Estruturar um negócio familiar é uma jornada desafiadora. Contudo, a governança familiar pode ser uma ótima maneira de fortalecer os vínculos e priorizar o futuro da companhia - sem deixar de lado as relações entre os membros.
Construir um negócio bem-sucedido não é fácil, e quando ele está em família tende a ser ainda mais desafiador conquistá-lo.
Uma vez que o sucesso relaciona-se diretamente com a capacidade que uma companhia tem de se perpetuar ao longo do tempo, uma empresa familiar enfrenta obstáculos expressivos para sobreviver entre uma geração e outra.
De acordo com dados da PwC citados em uma matéria da CNN, somente 36% dos negócios familiares passam para a segunda geração - taxa que reduz ainda mais na terceira 19% e na quarta geração 7%.
O que dá errado?
Uma vez que a instituição familiar é a base que garante seu pleno funcionamento - quando não há uma administração adequada, o vínculo pessoal pode gerar conflitos que culminam em decisões pouco estratégicas, além de processos sucessórios malsucedidos.
Para evitar que isso aconteça, temos a governança - um sistema que reúne práticas, regras e processos que orientam uma companhia e garante a saudabilidade do negócio.
Assim, os pilares de governança nas empresas familiares são distribuídos em diferentes eixos:
Sem que ordene os processos e as relações de maneira eficaz, os problemas tendem a se acumular, e o que poderia ter sido resolvido rapidamente toma proporções difíceis de administrar, e que na pior das hipóteses, culmina no fim do negócio.
Neste artigo, vamos entender melhor o que compreende a governança familiar e porque ela não deve ser deixada de lado se o objetivo é perpetuar um negócio familiar.
Como mencionado, a dinâmica familiar é um elemento chave desse modelo de negócios, e tem influência expressiva sobre seu sucesso ou fracasso.
A governança familiar é responsável justamente por organizar e orientar essa dinâmica, oferecendo recursos adequados para as relações interpessoais e decisões de negócios.
Assim, com base em valores compartilhados, missão, visão e propósito, a governança familiar é uma estrutura que facilita a tomada de decisões da família sobre seu patrimônio.
Quando programada e implementada adequadamente, esse eixo de governança permite:
Em resumo, a governança familiar permite que a família administre o negócio de maneira mais saudável - principalmente conflitos de interesse -, que sem uma diretriz clara, podem levar à dissolução ou venda da empresa, além de confrontos que podem afastar definitivamente os membros do núcleo familiar.
Com o potencial de diminuir esses desentendimentos, deve ser decidida em conjunto e documentada, estabelecendo a orientação necessária para um futuro mais assertivo e próspero.
É importante destacar que as relações pessoais são indissociáveis desse tipo de negócio, e muitas vezes, envolvem pontos sensíveis, como poder, falta de confiança e centralização de decisões. Segundo uma pesquisa da PwC, somente 16% dos entrevistados no Brasil disseram nunca ter tido uma discordância na família, enquanto para 13% os confrontos são regulares.
Nesse sentido, a governança familiar deve ser encarada como uma maneira de fortalecer a tomada de decisão conjunta, superando qualquer conflito pessoal e garantindo que o legado da família seja preservado - considerando seus valores e crenças.
Embora esse eixo deva ser encarado com o mesmo profissionalismo e importância que os demais, o progresso ainda está abaixo do ideal.
De acordo com o estudo da PwC, cerca de dois terços dos participantes (63% no Brasil e 66% no mundo) disseram que os membros da família se comunicam regularmente sobre o negócio, mas 21% dos entrevistados no mundo afirmaram não possui mecanismos formais para lidar com possíveis áreas de conflito.
Uma vez que o conflito é inevitável, possuir maneiras de resolvê-lo é uma vantagem competitiva que qualquer empresa - principalmente as familiares -, devem trabalhar para alcançar. Para ajudá-los nesse processo, a governança familiar é fundamental, gerenciando conflitos e ajudando a tomar decisões melhores.
“Os mesmos relacionamentos que permitem a essas organizações atuar e se adaptar rapidamente também podem desacelerar suas decisões e segurar seu avanço.”
É certo que o relacionamento entre os membros acaba por adicionar camadas complexas de gestão e administração aos negócios familiares, portanto, uma maneira de melhorá-lo é investir em iniciativas que simplifiquem e potencializem a comunicação.
Assim, para otimizar a governança familiar podemos implementar reuniões de conselho e assembleia familiar - práticas que priorizam a comunicação entre os familiares.
À medida que a família e o negócio expandem, é fundamental garantir que as partes interessadas mantenham-se alinhadas. Nesse sentido, montar um conselho com representantes de diferentes áreas para planejar e pensar na criação de políticas, por exemplo, é ideal para fortalecer o vínculo entre família e empresa.
Realizar assembleias familiares é uma ótima opção para manter todos atualizados. Além de reforçar valores e a cultura central da família, potencializa o senso de pertencimento e de legado, incentivando os membros a trabalharem juntos.
É possível incluir discussões sobre decisões estratégicas, principais perspectivas a médio e longo prazo, demonstrações financeiras, impacto de novas leis e políticas tributárias, e até oficinas de capacitação.
Embora as práticas e iniciativas possam apresentar uma estrutura padrão, é essencial se atentar às especificidades do negócio familiar. Se as regras são implementadas sem levar em consideração o contexto e os objetivos da empresa, dificilmente haverá uma resolução de problemas efetivos, pelo contrário, camuflará situações que precisam ser resolvidas.
Portanto, considerar a dinâmica familiar, interesses, valores e propósito é fundamental para implementar uma governança familiar bem estruturada.
“Como e quando iremos passar nossa empresa para a próxima geração?” “Quais objetivos queremos alcançar enquanto família?” “Que valores queremos estabelecer?” “Como podemos assegurar que a família permaneça unida?” “Como nós solucionamos conflitos?”.
Essas e outras questões permeiam inúmeras empresas familiares que podem utilizar a governança familiar, para trabalhar na harmonia familiar, mantendo o legado e a união da família em primeiro lugar.
Muitas vezes, tentamos responder a questionamentos com as respostas que devem ser direcionadas a outras frentes, desconsiderando que é necessário implementar Governanças.
“Muitos donos de empresas familiares dedicam bastante tempo ao negócio, mas bem menos às questões familiares. Em geral, a sensação é de que eles não têm problemas, então não há razão para reservar tempo para discutir aspectos da família. Mas se você não dedicar tempo a isso, ou só o fizer em caso de conflito, será tarde demais.”
Em um cenário no qual apenas 17% das empresas familiares no Brasil possuem um sistema de resolução de conflitos estabelecido, desenvolver o eixo de governança familiar pode se converter em uma grande vantagem competitiva.
As gerações mais novas tendem a priorizar os valores e o propósito da empresa para continuarem à frente dos negócios. Uma maneira de incentivá-los é justamente fortalecendo o senso de pertencimento.
Simplificando, para que um negócio familiar sobreviva, é necessário que cada nova geração tenha espaço e as ferramentas necessárias para encontrar o seu próprio jeito de funcionar, e isso só é possível através de uma boa governança - que garantirá a perpetuidade da família e do negócio.