Quando falamos sobre o que é blockchain, pensem em uma forma nova e digital de manutenção de registros.
Imagine que você está em um supermercado e você escaneia o QR code do seu café favorito. Ao fazer isso, você tem acesso a detalhes sobre onde os grãos de café foram colhidos, limpos, selecionados, processados e depois torrados.
Dito isso, imagine se você também pudesse rastrear o fornecimento e a distribuição para saber quais os meios de transporte utilizados para transportá-los e quanto tempo levou para que eles chegassem nos diversos estabelecimentos que os comercializam?
Neste caso, a tecnologia blockchain veio com esse intuito: ajudar a registrar informações em cada etapa e disponibiliza-las a todos de forma transparente, aumentado a confiança e a segurança com a qual realizamos certos processos, sejam eles envolvendo transações financeiras ou não.
Além disso, por mais que ainda existam pessoas que não sabem ou são céticos sobre o que é blockchain, outros projetam que esse mercado terá um crescimento exponencial nos próximos anos, podendo chegar a valer US$39,7 bilhões de dólares em 2025, segundo informações divulgadas pela Statista.
Blockchain é a tecnologia subjacente que muitas criptomoedas –por exemplo, Bitcoin e Ethereum– operam, porém o seu jeito único de gravar e transferir informação de forma segura vai muito mais além do “reino” das criptomoedas.
A blockchain é um tipo de livro-razão distribuído e essa tecnologia permite a manutenção de registros em vários computadores, conhecidos como “nós”. Qualquer usuário de blockchain poder ser considerado como “nó”, mas nem todo usuário conseguirá necessariamente ser um, pois essa tecnologia requer muito poder computacional para poder operar.
Os “nós” verificam, aprovam e guardam dados dentro desse livro-razão. Dito isso, esse processo é diferente dos métodos tradicionais de manutenção de registros, que armazenam dados em um localização centralizada como, por exemplo, o servidor de um computador.
O blockchain organiza a informação adicionada ao livro-razão em blocos (ou grupos de dados), com cada bloco suportando uma quantidade específica de informação que, consequentemente, faz com que novos blocos sejam agregados de forma contínua ao livro-razão, formando um corrente.
Cada bloco possui um único identificador, conhecido como “hash” criptográfico –um conjunto de números e letras que podem ter até 64 dígitos. Esse “hash” não só protege a informação dentro do bloco de qualquer pessoa que não possua o código de acesso, mas também protege o lugar do bloco ao longo da cadeia, identificando o bloco que veio antes dele.
Uma vez que a informação é adicionada ao blockchain e criptografada com a “hash”, ela se torna permanente e imutável.
Se alguém adulterasse ou invadisse um computador e manipulasse os dados para seu próprio benefício, isso não alteraria as informações armazenadas por outros "nós" já que o registro alterado pode ser facilmente distinguido e corrigido, pois não corresponde à maioria.
A tecnologia blockchain foi delineada pela primeira vez em 1991 por Stuart Haber e W. Scott Stornetta, dois matemáticos que queriam implementar um sistema onde os carimbos que registravam a data e a hora em cada documento não pudessem ser adulterados.
No final dos anos 90, Nick Szabo propôs o uso de uma blockchain para proteger um sistema de pagamentos digitais, conhecido como bit gold (que nunca foi implementado).
No entanto, muitos atribuem a invenção do blockchain a Satoshi Nakamoto, um dos personagens mais enigmáticos das criptomoedas e que nunca teve sua real identidade revelada. Por conta disso, não se sabe ao certo se o nome se refere a uma única pessoa ou a um grupo de pessoas.
Segundo a Coding Tech, empresa britânica especializada em educação STEAM (ciência, tecnologia, engenharia, arte e matemática), a persona Satoshi Nakamoto foi a primeira em combinar criptografia com computação distribuída de diferentes maneiras para criar um modelo onde uma rede de computadores colaborasse para manter um banco de dados compartilhado e seguro.
Em 2008, seu artigo chamado “Bitcoin: A Peer-to-Peer Electronic Cash System” (em português: Bitcoin: o sistema de caixa eletrônico entre pares), Nakamoto disse que, uma vez que a moeda digital não existe no espaço físico, usá-la em uma transação não a remove necessariamente da posse de alguém.
