Líderes se servem por último: como construir equipes seguras e confiantes
Autor: Simon Sinek
“Boa parte de nossas instituições educacionais e programas de treinamento hoje estão focados não no desenvolvimento de grandes líderes, mas na formação de gestores eficazes. Os ganhos de curto prazo são vistos como a marca do sucesso e o crescimento organizacional e a viabilidade de longo prazo são simplesmente os pagadores de contas. Leaders Eat Last é um esforço para mudar esse paradigma. A visão [da Sinek] é simples: criar uma nova geração de homens e mulheres que entendam que o sucesso ou fracasso de uma organização é baseado na excelência da liderança e não na perspicácia gerencial.”
Simon Sinek é, sem dúvidas, um dos principais escritores sobre liderança e gestão dos nossos tempos. Desde o seu primeiro livro “Comece pelo porquê”, baseado em um Ted Talk de 2009 - uma das palestras mais assistidas de todos os tempos e que popularizou o termo Golden Circle – o autor busca compreender a razão por trás de alguns elementos já enraizados em nossa sociedade, mas que não são necessariamente reais e sequer se sustentam.
No livro "Líderes se servem por último", Sinek investiga se a divisão existente entre “líderes” e “seguidores” é apenas uma consequência natural de nossa biologia ou uma competência que pode ser desenvolvida e treinada.
Trata-se de uma obra para levar a sua liderança para um próximo nível. É definitivamente um conteúdo pertinente para líderes de todas as organizações e serve, inclusive, para quem ainda não se encontra nessa posição, mas que deseja se tornar um.
Dito isso, vamos às lições de Sinek sobre como a origem da hierarquia, seu papel em nossa sociedade contemporânea e a dinâmica em que vivemos oferecem algumas das melhores práticas para entendermos a liderança de alta performance sob uma nova perspectiva.
A biologia humana evoluiu ao longo de milhares de anos para nos ajudar a sobreviver. Desde os nossos ancestrais, nossos hormônios controlam nossas emoções e o nosso comportamento.
Embora nossos ambientes e organizações tenham mudado drasticamente, nossa composição biológica ainda permanece semelhante e basicamente somos movidos por 4 elementos principais: endorfina e dopamina (que nos leva a satisfazer as nossas necessidades pessoais) e serotonina e oxitocina (que nos encoraja a trabalhar em equipe para conquistar o que não podemos sozinhos).
Como o homem se desenvolveu através de uma relação de dependência com a sua tribo, para conseguir alimentação, abrigo e proteção, os dois primeiros hormônios teriam contribuído para distinguir os líderes dos liderados, criando um modelo primitivo de hierarquia social.
Além de nos ajudar a sobreviver, o comportamento dirigido por essas substâncias também fez com que os mais fortes fossem, naturalmente, recebendo as atividades de maior prestígio como a caça e liderança e os mais fracos atividades menos nobres como a colheita de frutas e a subserviência.
Portanto, existem traços biológicos reais que podem influenciar o surgimento de novas lideranças - ainda que não sejam decisivos nessa construção.
“O cargo não é o que torna alguém um líder. Liderança é a escolha de servir aos outros com ou sem qualquer posição formal.”
Toda companhia, seja grande ou pequena, está propensa a ameaças externas que podem levar à sua queda ou destruição. Pensando nisso, é papel do líder criar um ambiente seguro (círculo de segurança) para proporcionar às pessoas um sentimento de pertencimento e segurança.
Assim, todos se sentirão mais valorizados e cuidados, afinal, é fundamental dar confiança para ganhar confiança.
Além disso, um ambiente seguro permite que os funcionários prosperem e ajuda a evitar rivalidades internas, já que quando as pessoas se sentem ameaçadas elas tendem a se concentrar mais na autopreservação do que na cooperação, tornando o grupo mais vulnerável.
Logo, um verdadeiro líder precisa manter o vínculo forte entre seus membros para que o seu negócio se torne forte o suficiente para enfrentar os seus competidores.
“Retornar do trabalho sentindo-se inspirado, seguro, realizado e grato é um direito humano natural ao qual todos temos direito e não um luxo moderno que apenas alguns sortudos são capazes de encontrar.”
Sinek acredita que é trabalho do líder ir além da gestão empresarial e decidir quais comportamentos são aceitos e quais não são, já que uma das lições mais valiosas da sua obra é a de que o sucesso de uma empresa depende de sua cultura organizacional.
Se os funcionários estiverem felizes e se sentirem seguros no trabalho irão se esforçar mais e, consequentemente, a empresa toda sairá ganhando.
Portanto, tratar os seus colaboradores com respeito e dignidade tem o condão de produzir resultados em todas as dimensões de uma companhia.
"O desempenho de uma empresa está intimamente ligado à personalidade e aos valores da pessoa que está no topo. (...) Como porteiros, os líderes estabelecem os padrões de entrada."
Para fazer uma empresa crescer (e continuar crescendo), um líder deve tratar as pessoas que estão ao seu redor com empatia e humanidade, mostrando o seu cuidado com cada um e reconhecendo a importância disso para a equipe.
Isso porque, à medida que as responsabilidades e os compromissos aumentam, as pessoas tendem a negligenciar o contato com valores importantes como se colocar no lugar do outro, confiança, honestidade etc.
