2000, Rodrigo Pessoa era o melhor do mundo montando em cavalos. Chegou aos jogos olímpicos com o favoritismo de vencer a sua prova e garantir o ouro, e enfrentou um desafio ainda maior naquele ano.
O Hipismo era a última chance de medalha de ouro do Brasil, que, naquele momento, encontrava-se zerado no quadro de medalhas.
Rodrigo subiu no seu cavalo para fazer a prova final, mas foi surpreendido quando o animal refugou em um dos obstáculos e acabou por desclassificar o seu conjunto.
Os percalços do acaso jamais podem definir o que um atleta ou um gestor é. Sorte, azar, são coisas do jogo, mas o que define o resultado é a constância, é a regularidade.
Quatro anos depois, Rodrigo já não estava entre os favoritos nas Olimpíadas de Atenas. No entanto, seu trabalho duro o recompensou. A sorte já não era um fator. Subiu em seu cavalo e foi premiado com a medalha de prata.
Uma semana depois, o atleta que havia conquistado a medalha de ouro foi desclassificado ao ser pego no exame antidoping. A sorte virou a favor do Rodrigo, que nos ensina uma lição: você está preparado para o seu momento de sorte?
Às vezes, ser bom não é suficiente. Muitas vezes, a sua concorrência te estimula a ser muito melhor do que você seria sem que ela existisse.
No caso de Thiago Pereira, a prata teve gosto de ouro. Imagine ser um nadador com tempos espetaculares, mas ter o infortúnio de competir na mesma geração do melhor nadador da história, Michael Phelps.
Esse é o caso de Thiago, que além da companhia de Phelps, ao longo de sua carreira olímpica teve como pedra no sapato os também históricos Ryan Lochte e Laszlo Cseh.
Quinto lugar em Atenas 2004 e quarto lugar em Pequim 2008, Thiago foi um dos melhores nadadores brasileiros de todos os tempos, mas até então sem subir ao pódio olímpico.
Foi em 2012 que o trabalho duro recompensou Thiago Pereira, que deixou para trás Michael Phelps nos 400m medley e conquistou a medalha de prata.
Sem essa companhia, ele provavelmente não teria números tão impressionantes, pois estar entre os melhores o estimulou a ser melhor.
É importante se fazer essa pergunta: estou entre os melhores? O meu redor me estimula a dar o melhor de mim? Esse é o aprendizado que podemos tirar com o legado de Thiago Pereira.
Em 2008, Diego Hypólito era uma jovem promessa de 22 anos, um dos grandes candidatos à medalha no solo. No entanto, na última acrobacia de seu solo, caiu e ficou sem medalha.
Em 2012, já mais maduro e no auge de sua carreira com 26 anos, Diego tentou novamente a medalha no solo, mas uma nova queda o tirou do pódio, o que parecia ser uma sina em sua vida.
Sem inteligência emocional, qualquer pessoa no lugar de Diego Hypólito desistiria ou entraria em uma crise de autoestima profunda.
Especialmente pensando que os próximos jogos olímpicos, em 2016, seriam no Brasil, na terra natal de Diego.
Aos 30 anos, idade que já é tardia para atletas de ginástica artística, Diego foi desacreditado por muitos, especialmente por seu histórico. Como um grande exemplo de mente forte, venceu as dúvidas e conquistou uma medalha de prata.
“Em Pequim, caí de bunda. Em Londres, de cara. No Rio, caí de pé”
Diego Hypólito, ao ganhar a medalha de prata no solo.
Mesmo passado o auge de sua carreira, mesmo com tropeços no plural, Diego Hypólito provou que o poder da inteligência emocional rende frutos para quem não se abala com derrotas, mas as usa como motivador para a vitória.
Ser uma das maiores ginastas de todos os tempos não impede que os problemas de autoestima e desconfiança te afetem. Simone Biles é um grande exemplo disso.
Depois de colecionar medalhas nas Olimpíadas do Rio em 2016, chegou a Tóquio com uma atuação discreta e depois saíram os rumores sobre seu estado mental.
Mesmo quando somos os melhores, não há vergonha em admitir que o estado mental pode nos afetar. O mental comanda o corpo, comanda as ações, comanda o discernimento.
A volta por cima é o que nos constrói. Simone Biles volta a Paris 2024 já medalhando com a final por equipes e sendo favorita em vários equipamentos na final individual de ginástica artística.
O ciclo de quatro anos, o hiato, esse tempo é importante para maturar as ideias, reforçar a capacidade mental, trabalhar duro e voltar melhor.
Muitas vezes, o tempo é necessário para curar e nos reerguer e Simone é um grande exemplo de que até os melhores precisam cuidar da sua inteligência emocional.
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