Até 2030, as ocupações que fazem uso intensivo de habilidades socioemocionais ou das chamadas soft skills devem representar dois terços de todos os empregos existentes. Estamos falando de habilidades interpessoais – adaptabilidade, empatia, compaixão, resiliência, entre outras – que são fundamentais para uma boa liderança e diferenciam os profissionais de alto desempenho dos demais.
Essas habilidades, atreladas ao desenvolvimento da inteligência emocional, serão ainda mais demandadas dos líderes. Além de solucionar problemas, delegar responsabilidades, dar autonomia e motivar os times para que possam buscar resultados, eles precisam entender como aproveitar melhor as habilidades dos colaboradores, servir como guias e inspiração para que eles busquem o seu melhor. Fazer tudo isso é mais fácil se esse líder sabe como se relacionar e tratar pessoas, além de demonstrar uma atitude positiva.
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De acordo com o relatório “Future of Jobs 2023” compilado pelo Fórum Econômico Mundial (WEF) e que trata do futuro do trabalho, das dez habilidades buscadas por gestores, oito são consideradas comportamentais, das quais seis são habilidades socioemocionais.
Os dados estão alinhados com a visão dos profissionais de RH: conforme um levantamento realizado pelo InfoJobs, 77,2% dos recrutadores já consideram as hard skills e soft skills igualmente determinantes em processos seletivos. E outros apontam que um em cada cinco recrutadores acha que as soft skills já são mais importantes. Assim, dominar as habilidades comportamentais e socioemocionais pode destacar um profissional no mercado de trabalho nos próximos anos.
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As soft skills ou habilidades comportamentais, interpessoais ou de pessoas são são habilidades não técnicas e atributos pessoais que permitem que os indivíduos trabalhem de forma eficaz com os outros e se destaquem em suas funções. Essas habilidades são essenciais no local de trabalho, pois impactam a comunicação, a colaboração e o desempenho geral no trabalho.
As habilidades interpessoais são normalmente inerentes à personalidade de um indivíduo e podem ser desenvolvidas e aprimoradas com o tempo.Como a pessoa se relaciona com as outras, como se comporta nas reuniões de trabalho e durante as interações de modo geral.
Por meio da vivência no mundo, um indivíduo adquire competências para gerenciar seu tempo, tomar decisões e resolver problemas. Para conseguir fazer essas coisas, as pessoas desenvolvem habilidades comportamentais.
São exemplos de soft skills a adaptabilidade, comunicação, empatia, escuta ativa, resolução de problemas e trabalho em equipe.
Em muitas áreas, o termo soft skill funciona como um sinônimo para habilidade socioemocional. Mas embora tenham alguns pontos em comum, essas habilidades carregam algumas diferenças.
As habilidades interpessoais (soft skills) incluem, mas não se limitam à inteligência emocional, enquanto as habilidades socioemocionais se concentram especificamente na compreensão e no gerenciamento das emoções, tanto suas quanto dos outros.
Novos estudos já falam em outra categorização, que seria inner skills (habilidades internas) ou deep skills (habilidades profundas). O termo vem ganhando destaque como uma resposta às mudanças na forma como trabalhamos e ao reconhecimento de que os conjuntos de habilidades tradicionais não são suficientes para o sucesso pessoal e profissional em um mundo complexo e em constante mudança.
As habilidades internas (inner skills) referem-se a um conjunto de competências, habilidades e qualidades que se concentram no “mundo interno” e no desenvolvimento pessoal de uma pessoa. Essas habilidades vão além das habilidades técnicas (hard skills) e até mesmo das habilidades interpessoais (soft skills). Elas abrangem uma série de atributos que ajudam os indivíduos a prosperar em vários aspectos de suas vidas, inclusive em suas carreiras, relacionamentos e bem-estar geral. As habilidades internas são frequentemente associadas à inteligência emocional, à atenção plena, à autoconsciência e ao crescimento pessoal.
As habilidades internas ou profundas (inner skills ou deep skills) contribuem coletivamente para a capacidade de um indivíduo de prosperar em vários aspectos da vida, inclusive em sua carreira profissional.
