Se por um lado, startups do Vale do Silício vinham recebendo recorde de investimentos nos anos anteriores, por outro, 2022 iniciou dando sinais de que os bons tempos acabaram, exigindo ainda mais cuidados, sabedoria e planejamento do empreendedor.
Os sinais de alerta estão se acumulando e essa é uma péssima notícia para a maior parte das startups. Com o valor das ações de empresas de tecnologia caindo nos primeiros cinco meses deste ano e a Nasdaq enfrentando seus piores resultados desde a crise financeira de 2008, as empresas de tecnologia que sofreram um boom de crescimento durante a pandemia já estão tomando medidas para reduzir os seus custos e congelar contratações.
E não estamos falando apenas de um ambiente monetário em mudança, essa é uma realidade que vem impactando todos os setores da economia e da sociedade. Agora, diversas companhias estão mantendo suas avaliações muito mais especulativas do que impressionantes e lutando para atender às expectativas dos investidores de um possível crescimento futuro.
Dito isso, é fundamental analisar o que é startup e como a disrupção está em sua essência para entender o que isso demonstra para o mercado e quais as tendências estão por vir para tangibilizar melhores resultados no seu negócio.
Com as empresas de tecnologia dominando o mercado de ações, o frenesi para a realização de investimentos e financiamentos inundou o setor de capital.
No primeiro trimestre de 2021, US$ 69 bilhões foram investidos em startups nos EUA, dos quais mais de US$ 25 bilhões foram para empresas no Vale do Silício: maior do que as três cidades seguintes – Nova York, Boston e Los Angeles – combinadas, de acordo com dados do PitchBook.
O Vale do Silício, incluindo São Francisco, ainda é – de longe – o maior centro de negócios para as chamadas tech startups. Apesar disso, no Brasil, por exemplo, esse otimismo se sustentava, com as startups nacionais recebendo um investimento recorde de 9,43 bilhões de dólares no ano passado, segundo o relatório Inside Venture Capital, produzido pelo Distrito, com apoio do Bexs. Com o último ano, inclusive, registrando a maior quantidade de novos unicórnios brasileiros da história.
Com o surgimento da pandemia COVID-19 e o necessário isolamento social, pessoas e empresas passaram a confiar cada vez mais na tecnologia, criando oportunidades inesgotáveis para empresas inovadoras explorarem: avanços em inteligência artificial, tecnologia nuclear, veículos elétricos, big data e outras áreas que os tradicionais VC’s (Venture Capitalist) do mercado diziam estar prontos para apoiar.
Diferentemente de outros mercados, em que os VC’s tendem a atuar de modo mais horizontal, nos Estados Unidos eles têm um foco bem definido e conhecem profundamente tecnologia. Assim, com capital e concorrência abundantes, startups passaram a se sentir pressionada para gastar cada vez mais dinheiro, a fim de buscar o domínio do mercado.
Diante desse cenário, acreditava-se que 2022 seria um ano memorável e animador para o ecossistema de inovação mundial e para as startups brasileiras. No entanto, o movimento do mercado mudou de forma avassaladora para esse tipo de empreendimento.
Atualmente, observa-se um movimento de retração do mercado, à medida que a pandemia parece não ter mais fim, a inflação aumenta, o Federal Reserve eleva as taxas de juros, faltam matérias-primas, as tensões geopolíticas se agravam e a preocupação com uma recessão global ficam cada vez mais evidentes.
Assim, muitos investidores têm optado por segurar as suas aplicações financeiras e venderem ações de empresas de tecnologia para alocação de recursos em ativos considerados menos arriscados. A Apple, à título de exemplo, perdeu no mês passado a sua posição como número 1 das empresas mais valiosas do mundo para a Aramco – produto de petróleo e gás da Árabia Saudita.
Como se não fosse o bastante, essa nova relação com o mercado de tecnologia foi responsável por deteriorar cerca de US$ 9 trilhões do valuation dessas companhias listadas na Nasdaq, além da possibilidade de novos down rounds nos próximos meses.
De acordo com o relatório “Beyond Silicon Valley”, co-produzido pela empresa de risco Revolution e a PitchBook, a participação do Vale do Silício no financiamento de venture capital (VC) dos EUA caiu para o nível mais baixo em mais de uma década.
Pensando nisso, a Sequoia Capital – uma das empresa mais bem-sucedidas do Vale do Silício, conhecida pelos investimentos iniciais em Apple , Google e Airbnb, revelou um documento de 52 páginas para ensinar startups a se adaptarem a esse ambiente de mudança e a economizarem para poder sobreviver e alcançar um crescimento sustentável no futuro.
“A era de ser recompensado pelo hipercrescimento a qualquer custo está rapidamente chegando ao fim”.
Sequoia Capital
Vale lembrar que a Sequoia não é a única empresa a alertar sobre o atual contexto macroeconômico. Twitter, Y Combinator e Lightspeed também já se manifestaram no mesmo sentido:
O aperto monetário está fazendo com que o ecossistema de startups precise recorrer a medidas extremas. A Meta Platforms, controladora do Facebook, diminuiu seu ritmo de contratação, o Twitter anunciou um congelamento nas contratações, QuintoAndar, Facily e Loft fizeram uma série de demissões recentemente e assim sucessivamente.
“Muitos CEOs tomarão decisões dolorosas para manter suas empresas à tona em águas agitadas (...). Alguns enfrentarão trocas que apenas alguns meses atrás teriam parecido estranhas ou desnecessárias.”
Lightspeed Venture Partners
Portanto, tais recomendações se tratam de um fenômeno em curso no mundo inteiro, com o objetivo de orientar empreendedores de tecnologia a encararem o momento atual de incertezas com mais assertividade e menos perdas.
A desaceleração dos aportes milionários, tão comuns às tech startups tornam algumas reflexões imperativas para essa indústria. O que empreendedores podem aprender com isso? Como devem lidar? De que maneira olhar para um VC a partir de agora? E, principalmente, o que fazer para conseguir novos recursos financeiros sem depender de investimentos externos?
Em primeiro lugar, apesar de todos esses cortes e recuos em investimentos, a captação de recursos não está morta. Embora o problema esteja se tornando comum para o mercado, ainda existem outras formas de levantar capital para viabilizar os seus projetos, como bootstrapping e investimento anjo.
Crises podem ser excelentes catalisadoras de oportunidade, disrupção e formação de lideranças. Como oportunidade, novas experimentações podem acelerar ainda mais a inovação. Como disrupção, tornam possíveis mudanças rápidas nas práticas organizacionais para adaptar as suas soluções. Finalmente, como formação de lideranças, a crise expõe os profissionais com a inteligência emocional necessária para lidar com situações difíceis.