No dia 2 de julho, o Statista divulgou novos dados relacionados a produção de tequila no México entre 1995 e 2020 e apontou para um aumento vertiginoso nos últimos 4 anos. Segundo diversas publicações, esse impulsionamento se deve a um grande número de celebridades norte-americanas que decidiram investir nessa indústria e lançar sua própria marca do destilado proveniente do agave-azul.
Em nota publicada pela Forbes, Jim McDermott, co-fundador e CEO da LALO Tequila, disse que “ao se envolverem na indústria de tequila, as celebridades ajudaram a gerar reconhecimento para a bebida”. Na mesma nota, Josh Irving, co-proprietário da Socorro Tequila, comentou que marcas de celebridades são atraentes já que seus consumidores, ao comprarem, se sentem associados com esse famosos, porém ele acredita que a expertise, paixão e o cuidado, combinado com um produto superior, irão prevalecer.
Hoje em dia, no entanto, ainda que a qualidade pese muito na hora da decisão final do consumidor, é impossível ignorar o fato de que marcas vinculadas a mega celebridades possuem um potencial de crescimento gigantesco desde quando elas tenham um produto com um nível aceitável de qualidade que é oferecido a um preço acessível.
Neste caso, entretanto, a questão vai muito mais além de qual marca foi, é e será a que gera mais receita, mas sim de como essa influência vem contribuindo para um aumento considerável na demanda e na produção da bebida.
Em 2017, foi dado o ponta pé inicial a essa aceleração quando a Diageo, maior fabricante de bebidas destiladas do mundo, comprou a Casamigos, marca fundada por George Clooney, Rande Gerber e Mike Meldman, por US$1 bilhão.
A venda, além de dar ao astro de Hollywood, o título de “ator mais bem pago” de 2018 (apesar de não aparecer em nenhum filme em 2017), é considerada por diversos experts como um dos possíveis fatores para a eventual enxurrada de novas tequilas fundadas por celebridades, no que veio a ser chamado posteriormente de "Clooney Effect" ou efeito Clooney.
Em nota publicada pela própria Business Insider, Gerber disse que a marca realmente começou por acidente uma vez que ele e Clooney, em uma viagem ao México, provaram diversas marcas e tipos de tequila até que Clooney lhe disse: “por quê não criamos uma que é perfeita para nós?” Além disso, Gerber comentou que o objetivo dos dois “era ter a melhor tequila, mas que ela tivesse um preço acessível para todos”. Hoje, com mais de 8 anos de existência, a Casamigos é vendida nos Estados Unidos, Canadá, Australia, Nova Zelândia, Hong Kong, Singapura e Bahamas.
Após a aquisição da Diageo, a Casamigos, de acordo com a Business Insider, é uma das marcas de tequila de maior crescimento do Mundo nos últimos anos.
Para muitos, Michael Jordan é conhecido por suas 13 temporadas vestindo a camiseta dos Chicago Bulls––muitos até o consideram como melhor jogador de basquete da história––e por sua icônica parceria multimilionária com a Nike desde 1984, porém nem todos conhecem sua veia empreendedora/investidora que vai desde ser o dono majoritário dos Charlotte Hornets, franquia da NBA, até ser o principal investidor no Grove XXII, campo de golfe em construção na cidade de Hobe Sound, Florida.
Em situação similar a de George Clooney e Rande Gerber, o ex-astro do basquete, junto a Jeanie Buss, Wes Edens, Wyc Grousbeck e Emilia Fazzalari, chegaram à conclusão, após provarem diversas tequilas, de que eles queriam algo diferente das já existentes e, em setembro de 2019, lançaram a Cincoro.
Cá entre nós, trata-se do efeito Clooney, onde diversas celebridades identificaram oportunidade de conquistar grandes retornos com a produção da bebida.
Como se não fosse o suficiente contar com o nome Michael Jordan para sobressair nas vendas, a tequila ainda figurou em alguns momentos da aclamada minissérie-documentário “Arremesso Final” (Netflix/ESPN), não em forma de publicidade ou comercial, mas sim sendo bebida pelo próprio Jordan durante as entrevistas.
