A utilização de buzzwords nos negócios é comum. Contudo, o constante uso de alguns termos pode impactar em seu real significado, fazendo com que muitas vezes, perca o sentido e fique até, obsoleto. É o caso da inovação nas empresas, que vem se tornando cada vez mais onipresente. Contudo, o que essa prática realmente significa?
Do latim “innovare” inovar significa renovar, mudar. No dicionário, é descrito como: introduzir novidades, estar na vanguarda, produzir algo novo, restaurar.
Não há dúvidas de que a inovação faz parte intrinsecamente, das transformações. E indo até mais além, ela é a transformação em si. Embora seja complexo, à medida que entendemos a potência dessa prática nos negócios, podemos utilizá-la ao nosso favor de maneira estratégica.
Mesmo que seja bastante comentada no meio empresarial, muitas organizações enfrentam desafios para inovar, ainda mais se estiver dentro de um parâmetro mais tradicional.
Isso se dá pelo fato de que o processo de inovação não consiste somente em utilizar novas ferramentas e implementar diferentes metodologias. É um processo estrutural, sobretudo, na cultura organizacional.
Em suma, para uma empresa inovar, é necessário criar uma mentalidade voltada para isso. Nesse sentido, é preciso criar uma corrente de inovação além da teoria, uma ferramenta que pode ser útil nesse processo é o benchmarking.
Resumidamente, esse processo ajuda a separar referências que podem ser um ponto de partida para sua iniciativa, conferindo uma avaliação comparativa.
Existem diversos tipos de benchmarking, contudo, nesse artigo, abordaremos o benchmarking estratégico, que visa examinar a concorrência, identificando as melhores estratégias daquelas que se tornaram grandes cases de sucesso.
Por exemplo, se sua empresa está interessada em um modelo de negócios por assinatura, é imprescindível compreender como a Netflix opera, mapeando as melhores práticas e táticas.
“Benchmarking é a procura pelas melhores práticas da indústria que levam a performance superior.”
Dr. Robert Camp, considerado o pai do processo de benchmark
Sendo assim, nesse artigo, iremos discorrer sobre como o benchmarking pode ajudar sua empresa a inovar, através de processos que servem de apoio para fomentar uma mudança de mindset efetiva.
Muitas vezes relacionado a uma mudança radical, inovar é um processo que pode nascer daquilo que já existe, ressignificando-o, e adicionando uma outra abordagem. Mesmo que a disrupção possa vir a fazer parte, não é mandatório. Aliás, segundo Greg Satell, no livro “Mapping Innovation”, existem 4 tipos de inovação:
Dada a complexidade do tema, você deve estar se perguntando: por onde devo começar? E mesmo que a resposta pareça outra buzzword com sentido amplo, quando bem aplicada, pode ser o diferencial que sua empresa precisa.
O benchmarking é uma ferramenta que pode te ajudar a entender a base de um projeto inovador bem-sucedido, oferecendo a expertise necessária para entender se é um caminho que faz sentido para sua empresa ou não.
Pode ser considerado uma espécie de “mapa” que te guiará de maneira eficiente a partir de hipóteses teoricamente já testadas.
Em suma, o processo consiste em reunir informações relevantes, baseado na experiência adquirida por outras empresas e transformar em conhecimento útil.
Além de reunir métodos testados, otimizando tempo e recursos, o benchmarking funciona como uma fonte substancial para convencer lideranças mais tradicionais a se adaptarem às mudanças, focando na diminuição de eventuais riscos.
“A sabedoria coletiva do que funcionou anteriormente é o melhor que nossa indústria oferece atualmente.”
Scott Lenet - Fundador das venture capitals Touchdown Ventures & DFJ Frontier, professor na USC & UCLA
O benchmarking é uma abordagem geral que visa entender o que está sendo realizado com sucesso em outras organizações, e de maneira comparativa, estabelecer os próprios parâmetros. É possível potencializar seu uso se atentando a alguns pontos que farão a abordagem fazer ainda mais sentido, te ajudando a desenvolver as melhores práticas:
Como em qualquer planejamento, ao realizar o benchmarking é preciso definir aonde queremos chegar. Como saber se seremos bem-sucedidos?
