Bootstrapping: o que é e como fazer?

Bootstrapping: o que é e como fazer?

Por:
G4 Educação
Publicado em:
17/5/2021
Atualizado em:

É fato que as bootstrapping startups encaram alguns desafios adicionais, já que não recorrem a capital externo, mas também desfrutam de uma série de benefícios por isso.

Se você conhece sobre o universo das startups, provavelmente sabe o que é bootstrapping. Se sim, entende que este é um modelo muito interessante a se seguir, mas pode ser que tenha algumas dúvidas sobre como elas realmente conseguem existir e resistir ao passar do tempo.

O termo parece complicado, mas o conceito de bootstrapping está muito mais próximo da realidade dos empreendedores do que se pode imaginar em um primeiro momento. Inclusive, até mesmo quem não está familiarizado com startups pode já ter tido uma iniciativa similar ao longo de sua vida.

Muitas das maiores empresas do mundo começaram com este modelo, como Apple, eBay, Facebook, GoPro, Microsoft e SAP, além do próprio G4 Educação, todas provas vivas de que há desafios a serem superados, mas que o resultado pode ser fascinante.

Entenda exatamente o que são startups bootstrapping, quais são suas características, os desafios, os benefícios e o que fazer para conseguir ingressar neste modelo.

O que é bootstrapping?

No contexto das startups, bootstrapping consiste em um negócio que começa com capital próprio do fundador ou de seus sócios, sem recorrer a investimentos externos, sejam eles feitos por meio de um investidor anjo, de um hedge fund ou de qualquer outro meio.

O bootstrapping é escolhido por empreendedores que não desejam se sujeitar às limitações impostas pelos investidores e, portanto, querem mais autonomia na condução de seus negócios, mesmo que isso signifique percorrer um trajeto mais desafiador e demorado.

Geralmente, no início de um negócio, os recursos são escassos e limitados. De acordo com uma pesquisa da Kabbage, ⅓ dos pequenos negócios de sucesso começam com menos de US$ 5 mil.

À primeira vista, especialmente se este valor for convertido em reais, pode parecer que este é um montante significativo. Porém, ao fazer uma análise mais assertiva, comparando com o salário mínimo praticado nos Estados Unidos, vemos que este não é um valor tão alto.

De acordo com o site U.S. News, no ano de 2021, o estado que tem o menor salário mínimo (lá, cada estado tem autonomia para definir esta questão) é a Flórida, com US$ 8,65/hora.

Outra pesquisa, agora da Gallup, indica que, em média, a semana de trabalho de quem trabalha em tempo integral nos Estados Unidos é de 47 horas. Multiplicando por 4 semanas, chegamos à conclusão que a jornada média é de 188 horas por mês.

Considerando as bases salariais da Flórida, portanto, quem trabalha neste estado tem um salário mínimo de US$ 1.626. Logo, para conseguir guardar US$ 5 mil, seriam necessários pouco mais de 3 meses de trabalho, desconsiderando qualquer despesa neste exemplo.

Sem mais delongas com os valores, a ideia que queremos trazer aqui é que US$ 5 mil consistem em um valor significativo, de fato, mas que de acordo com as bases salariais do país norte-americano e de seus estados, é plausível para muitas realidades.

Portanto, no final das contas, boa parte das empresas e startups começam no modelo de bootstrapping, mesmo sem saber disso, e nada impede que elas cresçam significativamente, até de maneira exponencial.

Bootstrapping startups são um bom negócio?

Com certeza. Os desafios são diferentes das empresas que contam com capital externo, mas não há dúvidas de que este é um bom caminho a percorrer.

Um artigo da Harvard Business Review, publicação de enorme prestígio e renome internacional, escrito por Ryan Smith, co-founder e chairman executivo da Qualtrics, tem um título bem instigante: “Why Every Startup Should Bootstrap”, ou seja, “por que toda startup deveria fazer bootstrap”, em tradução livre.

Além de toda a credibilidade da HBR, o autor também tem muito lastro. De acordo com o Yahoo! Finance, o market cap (capitalização de mercado) da Qualtrics passa dos US$ 19 bilhões.

Uma citação, em tradução livre, explica ainda melhor a ideia que ele transmite em seu conteúdo:

“Embora pegar dinheiro de investidores possa parecer o caminho para o sucesso, o bootstrapping tem várias vantagens.”

Tais vantagens serão apresentadas no decorrer deste conteúdo, mas uma citação de alguém tão qualificado quanto Smith confirma que, sim, startups que optam pelo caminho do bootstrap tomam uma decisão bastante acertada.

Apenas startups podem fazer bootstrapping?

