Após o quiet quitting, novos movimentos estão surgindo na indústria de recrutamento como uma espécie de antídoto para a demissão silenciosa: quiet firing, quiet hiring e fatFIRE são alguns deles. Saiba o que cada um desses termos têm em comum.
Da Grande Demissão ao quiet quitting e dos microintervalos ao esgotamento, existem diversas tendências na era da pós pandemia que estão remodelando o mercado de trabalho.
Após o isolamento social, em que a maioria dos colaboradores precisou operar sob condições excepcionalmente estressantes, veio o cansaço e a necessidade de reavaliar a vida profissional, a saúde mental e as necessidades pessoais.
De acordo com uma recente pesquisa da Gallup, apenas 15% dos funcionários estão ativamente engajados no trabalho, o que significa que até 85% podem desistir silenciosamente.
Dito isso, conforme levantamento realizado pela Conference Board no contexto norte-americano, a ausência de engajamento no trabalho custa às empresas de US$ 450 a 500 bilhões por ano e pode chegar a US$ 1,5 trilhão em todo o mundo. Vejamos, então, quais são os principais efeitos colaterais desse produto e como lidar com cada um deles.
O quiet firing ou quiet fire é um mecanismo de resposta dos empregadores em relação ao quiet quitting. A ideia é que os funcionários que estão dispostos a apenas fazerem o mínimo para manterem seus empregos sejam motivados, através de táticas passivo-agressivas, a deixarem os seus empregos voluntariamente, gerando um círculo vicioso que afeta severamente a cultura do local de trabalho e a retenção de talentos.
"A demissão silenciosa é um rebranding de um conceito que já existe há algum tempo. É quando os gerentes perdem a fé na capacidade dos membros de sua equipe de fazer seu trabalho. Ao invés de darem feedback direto ou oportunidades para desenvolver novas habilidades, eles esperam que a pessoa se autosselecione".
A causa raiz por trás dessas ações é que os gestores não estão preparados para lidar com problemas de desempenho e falta transparência. Entre as suas principais características, podemos citar: tarefas sendo realocadas para outros funcionário, ausência de feedbacks, falta de comunicação ou check-ins, dentre outros.
Nesse sentido, o ResumeBuilder.com conversou com 1.000 gerentes - que possuem pelo menos um subordinado direto - e concluiu que:
Quase 1 em cada 3 gerentes admitem a demissão silenciosa, e pelo menos 83% dos trabalhadores já viram ou enfrentaram isso no local de trabalho!
Por isso, o quiet firing pode ser sinal claro de uma liderança fraca que, ao invés de "ignorar" o problema, deveria estar preparada (ou se preparando) para aprender com esse contexto e tomar medidas sustentáveis para construir uma cultura organizacional mais significativa e aberta, na qual ninguém se sinta incentivado a recorrer aos extremos.
"FIRE" é a sigla para Financial Independence (independência financeira), Retire Early (aposentar-se cedo) e "Fat" faz menção a uma "gordurinha" na poupança. A ideia por trás desse conceito é a de que, se você puder economizar até 25 vezes seus gastos anuais, provavelmente poderá viver desse dinheiro por 30 anos usando a regra dos 4%, criada por William Bengen e divulgado em 1994 no Journal of Financial Planning.
Se a pesquisa da Gallup demonstra que, pelo menos, 50% da força de trabalho dos EUA é atualmente composta por quiet quitters, o FatFIRE é a resposta dos próprios colaboradores para essa tendência, já que estes últimos objetivam justamente o contrário. Segundo Mario M. Salmon:
"Se desistir silenciosamente é simplesmente fazer o mínimo exigido por um trabalho em busca de um equilíbrio entre trabalho e vida mais igualitário, FatFIRING defende o oposto. Ele diz às pessoas para se inclinarem para o trabalho em vez de se curvarem e se apressarem o máximo que puderem para obter a mesma coisa que a maioria dos trabalhadores deseja: liberdade."
Assim, em linhas gerais, podemos dizer que aqui os trabalhadores se envolvem o máximo possível com o seu trabalho, objetivando ganhar a maior quantidade de dinheiro possível e se aposentar rápido, tendo uma boa condição financeira.
De acordo com a Forbes, um funcionário precisaria acumular, aproximadamente, US$ 2,5 milhões para ter cerca de US$ 100.000 por ano para viver com tranquilidade. No entanto, apenas 10% das pessoas parecem estar mirando nessa meta:
A regra 25x também faz algumas suposições de que suas economias gerarão pelo menos uma taxa de retorno anual de 4%, acima da inflação. Embora não seja uma fórmula exata, é um indicador útil para fornecer uma estimativa de quanto é necessário economizar para financiar totalmente a aposentadoria desejada.
Assim, para Alex Bryson, professor de ciências sociais quantitativas da University College London, enquanto a geração Z, os mais jovens no início de suas carreiras, podem considerar com mais facilidade desistir silenciosamente para ter uma vida mais gratificante, os millennials e as gerações mais velhas podem estar mais inclinados a se tornarem FatFIREs.
O quiet hiring (ou contratação silenciosa, em tradução livre) é um método de recrutamento que visa desenvolver os talentos de alto desempenho na companhia para o avanço na carreira. A ideia é aprimorar os indivíduos que já estão indo além, talvez até assumindo responsabilidades adicionais, para comprovar que eles têm, realmente, o que é preciso para se destacar em uma determinada função.
A justificativa é que as pessoas de alto desempenho entregam 400% mais resultados do que o funcionário médio, conforme dados da Personnel Psychology. Nutrir esses indivíduos, indicá-los para promoção e cobri-los com altos salários e benefícios faz sentido para os negócios. Na verdade, o próprio Google utiliza essa estratégia como parte do seu plano de recrutamento.
De igual modo, o estudo da SHRM, em relação aos especialistas de Recursos Humanos, mostra que 51% desses profissionais estão preocupados com a demissão silenciosa e no impacto negativo que isso pode vir a ter em uma organização:
Portanto, o quiet hiring pode ser considerado como uma resposta e uma tentativa do RH de atrair e estimular os quiet quitters a se tornarem mais ativos em suas equipes de trabalho.
Não existe uma fórmula secreta para deixar todos os seus funcionários motivados e engajados, mas implementar uma cultura de employee experience é um excelente ponto de partida.
Mesmo que haja sinais de que a “Grande Demissão” está diminuindo, a retenção de funcionários ainda deve ser uma prioridade para os empregadores – especialmente quando o custo de substituir um é de metade a duas vezes mais o seu salário anual, conforme levantado pela Gallup.
Afinal, as pessoas que sentem que suas empresas se preocupam com eles são mais propensas a confiarem e investirem tempo em suas atividades. Assim, juntos, além de desenvolver novas habilidades, é possível criar locais de trabalho mais holísticos, reconhecendo o indivíduo em seu todo e não apenas como uma engrenagem do maquinário corporativo.