Investir nos pilares de governança corporativa é essencial para o sucesso e a sustentabilidade de uma empresa, pois ajuda não só a garantir a continuidade do negócio, como a criar valor para os stakeholders envolvidos no processo.
Embora o conceito de governança corporativa exista há séculos, o termo atribuído aos Estados Unidos só se popularizou após 1970 quando a SEC (Securities and Exchange Commission), agência reguladora federal norte-americana, trouxe a questão à tona exigindo que cada empresa listada na Bolsa de Valores tivesse um comitê de auditoria composto por diretores independentes do seu Conselho.
Em 1976, essa nomenclatura apareceu pela primeira vez no Federal Register, o jornal oficial do governo federal.
De fato, a discussão sobre dar equilíbrio de poder e tomada de decisão entre diretores, executivos e acionistas vem evoluindo há anos em uma tentativa de evitar o conflito de interesse e escolhas pouco transparentes.
Na década de 1980, o governo de Reagan resistia à uma reinicialização regulatória. No entanto, a partir dos anos 90, investidores, acionistas e lideranças finalmente começaram a se preocupar mais com as companhias com as quais trabalhavam.
Após o colapso econômico de 2008,essa atenção voltou a crescer. De repente, todos queriam respostas sobre como as empresas se comportaram e como tomavam decisões internas.
“Muitos dos maiores escândalos corporativos foram devidos a estruturas de governança precárias”.
Afinal, se uma organização fracassa ou, em alguns casos, opta por não agir em nome da boa governança corporativa, sua decisão poderá ter efeitos catastróficos em cadeia. Assim, quando uma empresa começa a seguir esse caminho, não é uma questão de “se”, mas de “quando” ocorrerão problemas.
Governança corporativa é um conjunto de práticas e políticas que visam assegurar a efetiva gestão das empresas, garantindo a transparência, prestação de contas e o equilíbrio entre os interesses de todos os envolvidos: acionistas, conselheiros, gestores, colaboradores, fornecedores e clientes.
Tão importante quanto a governança familiar e a governança societária, ela busca a criação de valor a longo prazo, a partir do desenvolvimento sustentável e do fortalecimento da reputação da empresa.
Mais que isso, ela é crucial para garantir a confiança dos investidores e a sustentabilidade das empresas, sendo adotada por empresas de diferentes setores e portes ao redor do mundo, sendo regulamentadas por órgãos reguladores e avaliadas por meio de indicadores específicos, tais como o índice de governança corporativa (IGC).
Além disso, a divulgação de informações financeiras claras e precisas é uma de suas principais práticas, produzindo maior credibilidade junto aos investidores e à sociedade. De acordo com um estudo feito pela Deloitte, marcas não abertas e não transparentes são um dos maiores motivos pelos quais os consumidores perdem a confiança em uma companhia.
Em relação à composição e à atuação do conselho de administração, vale ressaltar que, por ser responsável por tomar as decisões estratégicas e supervisionar a gestão da empresa, é fundamental que ele seja composto por membros independentes, experientes e com conhecimentos técnicos adequados. Além disso, o conselho deve atuar de forma proativa, antecipando riscos e oportunidades e promovendo a inovação e a sustentabilidade da empresa.
Como visto, companhias que adotam políticas de responsabilidade social e ambiental têm maior valor agregado e são mais valorizadas pelo mercado.
Um exemplo de empresa que adota boas práticas de governança corporativa é a Natura, uma das maiores empresas de cosméticos do Brasil. A empresa possui um conselho de administração que atua na definição das estratégias e na fiscalização da sua gestão, adota um código de ética e conduta próprios e realiza auditorias externas independentes para garantir a transparência e a eficácia da sua gestão.
“Isso reforça a questão do aprimoramento da governança corporativa, tão buscada pelas empresas no Brasil. Para garantir as melhores práticas de governança é preciso ter conselheiros independentes, que trazem imparcialidade e garantem que todos os acionistas, majoritários ou minoritários, sejam considerados no processo decisório."
As empresas familiares são comuns em todo o mundo e, segundo o índice Global de Empresas Familiares, apenas em 2021, geraram US$ 7,28 trilhões em receitas e empregaram 24,1 milhões de pessoas. Apesar desses números, elas têm desafios únicos que precisam ser encarados.
Um desses desafios é garantir que as práticas de governança corporativa sejam implementadas e cumpridas adequadamente, pois as relações entre seus membros e a empresa tendem a se misturar, levando a graves conflitos de interesses.