Atenção plena: A prática de estar presente e totalmente envolvido no momento atual, o que pode aumentar o foco, reduzir o estresse e melhorar a tomada de decisões.
Autoconhecimento: Compreender as emoções, os valores, os pontos fortes e fracos de uma pessoa. Envolve introspecção e uma compreensão profunda das motivações e dos comportamentos de uma pessoa.
Inteligência emocional: A capacidade de reconhecer, compreender, gerenciar e usar com eficácia as próprias emoções e as emoções dos outros. Inclui empatia, auto regulação e habilidades interpessoais.
Mentalidade de crescimento: A crença na capacidade de aprender e se desenvolver ao longo do tempo, aceitando desafios e contratempos como oportunidades de crescimento.
Resiliência: A capacidade de se recuperar de contratempos e adversidades, mantendo uma atitude positiva e adaptabilidade diante dos desafios.
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As habilidades socioemocionais são aquelas que capacitam um indivíduo a conviver bem consigo mesmo (aspecto intrapessoal) e com a vida em sociedade (aspecto interpessoal). As habilidades socioemocionais estão dentro das habilidades comportamentais. Assim, tanto as soft skills quanto as deep skills contam com habilidades socioemocionais.
Confira a seguir 20 habilidades socioemocionais que devem ser demandadas de futuros trabalhadores, de acordo com levantamentos do Fórum Econômico Mundial, McKinsey e Deloitte, entre outros.
A capacidade de se ajustar rapidamente e prosperar em ambientes de trabalho mutáveis e incertos. A adaptabilidade é uma das habilidades socioemocionais mais buscadas nessa década. Com tantas mudanças tecnológicas, novas ferramentas que substituem antigas, um profissional capaz de se adaptar a diferentes situações e formas de trabalhar pode se destacar. Pessoas diferentes têm estilos e preferências de trabalho diferentes, portanto a flexibilidade e a adaptabilidade são essenciais para a colaboração.
Essa habilidade se relaciona com o aprendizado contínuo e a capacidade de sair da zona de conforto. Ou seja, um profissional com essa habilidade busca novas formas de fazer algo que já sabe e mantém-se atualizado acerca das novidades do mundo. Esteja aberto para ajustar sua abordagem e acomodar as necessidades e preferências de seus colaboradores.
Estar aberto a novas ideias, aprender rapidamente e adaptar-se a novas tecnologias e formas de trabalho. A agilidade é a habilidade de um indivíduo de executar suas tarefas de forma rápida. Em momentos de pressão, como no fechamento do mês quando os fluxos de processos ficam acelerados, a agilidade mental pode ajudar um time a bater suas metas. Para se tornar mais ágil, um colaborador deve focar em técnicas para aprimorar sua gestão do tempo e capacidade de foco.
A aprendizagem ao longo da vida (lifelong learning) pode ser considerada tanto uma habilidade cognitiva quanto socioemocional, pois engloba vários elementos essenciais para o desenvolvimento pessoal e profissional no contexto do futuro do trabalho e da cultura organizacional. O aprendizado contínuo é uma das habilidades mais buscadas nessa década, sendo relacionada à adaptabilidade e à curiosidade. Em um mundo que começa a utilizar massivamente a Inteligência Artificial (IA), ser um profissional que está constantemente aprendendo e evoluindo é um diferencial.
Algumas formas de aprender continuamente são:
O autoconhecimento desempenha um papel crucial no desenvolvimento pessoal e da carreira no contexto do futuro do trabalho. Ele se enquadra na categoria mais ampla de inteligência emocional e autoconsciência. O autoconhecimento envolve a compreensão de suas próprias emoções, pontos fortes, pontos fracos, valores e motivações, o que pode ter um impacto significativo no sucesso de sua carreira e no bem-estar geral. Veja a seguir algumas formas de desenvolver o autoconhecimento para sua carreira:
Ter uma compreensão profunda de seus pontos fortes, pontos fracos, valores e motivações.
A habilidade de controlar e gerenciar as próprias emoções, impulsos e reações em várias situações.
