Será que o layoff da Apple está próximo? Mais de 65 mil colaboradores foram demitidos desde 1 de janeiro de 2023, fortalecendo a onda de demissões que vem acontecendo nas empresas tech desde o ano passado. No entanto, algumas companhias parecem estar passando melhor pela turbulência - é o caso da empresa fundada por Steve Jobs, que até agora, não anunciou cortes.
Em 2020, a pandemia de Covid-19 reconfigurou o mundo em muitos aspectos, e enquanto nos adequavámos a vida em lockdown, muitas empresas - principalmente as de tecnologia -, encontraram uma demanda crescente por seus serviços, o que incluiu novas avenidas de crescimento e oportunidades até então inexploradas.
Assim, foi natural que as vagas no setor aumentassem, mantendo o mercado aquecido e fazendo com que os principais players fossem na contramão do mundo - contratassem novos talentos e continuassem expandindo rapidamente.
Esse cenário se manteve verdadeiro até meados de 2022, quando passamos a acompanhar indícios de desaceleração. Companhias que haviam aumentado sua mão de obra durante a crise do coronavírus passaram a congelar vagas e as demissões em massa começaram a atingir uma a uma.
De acordo com um artigo da Forbes, as maiores empresas de tecnologia do mundo demitiram coletivamente mais de 150.000 funcionários - entre os principais nomes estão Google 12.000 , Meta 11.000, Microsoft 10.000 e Amazon 18.000. De acordo com matéria do The Guardian, após comprar o Twitter em abril de 2022, Elon Musk também demitiu metade dos colaboradores.
Embora muitas outras empresas estejam fazendo o mesmo, como é o caso das gigantes do mercado financeiro Goldman Sachs e Morgan Stanley, as companhias tech estão demitindo em volumes ainda mais acentuados e com certa cadência, o que acaba colocando-as em maior destaque.
Apesar do cenário desfavorável, um grande player da indústria tecnológica vem chamando a atenção por se manter distante dos layoffs. A Apple ainda não anunciou nenhuma grande demissão e, a seguir, explicamos algumas razões que podem estar contribuindo para isso.
À medida que o comportamento se tornou cada vez mais digital durante a pandemia, as empresas que compõem a indústria tecnológica consolidaram sua força.
Enquanto o lucro líquido da maioria continuava a crescer, as contratações se mantinham a todo vapor e com a Apple não foi diferente. Além dos lucros do primeiro trimestre terem dobrado de 202o para 2021, o valuation da companhia foi para US$2,2 trilhões e o preço das ações subiu mais 2,4%.
Mas o que difere a Apple das outras empresas que estão anunciando layoffs e que assim como ela, vivenciaram picos expressivos de crescimento?
A seguir pontuamos alguns fatores que podem ter contribuído para que a Apple, até agora, não tenha anunciado demissões em massa.
Embora tenha conseguido impulsionar seus resultados durante a pandemia, diferente de outras companhias tech, a Apple foi mais cautelosa quanto a contratação e investimentos em outras iniciativas neste período, mesmo com os excelentes resultados.
De setembro de 2019 a setembro de 2022, a força de trabalho da Apple cresceu 20%, totalizando 164.000 colaboradores em tempo integral. No mesmo período, a Microsoft aumentou 53%, a Alphabet (Google) 57%, a Meta 94% e a Amazon dobrou.
Uma recente pesquisa do Pacto Global com a Accenture - realizada com 2.600 CEOs de diferentes setores e indústrias, descobriu que para 43% as instabilidades geopolíticas trouxeram não só uma onda de incerteza sobre o futuro como também desafios operacionais expressivos, entre eles:
Para as empresas de tecnologia, os desafios não foram menores. Além de enfrentarem desacelerações em publicidade digital, e-commerce e PCs, muitas das principais tech companies lidaram com desafios de fabricação e vendas abaixo do esperado. O modelo de negócios da Apple, inclusive, apresentou ganhos abaixo dos registrados nos últimos trimestres.
Apesar da desaceleração evidente, o principal produto da Apple, o iPhone, continuou no topo. A empresa informou que as vendas avançaram 9,7% em relação ao ano anterior, superando as estimativas e atingindo US$42,6 bilhões.
Ou seja, embora o crescimento tenha sido menos expressivo que em anos anteriores, o modelo de negócios da Apple não depende exclusivamente da publicidade e houve consistência nas vendas de seu produto principal.
