Entenda o que a Apple fez para não ter layoffs (até agora)
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Entenda o que a Apple fez para não ter layoffs (até agora)

Entenda o que a Apple fez para não ter layoffs (até agora)

Por:
Amanda Moura
Publicado em:
9/2/2023

Será que o layoff da Apple está próximo? Mais de 65 mil colaboradores foram demitidos desde 1 de janeiro de 2023, fortalecendo a onda de demissões que vem acontecendo nas empresas tech desde o ano passado. No entanto, algumas companhias parecem estar passando melhor pela turbulência - é o caso da empresa fundada por Steve Jobs, que até agora, não anunciou cortes.

Em 2020, a pandemia de Covid-19 reconfigurou o mundo em muitos aspectos, e enquanto nos adequavámos a vida em lockdown, muitas empresas - principalmente as de tecnologia -, encontraram uma demanda crescente por seus serviços, o que incluiu novas avenidas de crescimento e oportunidades até então inexploradas.

Assim, foi natural que as vagas no setor aumentassem, mantendo o mercado aquecido e fazendo com que os principais players fossem na contramão do mundo - contratassem novos talentos e continuassem expandindo rapidamente.

Esse cenário se manteve verdadeiro até meados de 2022, quando passamos a acompanhar indícios de desaceleração. Companhias que haviam aumentado sua mão de obra durante a crise do coronavírus passaram a congelar vagas e  as demissões em massa começaram a atingir uma a uma. 

De acordo com um artigo da Forbes, as maiores empresas de tecnologia do mundo demitiram coletivamente mais de 150.000 funcionários - entre os principais nomes estão Google 12.000 , Meta 11.000, Microsoft 10.000 e Amazon 18.000. De acordo com matéria do The Guardian, após comprar o Twitter em abril de 2022, Elon Musk também demitiu metade dos colaboradores.

Embora muitas outras empresas estejam fazendo o mesmo, como é o caso das gigantes do mercado financeiro Goldman Sachs e Morgan Stanley, as companhias tech estão demitindo em volumes ainda mais acentuados e com certa cadência, o que acaba colocando-as em maior destaque.

Apesar do cenário desfavorável, um grande player da indústria tecnológica vem chamando a atenção por se manter distante dos layoffs. A Apple ainda não anunciou nenhuma grande demissão e, a seguir, explicamos algumas razões que podem estar contribuindo para isso.

Qual foi a receita do sucesso para a Apple não demitir seus colaboradores em meio a um período tão turbulento?

À medida que o comportamento se tornou cada vez mais digital durante a pandemia, as empresas que compõem a indústria tecnológica  consolidaram sua força. 

Enquanto o lucro líquido da maioria continuava a crescer, as contratações se mantinham a todo vapor e com a Apple não foi diferente. Além dos lucros do primeiro trimestre terem dobrado de 202o para 2021, o valuation da companhia foi para US$2,2 trilhões e o preço das ações subiu mais 2,4%. 

Mas o que difere a Apple das outras empresas que estão anunciando layoffs e que assim como ela, vivenciaram picos expressivos de crescimento? 

A seguir pontuamos alguns fatores que podem ter contribuído para que a Apple, até agora, não tenha anunciado demissões em massa.

Crescimento sustentável 

Embora tenha conseguido impulsionar seus resultados durante a pandemia, diferente de outras companhias tech, a Apple foi mais cautelosa quanto a contratação e investimentos em outras iniciativas neste período, mesmo com os excelentes resultados.

De setembro de 2019 a setembro de 2022, a força de trabalho da Apple cresceu 20%, totalizando 164.000 colaboradores em tempo integral. No mesmo período, a Microsoft aumentou 53%, a Alphabet (Google) 57%, a Meta 94% e a Amazon dobrou

Produtos resilientes às mudanças do mercado

Uma recente pesquisa do Pacto Global com a Accenture - realizada com 2.600 CEOs de diferentes setores e indústrias, descobriu que para 43% as instabilidades geopolíticas trouxeram não só uma onda de incerteza sobre o futuro como também desafios operacionais expressivos, entre eles:

  • Impacto na expansão da oferta
  • Interrupções na cadeia de produção;
  • Volatilidade dos preços
  • Escassez de recursos

Para as empresas de tecnologia, os desafios não foram menores. Além de enfrentarem desacelerações em publicidade digital, e-commerce e PCs, muitas das principais tech companies lidaram com desafios de fabricação e vendas abaixo do esperado. O modelo de negócios da Apple, inclusive, apresentou ganhos abaixo dos registrados nos últimos trimestres. 

Apesar da desaceleração evidente, o principal produto da Apple, o iPhone, continuou no topo. A empresa informou que as vendas avançaram 9,7% em relação ao ano anterior, superando as estimativas e atingindo US$42,6 bilhões.