Não. Embora este seja um termo geralmente associado às startups, empresas tradicionais também podem iniciar com este mesmo modelo.

Em nosso artigo sobre o que é startup, a diferença entre ela e uma empresa tradicional é explicada com maior riqueza de detalhes. Porém, em suma, uma startup é um negócio com modelo escalável (com receita que cresce de maneira desproporcional em relação ao custo) e replicável (modelo que pode ser repetido).

Portanto, mesmo que a sua empresa não seja necessariamente uma startup, nada impede que ela inicie com o modelo de bootstrapping, sem recorrer a investimentos externos, e seja muito bem-sucedida.

O que é necessário para fazer bootstrapping em uma startup ou empresa?

Embora não exista apenas um único caminho a seguir, quem sabe o que é bootstrapping entende que alguns passos podem ajudar a colocar este modelo em prática.

O site Investopedia trouxe alguns passos sobre o que é preciso para fazer bootstrapping, os quais foram adaptados para refletir melhor o que pensamos, aplicamos e ensinamos aqui no G4 Educação:

Tenha boas ideias, mas foque na execução

Quando se tem uma grande ideia de negócios, uma boa recomendação é dividi-la em uma série de ideias menores e, então, executar a startup na melhor porção. Depois, com o passar do tempo, você continua com as outras seções.

O que realmente traz resultados não é a ideia propriamente dita, mas sim a execução que será feita com base nela. Neste sentido, Tallis Gomes, fundador e mentor do G4 Educação, tem uma citação bastante interessante, compartilhada pelo jornalista Milton Jung depois de uma entrevista com ele na Rádio CBN:

“Ninguém está nem aí para ideia. Meu avô costumava dizer que ideia vale 10 centavos a bacia. É uma grande verdade. O difícil é a gente executar alguma coisa, ter um produto ‘entregável’ que as pessoas pagariam por ele.”

Focar nos lucros

São os lucros que trazem recursos a uma empresa que optou pelo bootstrapping, já que ela não conta com investimentos externos. Isso traz uma mudança bastante importante em relação ao mindset de gestão de empresas que foram financiadas por venture capital ou por um investidor anjo.

Nas companhias que recebem investimento externo, o crescimento costuma chegar muito mais rápido. Afinal, elas possuem recursos para investir na contratação de vários talentos, na escolha de boas ferramentas e tecnologias e no desenvolvimento de produtos e serviços de maneira relativamente rápida.

Por outro lado, quem optou pelo bootstrap pode não conseguir crescer tão rápido assim, pois é necessário ser comedido com as tomadas de decisão. Ao sempre olhar para os lucros, mesmo que o crescimento seja mais lento, ele será sustentável, o que é fundamental nessa situação.

Cabe ressaltar, porém, que isso não impede que empresas e startups com capital próprio cresçam significativamente, já que elas podem recorrer a técnicas e práticas de Growth Hacking para que este crescimento ocorra de maneira rápida, inteligente e viável.

É importante que as empresas com bootstrap sempre tenham um foco muito claro nos lucros. Se por um lado isso pode diminuir um pouco sua capacidade de execução e o encontro de um ponto de inflexão 

Desenvolver soft skills

As hard skills (habilidades técnicas) são essenciais para criar uma empresa ou startup de sucesso. Porém, não podemos deixar de lado a importância das soft skills (habilidades comportamentais) para conseguir conduzir o negócio da melhor maneira possível.

Entre tantas habilidades importantes, fica o destaque para resiliência, perseverança e coragem, além, é claro, de conhecer os tipos de liderança e desenvolver melhor os gaps que ainda existem em relação ao que considerar melhor.

Leia também: Liderança: o que é, técnicas e como ser um ótimo líder

Tornar-se um melhor empresário

Bootstrapping

Embora seja intuitivo, não é demais destacar a importância de se tornar um melhor empresário. Dessa forma, será possível guiar a empresa com máxima excelência, tomando decisões inteligentes e bem planejadas.

Como ter uma startup sem investimento de terceiros?

Existem diversas formas de se iniciar uma startup sem depender do investimento e capital de agentes externos, como os seguintes:

  • Capital próprio: ter uma renda ou poupança guardada torna-se uma opção viável, desde que haja um bom planejamento para investir e equilibrar as contas pessoais;
  • Empréstimo / financiamento: é uma opção, mas é preciso avaliá-la com muito cuidado e atenção por conta do prazo e dos juros, já que corre-se o risco de fazer uma grande dívida e não ter como pagar depois;
  • Crowdfunding: algumas empresas conseguem fazer o negócio funcionar através da ajuda financeira dos próprios clientes;
  • Patrimônio próprio: há também a possibilidade de vender alguns bens próprios para conseguir iniciar uma startup, mas o cuidado e a cautela também são muito necessários antes de decidir algo deste tipo;
  • Modelo de negócio alternativo: é possível criar um negócio paralelo que seja capaz de pagar suas contas;
  • Faturamento próprio: este acaba sendo a forma mais saudável de manter seu negócio, pois suas dívidas são pagas de acordo com seu faturamento.

