Os indivíduos são singulares e únicos no mundo, mas há um padrão encontrado entre gestores que conduzem organizações em crescimento consistente. Estas características se transformaram no decorrer dos anos e, por conta disso, as denominamos como os pilares do líder do futuro - focando no agora e no que deve permanecer no futuro.
Quando me refiro a líderes, não estou falando de uma posição. Liderar é estar todos os dias crescendo, se adaptando e conseguindo manter o alinhamento e o engajamento constante entre a equipe e isso pode ser realizado por todos os profissionais, independente de seu cargo.
Logo, todos podemos ser líderes e, para isso, reciprocidade é a palavra-chave do momento. Devemos nos manter recíprocos em relação ao time, à família e todos a nossa volta. Digo que é a palavra-chave do momento, porque nem sempre foi assim.
Você se lembra do chefe de antigamente e do medo que tinha dele?
Há não muito tempo, os chefes tinham um andar inteiro da empresa, sala, antessalas e até elevador próprio. Quando entravam no escritório, os funcionários se calavam e ficavam encarando a tela do computador. A figura era praticamente de uma entidade.
A mudança de papéis e postura do que era esse chefe para o que é o novo líder é enorme, principalmente por dois motivos: a origem e a postura.
Por décadas, os chefes vinham de famílias ricas e tradicionais e assumiam os cargos a partir de indicações.
Atualmente, líderes que são referência mundial vieram do nada, surgindo a partir do contorno de grandes desafios e do resultado que proveram, como Mark Zuckerberg ou Elon Musk. Essas são características do líder do futuro.
Outra diferença entre os antigos chefes e os novos líderes é a proximidade com o público e com os funcionários, possibilitada pela descentralização das mídias. Enquanto os chefes eram distantes e realizavam comunicados pontuais, os novos líderes passaram a utilizar as redes sociais e interagir com o público de forma recorrente, uma tendência que deve permanecer no líder do futuro.
Com a aceleração da transformação do mercado nas últimas duas décadas, a experiência passou a pesar menos nas posições mais altas da empresa. Assim, ser CEO não é mais só um quesito de histórico e do que você construiu no passado, mas também como você trabalha para construir o futuro.
São muitos os executivos sêniores que fizeram uma bela jornada profissional, mas que por falta de velocidade e adaptação com as mudanças, não conseguiram manter o ritmo necessário para se manterem CEO’s ou C-level. Basicamente, há cada vez mais lideranças sendo assumidas por jovens e os mais experientes servindo como mentoring para assessorar esses líderes, que tocam a execução e o ritmo do negócio.
Os CEOs de maior referência do mercado, gastam 70 / 80% do seu tempo criando e promovendo novas lideranças.
A agenda dos líderes que tenho como referência tem muito mais tempo alocado com pessoas: em encontrar talentos, conseguir trazê-los para trabalhar na empresa e em mantê-los alinhados, do que os executivos do passado. Esta característica se estenderá ao líder do futuro.
O líder tem o papel de conseguir as melhores pessoas, mantê-las alinhadas e consequentemente fazer com que elas tomem as melhores decisões sem ele ter que aprovar tudo. Como disse Jack Welch, memorável gestor da GE:
"Um líder não é alguém a quem foi dada uma coroa, mas a quem foi dada a responsabilidade de fazer sobressair o melhor que há nos outros".
Por esse prisma, todos nós nascemos para liderar. Nós não somos líderes só no trabalho, você é líder em sua casa, no seu grupo de amigos, na sua vizinhança.
Tendo isso em vista, elenquei o que considero os onze pilares dos líderes do futuro, baseado em um padrão que observei nos maiores exemplos de liderança que conheci e, gostaria de compartilhá-los com vocês.
Grandes acontecimentos e viradas de chave das organizações não estão nos processos ou em playbooks. A ousadia para tomar ações diferentes do histórico do que vem sendo feito exige autenticidade.