Sinek prepõe que ser líder é como ser pai e, por isso, a companhia deveria ser encarada como uma família, em que o trabalhar e cuidar deveriam andar juntos.
Ou seja, se aquele que se encontra em uma posição de liderança começar a prestar atenção em seus funcionários e tratá-los como pessoas (e não como máquinas ou meros subordinados), construir-se-ão as bases para uma relação de confiança e lealdade dentro de sua equipe.
“Liderança dá trabalho. Leva tempo e energia. Os efeitos nem sempre são facilmente mensuráveis e nem sempre imediatos. A liderança é sempre um compromisso com os seres humanos.”
O mundo volátil em que vivemos mudou a nossa percepção e necessidade de compromissos e valores duradouros para a obtenção de soluções rápidas. Devido à disponibilidade de todas as coisas em abundância em uma velocidade extremamente acelerada, muitos elementos estão perdendo e/ou diminuindo o seu significado.
O problema é que a tecnologia torna cada vez mais fácil o clique em um botões de chat do que sentar para conversar e olhar nos olhos quando isso se faz necessário. Não é exagero dizer que estamos caminhando para valorizar mais as nossas identidades virtuais.
Nesse sentido, hoje as grandes corporações estão sendo dirigidas por executivos inteligentes, não por grandes líderes que podem liderar pessoas. Para eles, em muitos casos, seus liderados são meros números que os tornam receitas.
Dito isso, a consequência natural é a de que os colaboradores se tornem indivíduos frustrados, sem o sentimento de que contribuem para o avanço do negócio ou por um propósito maior na companhia.
Seja com funcionários, clientes, fornecedores ou C-levels, é essencial que um líder tenha conexões reais com as pessoas para que ele permaneça focado e honesto no real entendimento das necessidades da equipe que dirige e da empresa que representa.
É por isso que Simon fala sobre trabalhar como Navy Seals (Grupo de Operações Especiais da Marinha dos Estados Unidos). Em uma de suas pesquisas, quando indagou algumas pessoas sobre o tipo de perfil que preferiam ter como líder ou companheiro de equipe, todos rejeitaram a ideia de admitir uma pessoa do canto inferior esquerdo (baixo desempenho, baixa confiança) e todos aprovaram o perfil do canto superior direito (alta performance, alta confiança) da tabela abaixo:
Dito isso, tudo se resume ao líder e se ele estiver propenso a desumanizar os outros, ou seja, vê-los apenas como ferramentas que cumprem um propósito específico, o reflexo desastroso na satisfação e faturamento poderá deteriorar a companhia, tornando praticamente inviável a manutenção de grandes talentos em seu elenco.
“Liderança não é uma licença para fazer menos; é uma responsabilidade fazer mais."
Simon Sinek acredita que, para ser um bom líder, o mais importante é ser capaz de se relacionar adequadamente com os demais, já que, desde os tempos antigos, preferimos a sensação de fazer parte de uma comunidade.
Especialmente em um cenário no qual homens e mulheres estão se sentindo cada vez mais isolados, as pessoas precisam ter certeza de que você leva em consideração seus objetivos e desafios antes de se comprometerem com a sua organização.
Assim, sistemas são construídos para alcançarmos juntos o que não podemos realizar sozinhos. Imagine, por exemplo, como era difícil para um único indivíduo caçar um animal, mas trabalhando em grupo, os caçadores conseguiam rapidamente coletar comida para uma semana inteira.
Portanto, está em nosso DNA que trabalhar em conjunto melhora a eficiência e nos ajuda a sobreviver. Mas, para isso, os líderes devem ser os últimos da fila para garantir que cada membro do seu grupo chegue ao destino final em segurança.
“Não é o gênio no topo dando direções que torna as pessoas ótimas. São ótimas pessoas que fazem o cara no topo parecer um gênio.”
Por todos esses pontos, é por isso que um líder deve colocar os outros à frente de si mesmo.
Liderar a longo prazo é um modelo ganha-ganha. Para exemplificar esse mindset, Sinek usa um modelo interessante de análise comparando 2 CEOs de grandes corporações norte-americanas:
Assim, embora cada membro do grupo tenha objetivos individuais, é possível que todos se unam em torno de um propósito coeso, graças à visão do seu líder.
Para isso, no entanto, é fundamental que ele também coloque as pessoas como sua prioridade número um. Nos fuzileiros navais dos EUA, os membros mais velhos são sempre os últimos a comer.
Uma vez que se deixa as suas próprias necessidades de lado e se concentra em sua equipe, inevitavelmente haverá o reconhecimento de uma liderança genuína.
De fato, este não é um livro sobre “como fazer” ou de técnicas práticas sobre liderança, mas um olhar sobre como as dinâmicas perturbadoras que passaram a dominar nossa sociedade moderna podem levar a ações cada vez mais irresponsáveis, egoístas e míopes que acabam prejudicar indivíduos, organizações e sociedades.
“As crianças estão melhor tendo um pai que trabalha até a noite em um emprego que ama do que um pai que trabalha menos horas, mas volta para casa infeliz. Esta é a influência que nossos empregos têm em nossas famílias. Trabalhar até tarde não afeta negativamente nossos filhos, mas sim como nos sentimos no trabalho. Nossos empregos não nos afetam apenas. Eles afetam nossas famílias.”
É por isso que, no fim, o significado do termo “líder” pode ser encontrado na própria palavra: conduzir as pessoas em uma determinada direção.