Não é difícil nos depararmos com discussões acaloradas em meio aos nossos feeds e redes sociais. Nesse caso, pode "parecer" que todos estão lutando uns contra os outros, mas, na realidade, existem comunidades estruturadas em todos os lugares que fazem parte da construção da vida de cada um de nós.
Isso não significa que você está cercado de pessoas que pensam e fazem exatamente o mesmo que você, mas sim de um grupo de pessoas completamente heterogêneo, no qual a nutrição de laços comuns, respeito e cooperação mútua é o que nos permite florescer em torno de pessoas diferentes.
Dito isso, fato é que desde jovens buscamos nos aproximar de grupos de pessoas que possuímos uma maior afinidade e, porque não, semelhança, com as quais nos sentimos confortáveis - uma sensação que, em tese, se aprofunda ao longo do tempo (e bota tempo nisso!)
Sendo algo construído aos poucos e ao longo dos anos, conforme os avanços do tempo, podemos considerar “comunidade” como um tipo de organização que é continuamente nutrida e promovida por seus indivíduos – não sentiremos que pertencemos imediatamente, mas saberemos no momento em que efetivamente pertencermos.
Apesar da sensação de pertencimento, fato é que uma comunidade pode parecer um conceito massivo – e, sem dúvida, é um conceito bastante amplo em diversos sentidos, afinal fazemos parte de diversas comunidades ao mesmo tempo, como é o caso das comunidades geográficas de nossos bairros, cidades e países, nas quais não necessariamente há cooperação entre os indivíduos.
Neste sentido, segundo Piaget (1973), a cooperação constitui o sistema de operações interindividuais que permitem ajustar umas às outras as operações dos indivíduos. Sendo assim, as trocas interindividuais baseadas em cooperação representam o mais alto nível de socialização.
Ainda, conforme Piaget, uma interação entre dois indivíduos, acarretando modificações duráveis, pode ser considerada como um fato social. São três os aspectos constitutivos dos fatos sociais: regras, valores de troca e sinais.
Consideram-se regras tudo aquilo que faz referência às normas em geral, sejam regras gramaticais, morais e/ou jurídicas - como é o caso do idioma, da moral e bons costumes e da legislação em vigor.
Os valores de troca caracterizam-se por tudo que pode dar vez a uma troca, como objetos utilizados pela ação prática, ideias e até valores afetivos, sendo considerados econômicos quando há quantificação, e qualitativos quando a troca não é calculada.
Já o sinal é o meio de expressão que serve à transmissão de regras e valores, como sinais verbais, a escrita, modo de vestir, ritos, etc.
Quando pessoas se reúnem em favor de uma causa ou de um objetivo comum, cria-se aí uma “comunidade”, na concepção de Piaget.
Que estamos cada vez mais conectados, é inegável. A força das redes e do smartphone modificou a dinâmica social de modo irreversível, pois impactou o modo como agimos e interagimos.
Conversar com alguém do outro lado do mundo nunca foi tão fácil, rápido, acessível e barato; ao mesmo tempo, conversar com alguém próximo ficou cada vez mais difícil, por conta da alta oferta de oportunidades e de informação disponível para o usuário.
O mesmo vale para a quantidade de informações disponíveis, o que, por sua vez, democratiza também o aprendizado. Basta um computador, uma rede de internet e pronto.
Em um mundo globalizado, em que as relações pessoais e comerciais tendem a se estabelecer de forma cada vez mais virtual, as comunidades são os espaços que criam valores e oportunidades por meio da interação entre seus membros, que debatem, opinam e se manifestam sobre um tema específico.
Mas qual é o papel e a importância de uma comunidade digital para o mundo corporativo? Como criar comunidades engajadas e assertivas? Temos essencialmente três aspectos fundamentais: conteúdo, valores e confiança.
O que une os indivíduos em torno de uma comunidade é o interesse mútuo entre eles, que nasce a partir daquilo que cada um compartilha com o coletivo. No ambiente digital, em que as comunidades estão cada vez mais presentes e relevantes, esta conexão se dá através do conteúdo e do compartilhamento (ou sincronia) de interesses.
Mesmo porque é a troca de conhecimento entre os participantes que conecta cada uma das pessoas em torno do propósito comum que fez nascer a comunidade.