A colaboração desempenha um papel fundamental no cenário em evolução do futuro do trabalho. A colaboração eficaz envolve comunicação, empatia, inteligência emocional, habilidades interpessoais e a capacidade de trabalhar bem com equipes diversificadas. Saber trabalhar em equipe e colaborar com outras pessoas para alcançar resultados tornou-se especialmente importante com as novas modalidades de formas de trabalho, que envolvem plataformas digitais para colaborar à distância e o trabalho híbrido.
Ser capaz de trabalhar com eficácia em ambientes diversos e multiculturais e demonstrar respeito por várias culturas e origens.
A criatividade é uma habilidade socioemocional relacionada à curiosidade e à resolução de problemas. Para ter criatividade, na maioria das vezes é necessário ser uma pessoa curiosa, que se interesse por diferentes temáticas e que consome conteúdos sobre variados assuntos.
Com essa bagagem de informações e conhecimentos, o profissional se torna apto para solucionar criativamente os problemas que aparecem na rotina de trabalho. O objetivo deve ser buscar soluções originais e desconhecidas, de forma a inovar dentro do negócio.
O famoso “pensar fora da caixa”, a criatividade também está relacionada a assumir riscos, à rotina de testes e de experimentação. Desafiar uma suposição inicial com uma nova abordagem requer coragem para arriscar seguir por um caminho desconhecido. Por isso, uma das reuniões que mais demanda a criatividade do time são os brainstormings.
A empatia é a habilidade socioemocional de um indivíduo de se colocar no lugar do outro, entendendo seu ponto de vista, suas emoções, sentimentos e pensamentos. A empatia auxilia na gestão de pessoas, na resolução de conflitos e no relacionamento com os clientes. Em suma, qualquer interação pode ser beneficiada pela empatia.
Vale ressaltar que essa habilidade não requer sentir na própria pele as emoções e sentimentos do outro, mas ter a capacidade de compreender esses aspectos subjetivos dos colegas e clientes. Com esse conhecimento em mãos, torna-se mais fácil tomar decisões que se alinhem ao momento emocional do time, do cliente ou da gestão.
A escuta ativa é a habilidade socioemocional de ouvir com atenção o que outro colaborador ou o gestor tem a dizer. Em conjunto com a empatia, ela pode ser útil em reuniões, negociações e resolução de conflitos. Caracterizam a escuta ativa:
Conhecimentos em linguagem corporal e comunicação não violenta são algumas das técnicas para aprimorar a escuta ativa.
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Outra habilidade bastante procurada por recrutadores, a flexibilidade está relacionada à adaptabilidade, mas no curto prazo. Enquanto a adaptabilidade diz respeito à capacidade de uma pessoa de se adaptar ao contexto histórico e social do trabalho em meio à revolução tecnológica que atravessa o mundo, a flexibilidade funciona em menor escala, em uma esfera mais micro: a capacidade de ser flexível diante dos imprevistos do dia a dia.
Por exemplo, caso uma tarefa seja priorizada, um acontecimento urgente tome as atenções da companhia ou o gestor precise de ajuda com algo que saia do escopo de suas funções, a flexibilidade é esperada pelos empregadores. Ser flexível implica em se adaptar às mudanças de rota, aos contratempos e imprevistos que podem surgir na agenda.
A capacidade de identificar, abordar e resolver conflitos em equipes e organizações. Aprenda a gerenciar conflitos de forma construtiva, abordando os problemas com calma, encontrando pontos em comum e buscando soluções em que todos saiam ganhando. A resolução eficaz de conflitos é um componente essencial da colaboração bem-sucedida.
A capacidade de lidar com o estresse e a pressão de forma saudável e produtiva.
A capacidade de transmitir ideias, pensamentos e emoções de forma clara e eficaz, tanto verbalmente quanto por escrito. A comunicação é uma habilidade essencial para construir relacionamentos interpessoais, participar de reuniões e passar/receber feedbacks de trabalho. A comunicação está relacionada ao trabalho em equipe, à escuta ativa e à resolução de problemas, dentre outras habilidades da lista. A comunicação engloba:
Cursos de oratória, leitura, desenvolvimento de autoestima e autoconfiança são algumas das formas de melhorar a própria comunicação.