A autenticidade permite a ousadia de fazer além do que foi planejado pelos superiores, em prol do que se acredita como ação. Não é uma ação puramente subversiva ou angariada em ego, mas uma realização que foge do status quo da companhia e possibilita resultados diferenciados.
Gestores excepcionais arriscam mais do que a média, bancando ideias pessoais para atingir resultados diferenciados. Tal aspecto, deve ser considerado no líder do futuro, onde o incentivo à inovação irá aumentar e inclusive acredito que esta mentalidade irá reverberar nas avaliações de desempenho dos executivos, reduzindo as penalidades aos erros, para quem arrisca e tenta algo novo.
Em alguns momentos, é preciso agir fora do planejamento e ser fiel àquilo que você acredita, ao seu jeito, ao seu estilo. Além disso, agir com personalidade própria fomentará o envolvimento e confiança da equipe.
Enquanto antigamente tinha-se medo de falar com o chefe e ele ficava praticamente isolado em sua sala, hoje os grandes líderes estão no grupo de Slack, no Whatsapp e em uma sala aberta com acesso a todos.
Atualmente, o líder precisa ser uma pessoa comum e corrente. A proximidade entre os membros da organização aumenta o entrosamento, que é o braço direito da performance. Com o entrosamento, as pessoas ficam mais alinhadas e engajadas, gerando aumento de produtividade na empresa.
Outro ponto bem relevante permitido por tal postura é: as grandes sacadas muitas vezes vêm de baixo da estrutura hierárquica. A base da pirâmide normalmente é quem está em contato direto com os clientes ou executando no chão de fábrica e sabe quais são os problemas operacionais que ocorrem no dia a dia.
Um executivo que se mantém isolado em sua sala sem estar integrado com a ponta, corre grandes riscos de perder as estribeiras da operação em decorrência de pontos cegos, como no caso de muitas empresas grandes que sucumbiram.
Ser acessível pode ser muito mais importante do que ser o mais inteligente, até porque o conhecimento hoje está na rede e é acessível a todos.
A alta performance está na comunicação e a comunicação está muito mais em saber escutar do que no que você fala.
Escutar mais é um exercício constante que precisa ser exercitado. Não só escutar as palavras, mas toda a comunicação não verbal. Por conta disso, a governança é importante, mantendo reuniões periódicas para garantir que a troca ocorra de forma programada.
Reuniões one on one semanais, por exemplo, não só para falar sobre trabalho, mas sobre desenvolvimento pessoal, desafios, dar feedbacks e ter o feedback debaixo.
O processo de implementação de atividades desse tipo não é natural, é preciso disciplina, pois é comum aparecerem coisas novas na agenda, porém, manter-se conectado com cada membro do time e escutando de forma recorrente irá premiar a você, ao time e a toda a organização.
Executivos distantes quando não sabem a solução para um problema, tendem a se tornar mais frios ou irritados, o que propaga uma insegurança e falta de cumplicidade na equipe.
Mostrar vulnerabilidade, demonstrando não saber determinada resposta e trazer o debate para o grupo, gera empatia e cria conexão. A conexão será capaz de manter o engajamento da equipe e construirá alinhamento e compromisso com os objetivos, ao dar poder a todos os membros.
“Para liderar pessoas, caminhe um passo atrás delas.”
Ao observar lideranças de profissionais referência no mercado, claramente é possível notar a diferença do QI de “Quem Indica”, que era o caminho para se chegar na liderança antigamente, pelo QI de “Qual Impacto você está gerando?”.
“Liderança é uma ação, não uma posição.”
Liderar é impactar positivamente o time e isso precisa ser exercido o tempo todo. Para você ser um líder, você precisa estar agindo sempre com ações de liderança e impactando o grupo, logo, ter uma visão coletivista é fundamental.
A criatividade é o que permite chegar a um resultado extraordinário, ao realizar algo que ninguém fez antes. Para que ela seja exercida, é necessário que a alavanca da autenticidade e da ousadia, estejam destravadas. Para isso, é fundamental que o líder a ser exerça, encorajando o restante da equipe.
