Qualquer empresa que deseja se perpetuar deve estar atenta às tendências voltadas à gestão e liderança, afinal, uma das principais características de uma companhia forte é um bom gerenciamento - capaz de cultivar a adaptabilidade e abraçar as transformações que surgem.
Os negócios vêm passando por transformações há anos, e embora algumas sejam mais disruptivas que outras, todas são responsáveis por gerar uma onda de mudanças, que em menor ou maior grau, envolvem novas oportunidades de crescimento e impactam diversos segmentos.
Com interrupções na cadeia de suprimentos, inflação e aumento de custos em âmbito global, cultivar transformações pode ser a maneira mais efetiva de superar adversidades, encontrando soluções criativas em meio a um período de extrema incerteza.
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Mas o que seria essa transformação? Como promover mudanças efetivas? Como ter êxito em meio a um cenário contingente? Embora cada empresa seja única e precise passar por diferentes processos, a resposta envolve um aspecto similar para todas: as transformações estão intimamente relacionadas à gestão.
Por exemplo, uma transformação tende começar com uma visão ou evento catalisador que impulsiona o CEO ou presidente da empresa a agir, elaborando a famosa north star metric - que representa o valor central do seu produto ou serviço - e oferecendo clareza quanto a objetivos e direcionando estratégias a médio e longo prazo.
Nesse caso, a visão tende a se converter em uma missão coletiva e pode envolver além dos colaboradores e líderes, vários grupos correlacionados - como clientes, stakeholders e acionistas - os educando e incentivando a se juntar à transformação.
O evento catalisador, por sua vez, é uma resposta menos reativa e mais estratégica, que visa atravessar eventos que exigem uma transformação. Esses eventos podem implicar em interrupções na cadeia de suprimentos, instabilidade financeira ou desafios sustentáveis globais.
Portanto, para compreender melhor como ocorrem, a consultoria Mckinsey promove anualmente uma conferência que reúne um grupo diversificado de líderes, que exploram tendências e os principais desafios de implementar uma mudança bem-sucedida - impulsionando o debate e construindo conhecimento útil para todos.
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No âmbito corporativo, os líderes encarregados de transformarem suas empresas estão focados em garantir o progresso do negócio através de alguns elementos competitivos que a médio e longo prazo, podem diferenciá-las da concorrência. Entre eles podemos citar:
No entanto, investir em ações transformacionais não gera impactos positivos somente para a empresa, pelo contrário. Ao implementar novas tecnologias e processos, como de transformação digital pode potencializar a competitividade - um aspecto fundamental em um mundo cada vez mais ágil e volátil.
Segundo dados do Fórum Econômico Mundial, até 2024, US$ 100 trilhões serão adicionados à economia mundial por meio da transformação digital, e ainda de acordo com o Statista, o investimento global deve dobrar de 2022 até 2025, saindo de US$1,8 trilhões para US$ 2,8 trilhões.
Ou seja, quando uma empresa investe em transformação, investe também em uma progressão constante - da companhia e do mercado -, que embora possa ser desafiadora, é necessária para que o mundo dos negócios evolua.
Ao reunir mais de 200 executivos C-level de 25 setores, o European Transformation Summit é uma das principais conferências sobre o tema, e reúne uma série de insights para líderes que desejam implementar mudanças significativas em suas empresas.
Na edição mais recente, além de estratégias capazes de tornar as companhias mais resilientes para atravessar uma economia instável, dois temas se destacaram:
Em linhas gerais, o princípio unificador é o que move o esforço da companhia em direção a uma transformação holística e ampla. Por exemplo, uma empresa que tem como estrela do norte se tornar referência em sustentabilidade precisa manter seu compromisso desenvolvendo uma estrutura capaz de garantir a execução.
Assim, o comprometimento deve refletir em metas de longo prazo, acompanhados por KPIs e métricas operacionais que conduzam e comprovem o esforço em um espaço de tempo pré-determinado.
Desse modo, a conferência é uma oportunidade de desenvolvimento da liderança executiva, que além de entender o nível de transformação que cada companhia se encontra, mapeia similaridades e ideias que podem ajudá-los a avançar em suas jornadas - promovendo um conhecimento compartilhado e produtivo para todo mercado.
Uma vez que o negócio está se direcionando para uma transformação - seja por uma visão ou evento catalisador -, um grande desafio é entender como operacionalizá-la, afinal, uma mudança holística precisa de tempo e esforço para acontecer.
Assim, separamos alguns insights obtidos na conferência que visam guiar o esforço em uma abordagem orientada, fornecendo recursos que promovem constante reinvenção e diminuem períodos de estagnação, garantindo uma estrutura organizada.
Entender o valor central que o produto proporciona ao cliente é fundamental para definir os rumos de uma transformação. Portanto, estabelecer a North Star Metric garante que os esforços totais sejam otimizados para que ela cresça, impulsionando por sua vez, o crescimento sustentável da base de clientes, e consequentemente, do negócio.
Por ser um indicador que baliza toda a empresa, pode ser utilizada em toda a companhia, fornecendo foco e clareza para as equipes.
