O capital de giro para empresas é um de seus conceitos mais importantes, já que garante a continuidade de suas operações e, consequentemente, o sucesso daquele negócio.
Pode ser que você não saiba ao certo o que é capital de giro, mas muito provavelmente já ouviu sobre ele, em especial se é um empreendedor, empresário, gestor ou trabalha com finanças.
Se fôssemos comparar a gestão de uma empresa com a construção de uma casa, sem dúvidas, o capital de giro faria parte da estrutura que a mantém de pé. Afinal, em ambas situações, sem um alicerce, não existe sustentação.
Mesmo sendo um conceito bastante conhecido, muitas companhias ainda sofrem com ele, especialmente aquelas de menor porte, cujos processos de estruturação e consolidação nem sempre são tão bem definidos.O tema é relevante não apenas para empresas brasileiras, mas também a nível global. Prova disso é que a PwC, uma das Big Four de auditoria e consultoria, elabora estudos que abordam especificamente este tema.
Em sua edição 2019/20, inclusive, o documento revelou que houve melhora no capital de giro em 8 de 18 setores, o que mostra uma melhoria em 44,4% das indústrias consideradas no estudo.
Independentemente de qual seja o estágio do seu negócio, seja ele incipiente ou com décadas de existência, sempre há tempo de aprender mais sobre este conceito tão importante e, além disso, como otimizar o capital de giro para ter ainda mais estabilidade financeira em seu negócio.
“Capital de giro é a quantidade de dinheiro que seu negócio precisa para operar de forma continuada.”
Essa é a definição trazida por Julian Tonioli, mentor do G4 Educação e sócio da Auddas, em nosso curso de Fundamentos de Finanças.
Basicamente, o capital de giro é a soma dos recursos financeiros de que a sua empresa dispõe para que possa continuar funcionando, independentemente de qual seja seu porte ou segmento.
Porém, a definição vai ainda além disso. Julian também comenta que essa quantidade de dinheiro está na empresa, mas fica indisponível para uso enquanto o negócio opera.
Em um primeiro momento, a explicação pode parecer confusa. Porém, basta pensar no capital de giro para empresas como um valor que está disponível para manter todas as engrenagens da empresa funcionando.
Um exemplo trazido por Julian na mesma aula do curso mencionado anteriormente ajuda a entender a explicação de uma maneira ainda mais prática.
“É como se você tivesse uma quantidade de combustível que fica no seu tanque de gasolina e que você não pode utilizar. Ou seja, você tem [...] seu tanque de 100 litros, mas você nunca consegue ficar com o tanque abaixo de ¼, porque [...] sua bomba de combustível para de funcionar e o seu carro não anda mais.”
O mesmo acontece com o capital de giro. Este valor não pode deixar de existir, pois, caso isso aconteça, será praticamente impossível manter a roda girando.
Embora não seja uma definição tão comum, é importante conhecer os diferentes tipos de capital de giro. São eles:
O cálculo do capital de giro pode ser mais ou menos complexo de acordo com cada negócio, mas, de maneira geral, o conceito é bastante simples. A fórmula é a seguinte:
Fórmula de capital de giro = estoque + contas a receber - contas a pagar
É importante ressaltar que todas essas variáveis devem ser consideradas em um dado momento. Por exemplo, se você deseja calcular o seu capital de giro no dia 15 de janeiro, é preciso analisar o estoque, o contas a receber e o contas a pagar também no dia 15 de janeiro.
Se isso não for feito, provavelmente haverá divergências no resultado.
Além disso, para que o cálculo do capital de giro traga um resultado fiel, é fundamental ter um balanço financeiro bastante preciso, contemplando principalmente o seguinte:
Mais adiante, traremos um exemplo prático do capital de giro para compreender como ele se aplica no contexto de uma empresa.
Outro conceito bastante importante, mas que nem sempre é tão considerado quanto a fórmula de capital de giro em si, é o cálculo de dias de capital de giro, que mostra exatamente para quantos dias aquele valor é suficiente para manter a empresa funcionando.
O procedimento é bem simples:
Fórmula de dias de capital de giro = (capital de giro / faturamento) × 30 dias
A multiplicação por 30 dias, no final do cálculo, é feita pelo fato de que o resultado que o precede aparece em meses, o que traz menos assertividade na compreensão.