Atualmente, a Apple conta com benefícios que vão desde descontos relacionados a compra de ações a flexibilidade quando os colaboradores precisam ficar um tempo off - oferecendo cuidados com a saúde física e mental. O plano médico, por exemplo, além de envolver toda a família inclui tratamentos de fertilidade.
No entanto, diferente de outras grandes empresas de tecnologia como Meta e Google, a Apple não oferece almoço grátis em seu campus corporativo.
A médio e longo prazo, isso pode ter contribuído para que a empresa poupasse custos consideráveis, e alguns especialistas indicam que a companhia pode focar em reduzir alguns outros benefícios comuns no Vale do Silício.
Embora a operação tenha sido impactada, a Apple ainda não anunciou nenhum layoff, por isso, separamos algumas lições que podem ser aprendidas com a empresa que até agora, é a única entre os gigantes da indústria tech que não anunciou grandes demissões:
A seguir, detalhamos cada um dos insights:
A abordagem de liderança de Tim Cook, atual CEO da Apple, tem sido vista pelo mercado como um dos fatores mais importantes de sua atual resiliência.
Conhecido por ser mais pragmático e cauteloso quanto aos riscos, sob sua gestão, o crescimento da Apple se deu em um nível menos acelerado que os demais concorrentes, no entanto, conquistou mais consistência, o que a deixou em uma posição mais vantajosa para lidar com crises e uma possível recessão.
"Ele é um visionário e muito cuidadoso em termos de construção de negócios." Dan Ives, analista da Wedbush Securities
Embora sua abordagem já tenha sido chamada de “chata”, é inegável que com uma mentalidade menos imediatista, Tim Cook pôde navegar pela euforia das contratações e o crescimento agressivo do setor de tecnologia de maneira comedida - tomando decisões mais estratégicas a médio e longo prazo.
Entre 2021 e 2022 o salto de funcionários das principais empresas de tecnologia foi expressivo.
Entre junho de 2021 e junho de 2022, por exemplo, teve um aumento de 40.000 funcionários.A Alphabet, embora já estivesse contratando mesmo antes da pandemia, adicionou à folha de pagamento mais de 21 mil funcionários em 2021, e um ano antes, já havia contratado 16 mil.
A Meta viveu o período de maior expansão de sua história entre 2020 e 2021, a, contratando 26 mil novos funcionários - 13 mil em cada ano. No entanto, entre as maiores empresas do setor, a Amazon foi a que mais cresceu durante esse período.
Em 2020 cresceu mais de 30% adicionando meio milhão de funcionários e em 2021 adicionou mais 310 mil colaboradores. Ao final de dezembro desse mesmo ano, a empresa fundada por Jeff Bezos empregava cerca de 1,3 milhão de pessoas - sendo 300 mil, empregos corporativos.
Já a Apple, contratou apenas 10 mil funcionários entre setembro de 2021 e setembro de 2022, além disso, 40% do total de suas contratações - cerca de 65.000 -, incluem funcionários que trabalham no varejo.
Embora a pandemia tenha apresentado oportunidades de crescimento para as empresas de tecnologia, o período apresentava incertezas, e correr riscos estava nas entrelinhas - o que deixou pouca margem para lidar com imprevistos.
Pelo baixo volume de novas contratações durante a pandemia, muitos especialistas preveem que a Apple anuncie cortes, será bem menor do que os números que estamos acompanhando atualmente.
"Acredito que a Apple ainda está em modo de crescimento significativo. Em outras palavras, eu não esperaria demissões de 7% a 10%. Acho que é mais cortar nas arestas e ser mais prudente do que arrancar o curativo." Dan Ives, analista da Wedbush Securities
O ideal é, sempre que possível, trabalhar com cautela, analisando todos os possíveis cenários e priorizando o crescimento sustentável a médio e longo prazo em detrimento do curto prazo.
Diferente de outros players - que mantêm o modelo de negócio arraigado a publicidade e anúncios, o modelo da Apple se concentra na venda de seus produtos - celulares, tablets e computadores -, esse é o seu negócio principal.
Essa abordagem lhe oferece uma vantagem competitiva importante, uma vez que consegue ter mais autonomia para atuar, dependendo menos de outra grande indústria.