Dito isso, por conta que esse modelo requer um alto nível de confiança, Nakamoto propôs uma abordagem descentralizada para as transações, culminando na criação de blockchains.
A persona da Satoshi Nakamoto também esteve envolvida durante os primeiros dias do Bitcoin –principal criptomoeda da atualidade– em 2009, quando trabalhou na primeira versão do software. Contudo, esse envolvimento foi supostamente concluído no ano seguinte.
Ainda assim, há quem diga que a persona de Nakamoto possui entorno de 1 milhão de Bitcoins, o que seria equivalente, hoje, a mais de US$50 bilhões.
Por último (e como curiosidade), no dia 20 de maio de 2020, o Whale Alert, sistema mais avançando de rastreamento e análise de blockchain que relata grandes transações à medida que elas acontecem, fez uma postagem em seu perfil do Twitter (abaixo) que causou muito barulho entre os simpatizantes do tema.
Para ilustrar o funcionamento, selecionamos um exemplo de como o blockchain é usado para verificar e registrar as transações de Bitcoin.
No caso da Bitcoin, entretanto, sua blockchain é publica, o que significa que qualquer pessoa que possuir um Bitcoin pode verificar o registro de transação. Dito isso, embora possa ser difícil rastrear a identidade por trás de uma conta, o registro consegue mostrar quais contas estão realizando transações no blockchain.
As blockchains públicas também permitem que qualquer usuário com o poder computacional necessário participe da aprovação de registro de transações na blockchain como um todo. Ainda assim, por mais que o conjunto de participantes possa ser menor em uma blockchain privada, ela não perde a sua essência de descentralização entre esses participantes.
Blockchains privados mantêm a segurança de quaisquer dados armazenados no banco de dados usando os mesmos métodos de criptografia.
No entanto, nem todas as blockchains são públicas e muitas delas são projetadas para serem registros privados, onde o dono pode limitar que poder fazer alterações ou adições no blockchain.
A ideia de se ter um registro de informação seguro e decentralizado gerou interesse em diversos setores, sendo potencialmente a solução para muitos problemas atuais de segurança, manutenção de registros e propriedade de dados.
Assim como vimos, com o lançamento do Bitcoin em janeiro de 2009, esse blockchain específico teve sua primeira aplicação no mundo real. Em outras palavras, o protocolo do Bitcoin é construído sobre um blockchain.
O Bitcoin apenas utiliza o blockchain como um meio de protocolar, de forma transparente, um registro de pagamentos. Por sua vez, o blockchain pode, em teoria, ser usado para registrar imutavelmente qualquer número de pontos de dados, sejam transações bancárias, eleições, escritura de casas, entre outras.
Outra criptomoeda em destaque é o Ethereum. No entanto, a diferença entre ela e Bitcoin é o fato de que o Bitcoin nada mais é do que uma moeda, enquanto o Ethereum é uma tecnologia de livro-razão que as empresas estão usando para construir novos programas. Tanto o Bitcoin quanto o Ethereum operam através da tecnologia blockchain, mas o Ethereum é muito mais robusto.
Para entender melhor o Ethereum, ressaltemos primeiro que a tecnologia blockchain está sendo usada para criar aplicativos que vão além de apenas habilitar uma moeda digital.
Dito isso, além de ser a maior e mais bem estabelecida plataforma de software descentralizada, o Ethereum permite que a implantação de contratos inteligentes sejam executados e aplicativos descentralizados (dApps) sejam criados sem qualquer tempo de inatividade, fraude, controle ou interferência de terceiros.
Além disso, ao ter sua própria linguagem de programação rodando em uma blockchain, o Ethereum permite que os desenvolvedores construam e executem aplicativos distribuídos.
Atualmente, milhares de projetos buscam implementar blockchains de diversas maneiras para ajudar a sociedade, projetos que vão muito mais além de simplesmente registrar e facilitar as transações monetárias. No gráfico abaixo, entretanto, podemos observar como setor bancária lidera na distribuição do valor de mercado do blockchain, seguido de produção, serviços e varejo.
O blockchain nos oferece a tecnologia para trasladar a informação de forma segura e para que tenhamos praticamente 100% de certeza sobre a autenticidade de qualquer informação que você queira protejer.