Para garantir a transparência, a prestação de contas e o equilíbrio entre os interesses dos acionistas e o da companhia, vejamos como essa governança impacta nas empresas familiares e quais são as melhores práticas para garantir o sucesso e a continuidade desses negócios.
Segundo a pesquisa “2019 Global Family Business Survey”, quase metade (45%) de todas as empresas familiares em todo o mundo usam apenas uma ferramenta de governança familiar, 22% adotam duas ferramentas e 33% usam três ou mais.
Em particular, empresas familiares que adotam três ou quatro desses recursos apresentam níveis mais elevados de orientação e desempenho empreendedor em comparação com empresas familiares que adotam apenas um.
Entre as ferramentas adotadas com mais frequência estão: ter mulheres no conselho (31%), estabelecer um processo de sucessão (16%), implementar estatutos familiares (16%) e estabelecer um conselho de administração formal (11%).
Em resumo, os pilares de governança são fundamentais para empresas familiares, pois ajudam a garantir que elas operem de forma transparente, ética e com foco em longo prazo.
A governança corporativa é uma das áreas mais críticas da gestão empresarial e atinge diretamente as empresas familiares brasileiras, já que é responsável por garantir a transparência, a prestação de contas e a eficácia na tomada de decisões.
Pensando nisso, vamos explorar algumas estratégias para otimizar sua governança e garantir que ela se torne uma alavanca de crescimento para o seu negócio.
A primeira etapa para otimizar a governança corporativa é estabelecer uma cultura forte de governança em toda a empresa. Isso significa que todos os colaboradores, desde a liderança até os funcionários de nível operacional, devem entender a sua importância e trabalharem juntos para implementá-la de forma consistente.
Para estabelecer esse modus operandi, líderes e gestores devem comunicar claramente os valores e princípios da companhia e garantir que essa cultura organizacional esteja alinhada e seja incorporada em todas as suas políticas e processos.
Como dito anteriormente, é imprescindível ter objetivos claros e uma estratégia de longo prazo definida, mas isso não é tudo. Essa estratégia deve ser comunicada de forma cristalina e objetiva aos stakeholders e deve ser avaliada regularmente para garantir que esteja alinhada com as metas e valores da empresa.
Além disso, é essencial que os atores envolvidos nesse processo estejam comprometidos em manter essa metodologia a longo prazo, mesmo em meio a desafios e mudanças no ambiente de negócios.
Ter um conselho de administração independente é crucial para garantir a governança corporativa efetiva e, no Brasil, a participação desse modelo cresceu de 35% para 61% em sete anos, segundo divulgado pela Folha de São Paulo.
No gráfico abaixo, fruto de uma pesquisa feita pela consultoria organizacional Korn Ferry, é possível observar esse movimento crescendo gradativamente ao longo dos anos:
Um conselho composto por membros independentes que tenham experiência e habilidades relevantes para a empresa é capaz de monitorar a gestão e garantir que a organização esteja operando de forma transparente, ética e em conformidade com as regulamentações aplicáveis.
A gestão de riscos é uma parte crítica da governança corporativa. Por isso, as empresas devem implementar uma política clara e abrangente que identifique, avalie e gerencie os potenciais riscos para o negócio.
Isso ajudará a minimizar os incidentes, aumentar a eficiência operacional e garantir a continuidade do negócio.
A transparência é fundamental para a governança corporativa efetiva. As empresas devem garantir que estejam divulgando informações relevantes e precisas aos stakeholders, incluindo acionistas, investidores, colaboradores e clientes.
Além disso, é importante que a empresa esteja disposta aprestar contas sobre suas atividades e a tomar medidas corretivas, caso necessário.
Por fim, as empresas devem estar comprometidas em acompanhar de perto o desenvolvimento das melhores práticas de governança corporativa para garantir que se esteja operando de forma responsável.
Isso atrai mais investimentos e aumenta a confiança dos investidores, já que eles estão em busca de companhias que possam oferecer uma gestão sólida e transparente, como sinal de que a organização está comprometida em operar de forma adequada.
De igual modo, ajuda a construir uma reputação sólida e positiva da empresa, fundamental para atrair e reter talentos, clientes e parceiros de negócios, bem como para manter a credibilidade e o respeito da sociedade e do mercado em geral.
Conforme levantamento feito pelo Brown Brothers Harriman, o mais antigo e um dos maiores bancos privados dos Estados Unidos, existem alguns itens-chave que devem ser observados ao se iniciar o processo de criação de uma estrutura de governança em negócios familiares.
Dessa forma, será possível planejar a sucessão da liderança, gerenciar com sucesso a transição e preparar o caminho para as gerações futuras.