Em matéria publicada pela Chilled Magazine, a CEO Emilia Fazzalari disse que eles não fariam nada que não fosse “world-class”. Além disso, ela comentou que, seguindo um padrão Michael Jordan de qualidade e estratégia de design, ele “entrou em contato com seu amigo Mark Smith, na época Head de Inovação da Nike e seu parceiro criativo, para colaborar no design da garrafa.”
O que Jordan queria? Elegância, contemporâneo e único. Um tempo depois, seguindo os passos do Air Jordan, uma edição especial da garrafa lançada em outubro de 2020 teve uma lista de espera com milhares de pessoas, segundo dados da Business Insider.
Atualmente, se existe um nome que representa entretenimento, influência e negócios nos Estados-Unidos, esse é Dwayne “The Rock” Johnson. O astro de Hollywood, além de levar sua academia “Iron Paradise” para todos os seus sets de filmagem, também traz consigo uma avalanche de seguidores: 256 milhões desses somente em seu Instagram.
Fora das telonas, muitos conhecem o “The Rock” por seus vídeos motivacionais e por sua paixão pelos negócios, desde ser o fundador de produtora Seven Bucks Production, que está sempre vinculada aos seus trabalhos audiovisuais, até a compra da liga de futebol americano XFL.
Não é à toa que, ao comunicar a todos que estaria prestes a lançar sua marca de tequila no início do ano passado, isso gerou muito barulho nas redes sociais.
Em entrevista concedida a CNBC em dezembro de 2020, The Rock disse que quando tudo foi fechado isso afetou seus negócios, mas que a pandemia acabou beneficiando a sua Tequila Teremana que vendeu mais de 9,000 caixas de 9 litros em 9 meses.
The Rock disse que a ideia de lançar uma tequila surgiu em 2010, mas que decidiu esperar o tempo correto para o empreendimento. Além disso, o ator reconhece que sua presença influencia muito na venda do produto, mas que pretende deixar um legado na indústria de tequila até o ponto que a marca possa sobreviver sem a sua presença.
Segundo a co-fundadora da marca Jenna Fagnan, o ator “é um verdadeiro nerd de tequila que está muito mais envolvido com sua marca do que outras estrelas”. Fagnan ainda disse que a Teremana possui sua própria destilaria e que a família que produz a tequila é co—proprietária da marca.
Nomes como George Clooney, Michael Jordan e Dwayne “The Rock” Johnson são só algumas das grandes celebridades que hoje possuem marcas do destilado mexicano, porém outras personalidades que carregam milhões de seguidores também estão presentes dentro do jogo.
Algumas delas são Arnold Schwarzenegger (ator e ex-governador da Califórnia) e Lebron James (estrela da NBA), investidores da Lobos 1707, Nick Jonas (cantor), fundador da Villa One Tequila, e Kendall Jenner (supermodelo e personalidade), fundadora da 818 Tequila. Juntas, essas celebridades possuem um total de 334,1 milhões de seguidores somente no Instagram.
Do mesmo jeito que a produção aumentou drasticamente nos últimos 2 anos tentando suprir a alta demanda gerada pelas marcas mais tradicionais e as lideradas por celebridades, talvez possamos ver números ainda maiores nos próximos períodos, de acordo com dados do “Global Tequila Market” podendo atingir um faturamento de US$18,12 bilhões em 2028.
Independente do forecast específico da indústria, algo que já se estabeleceu, vem crescendo e é bem exemplificado nesse case em ambiente global é o movimento de mega-celebridades como sócias em novos negócios.
Uma tendência propícia, de acordo com a evolução do comportamento do consumidor, que vem se tornando cada vez mais sensível a influenciadores em suas decisões de compra.
Comportamento inclusive sinalizado claramente no Brasil, onde 40% dos consumidores já apontam ter sido impactados por um influenciador em uma decisão de compra no passado, de acordo com o Statista Global Consumer Survey (2021).
Demonstrando que não só nos EUA, onde há grande parte da compra de tequilas do mundo, mas também no Brasil, o influenciador, quando bem utilizado, é um potente formador de opinião, deixando clara uma série de possíveis oportunidades para movimentos similares em setores de bens de consumo, alimentícios e de bebidas.
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