Depois de entender a definição e as fórmulas necessárias para calcular o capital de giro, é chegada a hora de entender como ele impacta, na prática, no cotidiano de uma empresa.
O exemplo de capital de giro a seguir é hipotético e bem simplificado, já que não contempla nem despesas fixas e nem despesas variáveis, mas ajuda a entender de maneira mais prática como este conceito é aplicado nos negócios.
Outro ponto importante é o conceito de necessidade de capital de giro, que consiste na variação do capital de giro de um mês para o outro.
Considerando o exemplo que vimos anteriormente, se o capital de giro da empresa continuasse em R$ 3 mil no mês 3, então a necessidade de capital de giro para aquele mês seria igual a zero.
Porém, este é um cenário muito difícil de acontecer na vida real, já que o objetivo é fazer com que a empresa cresça. Para tal, é preciso investir, o que, de acordo com o exemplo, poderia significar a compra de mais mercadorias, o que mudaria o cálculo de capital de giro.
Com isso, chegamos a uma verdade: quanto maior o crescimento de um negócio, maior a sua necessidade de capital de giro (NCG).
É por isso que é normal perceber que a empresa está crescendo, mas que isso não representa mais caixa sobrando. Afinal, é preciso investir capital para crescer.
Isso também ajuda a explicar porque as startups captam recursos com um investidor anjo ou por outros meios para financiar sua velocidade de crescimento, pois elas precisam desses recursos para fazer jus ao capital de giro.
É fato que o crescimento é um objetivo comum entre as empresas. Porém, para que isso aconteça de maneira sustentável, é importante que tudo seja muito bem calculado, pois o que poderia representar um lucro pode, na verdade, se transformar em prejuízo.
O intuito dessa frase não é a de te trazer medo ou apreensão, mas sim de te ajudar a ter uma boa gestão financeira para que, assim, a empresa realmente consiga crescer com saúde.
Analisando suas finanças, pense no seguinte: o máximo de crescimento que a sua empresa pode sustentar sem a necessidade de capital externo é algo que queime, no máximo, o valor que ela tem em caixa no atual período.
Em outras palavras, isso significa que o crescimento tende a ocorrer de maneira gradual e progressiva para não prejudicar sua relação com o capital de giro. Mesmo que isso possa demorar mais tempo do que você tinha em mente, os riscos são menores.
Outra citação de Julian Tonioli sintetiza muito bem essa ideia:
“[...] a velocidade com a qual eu cresço me gera uma necessidade de capital que faz com que eu não consiga crescer mais rápido sem capital externo.”
Leia também: Fluxo de caixa: uma empresa em crescimento não significa uma empresa em enriquecimento
Se sua empresa deseja adotar o modelo de bootstrapping, que são aquelas empresas, em especial startups, que não recorrem a investimentos externos, há algumas formas de melhorar seus resultados já a curto prazo.
É preciso se planejar bem para colocá-las em prática, mas todas elas são atingíveis e podem fazer com que o seu negócio atinja outro patamar de faturamento, o que, por sua vez, permite à companhia financiar sua velocidade de crescimento recorrendo apenas a recursos internos.
As seguintes dicas podem te ajudar a melhorar seus resultados sem interferir negativamente no capital de giro:
Lembre-se que é importante avaliar com cautela a aplicação de cada uma das dicas. Afinal, se a sua empresa perder o controle das contas a pagar ou a receber, por exemplo, os potenciais prejuízos podem ser grandes – inclusive financeiros.
Veja também: 11 indicadores financeiros que toda empresa deveria acompanhar [+ fórmulas e exemplos]
Sem dúvidas, o capital de giro é um dos principais recursos de qualquer empresa. Embora nossos exemplos tenham sido baseados em companhias que vendem produtos, aquelas que oferecem serviços também precisam de capital de giro para que consigam entregar suas soluções aos clientes.
Além disso, cabe ressaltar que os exemplos usados foram simplificados, não contemplando despesas fixas e variáveis, algo que também existe em toda empresa e precisa ser administrado com sabedoria para manter sua saúde financeira.