Os ecossistemas de inovação estimulam a interação entre diversas organizações e promovem a criatividade para inovar e trazer soluções práticas para o dia a dia das pessoas em um ambiente altamente colaborativo e interacional.
Os ecossistemas, resgatando o significado da biologia, são definidos como grupos ou comunidades que convivem em um mesmo espaço e se relacionam entre si, promovendo um sistema estável. Eles colaboram entre si, visando a sobrevivência e o desenvolvimento de todos que ali habitam.
Trazendo esse conceito para o contexto empresarial, é possível fazer uma analogia na qual os ecossistemas vivos e não uniformes, atuam de maneira altamente colaborativa, com flexibilidade e em constante transformação e evolução, sem que haja um controle absoluto por uma das partes.
Dentro dele, todos os agentes coexistem, fertilizando e nutrindo-se do mesmo ambiente. Assim como na natureza, no meio corporativo o funcionamento é o mesmo, unindo-se para fortalecer uns aos outros, com uma força que, inicialmente, é promovida por uma ou mais organizações que buscam atingir o mesmo propósito.
Já a inovação, essa é vista como uma das principais maneiras de enfrentar e sobreviver ao mundo atual, em um cenário de alta complexidade tecnológica, concorrência acelerada e negócios instáveis.
Ao inovar, é possível sair na frente e proporcionar para a sociedade soluções diferentes para diversos problemas enfrentados.
Dentro desse cenário, surgem os ecossistemas de inovação, que visam unir diferentes instituições com o intuito de criar um único ambiente colaborativo e de disrupção.
Os ecossistemas de inovação podem ser definidos como um conjunto de empresas, instituições e organizações que se estabelecem em determinado local em comum e que mantém uma comunicação e interação entre si.
Isso significa que esses ecossistemas são polos que agrupam infraestrutura, recursos financeiros e pessoas para trabalharem em conjunto, de maneira colaborativa, em prol de um mesmo objetivo.
Nesse meio organizacional, todos trabalham juntos e compartilham resultados em comum, proporcionando aos seus integrantes uma intensa troca de experiências.
Esse trabalho se concretiza através de pesquisas e desenvolvimento de serviços, projetos e produtos que buscam resolver problemas e dores do mercado e da sociedade para atender as demandas e suprir as necessidades.
Desta forma, podem fazer parte dos ecossistemas de inovação instituições como universidades, centros de pesquisas, empresas, startups, governos, investidores, incubadoras e aceleradoras, parques tecnológicos, hubs de inovação e qualquer outra organização interessada em promover a articulação entre diferentes agentes, visando a inovação para o desenvolvimento social e econômico.
Realizando uma análise em diversos setores sobre as grandes inovações dos últimos tempos, pode-se dizer que as startups são os atores fundamentais dentro dos ecossistemas de inovação.
Obviamente, elas não são as únicas. Para que os empreededores (leaders) obtenham resultados positivos é necessária a colaborações dos demais agentes (feeders) para impulsionar os resultados e promover talentos.
Sistemas colaborativos e produtivos que resultam na geração de inovação, transformação e novos negócios fomentam um ambiente propício à criação de startups inovadoras. O pesquisador Munroe traz ainda a definição de ecossistemas de inovação como sendo:
“um organismo dinâmico adaptativo, que cria, consome e transforma conhecimento e ideias em produtos inovadores, por meio da geração contínua de novos negócios, em uma matriz complexa de relações entre os principais elementos”.
A imagem a seguir, traz um resumo dos principais elementos envolvidos nos ecossistemas de inovação:
Esses elementos e as demais instituições que podem compor os ecossistemas de inovação - mencionadas anteriormente - também têm papel crucial, pois são eles que irão apoiar o desenvolvimento, ajudando a trazer os benefícios para todo o grupo.
Para uma maior compreensão sobre os ecossistemas de inovação, é importante ressaltar que para que esses sistemas se desenvolvam de maneira positiva e eficiente, faz-se necessária a distribuição de grandes ideias em pequenas etapas a serem executadas.