Outra característica que impulsiona a adaptabilidade da empresa é a logística. Embora trabalhe com lojas físicas, a Apple não detém uma rede de armazéns e centros de distribuição como a Amazon, por exemplo. Além disso, como a fabricação dos produtos é terceirizada, a empresa não sente o impacto das mudanças no ciclo de demanda imediatamente.
Portanto, se atentar ao modelo de negócios - tendo em vista gaps que precisam ser preenchidos - ou melhorados - é fundamental para cultivar a resiliência da operação, focando em aprimorar o que aumenta a competitividade.
Uma grande característica que colocou a Apple em uma posição mais resiliente em comparação aos concorrentes, é que a empresa manteve-se concentrada em suas principais fontes de receita durante a pandemia.
Enquanto algumas empresas de tecnologia tiveram eventuais baixas nas ações por investir em iniciativas ambiciosas ou expandir o quadro de funcionários, a Apple continuou focando em seu portfólio de produtos bem-sucedido e os projetos paralelos avançaram de maneira mais moderada - como é o caso do carro autônomo.
Desde que a Meta anunciou que focaria em desenvolver o Metaverso, por exemplo, em outubro de 2021, além do volume de novas contratações, a empresa fundada por Mark Zuckerberg já gastou cerca de US$ 15 bilhões com desenvolvimento.
Assim, antes de investir em grandes projetos, principalmente em momentos de incerteza, é importante “arrumar a casa”, ou seja, antes de arcar com altos investimentos e se comprometer com produtos e serviços disruptivos, é preciso garantir que os produtos existentes continuem contribuindo de modo consistente para os resultados da companhia.
Não importa o tipo de liderança exercida - mais cautelosa como Tim Cook ou mais reativa como Elon Musk, um bom líder ajuda os liderados a quebrarem barreiras, construindo um ambiente favorável para o desenvolvimento de soluções viáveis e colaborativas, principalmente em tempos turbulentos.
Conforme o negócio e a sua gestão estratégica amadurecem , é possível entender de maneira mais objetiva e efetiva onde a empresa deve melhorar, e as boas perguntas passam a fazer parte da direção estratégica do negócio.
Por isso, fazer as perguntas certas é uma das 15 lições de liderança de Tallis Gomes, e deve ser uma prioridade para qualquer negócio que deseja sobreviver e se manter relevante em tempos de mudança.
Em suma, uma empresa de sucesso é aquela que mantém o foco em diminuir o churn e reter talentos, adaptando-se a diferentes situações - sejam elas boas ou totalmente desafiadoras.
É importante destacar que embora nenhuma empresa esteja isenta de demissões, com planejamento e estratégia, é possível gerenciar melhor os riscos, mitigando os impactos negativos e mantendo talentos - como é o caso da Apple.
Embora esteja em uma posição menos delicada que outras empresas, a companhia também foi afetada pela crise, e de acordo com algumas fontes, já começou a demitir funcionários não sazonais em seu canal de varejo.
Ainda assim, espera-se que algumas demissões e reajustes sejam o bastante para diminuir custos, nada que chegue a ser descrito como um layoff. Recentemente, o próprio Tim Cook aceitou uma redução de mais de 40% de seu salário para 2023.
Em meio a um cenário turbulento e incerto, no qual mais de 200 empresas de tecnologia apresentaram layoffs, a Apple conseguiu - até agora -, manter grande parte de seus funcionários e apresentar um crescimento considerável.
Enquanto o valor de seus principais concorrentes tech somavam todos juntos US$ 2,306 trilhões, de acordo com dados do Insider, no fim de 2022, o valor de mercado da Apple era de US$ 2,307 trilhões.
Sem dúvida, o estilo de liderança de Tim Cook é um componente-chave para a atual resiliência da Apple, o que fortalece a ideia de que para atravessar momentos difíceis e ainda assim crescer, é preciso que a estratégia esteja focada no médio e longo prazo.
Nenhuma liderança permanece a mesma todo o tempo, e nem deve, uma vez que o mundo se transforma cada vez mais e mais rápido, é preciso saber quando acelerar e quando moderar, tendo em mente o que é melhor para a companhia.
Embora correr riscos faça parte da jornada empreendedora, é preciso dosar o apetite por riscos, levando em consideração objetivos de negócio, tendências e comportamento, sabendo navegar por diferentes abordagens nos momentos certos.
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