Falar de Web3 (também chamada de W3 ou World Wide Web 3.0) é percorrer um caminho permeado por adventos tecnológicos com grande potencial para impactar e subverter o establishment. E, por isso mesmo, gerador de muita dúvida e discussões.
Antes de dividir meus insights sobre o tema, é importante reconhecer que a expressão – Web3 – cunhado por Gavin Wood e Vitalik Buterin (cofundadores da Ethereum), em 2014, é o “novo petróleo” no mundo da tecnologia.
Por isso, é possível dizer, com segurança, que se a internet demorou 30 anos para atingir o modelo atual, para se desdobrar em uma nova fase será muito mais rápido. Acredito que, antes de julgar ou ignorar uma tendência, devemos entender minimamente sobre ela e seus efeitos. Essa humildade intelectual nos ajuda a formular nossas próprias opiniões.
Recentemente, por exemplo, a plataforma de streaming Spotify anunciou publicamente estar na batalha pela conquista da Web3 e informou estar em busca de profissionais que ajudem a empresa a construir os seus sonhos dentro dessa nova tecnologia.
Entre as vagas disponíveis na startup estão: gerente sênior de Inovação e Inteligência de Mercado, com expertise em tendências emergentes e engenheiro de back-end sênior para ajudar a "descobrir a próxima oportunidade de crescimento alavancando novas tecnologias".
Segundo estudo realizado pela consultoria Gartner:
"Até 2024, 25% das empresas integrarão aplicativos e serviços com aplicativos Web3 descentralizados".
Mas, afinal de contas, o que é essa tal nova geração da internet? E por que ela está gerando tanto interesse do mercado e de seus grandes players?
Pensando em responder essas e outras perguntas, o G4 Educação lançou um curso gratuito e on-line de Web3 para negócios. A ideia é apresentar quais são os potenciais impactos da nova geração da internet nos empreendimentos. Se esse assunto te interessa, inscreva-se pelo formulário abaixo:
Metaverso, blockchain, NFT, 5G... Essas são apenas algumas das tendências tecnológicas envolvidas no desenvolvimento da nova geração da internet.
No entanto, antes de falar quais são as características da Web 3.0 e como ela funciona, é importante compartilhar o panorama sobre as suas duas versões anteriores, reforçando quais foram as transformações geradas e o que muda com a terceira geração.
Criada por Tim Berners-Lee em 1990, a World Wide Web (WWW) tinha como principal objetivo democratizar o acesso à informação. De forma simplificada, a Web 1.0 permitia a conexão entre diversos recursos com base em links de hipertexto. Foi nesse período em que as páginas da web começaram a aparecer.
Nesse cenário, a internet era bem estática quase como uma revista. Diversos conteúdos disponibilizados eram basicamente retirados do mundo offline e passados para o online e eram feitos primordialmente por desenvolvedores.
O consumo de informações via web era restrito a àqueles poucos que detinham acesso na época, assim como era uma via de mão única, onde os usuários podiam apenas ler os textos, sem fazer nenhuma consideração ou criar algo próprio, enquanto a produção de conteúdo era proveniente quase que exclusivamente de portais, a exemplo de UOL e Terra aqui no Brasil.
Com a Web 2.0, o foco passou de uma pequena quantidade de pessoas produzindo uma grande quantidade de conteúdo para uma grande quantidade de pessoas produzindo ainda mais conteúdo.
As páginas estáticas ganharam vida e muitas delas passaram a permitir que o usuário fizesse comentários e considerações sobre as informações que ali constavam.
As redes sociais aceleraram o movimento de interação e possibilitaram o crescimento exponencial dos conteúdos gerados pelo usuário, fazendo com que a internet ganhasse mais acesso e dinamismo.