Durante a execução é imprescindível que o ambiente seja rico em pessoas com talento, que exerçam a criatividade e que haja a presença de capital, normalmente através de fundos ou aceleradoras. Só assim, esses sistemas poderão obter sucesso e usufruir de vários benefícios, tais como:
E não só as empresas se beneficiam dos ecossistemas de inovação. Os profissionais envolvidos também passam a ter mais acesso às novas tecnologias e conhecimentos científicos, através do contato com cientistas e pesquisadores, o que faz com que eles se qualifiquem mais profissionalmente, por exemplo.
E os impactos e benefícios dos ecossistemas de inovação não param por aí. Muitos ex-sócios ou ex-funcionários de startups de sucesso acabam fundando outras startups, sejam do mesmo ramo ou de nichos diferentes.
No infográfico a seguir, é possível ter uma noção de como se deu esse processo no Brasil, à medida que os fundadores ou ex-funcionários saem capitalizados para investirem em outros negócios. Vale ressaltar que o estudo não traz uma análise exaustiva, nem contempla todos os fundadores de startups brasileiras.
Nessa perspectiva, a “Máfia da Paypal” ilustra bem como isso acontece na prática, por ter tido entre os seus colaboradores uma série de empreendedores e investidores bem-sucedidos e de alto nível que saíram da empresa e abriram/investiram em outros negócios.
Deixaram seu legado na empresa de pagamentos: Reid Hoffmann, fundador do LinkedIn; Steve Chen, Chad Hurley e Jawed Karim, os criadores do Youtube; Elon Musk, criador da Tesla; e muitos outros.
Fenômeno que pode ser explicado pelo mindset empreendedor, pela atitude inovadora e pelos altos investimentos realizados pelos fundadores dessa empresa.
No entanto, o fato é que todos esses benefícios e acontecimentos juntos geram ecossistemas de inovação promissores que tendem a resultar em sistemas globalmente reconhecidos e que podem ser mensurados através de sua produtividade, robustez e criação de novos nichos.
Existem vários ecossistemas de inovação no mundo e eles estão em franca expansão. Sem dúvidas, um dos maiores e mais bem-sucedidos é o Vale do Silício, que fica na Califórnia, nos Estados Unidos.
Nele estão concentradas as maiores empresas de tecnologia do mundo, com as 50 empresas mais inovadoras e eficazes do planeta, ocupando o primeiro lugar em inovação de software, internet e redes sociais.
Gigantes como a Meta (antigo Facebook), Google, Apple e Tesla estão localizadas nessa região, além da Universidade de Stanford e da Universidade da Califórnia, centros universitários mundialmente reconhecidos.
Dito isso, fica evidente que o empreendedorismo e a inovação estão arraigados na cultura dessa região, impulsionando o seu desenvolvimento tecnológico. Não é por menos que a região já produziu mais de 80 unicórnios desde 2003.
Além disso, pessoas de diferentes culturas e origens circulam por todos os lados, sendo uma das regiões que mais recebe imigrantes no mundo. E essa diversidade é apontada, por muitos, como sendo um dos ingredientes principais que levaram ao seu sucesso.
Outro fator relevante sobre o Vale do Silício é que ele tem uma vibração diferenciada. Há quem discorde, mas é impossível ignorar a história da região, como uma das causas dela ser o que é.
O local já foi palco de acontecimentos marcantes, tais como: a corrida do ouro, a corrida espacial, o surgimento do movimento hippie e o próprio nascimento oficial do Vale, com casos inesquecíveis (vide os oito traidores e a criação da HP).
Inclusive, já ocorreram várias tentativas para recriar o ecossistema de inovação vivido no Vale do Silício, mas nenhum deles obteve o sucesso para se igualar ou até mesmo ultrapassar o maior pólo de inovação do mundo.
De igual modo, além do Vale do Silício, estão também nos Estados Unidos a maior parte das startups unicórnios do mundo.
O país norte-americano é o grande responsável por fomentar a criação de pólos de inovação. Dentre eles, é possível destacar:
Não obstante, outros lugares do mundo também possuem ecossistemas de inovação bem-sucedidos, como é o caso de alguns países da Europa, Oriente Médio e Ásia.
A Suécia está em segundo lugar na colocação de país mais inovador do mundo, de acordo com o Global Innovation Index 2021. Seu foco está em promover a pesquisa e o desenvolvimento, ao mesmo tempo que mantém o bem-estar da sociedade. SAAB, Ignite Sweden, Swedish Mining Innovation, RISE Research Institute of Sweden e Vinnova são algumas empresas suecas.