Uma vez que a métrica é definida, é importante mapear o conjunto de variáveis que a impactam, afinal, por ser uma métrica de resultado - ou métrica de output - é o resultado de diferentes ações que surgem das métricas de input (métrica acionáveis que a impactam).
Uma vez que entendemos como podemos impulsionar a métrica NMS, é possível promover um alinhamento geral, colocando todos na mesma direção e garantindo que a abordagem seja melhor direcionada, inclusive, eventuais transformações que venham a ser implementadas.
Mesmo com um valor central definido, uma empresa deve reavaliar constantemente suas prioridades, levando em consideração que os recursos são finitos.
Por exemplo, uma vez que a companhia define metas e as executa, é normal que ao longo do processo a transformação seja limitada pela falta de recursos, principalmente voltados à mão de obra - escassa em muitos setores.
Assim, entender o que é prioridade - ou não - facilita o processo de trabalhar com recursos limitados em um cenário instável e volátil - direcionando os esforços e gerenciando times de modo que não se sintam sobrecarregados.
Para ajudar, utilizar ferramentas que gerenciam o desempenho da transformação é essencial para priorizar e acompanhar o progresso dos projetos, levando em consideração o nível de complexidade, a amplitude e a utilidade de recursos.
Uma transformação holística tende a ser abrangente e por vezes, complexa. Assim, para ser bem-sucedida precisa além do envolvimento da liderança e de uma cultura voltada para a inovação, de certa cadência para se sustentar. Ou seja, garantir um fluxo de eventos é fundamental.
Mas como desenvolver a cadência? Além de incluir reuniões semanais para discutir o progresso, a metodologia stage-gate tende a ser uma aliada quando é preciso gerenciar diversos projetos sem sacrificar o foco.
Ao dividir as iniciativas em estágios, podemos acompanhar o progresso das ações e em cada estágio (stages), incluir reflexões e tomadas de decisão que chamamos de gates.
Com um ambiente em constante evolução, garantir um ritmo específico para supervisionar a mudança é um fator decisivo para determinar as transformações que são implementadas e aquelas que ficam pelo caminho.
Embora imprevistos sempre possam ocorrer, quando a cadência é priorizada e assegurada por metodologias e técnicas de gestão precisas, é possível mitigar os riscos e potencializar a evolução.
Assim como a cadência, é importante administrar a execução da transformação por etapas, isto é, ao invés de implementar todas as mudanças ao mesmo tempo o ideal é implementá-las através de “ondas”.
Quando as mudanças acontecem por etapas, é mais fácil gerenciar as diferentes áreas (assim como as nuances entre elas), de maneira mais eficiente, adequando às mudanças a múltiplos contextos.
Ao utilizar essa abordagem, é possível coletar dados capazes de tornar a estratégia mais resiliente, flexível e adaptável, fazendo com que a transformação seja bem-sucedida independente do ambiente - seja ele escritório ou fábrica.
Além de adquirir conhecimento útil, fomenta a autonomia do negócio e o potencial de criar novas soluções, otimizando processos e acelerando a inovação.
Ao desenvolver uma estrutura eficiente, é possível solucionar desafios organizacionais que tendem a afetar a transformação sistematicamente - é o caso do silos organizacional.
Os silos ocorrem quando uma área, time ou até colaboradores não conseguem trabalhar coletivamente em prol de um objetivo comum, pelo contrário - não se comunicam apropriadamente e deixam de colaborar, prejudicando qualquer transformação que esteja em curso.
Para evitar os silos organizacionais, os líderes podem investir em uma comunicação clara, acessível e eficiente para todos os colaboradores, comunicando de maneira eficiente porque a mudança é necessária. Se atentar a dados e cases de sucesso que contribuam para ilustrar a necessidade de implementar melhores práticas também é recomendado para uma apresentação convincente.
Além disso, a liderança pode alinhar governança, metas e estruturas entre os silos, garantindo que o nível estratégico e o operacional saibam o que fazer para evitá-los, transformando o objetivo em métricas capazes de impulsionar a coesão.
“Uma transformação corporativa é um esforço de longo alcance, ambicioso em escala e amplo em escopo.”
Em um mundo conectado e repleto de incertezas, entender como reinventar um negócio não é mais uma exceção à regra, e sim uma maneira de se manter relevante - atendendo as expectativas do consumidor e elaborando propostas que evoluem com ele.
Portanto, mais do que nunca, os líderes devem estar comprometidos com a transformação dos negócios, fomentando características como resiliência e adaptabilidade - elementos cada vez mais necessários em tempos turbulentos.
Assim que uma companhia decide implementar uma transformação, é imprescindível que a gestão se envolva, oferecendo credibilidade e apoio às mudanças que muitas vezes saem da zona de conforto e tendem a gerar ansiedade e medo.
No entanto, o papel da transformação deve ser justamente esse - oferecer novas perspectivas, ajudando o negócio a se antecipar e buscar novas avenidas de crescimento. Nem sempre será fácil, mas com as ferramentas certas, é possível alcançar o sucesso - impulsionando não só a empresa mas todo o mercado.
Estamos, cada vez mais, caminhando para a chamada “low touch economy”, onde negócios precisam ser mais digitais, ágeis e asset light do que nunca. Nessa nova realidade, a máxima “inove ou morra” passa a ser aplicada a todos os setores.