Os conteúdos gerados e o movimento dos participantes em torno deles são pontos essenciais para o sucesso de uma comunidade, pois são os conteúdos publicados e discutidos (seja em uma reunião, congresso, fórum de internet, Instagram ou grupo de WhatsApp) que resultam no engajamento de seus membros.
Isso conduz ao objetivo maior, que é a transformação e a geração de valor real para cada um dos membros da comunidade através das informações e discussões difundidas.
Falando em valor, há neste caso o valor gerado para os participantes, e os valores que a comunidade defende — e que naturalmente conectam cada um dos participantes daquele grupo, tendo como pano de fundo o compartilhamento de interesses. Esses valores combinados com o conteúdo, e a troca gerada por ele, constróem muito mais que relevância.
Eles geram confiança recíproca entre todos os envolvidos, sejam eles participantes casuais ou usuários super engajados, afinal é através da manifestação de suas opiniões que as pessoas encontram convergências e afinidades.
No momento em que a comunidade atinge este estágio, temos a combinação perfeita para o sucesso. O objetivo da comunidade terá cada vez mais força quanto mais os seus membros confiarem nos valores dessa comunidade, estiverem alinhados com o produto e se identificarem com a causa defendida por ela ou o propósito de existência daquele grupo.
Tudo isso certamente é potencializado pela convergência de opiniões e posicionamentos (ainda que em assuntos específicos, mas ligados ao objetivo do grupo) e pela criação de afinidades e vínculos entre seus participantes.
Cada vez mais empresas estão investindo no lançamento de comunidades virtuais, pois entendem que, em um negócio, a criação de uma comunidade de usuários, membros, fãs, embaixadores e outros supera um fórum de debates, pois torna-se parte essencial do negócio, expressando a sua essência.
Isso se transforma em um dos principais catalisadores de inovação e um pilar de sustentação que acaba por impulsionar oportunidades, conexões, experiências e trocas relevantes em torno de um objetivo comum.
O resultado é um natural incremento na performance da companhia, melhorando consideravelmente a retenção de clientes, a aquisição de novos e o incentivo à inovação, ao mesmo tempo que pode diminuir a necessidade de investimentos em publicidade.
Para aqueles obcecados com retorno a curto prazo, a comunidade virtual pode ser um pouco frustrante, pois a sua métrica é de longo prazo. Porém, com o passar do tempo seus resultados se apresentam de uma forma consistente e exponencial.
Diferentemente do investimento na tradicional publicidade, em que o impacto se dá imediatamente após o investimento, nas comunidades os resultados se tornam cada vez mais eficientes ao longo do tempo.
Nesse caso, negócios que buscam criar uma Comunidade, por exemplo marcas de roupa, bebidas, cursos, devem primeiramente promover a conscientização interna da sua equipe sobre os valores, a missão e a visão do negócio que serão transmitidos por meio da comunidade.
Contando com uma informação interna clara e sólida, a propagação da informação passa a ser fluída e assertiva.
Depois disso, deverá prover recursos, estratégia e suporte necessários para que os profissionais possam lançar e administrar esta comunidade, com um bom suporte de conteúdo e relacionamento com seus clientes, prospects e todos aqueles com potencial para participar da comunidade.
E deverá, principalmente, acreditar e defender a força desse mecanismo que hoje tem um poder incrível de influenciar comportamentos, gerar valor, conhecimento, e principalmente, transformação.
A qualidade do relacionamento entre os membros de uma comunidade é o grande fator de diferenciação, sendo possivelmente um dos pontos mais relevantes.
É importante lembrar, que, mesmo em pleno 2021, apesar de tanta tecnologia, desafios socioculturais, disparidades e extremismos, ainda estamos balizando nossas comunidades em conexões humanas, considerando o offline e o online – lembrando que o online é muito mais fácil de ser manipulado que o offline.
Na visão de vocês, é melhor ter 3 grandes amigos ou 1000 conhecidos? Qual Comunidade queremos construir? Quão sólida ela será?
Nesse caso, podemos expandir as possíveis vertentes de uma Comunidade: quando se cria um “branding”, quando adota-se um estilo de vida, consequentemente, uma Comunidade começa a crescer. Para isso, é preciso reunir pessoas e parceiros que compartilhem de valores semelhantes (ou no mínimo próximos), assim como embaixadores e “promoters” de uma marca.