Como já dito, é necessária a cautela, mas o bootstrapping funciona e pode transformar sua startup em um grande negócio.

Vantagens do bootstrapping para startups e empresas

São muitos os benefícios colhidos por quem opta em não ter financiamento externo para começar uma companhia, como os seguintes:

Baixo custo para começar o negócio

O bootstrapping é barato, já que você pode começar a trabalhar com o dinheiro que tiver disponível, independentemente de qual seja o montante.

É claro que quanto maior o valor, mais fácil tende a ser a criação e o desenvolvimento da empresa. Porém, além disso, a economia que se faz necessária neste primeiro momento permite ter mais clareza nos gastos da empresa, o que está de acordo com o conceito de Lean Startup.

Mais concentração para construir o negócio

Criar um negócio não é tarefa fácil: da definição de processos à construção da cultura organizacional, são vários desafios para lidar. Porém, justamente pelo bootstrapping não demandar todo o estresse e empenho necessários para conquistar capital externo, sobra mais tempo para conduzir a empresa.

Com isso, o empreendedor tem mais tempo para olhar para algumas questões estratégicas, como vendas e desenvolvimento de produtos.

Boa imagem passada a potenciais investidores

O fato de uma empresa ou startup ter começado com bootstrap não significa que ela nunca possa conquistar capital externo. Porém, justamente pelas bases financeiras da empresa terem sido levantadas pelos próprios fundadores, a imagem passada a potenciais investidores pode ser ainda melhor.

Na prática, eles olham para aquele negócio e enxergam uma gestão responsável e com bastante profissionalismo, que conseguiu coordenar e gerenciar bem seus estágios incipientes, com recursos escassos, e que por isso tem grandes chances de replicar esse sucesso quando houver mais dinheiro disponível.

Autonomia para tomada de decisões

Sem investidores externos, já que quem investe no modelo de bootstrapping são apenas os fundadores, eles têm controle total sobre a empresa e seu equity. Isso significa que o poder para a tomada de decisões não é diluído entre diferentes partes, da criação de um MVP à precificação dos produtos.

Na prática, os fundadores são seus próprios chefes, o que significa que são inteiramente responsáveis por decisões cruciais na operação e no crescimento da companhia. Isso permite que ela sempre caminhe de acordo com o que eles desejam e planejam.

Além de evitar conflitos e desgastes, tal autonomia é interessante para perpetuar a cultura daquela empresa e mantê-la dentro dos trilhos que foram definidos por seus fundadores.

Maior participação nos lucros

Uma consequência de não ter investidores externos é que todos os lucros obtidos com o crescimento da empresa ficarão apenas com os fundadores, o que é uma vantagem e tanto para quem deseja aumentar seu capital.

Desvantagens do bootstrapping para empresas e startups

São muitas vantagens, de fato, mas é importante também analisar as desvantagens para tomar uma decisão mais acertada.

Problemas com o fluxo de caixa

Como não há muito capital e fluxo de caixa, é possível que apareçam alguns problemas se a empresa não gerar o capital que ela precisa para desenvolver novos produtos e crescer.

Neste ponto, a falta de expertise e conhecimento dos empreendedores, com destaque ao que tange à visão de negócios, pode resultar na estagnação da companhia ou em um crescimento mais lento que o possível.

Problemas de equity entre muitos fundadores

Quando há mais de um fundador, questões de equity podem ser um problema. Isso é uma possibilidade quando existem divergências em relação ao investimento de dinheiro, experiência e/ou tempo na companhia, por exemplo.

Além de eventuais problemas de relacionamento, questões tributárias também podem incidir neste sentido.

Uma forma de amenizar este problema é deixar bem documentado todo o investimento financeiro feito por cada uma das partes, já que este é o ponto com maior probabilidade de gerar divergências.

Caso alguma situação desagradável ou inesperada surja na relação entre os fundadores, uma alternativa sempre muito bem-vinda é procurar um advogado para saber qual é a melhor maneira de lidar com a questão.

Eventual estresse pessoal

Será necessário saber como lidar com situações estressantes no dia a dia, como quando parte das finanças vieram de amigos ou membros da família, já que dinheiro costuma ser um assunto bastante complicado de tratar.

