Se você estava acompanhando os investimentos em startups brasileiras, 2021 foi sem dúvidas, um ano memorável e animador para o ecossistema de inovação. Com investimentos nunca antes vistos, o mercado que já estava em ascensão encontrou um momento para crescer apesar de um período cheio de incertezas, ocasionadas em grande parte pela pandemia de COVID-19.
Os números são impressionantes tanto no Brasil quanto no mundo, e em um momento de grande euforia podemos nos perguntar o que há de tão cativante no universo das startups que as faz progredir tanto em tão pouco tempo.
Podemos apontar algumas características que favorecem seu desenvolvimento acelerado. Desde sua organização interna, como funcionamento menos hierárquico e propício a ideias mais inovadoras, a uma cultura empreendedora que impulsiona a autonomia e a flexibilidade, tornando a resolução de problemas um movimento natural.
A inconformidade com qualquer estagnação também pode ser considerado um fator fundamental para o sucesso, ou seja, elas estão sempre atrás de melhorias constantes, resultados mais consistentes e alavancas de crescimento.
Diante desses aspectos elementares, há destaque para sua inovação intrínseca, e uso da tecnologias que impactam o mundo. E ainda, para os mais entusiastas desse modelo de negócios, uma das únicas respostas possíveis: consequência de seu próprio funcionamento: replicável e escalável.
Contudo, a resposta pode ser uma combinação de tudo isso e um plus contextual.
Apesar de estarmos em meio a um cenário macroeconômico instável nacional e internacionalmente, o ecossistema de venture capital e nova economia acabou de passar pelo seu melhor ano na história do país, investindo e apoiando como nunca as startups brasileiras para manter o impulso desse foguete no ar.
As baixas taxas de juros impulsionaram investidores e empreendedores. Isso é, grandes investimentos foram feitos rodada após rodada, fomentando o ecossistema. O Brasil segue essa onda de crescimento, e com isso, o mercado de startups nacional se torna uma oportunidade aos olhos de investidores internacionais.
Diferente do que ocorre com as startups que recorrem ao bootstrapping, ou seja, utilizam apenas recursos próprios para seu crescimento, o volume de investimentos em 2022 deve bater um recorde histórico no Brasil.
Impulsionado por um grande interesse no setor de tecnologia, os ventos começaram a ser favoráveis ao Brasil já a algum tempo, e o futuro se mostra cada vez mais e mais promissor.
De acordo com uma pesquisa da KPMG e da Associação Brasileira de Private Equity e Venture Capital (Abvcap) citada em um artigo da Exame, em 2021, fundos de Venture Capital aportaram R$ 46,5 bilhões em startups brasileiras, triplicando a cifra registrada no ano anterior.
Diante do contexto favorável, mesmo após recorde no ano passado, que chegou a dobrar as receitas de financiamentos em relação a 2020, caso este crescimento se mantenha, de acordo com estudo da Sling Hub, as startups brasileiras devem receber até 200% mais investimentos em suas rodadas.
O Brasil, que figura entre os 10 principais players em captação de investimento em startups, com este crescimento, poderia alcançar o top 6.
No ano, chegamos à expressiva marca de 760 rodadas. Destas, 217 eram rodadas seed ou anjo, o que implica no fato de que as startups não recorrem apenas ao bootstrapping, já que o mercado de VCs está voltado também para as early-stages.
Analisando de maneira mais ampla, os aportes cresceram não apenas na região sudeste, que lidera 87% dos investimentos, mas também pudemos presenciar um aumento principalmente nas regiões sul e nordeste, que obtiveram 351% e 386% de alta, respectivamente.
Isso demonstra que o ecossistema de startups no Brasil, apesar de mais concentrado em uma região, começa a se espalhar e crescer no resto do território.
Apesar das incertezas econômicas e até sociais, a filosofia de investimento dos Venture Capitals parece não ser tão afetada. De acordo com Laura Constantini, fundadora da Astella Investimentos, o investimento em startups é acíclico, já que buscam retornos ao longo prazo, e com isso, retornos maiores.
Isso também se reflete na busca dos venture capitals por empresas mais inovadoras, o que gera maior proteção no valor.
A alta crescente das receitas nas rodadas não ocorre apenas no Brasil. A quebra de recordes em valores dos aportes nas startups é uma tendência global. O investimento de risco global cresceu 92% no ano passado, chegando aos US$ 643 bilhões, contra US$ 335 bilhões em 2020.
Embora o investimento concentre-se principalmente no Vale do Silício e em Nova York, esse número baixou para 57%, o menor desde 2015.