Ou seja, embora o crescimento tenha sido menos expressivo que em anos anteriores, o modelo de negócios da Apple não depende exclusivamente da publicidade e houve consistência nas vendas de seu produto principal.

Pacote de benefícios

Atualmente, a Apple conta com benefícios que vão desde descontos relacionados a compra de ações a flexibilidade quando os colaboradores precisam ficar um tempo off - oferecendo cuidados com a saúde física e mental. O plano médico, por exemplo, além de envolver toda a família inclui tratamentos de fertilidade.

No entanto, diferente de outras grandes empresas de tecnologia como Meta e Google, a Apple não oferece almoço grátis em seu campus corporativo. 

A médio e longo prazo, isso pode ter contribuído para que a empresa poupasse custos consideráveis, e alguns especialistas indicam que a companhia pode focar em reduzir alguns outros benefícios comuns no Vale do Silício.

O que a sua empresa pode aprender com os movimentos da Apple para manter sua força de trabalho?

Embora a operação tenha sido impactada, a Apple ainda não anunciou nenhum layoff, por isso, separamos algumas lições que podem ser aprendidas com a empresa que até agora, é a única entre os gigantes da indústria tech que não anunciou grandes demissões:

  1. Cultive lideranças consistentes e pragmáticas 
  2. Opte pelo crescimento sustentável
  3. Crie mecanismos que tornem seu modelo de negócios adaptável
  4. Antes de focar em novas avenidas de crescimento, fortaleça produtos existentes
  5. Faça as perguntas certas

 A seguir, detalhamos cada um dos insights:

#1 - Cultive lideranças consistentes e pragmáticas

A abordagem de liderança de Tim Cook, atual CEO da Apple, tem sido vista pelo mercado como um dos fatores mais importantes de sua atual resiliência. 

Conhecido por ser mais pragmático e cauteloso quanto aos riscos, sob sua gestão, o crescimento da Apple se deu em um nível menos acelerado que os demais concorrentes, no entanto, conquistou mais consistência, o que a deixou em uma posição mais vantajosa para lidar com crises e uma possível recessão.

"Ele é um visionário e muito cuidadoso em termos de construção de negócios." Dan Ives, analista da Wedbush Securities 

Embora sua abordagem já tenha sido chamada de “chata”, é inegável que com uma mentalidade menos imediatista, Tim Cook pôde navegar pela euforia das contratações e o crescimento agressivo do setor de tecnologia de maneira comedida - tomando decisões mais estratégicas a médio e longo prazo.

#2 - Opte pelo crescimento sustentável

Entre 2021 e 2022 o salto de funcionários das principais empresas de tecnologia foi expressivo. 

Entre junho de 2021 e  junho de 2022, por exemplo, teve um aumento de 40.000 funcionários.A Alphabet, embora já estivesse contratando mesmo antes da pandemia, adicionou à folha de pagamento mais de 21 mil funcionários em 2021, e um ano antes, já havia contratado 16 mil. 

A Meta viveu  o período de maior expansão de sua história entre 2020 e 2021, a, contratando 26 mil novos funcionários - 13 mil em cada ano. No entanto, entre as maiores empresas do setor, a Amazon foi a que mais cresceu durante esse período. 

Em 2020 cresceu mais de 30% adicionando meio milhão de funcionários e em 2021 adicionou mais 310 mil colaboradores. Ao final de dezembro desse mesmo ano, a empresa fundada por Jeff Bezos empregava cerca de 1,3 milhão de pessoas - sendo 300 mil, empregos corporativos.

Já a Apple, contratou apenas 10 mil funcionários entre setembro de 2021 e setembro de 2022, além disso, 40% do total de suas contratações - cerca de 65.000 -, incluem funcionários que trabalham no varejo.

Embora a pandemia tenha apresentado oportunidades de crescimento para as empresas de tecnologia, o período apresentava incertezas, e correr riscos estava nas entrelinhas - o que deixou pouca margem para lidar com imprevistos. 

Pelo baixo volume de novas contratações durante a pandemia, muitos especialistas preveem que a Apple anuncie cortes, será bem menor do que os números que estamos acompanhando atualmente.

"Acredito que a Apple ainda está em modo de crescimento significativo. Em outras palavras, eu não esperaria demissões de 7% a 10%. Acho que é mais cortar nas arestas e ser mais prudente do que arrancar o curativo." Dan Ives, analista da Wedbush Securities 

O ideal é, sempre que possível, trabalhar com cautela, analisando todos os possíveis cenários e priorizando o crescimento sustentável a médio e longo prazo em detrimento do curto prazo. 

#3 - Torne o modelo de negócios adaptável

Diferente de outros players - que mantêm o modelo de negócio arraigado a publicidade e anúncios, o modelo da Apple se concentra na venda de seus produtos - celulares, tablets e computadores -, esse é o seu negócio principal. 