Nesse sentido, o ideal é estabelecer prazos realistas, construindo uma estratégia que possa acompanhar os resultados, como o ciclo de OKR’s, por exemplo. Além disso, é preciso monitorar o progresso constantemente. Esse hábito não só manterá a equipe alinhada, como também servirá como relatórios para a diretoria.
Uma vez que estabelecemos métricas, é hora de responder a uma outra pergunta fundamental: Que inovação queremos implantar?
É preciso entender o tipo de inovação que queremos alcançar, e direcionar nosso olhar para as estratégias que dialoguem com os objetivos e metas estabelecidos. Isso significa que devemos investir tempo em um benchmarking relevante e que dialogue com o propósito da mudança em primeiro lugar.
Além disso, a escolha da estratégia também deve priorizar a facilidade da tomada de decisões, orientando a equipe de maneira otimizada, alinhada aos objetivos de negócio.
Uma base que reúna as informações coletadas faz com que a equipe consiga manter o alinhamento e a gestão do conhecimento.
Não há uma regra que estabeleça como esses dados devem ser armazenados, ou um melhor fluxo de informações deve ser estabelecido, e pode ser decidido de acordo com os próprios envolvidos, como:
Neste caso, o importante é priorizar a facilidade do acesso, otimizando a comunicação e permitindo a tomada de decisão rápida.
Um dashboard atualizado diariamente pode ser uma solução prática e assertiva, fazendo com que as informações sejam acompanhadas com menos delay e de maneira mais visual, acelerando o processo decisório.
O ciclo de inovação é contínuo, afinal, existem milhões de oportunidades e de melhorias que podem ser feitas e que, de fato, estão sendo feitas por outras empresas.
Isso significa que ao realizar um benchmarking, é normal se deparar com inúmeras possibilidades e a empolgação de explorá-las, e isso nos leva a uma realidade: alguma inovação provavelmente terá que esperar.
Sendo assim, o ideal é exercitar o pragmatismo, isto é, o ideal é ser prático e ágil, combinando oportunidades com critérios objetivos e relevantes, de acordo com a atuação da empresa e seus objetivos a médio e longo prazo.
Lembre-se que inovar por inovar não é uma boa prática. Além de não se sustentar a longo prazo, enfraquece o conceito, fazendo com que seu significado se perca antes que alguma mudança de fato se inicie.
O benchmarking diminui os riscos, já que alguma empresa já testou aquele caminho, contudo, não o anula completamente, afinal, cada empresa é uma empresa e reage de maneiras distintas a um processo de renovação.
Uma vez que a inovação é mapeada e começa a ser implementada, saímos do campo da hipótese levantada e partimos para o teste no nosso ambiente e às vezes, os testes podem não funcionar como o esperado.
Nessa situação, é necessário se adaptar e reconhecer quando um programa de inovação não funciona. E desenvolver um plano caso isso ocorra deve ser tão importante quanto o processo para encontrá-lo.
Segundo Scott Lenet, fundador da venture capital Touchdown Ventures & DFJ Frontier, é essencial ter um plano B ágil. Para negócios de M&A, por exemplo, uma saída pode ser um desinvestimento. Para investimentos em empreendimentos corporativos, as saídas incluem vendas comerciais e IPOs.
Desde uma inovação incremental a uma radical, um projeto de inovação é uma mudança estrutural. Portanto, é preciso priorizar uma comunicação assertiva desde o benchmarking, colocando todos os envolvidos na mesma página.
Manter a comunicação ativa proporciona constante aprendizado, transformando a organização e impulsionando a mudança. Comunique as equipes sobre o que está acontecendo.
Ser claro e objetivo é fundamental independente da situação, e se a empresa está trabalhando em uma iniciativa de inovação sigilosa, é ainda mais crucial estabelecer diretrizes do que pode ser comunicado ou não, e para quem.