Seguindo para um nível mais macro de análise, uma cultura de medo de errar pode ser mortal, portanto, estimule o questionamento e a criação de novas alternativas que fujam da rotina, dando autonomia para as suas equipes e fugindo do micro gerenciamento. Além disso, reveja sistemas punitivos para erros e analise como pode minimizar os seus efeitos de inibição às equipes.
Afirmações como: “mas sempre foi assim” definitivamente podem matar a sua empresa.
"Quando me refiro a ser criativo, não se trata apenas de ter ideias fora-da-caixa. É importante trazermos racionalidade para a operação e a partir de dados, ter uma visão clara do cenário."
Por conta disso, é fundamental ser obcecado por dados, amar métricas, analisá-las para tirar insights diferenciados.
A numerologia faz parte de todos os novos líderes, assim como a capacidade de lidar com métricas. A mistura da criatividade com orientação por números, é inovar tanto na interpretação, quanto no pedido dos indicadores, construindo uma visão analítica ímpar, mesclando a racionalidade a um perfil questionador. Esta postura deve estender-se para os próximos anos, já que a metrificação tende a crescer, o que associa esta característica ao líder do futuro.
No final, não é só sobre tomar decisões em cima de dados, mas a partir de uma intuição embasada e refinada em dados.
A transparência é a relação de fidelidade e honestidade com o seu propósito e de jogar limpo com a sua equipe e ecossistema.
Durante a pandemia, eu falei muitas vezes o quão importante é ser brutalmente transparente com o seu fornecedor, com o seu cliente e com os seus funcionários.
A vulnerabilidade, a empatia e outros pilares estão ligados à transparência e geram confiança entre todos os agentes envolvidos e você. Neste caso, não se refere somente à vulnerabilidade, mas também à busca de ser justo e realizar feedbacks constantes e realistas com todos a sua volta.
Se as entregas não estão satisfatórias, é fundamental pontuar o que pode ser melhorado de forma clara para que quem a recebeu esteja alinhado com as suas expectativas.
Não há espaço para buracos na comunicação, busque ser objetivo (não ríspido).
“Liderar é saber promover o protagonismo e não centralizá-lo.”
Antigamente, a organização tinha apenas um porta voz. Atualmente, se olharmos para o caso da XP, são 84 embaixadores entre parceiros externos e profissionais dentro da companhia que são potencializados como líderes.
A organização deve buscar treinar a todos a serem líderes. No Facebook, por exemplo, conforme os profissionais vão subindo profissionalmente, mais tempo e treinamento são dedicados à coaching e desenvolvimento comportamental em competências de liderança como as citadas neste artigo.
Na crise do ano passado, a cultura de descentralização e do digital contou muito no momento de entregar as melhores soluções. Eu presenciei empresas que possuíam tecnologia de ponta, mas não tiveram êxito, por conta da falta de autonomia das equipes e colaboração entre seus membros.
Com uma postura centralizadora, a tomada de decisão ficou engessada em comitês e reuniões em que debates se estenderam sem tomadas de decisão conclusivas, promovendo lentidão.
Ter autonomia e construir o futuro através do presente colaborativo é mandatório para que as organizações sejam mais eficazes. Sendo assim, o time precisa ter mais voz, mais participação, mais integração e mais autonomia. Esta é um aspecto claro do líder do futuro, onde descentralização significa velocidade e agir com velocidade é um diferencial que continuará perdurando em um mundo VUCA (Volátil, Incerto, Volatilidade, Incerteza, Complexo e Ambíguo).
Um líder não faz o que ele quer fazer, ele faz o que precisa ser feito. Para ele construir a cultura da disciplina, é preciso primeiro ser disciplinado e praticar o que fala. Ser líder não é ser o melhor do time, mas ser o melhor para o time e isso vai exigir que cumpra as promessas que fez com você mesmo.
“Se o conselho é bom, o exemplo arrasta.”
Isso vai exigir que você seja um exemplo mesmo nos dias não motivados e o exemplo vai arrastar o restante da equipe.