Além de ter em mente que isso pode acontecer em algum momento, quem tem uma empresa ou startup que optou pelo bootstrapping e recorre a tais pessoas para conquistar fundos precisa ter uma comunicação muito clara com eles para tentar amenizar divergências e deixar tudo bem transparente.

Maior risco de problemas financeiros

De fato, o bootstrapping permite muito mais controle da empresa, além de maior lucratividade. Porém, por outro lado, os riscos de prejuízos e até de eventuais falências também aumenta.

Uma razão comum pela qual companhias com bootstrapping enfrentam problemas é a falta de receita, como quando a receita não é suficiente para arcar com todas as despesas.

Começar uma empresa por conta própria e sem investimento externo demanda muito trabalho – às vezes, inclusive, não remunerado. Por isso, é preciso avaliar com cuidado essa questão e analisar quais pessoas estariam dispostas a ajudar, como amigos, colegas ou familiares, por exemplo.

Empresas e startups bootstrapping de sucesso

Entre vantagens e desvantagens, há muitos negócios extremamente bem-sucedidos que começaram com o modelo de bootstrapping, como os seguintes:

  • Apple
  • Cisco
  • Coca-Cola
  • Dell
  • eBay
  • Facebook
  • Hewlett-Packard (HP)
  • Microsoft
  • Oracle
  • SAP

Startups brasileiras que usaram o bootstrapping

Olhando para o cenário nacional, também temos exemplos de grandes nomes do empreendedorismo brasileiro que usaram o conceito e comprovaram que, desde que bem aplicado, torna-se viável criar e desenvolver um negócio sem investimento externo.

Sympla

Este é um exemplo de empresa que usou o conceito para crescer. Durante muito tempo, ela recorreu apenas ao seu próprio faturamento para o negócio, criando uma maior autonomia para seu desenvolvimento.

Decora

A startup, criada por Gustavo do Valle e Paulo Orione (hoje mentor da imersão em vendas G4 Sales), é um dos maiores cases de bootstrapping brasileiros. A companhia tinha como propósito realizar imagens virtuais de produtos de decoração para empresas varejistas.

Criada a partir de uma ideia dentro da universidade estadual de Santa Catarina, ela não recebeu aporte financeiro, apenas os recursos dos próprios sócios. Em 2018, a startup foi vendida por US$ 100 milhões para a CreativeDrive, então ainda sem investimentos externos.

Xtech

Outro exemplo é a Xtech, idealizada pelo nosso mentor Alfredo Soares. A empresa, que propositalmente tinha seu nome parecido com o da VTEX, oferecia plataformas de e-commerce para clientes de pequeno e médio porte.

Usando também do faturamento próprio para bancar seu crescimento dentro do mercado, a estratégia foi muito bem-sucedida: em maio de 2017, a Xtech foi adquirida pela VTEX, que abriu capital na bolsa de valores de Nova York em julho de 2021.

Bootstrapping: é possível criar uma startup ou empresa sem investimento externo

Toda empresa tem seus riscos, independentemente de ter sido financiada por um fundo de investimentos, por um investidor anjo ou apenas por seus fundadores. Embora a última opção possa denotar um caminho mais difícil, a potencial recompensa faz todo o esforço valer a pena.

Se você deseja seguir o caminho do bootstrap em sua startup, é essencial estudar e aprender com quem entende sobre a criação, desenvolvimento e pivotagem de startups por já ter passado isso na pele e, logo, colhido vários ensinamentos únicos em sua trajetória.

Depois de entender o que é bootstrapping, conheça o G4 Startups e aprenda como criar uma startup com um manual prático ensinado por quem já construiu empresas bilionárias e tem track record de sobra para orientar quem está em busca do sucesso com seus negócios.

FAQ - Dúvidas frequentes

O que é um bootstrapping? Bootstrap significa desenvolver e criar uma startup utilizando somente recursos próprios, portanto no Bootstrapping o projeto não recorre a investidores externos. Caso haja um capital inicial, ele deriva dos próprios clientes da startup.

O que é Bootstrap Data Science? Na estatística, bootstrapping (ou bootstrap, traduzido no inglês como "alça de botina") é um método de reamostragem que foi proposto por Bradley Efron em 1979. É usado para aproximar a distribuição na amostra de um levantamento estatístico.

O que é o método bootstrap e para que serve? O método Bootstrap é uma tática de reamostragem, muito utilizada em diferentes ocasiões estatísticas. Sua base técnica é obter um “novo” conjunto de dados de reamostragem do conjunto dos dados original (Efron e Tibishirani, 1993).

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