Outra habilidade socioemocional requerida desde que o mercado de trabalho é o mercado de trabalho é a liderança. Um bom líder é aquele capaz de inspirar sua equipe, alcançar objetivos e auxiliar o time a atingir as metas necessárias para isso. Além disso, um bom líder tem eficácia em sua comunicação, empatia com sua equipe e a responsabilidade ética de atuar na resolução de conflitos. Essas habilidades agora aparecem combinadas com a capacidade de se adaptar a diferentes times, situações e cenários.
Deve ainda ter a capacidade de planejamento estratégico e de gestão de pessoas. Portanto, um dos desafios de um bom líder é unificar seu time, aproximando os integrantes para que possam trabalhar em equipe. Em um ambiente de trabalho que muda rapidamente, os líderes que priorizam a aprendizagem contínua têm maior probabilidade de apresentar habilidades de liderança adaptativa. Esses líderes podem promover um ambiente de confiança, segurança psicológica e bem-estar emocional, que são todos componentes essenciais de uma cultura organizacional saudável. Algumas formas de aprimorar a liderança são:
A capacidade de analisar e avaliar informações e situações de forma objetiva e tomar decisões informadas. O pensamento crítico é a capacidade intelectual de análise e questionamento dos processos e operações de uma empresa. Essa habilidade sintetiza as informações reunidas por meio de observações, experiências, reflexões e trocas comunicativas, para reutilizá-las de outra forma, seja na:
A resiliência é a habilidade socioemocional de um indivíduo de não se abalar ou pouco se abalar diante das adversidades que podem surgir no cotidiano do trabalho. Por exemplo, ao receber um feedback negativo, um projeto ser cancelado ou uma meta não for alcançada, o colaborador pode ficar abalado com essas situações.
O esperado dos empregadores é que essa pessoa não se deixe ficar desmotivada pelas situações frustrantes. Assim, a resiliência pode ser resumida como a capacidade de gerenciar frustrações e permanecer no curso do trabalho com a motivação necessária, sem desanimar.
A solução de problemas é a habilidade de usar a criatividade, a comunicação e o pensamento crítico para resolver uma situação. A resolução de problemas engloba a solução de conflitos, situação comum na gestão de pessoas.
Essa habilidade socioemocional é fundamental para lidar com desafios, sejam eles internos (dentro da empresa) ou externos (com os clientes). A resolução de problemas também está relacionada à tomada de decisões informadas, uma vez que soluções criativas podem nortear novos projetos e rumos para uma companhia.
Algumas das capacidades que uma pessoa pode buscar aprimorar para resolver problemas são:
A responsabilidade ética é uma habilidade socioemocional ligada à integridade, confiabilidade e disciplina de um indivíduo. Em geral, as empresas costumam ter um código de ética a ser seguido, ou uma lista de bons costumes que podem ser apresentados no formato de valores da organização. Algumas formas de colocar a responsabilidade ética em prática:
A inteligência emocional é a habilidade de identificar, compreender e lidar com as emoções e sentimentos dentro das relações intrapessoais e interpessoais. Ela sintetiza muitas das habilidades socioemocionais listadas acima, e o termo foi introduzido pelo autor e psicólogo norte-americano Daniel Goleman no livro "Inteligência Emocional", publicado em 1995.
Conforme dados de uma pesquisa feita pela Robert Half em 2023, a inteligência emocional foi considerada a principal habilidade para uma boa liderança, eleita por 49% dos 726 pesquisados.
De acordo com Goleman, a inteligência emocional pode ser adquirida em cinco passos:
Enquanto atravessamos a revolução tecnológica, cresce a demanda por profissionais com habilidades que vão além da técnica. Com isso, as habilidades socioemocionais estão no radar das pesquisas sobre o futuro do trabalho. Desenvolvê-las pode colocar um profissional um passo à frente dos demais, além de nortear sua conduta dentro da empresa.