Em 2007, com o lançamento do Smartphone, o acesso via mobile ampliou drasticamente tanto a base de usuários quanto o tempo de uso da Web: passamos do uso da internet durante algumas horas por dia em nossos desktops para um estado de full time connected depois que o navegador, os sistemas de busca, os aplicativos e notificações estavam agora em nossos bolsos.
Em sua essência, a internet de hoje permitiu uma conexão global por meio de um conjunto de intermediários, fornecendo uma camada de confiança social digital para que estranhos interajam: do Facebook à Amazon.
Mas há um problema. Você acaba sendo um produtor de conteúdo na plataforma dos outros, ou um fornecedor dentro da plataforma de outra empresa e a sua operação fica à mercê das regras desse intermediário, caso ele opte por aumentar o fee ou resolva te tirar do jogo.
Assim, culminamos em um cenário onde nossos relacionamentos são majoritariamente interligados por intermediários e cobra-se uma taxa alta para se estar ali. Faz parte do mercado, ok…
Mas e se conseguíssemos criar relações de confiança sem a figura dos intermediários? Quanto de valor permaneceria em nossas mãos? O quanto de risco operacional seria reduzido?
Mais que isso, o grande problema da Web 2.0 é que quem controla o servidor centralizado tem acesso a muitos dados. Em um cenário ideal, essas informações seriam usadas para aumentar a qualidade da nossa experiência online. Mas, na realidade, os dados estão sendo vendidos para anunciantes.
É exatamente sobre isso que se trata essa nova fase que vem crescendo: a WEB3 - um formato que propõe trazer o controle do poder, dos dados e do capital para os usuários, ao derrubar a necessidade da figura do intermediário.
Originalmente, a Web3 foi chamada de Web Semântica pelo inventor da World Wide Web, Tim Berners-Lee, e foi concebida como uma internet mais autônoma, inteligente e aberta.
Também conhecida como o futuro da internet, trata-se de um espaço em que as pessoas operam em plataformas descentralizadas, quase anônimas. Isso significa deixar de ser refém de gigantes da tecnologia como Google, Facebook e Twitter.
A Web 3.0 é uma rede que tem como fundamentos ser:
Ao contrário da centralização da Web 2.0 – vigilância de dados e publicidade data-driven – as tecnologias descentralizadas que explodiram nos últimos anos proporcionaram os fundamentos rumo à descentralização de dados e a uma Internet muito mais transparente e segura.
Em outras palavras, se a Web2 tornou o usuário o produto, a Web3 torna o usuário o proprietário do conteúdo. Assim, do dinheiro à informação, todas as trocas são realizadas sem a necessidade de empresas de tecnologia, instituições financeiras ou quaisquer outros intermediários.
Nesse sentido, a nova geração da internet, formada por comunidades e indivíduos portadores de ativos digitais, possui o token como um de seus elementos centrais. O token é o elemento que registra a propriedade que o usuário tem sob um ativo.
Outro desdobramento originado da evolução do uso da blockchain foi a criação de contratos inteligentes ou smart contracts. O smart contract é a automação de contratos em código que garante que regras, previamente definidas entre as partes, sejam cumpridas a partir de condições imutáveis definidas em código.
Por exemplo, hoje já é possível definir termos de pagamento de um seguroviagem ou combinar um determinado valor de pagamento de serviço, caso determinada meta seja batida pelo contratado, sem dar brechas para desacordos.
Assim, com tal capacidade de fortalecimento da confiança entre os indivíduos e uma relação peer-to-peer que viabiliza maiores ganhos entre os membros, a rede logo se estruturou socialmente em comunidades abertas, jogos e, por fim, em organizações 100% dentro da estrutura crypto, entre elas, os DAOs, que vêm em um crescimento exponencial.
DAO é uma Organização Autônoma Descentralizada que se baseia em regras com um propósito comum escritas em código por meio de smart contracts (contratos inteligentes).
Para ser considerada descentralizada, a organização precisa ser administrada pelos seus próprios membros, ou seja, independente de uma autoridade central (como bancos e governos, por exemplos).