Consideremos, por exemplo, o caso de diversas celebridades que lucraram com a venda de propriedades digitais como os NFTs (tokens não-fungíveis); os NFTs são representações/certificados digitais de um ativo único/insubstituível que tem sua comprovação de propriedade através de dados armazenados no blockchain.
Por conta que o registro subjacente do blockchain é imutável, os NFTs permitem que os vendedores possam verificar a autenticidade digital de um ativo. Quando você compra um NFT, a transação é adicionada ao registro do blockchain e passa a ser um registro verificável de propriedade.
O blockchain ajuda a estabelecer o valor de arte e colecionáveis digitais de forma semelhante a suas contrapartes físicas, oferecendo essa oportunidade as pessoas que desejam verificar a autenticidade de um trabalho digital. Além disso, em teoria, isso possibilita a que criadores sigam obtendo valor encima de suas obras uma vez que recebem royalties por cópias dessas feitas no digital.
Além disso, um dos casos de uso mais impactantes da tecnologia blockchain talvez seja na proteção e transferência de dados pessoais. Neste caso, imagine se a sua informação bancária fosse armazenada na blockchain.
Uma vez que você abrisse sua conta em uma instituição financeira, ou transferisse informações entre instituições, um registro de blockchain te ajudaria a garantir, com rapidez e segurança, que a transferência ou a nova conta criada seja precisa e legítima ao usar as informações sobre você que já estão armazenadas.
De acordo com Vikas Agarwal, partner na área de consultoria de serviços financeiros da PricewaterhouseCoopers (PwC), a tecnologia blockchain tem potencial em quase todos os setores, pois todas as industrias possuem algum tipo de informação que desejam intercambiar de forma segura.
Para ilustrar ainda mais, tomemos o exemplo das votações:
Ao longo deste artigo, fomos desde a explicação sobre o que é blockchain, como essa tecnologia funciona, sua distinção perante as criptomoedas, além de algumas vantagens que podem ser geradas em certos processos ao implementar essa tecnologia.
Dito isso, separamos as principais vantagens, assim como algumas desvantagens sobre essa nova tecnologia revolucionária que nos impulsionará a ter operações mais decentralizadas como também experiências mais imersivas como, por exemplo, o tão badalado metaverso.
Vantagens:
Desvantagens:
Hoje, assim como mencionado no começo do artigo, o mercado se encontra em ascensão, porém algumas empresas especializadas no desenvolvimento dessa tecnologia tem ganhado bastante destaque nos últimos anos.
A principal, e quiçá mais conhecida a nível global, é a americana Coinbase, listada na bolsa Nasdaq em abril de 2021, gerando uma receita de quase US$6 bilhões e alcançando um valor de mercado acima dos US$50 bilhões. A empresa se especializa em infraestrutura financeira, incluindo serviços de transação e tecnologia projetada para a economia criptográfica.
Fechando o top 5, temos a Monex Group Inc. (Japão), a Bit Mining Ltd. (Hong Kong), Canaan Inc. (China) e Voyager Digital Ltd. (Estados Unidos).
Como curiosidade, apesar destas últimas já serem grandes neste mercado, a Coinbase ainda se encontra bem a frente se comparamos a receita e o valor de mercado de todas –com exceção da Coinbase, a Monex Group é única das outras 4 principais que tem um valor de mercado acima do bilhão de dólares (US1,7), mas que teve sua receita abaixo dessa faixa.
A tecnologia blockchain vem observando um crescimento exponencial, impulsionado nos últimos anos por conta da recente popularidade do Bitcoin, Ethereum e outras criptomoedas.
Atualmente, empresas e governos a nível global continuam testando e implementando a tecnologia blockchain, porém, como muitos sabem, uma grande mudança, quem dirá completa, não acontecerá de um dia para o outro.
No entanto, é possível dizer que cada vez mais veremos a tecnologia blockchain se tornar sinônimo de operações comerciais e governamentais mais precisas, eficientes e seguras e com menos intermediários. Ou seja, cada vez mais veremos uma descentralização nos processos possibilitada pelo blockchain.
Por último, uma vez que cada vez mais pessoas começam a entender exatamente o que é blockchain, não é mais uma questão de saber se as principais empresas irão abraçar essa tecnologia, mas sim uma questão de quando. Hoje, vemos uma proliferação de NFTs e a tokenização de ativos, porém as próximas décadas provarão ser um importante período de crescimento para o blockchain.