Algumas boas práticas são relevantes para que possamos construir e desenvolver nossas Comunidades. Claramente não traremos um rol exaustivo de práticas, mas sim alguns insights para o nosso dia-a-dia.
Fazer conexões com outras pessoas é ouvir pontos de vista diferentes e ter boas conversas. Ouvir é uma habilidade muito importante por si só, embora a maioria das pessoas pense que estão fazendo isso. Ouça ativamente e se envolva com o que os outros estão dizendo – você construirá relacionamentos e se sentirá bem.
A escuta ativa é um exercício que deve ser praticado sempre que possível, demonstrando assim empatia com quem fala e proporcionando trocas realmente relevantes.
Neste sentido, vale lembrar que algumas das primeiras comunidades civilizadas foram formadas em torno de discussões em ágoras, cuja função era permitir que aqueles que a ocupassem por alguns instantes fossem ouvidos por todos.
As comunidades sobrevivem e prosperam quando todos contribuem. Não se limite a entrar em uma comunidade para somente extrair algo e ver como ela pode servi-lo. Seja altruísta e não espere o mundo – pense em como você pode ajudar os outros ou adicionar algo positivo e, por sua vez, algo bom pode surgir dessas interações.
Tente não usar a comunidade como plataforma de vendas diretas, pois isso tira valor do círculo de relacionamentos – uma abordagem mais adequada é estar disposto a resolver os problemas dos outros membros da comunidade que você é capaz de resolver.
Agora isso é algo de que precisamos cada vez mais. Precisamos aceitar que nem todos têm as mesmas opiniões que nós sobre um determinado tópico ou assunto. Não necessariamente iremos concordar com tudo e ouvir diferentes opiniões faz parte da nossa formação.
Aprender e buscar tirar o melhor proveito desses momentos é crucial para o nosso desenvolvimento. Aprendemos mais sobre nós mesmos e nossas ideias, também ouvindo os outros. A divergência na comunidade gera reflexões mais profundas e decisões mais razoáveis.
Responsável pela análise de dados, interpretar o que os membros estão falando, o que acham do produto, partindo de uma interseção de uma série de fatores e o que é relevante culturalmente. Quando falamos de dados, esse profissional, independente da formação, deve saber analisar e interpretar o que cada uma daquelas informações está querendo transmitir.
Seguir ou frear a iniciativa de uma campanha, uma ação envolvendo experiência, algum evento específico, mudanças operacionais, tendências de consumo. Hoje a figura do Community Manager passa a ser cada vez mais estratégica.
Imagine todas as áreas de uma empresa, de ponta a ponta. As funções bem definidas, trabalhos complementares e o foco no objetivo adiante. Passando pelo Community Manager, ele pode ser o responsável pela comunicação e construção de marca. Nesse momento, você leitor pode se perguntar: “Mas a construção de marca não deveria ser feita pelo time de Marketing e Mídia, por exemplo?”
Nesse caso, preferimos seguir por um outro caminho. A construção de marca pelo Community Manager tem o foco -ou deveria- em profundidade, ao invés do que alcance. Os consumidores dos nossos produtos e serviços, estão saturados de relações rasas com as marcas.
Atualmente, o consumidor busca informações mais detalhadas sobre as empresas, o propósito, os valores, o dia-a-dia, como são tratados os funcionários.
Outra habilidade que o Community Manager apresenta (ou ao menos deveria) é de interlocutor da Comunidade, dando voz e força para toda uma rede (não necessariamente online).
Inclusive, uma boa maneira de fidelizar clientes é contratando um Community Manager para evoluir a comunicação levando sua influência para além das redes sociais ou do suporte. Desta forma, você os engajará ainda mais com seu produto ou serviço e melhora a percepção que eles têm sobre a sua marca.
A publicidade tradicional entra como suporte na comunicação, quem faz o link com a sua comunidade, é o Community Manager, o agente dessa mudança. Neste caso, algumas habilidades saltam aos olhos para um profissional como este: adaptabilidade à mudança, inteligência emocional, liderança, paciência, gentileza, criatividade, proatividade, planejamento, visão estratégica e visão sistêmica.
Uma comunidade, como todo grupo formado por pessoas, é completamente mutável. Em um dia, o clima é fraternal e de colaboração, e, no outro, há uma crise de proporções desastrosas.
Por isso, o Gerente de Comunidade deve ser flexível e ter muito jogo de cintura para entender o novo cenário rapidamente e agir de acordo com o que a empresa precisa naquele momento.