Essa abordagem lhe oferece uma vantagem competitiva importante, uma vez que consegue ter mais autonomia para atuar, dependendo menos de outra grande  indústria. 

Outra característica que impulsiona a adaptabilidade da empresa é a logística. Embora trabalhe com lojas físicas, a Apple não detém uma rede de armazéns e centros de distribuição como a Amazon, por exemplo. Além disso, como a fabricação dos produtos é terceirizada, a empresa não sente o impacto das mudanças no ciclo de demanda imediatamente.

Portanto, se atentar ao modelo de negócios - tendo em vista gaps que precisam ser preenchidos - ou melhorados - é fundamental para cultivar a resiliência da operação, focando em aprimorar o que aumenta a competitividade. 

#4 - Antes de focar em novas avenidas de crescimento, fortaleça produtos existentes

Uma grande característica que colocou a Apple  em uma posição mais resiliente em comparação aos concorrentes, é que a empresa manteve-se concentrada em suas principais fontes de receita durante a pandemia.

Enquanto algumas empresas de tecnologia tiveram eventuais baixas nas ações por investir em iniciativas ambiciosas ou expandir o quadro de funcionários, a Apple continuou focando em seu portfólio de produtos bem-sucedido e os projetos paralelos avançaram de maneira mais moderada  - como é o caso do carro autônomo.

Desde que a Meta anunciou que focaria em desenvolver o Metaverso, por exemplo, em outubro de 2021, além do volume de novas contratações, a empresa fundada por Mark Zuckerberg já gastou cerca de US$ 15 bilhões com desenvolvimento.

Assim, antes de investir em grandes projetos, principalmente em momentos de incerteza, é importante “arrumar a casa”, ou seja, antes de arcar com altos investimentos e se comprometer com produtos e serviços disruptivos, é preciso  garantir que os produtos existentes continuem contribuindo de modo consistente para os resultados da companhia.

#5 - Faça as perguntas certas

Não importa o tipo de liderança exercida - mais cautelosa como Tim Cook ou mais reativa como Elon Musk, um bom líder ajuda os liderados a quebrarem barreiras, construindo um ambiente favorável para o desenvolvimento de soluções viáveis e colaborativas, principalmente em tempos turbulentos.

Conforme o negócio e a sua gestão estratégica amadurecem , é possível entender de maneira mais objetiva e efetiva onde a empresa deve melhorar, e as boas perguntas passam a fazer parte da direção estratégica do negócio.

Por isso, fazer as perguntas certas é uma das 15 lições de liderança de Tallis Gomes, e deve ser uma prioridade para qualquer negócio que deseja sobreviver e se manter relevante em tempos de mudança. 

Em suma, uma empresa de sucesso é aquela que mantém o foco em diminuir o churn e reter talentos, adaptando-se a diferentes situações - sejam elas boas ou totalmente desafiadoras.

Enquanto a empresa cresce, não esqueça de continuar gerenciando riscos

É importante destacar que embora nenhuma empresa esteja isenta de demissões, com planejamento e estratégia, é possível gerenciar melhor os riscos, mitigando os impactos negativos e mantendo talentos - como é o caso da Apple.

Embora esteja em uma posição menos delicada que outras empresas, a companhia também foi afetada pela crise, e de acordo com algumas fontes, já começou a demitir funcionários não  sazonais em seu canal de varejo.

Ainda assim, espera-se que algumas demissões e reajustes sejam o bastante para diminuir custos, nada que chegue a ser descrito como um layoff. Recentemente, o próprio Tim Cook aceitou uma redução de mais de 40% de seu salário para 2023.

Em meio a um cenário turbulento e incerto, no qual mais de 200 empresas de tecnologia apresentaram layoffs, a Apple conseguiu - até agora -, manter grande parte de seus funcionários e apresentar um crescimento considerável.

Enquanto o valor de seus principais concorrentes tech somavam todos juntos US$ 2,306 trilhões, de acordo com dados do Insider, no fim de 2022, o valor de mercado da Apple era de US$ 2,307 trilhões.

Sem dúvida, o estilo de liderança de Tim Cook é um componente-chave para a atual resiliência da Apple, o que fortalece a ideia de que para atravessar momentos difíceis e ainda assim crescer, é preciso que a estratégia esteja focada no médio e longo prazo.  

Nenhuma liderança permanece a mesma todo o tempo, e nem deve, uma vez que o mundo se transforma cada vez mais e mais rápido, é preciso saber quando acelerar e quando moderar, tendo em mente o que é melhor para a companhia.

Embora correr riscos faça parte da jornada empreendedora, é preciso dosar o apetite por riscos, levando em consideração objetivos de negócio, tendências e comportamento, sabendo navegar por diferentes abordagens nos momentos certos.

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