Já o Reino Unido, se destaca no setor das Fintechs, Blockchain e Healthtech, contendo 41 startups unicórnios. Isso equivale a mais de 38% do volume dessas empresas na Europa. Esse número dá ao Reino Unido o primeiro lugar no ranking por conter o maior número de startups unicórnios europeias, segundo o The 2022 European Unicorn & Soonicorn Report. Dentre elas estão Benevolent AI, Ovo, SumUp, Monzo e Babylon, por exemplo.
Outro centro de inovação mundial, que possui também startups globais, é Israel. Conhecido como Startup Nation, o país tem um ecossistema único fundamentado em sua história e cultura. Algumas empresas israelitas são: Sosa, Mobileye, Maverick Ventures Israel, SeeTree e State of Israel Ministry of Foreign Affairs.
Já a China, é considerada um campo de batalha de inovação e do consumo. O seu ecossistema de inovação é voltado para as tecnologias e tendências em áreas como Big Data, AI e o varejo O2O. ByteDance, Kuaishou Technology, Tencent, Fudan University e Sequoia Capital são algumas empresas chinesas.
Mas, e o Brasil? Como o nosso país está inserido nesse circuito?
No Brasil, também existem ecossistemas de inovação bem-sucedidos, como o pólo tecnológico de Campinas em São Paulo, o de Curitiba no Paraná, o de Recife em Pernambuco e o da Tecnopuc em Porto Alegre no Rio Grande do Sul.
Independente do lugar onde se situam no Brasil, a realidade das startups vem mudando devido aos investimentos que estão sendo feitos no país. Houve um grande amadurecimento do mercado brasileiro e de Venture Capital que está tornando o cenário mais próspero.
Em paralelo, o investidor brasileiro passou a investir mais em bolsa de valores e houve uma evolução no número de investidores de renda variável. Como consequência, grandes fortunas também foram realocadas para o mercado de ações, criando um redirecionamento de capital.
Além dessas mudanças no comportamento dos investidores brasileiros, o mercado tech vive um ciclo inédito de IPOs de startups na B3, com grande valorização dessas empresas, umas até com 600% de ganho de valor de mercado, como é o caso da Locaweb em 2020.
Em 2021, o ritmo se manteve em movimento, com um série de startups na fila para entrar na bolsa, como a Meliuz, empresa de cashback, além de outras. Assim, o volume de investimentos no setor subiu consideravelmente nos últimos anos.
Esse cenário brasileiro ainda está sendo impactado pelos fundos de investimentos estrangeiros, que optam por investir nas startups já consideradas maduras.
Só no primeiro semestre de 2021 foram investidos mais de US$5,2 bilhões, um recorde histórico. Isso mostra o quão fértil está o solo brasileiro para os ecossistemas de inovação.
Ainda que investimentos em startups de tech do Vale do Silício apareçam em queda, gigantes do mercado como Meta, Amazon, Microsoft, Google e Apple estão sempre liderando o S&P 500 (principal indicador do desempenho do mercado de ações dos EUA).
No Brasil, com o amadurecimento dos ecossistemas de inovação das startups e o desempenho elevado das tech companies no âmbito mundial, muitos fundos internacionais estão sendo atraídos pelo nosso mercado com um raio de busca cada vez mais amplo, atingindo não só os grandes polos inovadores, mas outros mercados promissores pelo mundo.
Ressalte-se que o cenário da pandemia também foi um fenômeno que acelerou esse processo e ajudou a abrir as portas dos países emergentes para os investidores mundiais.
Somados, todos esses fatos fazem com que os ecossistemas de inovação brasileiros tenham cada vez melhores e maiores oportunidades de crescimento, levando a um ciclo de competitividade que fomenta mais negócios e gera mais renda e empregos com melhores produtos e serviços.
Pode-se dizer que esse é, sem dúvidas, um dos maiores benefício dos ecossistemas de inovação, além, é claro, de promoverem articulações entre diferentes organizações para efetivamente fomentarem o desenvolvimento social e econômico através desses negócios.