Não vamos ser exaustivos nesse rol que elaboramos, afinal nem precisamos, pois as comunidades surgem naturalmente e sem necessidade de muitos fundamentos há séculos.
De toda forma, acreditamos que comunidades exercem não somente um grande papel em nossa sociedade, mas também possuem a capacidade de mudar pessoas e alterar situações quando organizadas com objetivos claros e um propósito positivo, se tornando “ferramentas” de transformação, e é sobre estes motivos que falaremos a seguir:
Ninguém jamais tem todas as respostas e as comunidades são uma excelente forma de obtê-las. Possivelmente os membros da comunidade não cobrarão que você as tenha, mas o círculo social dela permite que você possa encontrar especialistas que, caso participem da comunidade de alguma forma, fornecerão informações melhores e mais assertivas.
Ao trabalhar sozinho, muitas vezes é muito fácil desistir quando as coisas ficam difíceis. Ao se cercar de outras pessoas que trabalham em direção a uma meta ou objetivo semelhante, você obterá outras forças intelectuais e de trabalho, além de motivação, apoio e competição amigável para se esforçar um pouco mais do que faria por conta própria.
Claro que a Comunidade pode exercer o papel contrário, retirando a motivação e o apoio, às vezes tornando a competição em uma atividade predatória – neste caso, é papel dos líderes buscar o retorno da harmonia entre os membros.
Alguns dias, esses grandes objetivos parecem impossíveis. Naqueles dias em que você mais pensa em desistir, você precisa confiar ao máximo em sua comunidade. Eles acreditam em você - provavelmente mais do que você acredita em si mesmo.
Quando você está trabalhando em uma comunidade de pessoas com ideias semelhantes, a sabedoria das multidões é consideravelmente maior do que qualquer pessoa que trabalhe sozinha. Nossas visões de mundo e lentes divergentes significam que todos abordamos exatamente o mesmo problema de maneira um pouco diferente.
Ao terminarmos a faculdade ou os estudos, é comum diminuirmos nosso nível de relacionamento com novas pessoas e o aprofundamento das amizades já existentes, pois as tarefas do dia a dia em conjunto com o ritmo acelerado de trabalho acabam consumindo boa parte do tempo útil, diminuindo a quantidade e nem sempre melhorando a qualidade dos relacionamentos.
Estar em uma nova comunidade significa continuar a expandir sua rede de relacionamentos ou se incluir em algum grupo diferente dos círculos que possui.
Os membros da comunidade possuem responsabilidade entre si, pois representam (direta ou indiretamente) aquele grupo de pessoas e suas ideias, seja ele um grupo de moradores de um bairro, um grupo de empresários, uma associação setorial, um partido político ou um clube esportivo.
Existe responsabilidade recíproca entre seus membros e líderes, parte delas oriundas de normas ou contratos, parte delas estabelecida decorrente da ética dos membros, muitas vezes silenciosa.
Tornar-se membro da comunidade significa se adaptar às normas, contratos e, mais importante, à ética de sua comunidade, sob pena de ser excluído. Mas em uma boa comunidade você espera ser ouvido e esta é uma responsabilidade que a comunidade tem com você: que você possa apresentar suas opiniões e pontos de vista.
A comunidade é um excelente meio para alcançar o bem estar, afinal se relacionar com pessoas com alinhamento significa estar em equilíbrio com seus pares. A partir daí, é natural que surjam atividades que envolvem não somente a solução de desafios e o apoio mútuo entre membros da comunidade para questões de trabalho ou intelectuais, como interações pessoais e recreativas; é o caso de eventos, esportes, viagens, atividades artísticas, exposições, aulas, etc.
A partir do momento que a comunidade chega nesse patamar, os membros dela passam a ter uma conexão sensorial e emocional que permite uma sensação de pertencimento ao grupo e sua essência, requisito fundamental para a perenidade dos membros na comunidade e para contínua expansão e renovação do grupo.
Se você é uma pessoa super responsável, pode não querer admitir para as pessoas de quem gosta e que estão torcendo por você que algo não foi feito. Agir com foco e determinação, colocando propósitos e objetivos acima das próprias vontades é uma oportunidade de crescimento. Somos responsáveis por aquilo que fazemos e falamos. Quando estamos em uma comunidade isso pode ganhar ainda mais força. Pense nisso!