“Adote um mindset de startup e infraestrutura que facilite a cultura empreendedora ou crie hubs de inovação dentro de estruturas de negócios já existentes.”
Lori Gooding, head de consultoria de moda na WGSN
Para começar a exercitar um pensamento inovador, podemos utilizar um insight didático e memorável que a consultoria de tendências WGSN obteve em um de seus estudos.
Durante uma mesa redonda com CEOs, o moderador fez uma pergunta: o que os mantinha acordados durante a noite. Uma resposta prevaleceu na mesa, ecoando entre os demais e sendo aceita por todos: o medo da irrelevância.
Todos sabemos sobre a obsolescência de grandes nomes como Blockbuster e Kodak, e nesse sentido, percebemos que um dos pontos mais significativos para pensar sobre inovação é esse: uma constante busca por permanecer relevante para os consumidores, como aponta Steve Ballmer, CEO da Microsoft de 2000 a 2014:
“Podemos acreditar que sabemos para onde o mundo deve ir. Mas, a menos que estejamos em contato com nossos clientes, nosso modelo de mundo pode divergir da realidade. Não há substituto para a inovação, é claro, mas a inovação também não substitui o contato.”
Steve Ballmer - CEO da Microsoft
Já escrevemos alguns artigos bem completos sobre inovação, ao passo que neste conteúdo não nos prendemos a uma abordagem geral. Contudo, é importante relembrar algumas ideias centrais antes que cheguemos às considerações finais, como a abrangência do termo.
Inovação possui cerca de 60 definições, mas por ora, podemos nos atentar a uma, apresentada no livro “Leading for Innovation And Organizing for Results”:
“Inovação é uma mudança que cria uma nova dimensão de desempenho.”
De acordo com essa perspectiva, uma empresa que investe em inovação e ferramentas para viabilizá-la, como o benchmarking, por exemplo, está investindo em performance e em um futuro que se torna possível construir e não temer.
Uma boa gestão empresarial se antecipa aos riscos, mas também aos processos inovadores. Segundo John Hagel, ex-head de disrupção da Deloitte, a verdadeira inovação dentro das instituições só é alcançada quando entendida como um processo amplo, que vai além do produto ou serviço, o que ele chama de inovação institucional.
De acordo com ele, "a perspectiva de inovação institucional expande o horizonte para incluir todos os processos operacionais centrais da empresa – gerenciamento da cadeia de suprimentos, inovação de produtos e gerenciamento de relacionamento com o cliente."
Caso não haja um verdadeiro empenho e comprometimento coletivo com uma cultura de inovação, sobretudo da gestão, as empresas irão manter líderes que não pensam sobre o futuro, e como consequência, aplicam teorias do passado para resolver o presente de uma empresa que pode nem existir no futuro.
“Benchmarking é uma disciplina inteligente para avaliar os processos do seu projeto em relação ao que funcionou para outros antes.”
Scott Lenet - Fundador das venture capitals Touchdown Ventures & DFJ Frontier, professor na USC & UCLA
Inovar não precisa ser um caminho completamente desconhecido. Através do benchmarking reunimos conhecimento útil sobre determinado assunto, estratégia e projetos bem-sucedidos em outras organizações.
A inovação nas empresas não é um processo fácil, e muitas vezes, permeia um sentimento de descontentamento generalizado. Afinal, o que é conhecido, é sempre mais agradável. Contudo, essa mentalidade pode estagnar seu negócio, e diminuir seu nível competitivo.
Para mitigar esse efeito, é possível utilizar o benchmarking como uma ferramenta introdutória, mapeando iniciativas bem sucedidas, reunindo informações relevantes e contemplando uma narrativa de progresso, transformando a inovação em um aliado.
Desse modo, as chances de sucesso aumentam: convencendo os mais céticos a tentar e engajando aqueles que são naturalmente mais entusiastas.
Assim como o futuro do trabalho, o futuro da inovação não é único. Isso significa que existem muitos futuros possíveis, e cabe às empresas juntamente com os colaboradores, construírem aquele no qual viveremos.