O seu grande objetivo é fornecer uma estrutura automatizada e sem intermediários, para evitar as limitações impostas pela burocracia e subordinação e, principalmente, garantir que os membros da comunidade apresentam propostas para alterar ou melhorar o protocolo continuamente.
Isso é, literalmente, uma revolução na forma como pessoas e instituições se relacionam. Portanto, o design de rede dos DAOs combina, perfeitamente, com a base da 3ª geração da internet, alimentando uma nova economia de criadores e o futuro do trabalho.
Atualmente, já é possível falar de cases que nos trazem exemplos práticos de soluções de WEB3 que vão muito além dos NFTs.
Segundo a PwC, o crescente interesse das organizações por essa nova tecnologia pode ser mensurado, já que o blockchain pode adicionar US$ 1,76 trilhão ao PIB global até 2030, o equivalente a 1,4% da economia global.
Ainda, conforme o estudo acima mencionado, 61% dos CEOs colocam a transformação digital no TOP3 de suas prioridades. Especialmente, porque os novos modelos de gestão (gestão libertária, gestão 4.0...) priorizam a tecnologia e os dados para ajudar na tomada de decisões dentro de uma empresa.
Pensando nisso, é fundamental contextualizar as companhias e mercados que estão na dianteira desse processo.
Na indústria de soluções de streaming, LivePeer, LBRY e Ujo Music já estão fornecendo uma plataforma descentralizada com muito mais transparência no modelo de trabalho e remuneração.
Desta forma, dentre todos os benefícios trazidos pela Web3, podemos citar: mais igualdade de oportunidade de exposição (ainda menos gatekeepers), redução de problemas e alegações de copyrights e muito menos censura e regras criadas por entidades centralizadoras.
Já no ecossistema de redes sociais, podemos citar eChat, Obsidian e Ysign como exemplos de aplicativos descentralizados de comunicação que oferecem mais privacidade e proteção contra uso de dados para advertising.
Em termos de armazenamento de dados, Storj, Sai e Filecoin se destacam trazendo maior facilidade para mover arquivos entre os seus serviços, mais segurança dos dados com o reforço de criptografia (que não poderão ser acessados por uma entidade centralizadora, afinal, quem garante que o Google não observa tudo que está no drive?) e de uma maneira mais barata e integrável com IoT.
Por fim, sem a pretensão de esgotar o assunto, mas finalizando o rol de empresas Web3, vale enfatizar a poderosa indústria de Finanças e Seguros, que através de startups como a AiGang, Everledger, Cashaa e Safe Share, estão facilitando a auditoria de dados, movimentações crossborders e afins, a integração entre diferentes players e oferecendo menos fraudes, graças à confiabilidade da rede blockchain.
A internet sempre foi sobre conectar pessoas. Entretanto, a Web 3.0 emergiu como uma forma disruptiva de repensar essa estrutura, colocando os usuários no centro e trazendo novas formas mais colaborativas de relacionamento, como as comunidades, em que os próprios membros são donos delas.
Apropriando-se dessa filosofia de colaboração, as Organizações Autônomas Descentralizadas cresceram de forma avassaladora em 2021, formadas por pessoas com objetivos convergentes.
Cases, dados, opiniões de especialistas, empresas emergentes e o comportamento do consumidor apontam para um futuro diferente do que vimos até agora, com um horizonte descentralizado que empodera o indivíduo.
Apesar do futuro ser incerto, dada a aceleração das transformações, um ponto já é claro: a forma como conhecemos a internet agora, vai mudar e há muita gente e capital dedicados a isso nesse instante.
Nosso papel enquanto líderes é manter a postura investigativa e proativa que nos trouxe até aqui para irmos além. Afinal, você vai ser um figurante ou um protagonista, que domina a Web3 e sabe usá-la para transformar para sempre a sua forma de comprar, vender e lucrar?