O conceito de bootstrap tem seus desafios, mas é uma possibilidade vantajosa, que permite dar início a uma startup sem a necessidade de receber investimento externo
Desafios são comuns no início de uma startup, um dos principais é o investimento para colocar aquela ideia em prática. O bootstrapping tem suas vantagens e é uma alternativa para começar um negócio sem venture capital ou investidores anjo - normalmente, o fundador ou os sócios investem seus próprios recursos.
Uma pesquisa realizada em 2012 pela LegalZoom e a Fundação Ewing Marion Kauffman, entrevistou 1.431 donos de negócios, trazendo insights relevantes. De acordo com John Suh, CEO da LegalZoom, "80% dos donos de negócios em estágio inicial usam recursos pessoais para financiar suas empresas."
De fato, muitas startups e empresas de sucesso começaram sem financiamento externo, como foi o caso da Mailchimp. De acordo com a Forbes, em setembro de 2021, a empresa de automação e envio de e-mail marketing possuía 800 mil clientes pagantes - metade deles de fora dos Estados Unidos, além de 2.4 milhões de usuários ativos mensalmente.
Em 2020 a receita chegou a 800 milhões de dólares, um aumento de 20%.
Um exemplo em território nacional é a Involves. A empresa de Florianópolis, que atua no segmento de trade marketing, operou por quase 12 anos apenas com recursos próprios até captar seu primeiro investimento externo.
Hoje, o app ajuda a organizar o merchandising de grandes clientes como L'Oréal e Unilever. Em 2019, cresceu 50% e faturou R$ 40 milhões.
Apesar de muitas startups iniciarem a partir de capital próprio, vários empreendedores, a princípio, podem focar seus esforços em conseguir financiamento externo, por deduzirem ser um caminho mais eficiente.
Como afirma Donna Fenn, autora do livro “Upstarts!: How GenY Entrepreneurs are Rocking the World of Business and 8 Ways You Can Profit from Their Success” (2009), este é um caminho em aberto.
"Considerando a cobertura da mídia, é fácil ter a impressão de que a maioria das startups são financiadas por anjos ou empreendimentos. Mas esse não é o caso [...]"
O bootstrapping se mostra como uma alternativa viável, capaz de proporcionar uma série de vantagens a quem deseja construir uma startup, como as seguintes:
Com o investimento interno, o seu poder de decisão é maior. Sem a pressão e o risco para outros investidores, é possível decidir com mais liberdade quais caminhos trilhar e onde quer chegar, como aponta Ryan Smith, co-fundador da Qualtrics, empresa de software.
“Bootstrapping ajuda você a manter o controle de sua empresa enquanto encontra os parceiros certos para ajudá-lo a escalar.”
Além disso, visão e valores importantes podem ser incompatíveis com os dos outros investidores, o que significa que com esse conceito é possível ter mais liberdade e segurança para priorizar o que faz sentido para os fundadores.
Com dinheiro externo é normal que haja conflitos de interesse e ideias por toda parte. Com o bootstrap, a direção criativa da startup é totalmente dos fundadores. O que isso significa? Se necessário, é possível mudar o produto ou até mesmo o modelo de negócios no meio do caminho, sem precisar do aval de terceiros.
Verne Harnish, autor do livro “Scaling Up: Escalando seu negócio'', lançado no Brasil pela editora AlfaCon em 2020, defende o bootstrapping como uma forma de manter a atenção no que importa.
“Atrair investidores anjo ou venture financial pode ser uma distração, além disso, eles vão querer um pedaço de você.”
Portanto, essa autonomia facilita o processo, além de poupar tempo - que pode ser direcionado para o crescimento do negócio.
O termo “bootstrapping” foi dito pelo autor James Joyce ainda no século XX e seu significado consiste em sair de uma situação desafiadora por conta própria. Aplicado aos dias atuais, podemos dizer que o bootstrap incentiva empreendedores a se tornarem exploradores - levando a caminhos não convencionais e desafiadores.
Embora empresas com financiamento externo tendam a crescer mais rapidamente, startups que optam por iniciar com o próprio capital podem explorar por exemplo, técnicas de growth hacking, que como já explicamos, é essencial para manter e aumentar sua base de clientes de maneira progressiva.
A pressão por resultados sempre existe, mas com investidores externos aumenta. Com o bootstrapping é possível focar em um crescimento sustentável, e se sentir menos frustrado com os erros.
"Como os últimos anos mostraram, levantar dinheiro para uma startup é fácil. Mas construir um negócio lucrativo e sustentável ainda é muito difícil."
Por exemplo, no caso do Mailchimp, a ideia inicial se deu em 2001, e os fundadores trabalhavam em uma agência de web design. Até 2007, a ideia foi um projeto paralelo, o que seria muito difícil com investidores externos. O foco é crescer constantemente, mesmo que de maneira mais lenta.
Começar um negócio sem capital externo, a tendência é que desde o começo nos esforcemos mais para atingir resultados positivos.
Com a responsabilidade exclusivamente nos fundadores, é natural que haja mais esforço para atingir os resultados esperados, além de despertar um sentimento de realização, pois começar algo do zero pode ser desafiador, mas quando bem-sucedido, é recompensador.
Quando você opta por investir seu próprio capital, muito provavelmente, é importante que o modelo de negócios esteja focado em ganhar dinheiro, não em gastá-lo. Por isso, impulsionar o negócio através de conhecimento, decisões estratégicas e foco é essencial no primeiro momento.
“Bootstrapping mantém a economia e o foco, ensina como alocar recursos de forma criativa e evita que você desperdice ou tome qualquer coisa como garantida. Essas são habilidades e características que fazem grandes empreendedores.”
O foco da startup deve ser em escalar e replicar, buscando alternativas e ideias fora do convencional.
Se você está começando uma startup a partir de bootstrap, não terá capital para investir em um grande time logo no começo. Por isso, focar em pessoas que possuam os mesmos valores, que acreditem na ideia e que trabalhem efetivamente em prol do crescimento do negócio é fundamental.
Uma grande vantagem é que desde o começo, é possível construir uma cultura organizacional estrategicamente forte, com ótimo desempenho e focada em resultados.
Uma das principais vantagens de optar pelo bootstrap é a liberdade para estabelecer objetivos e conquistas. Portanto, se o controle sobre decisões é um tópico importante para você, começar uma startup dessa forma é uma boa opção a se considerar.
Ao investir capital próprio, o empreendedor acaba ganhando tempo, sem precisar marcar inúmeras reuniões para apresentar sua ideia para investidores. Contudo, usá-lo de maneira eficiente e estratégica é essencial, focando no desenvolvimento, como os próximos passos da companhia, e tentando aumentar cada vez mais as chances de sucesso.
Começar uma startup bootstrapping oferece autonomia para os fundadores. Contudo, com mais liberdade de escolha é natural que as responsabilidades aumentem, e é necessário perseverança e resiliência para este caminho.
Cases como o da Mailchimp, da Involves e de tantas outras, demonstram que utilizar os próprios recursos para começar um negócio é uma possibilidade real, e pode ser muito bem sucedida.
Iniciar uma startup bootstrap com decisões estratégicas torna seu empreendimento sustentável, escalável e rentável, trazendo uma série de vantagens, e apesar dos desafios que surgem ao empreender, você pode estar mais preparado para começar.