Enquanto isso, vemos a ascensão de outros lugares ganhando impulso, como na Filadélfia com startups em estágio inicial representando 63% do total de negócios, Los Angeles e Dallas baterando recordes de investimento com 62% e 55%, respectivamente, e em Miami, foi levantado US$ 4,6 bilhões em 2021.
Apesar dos Estados Unidos manterem-se como uma potência, concentrando o maior número de startups do mundo, o cenário mostra-se favorável globalmente, com investimentos começando a serem mais distribuídos.
Diante do cenário apresentado até aqui, repleto de números consistentes e relevantes, vemos que o cenário é bastante favorável, contudo, é normal que surja a pergunta: ele se manterá em 2022?
Com o incentivo a todo vapor, é possível tentar prever alguns cenários de acordo com os indicadores, e a seguir, separamos algumas perspectivas que podem ser decisivas não só para 2022, como para os próximos anos, apresentando um panorama geral do que está sendo impulsionado pelos financiamentos generosos.
De acordo com o acompanhamento em tempo real realizado pela CB Insights, e até a publicação deste artigo, existem cerca de 1.066 unicórnios mapeados em todo o mundo, e juntos valem mais de US$ 3,5 trilhões.
Vale ressaltar que 65 dessas empresas foram adicionadas ao rastreador depois de fevereiro de 2022, o que evidencia como o setor está em crescimento acelerado.
Desde dezembro de 2021 empresas que passaram a valer US$ 1 bilhão cresceram 13,9%.
No Brasil, a tendência não é diferente. Com os recordes em aplicações, o país também acumulou mais 10 novos unicórnios no celeiro, entre elas estão a MadeiraMadeira, Mercado Bitcoin, C6 Bank, Facily e Olist.
Representando um maior destaque brasileiro no mercado de inovação global, isso implica em maior atração de investidores e assim, o valor das captações também cresce. Assim, o ecossistema de inovação é retroalimentado.
As fintechs, startups relacionadas ao setor financeiro, receberam os maiores investimentos em 2021 globalmente, cerca de $131 bilhões foram destinados ao segmento, de criptografia a infraestrutura para bancos digitais, e a tendência é que continuem com a maior parcela do apoio financeiro.
No Brasil, por exemplo, dos R$46,5 bilhões arrecadados por venture capital, 30% foi diretamente para fintechs e as chamadas insuretechs, startups que atuam no setor de seguros.
Esses investimentos reforçam a tendência pela digitalização, isso é, com um mundo cada vez mais omnichannel, a demanda por serviços digitais, incluindo os financeiros, tende a ser cada vez mais alta e proporcionar uma melhor experiência do cliente sem dúvidas, tende a incluir o desenvolvimento de uma infraestrutura digital.
Embora muitas empresas voltadas a encontrar soluções para aumentar a vida útil das pessoas existam, normalmente, elas não se intitulam desse modo. Considerando que o aporte financeiro para esses negócios seja mais brando que aqueles conseguidos por fintechs, por exemplo, eles são substanciais e tendem a ocupar um espaço mais consistente em 2022.
A startup Insilico Medicine levantou US$ 300 milhões para o desenvolvimento de uma plataforma de medicamentos focada em câncer e doenças relacionadas à idade, que utilizará IA. Um dos maiores focos desses negócios é trazer soluções para doenças neurodegenerativas, como o Alzheimer.
A previsão é que juntamente com o aumento de interesse por biotecnologia, as startups que focam em longevidade conseguirão obter mais investimentos e consequentemente, cada vez mais espaço no ecossistema de inovação.
Apesar dos números animadores e crescimento acelerado de muitas startups, a conjuntura política e econômica do Brasil e do mundo não está positiva em relação a investimentos de alto risco no atual momento.
Estamos presenciando governos tentando controlar a inflação gerada durante os estímulos fiscais na pandemia através de aumentos nas taxas de juros, o que, em tese, influencia os investidores a investir em títulos públicos menos voláteis.
Não obstante, também vivenciamos uma quebra na ordem do sistema internacional através da guerra na Ucrânia e seus efeitos catastróficos na economia e geopolítica global.
Com impactos na oferta, e assim, na flutuação de preços de combustíveis fósseis e fertilizantes, por exemplo, que podem ser decisivos para os próximos anos, apresentando uma perspectiva inicial do que está sendo impulsionado pelos financiamentos generosos.
Levando esses aspectos em consideração e de acordo com insights da Crunchbase, o investimento global permanecerá forte durante esse ano, mas é difícil que o volume se repita. A previsão é que fique entre US$ 650 e 300 bilhões.
Conseguir financiar o seu negócio, seja através de investidor anjo, venture capital ou até investimento próprio, é um desafio e para ter uma ideia que consiga ser escalável e replicável é fundamental estar preparado e começar a trilhar seu caminho no empreendedorismo com mais segurança.