"O MVP é um conceito que consiste em disponibilizar uma versão simplificada de um novo produto, com o mínimo de recursos possíveis, desde que estes mantenham sua função original de solucionar o problema para o qual foi criado. O objetivo do conceito é conhecer na prática a reação do mercado, enquanto o produto ainda está em construção. Assim, constrói-se uma versão rápida, com baixo esforço e investimento - priorizando a velocidade - para que através dos feedbacks e aceitação do mercado, sejam implementadas melhorias e seja avaliada a viabilidade do negócio".
Como já disse Eric Ries, escritor do livro Lean Startup e criador do conceito de MVP: É comum ter "fascínio por um bom plano, uma estratégia sólida e uma pesquisa de mercado completa", pois há décadas atrás, estes eram elementos que indicavam o provável sucesso de um negócio.
Eram comuns, planejamentos e estudos de mercado que duravam meses ou até anos, aliados a uma planilha com previsões que estimavam 10 anos de operação de um negócio antes mesmo dele sair do papel. Com o surgimento das startups no final da década de 90, logo se viu que o approach para esse mercado deveria ser outro, pois o cenário de incerteza era muito maior. Basicamente, não fazia sentido gastar um período longo de planejamento e gastar uma fortuna em ideias que quando iam a mercado, não seguiam em nada as planilhas de previsão. Tratava-se de um balde de água fria tanto no empreendedor – que poderia ter gastado menos tempo planejando – como no investidor, que poderia ter gastado menos dinheiro.
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Como solução, foram criados novos modelos para avaliar e suportar novos negócios, entre eles, o MVP (ou Mínimo Produto Viável). Na prática, o que ocorreu foi que o conceito se expandiu rapidamente entre empreendedores de diferentes segmentos, inclusive de mercados tradicionais. Aliás, todo o mercado tornou-se mais incerto com o tempo e como o meu sócio e amigo, Alfredo Soares, gosta de dizer: "planilha não paga boleto".
Não me leve a mal, nós do G4 Educação somos totalmente a favor de planejamento e estudos de mercado, a diferença dos modelos modernos está na otimização desse processo e na humildade de antecipar o quanto antes o encontro da ideia/negócio com o mercado, para acelerar o ciclo de feedbacks e construir o negócio na direção das necessidades e percepções dos clientes. É apenas uma forma de se alinhar mais rápido ao desejo do público e evitar grandes tombos.
Assumindo um modelo de MVP, a primeira versão do produto funciona como um experimento. Com os testes primários funcionando, a construção do produto ou serviço vão seguindo o caminho dado pelos feedbacks de quem o compra. Assim, quando o produto estiver pronto para ser distribuído de modo amplo, já terá estabelecido clientes, solucionando problemas reais, e oferecerá especificações detalhadas para o que precisa ser desenvolvido. Ao contrário de um business plan tradicional com páginas e mais páginas de pesquisa de mercado e projeções, esta especificação terá sido originada no retorno do que está em funcionamento hoje, em vez de ser uma antecipação do que talvez funcione amanhã.
Por isso, hoje venho falar um pouco sobre o conceito de Mínimo Produto Viável e como ele pode contribuir de alguma forma para o seu negócio.
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Criado por Eric Ries, empreendedor e autor do livro "Startup Enxuta", que descreve os conceitos usados pelas startups, o termo se popularizou após ter angariado vendas na categoria e conquistado espaço na cabeceira de muitos empreendedores na área de tecnologia. A partir disso, o MVP (Minimum Viable Product) passou a ser utilizado não só entre startups, mas também entre empresários de outros segmentos que desejavam tirar uma ideia do papel em decorrência de extensos planejamentos.
Aliás, o grau de incerteza aumentou substancialmente em diversos setores desde o início do milênio, quando passamos a ter um fluxo de informações muito mais rápido e um ambiente de transformações que trouxeram muitas coisas boas, mas ao mesmo tempo, mais incerteza, volatilidade e complexidade, tornando muitos planejamentos em ineficazes.
Além disso, planejamentos de anos para lançamentos de produtos, algo recorrente há décadas atrás, ficaram comprometidos, pois com o aumento da velocidade do mercado, pode-se perder o timing do lançamento e, com isso, o produto perde relevância por conta da demora em ser colocado no mundo.
O produto mínimo viável é um conceito que veio justamente para acelerar esse processo. É um produto (ou serviço) que ainda não está totalmente pronto, mas já tem condições de ser comercializado, tendo sido construído com uma quantidade reduzida de esforço e desenvolvimento para ir no mínimo tempo possível para o mercado. Assim, com base no feedback do comprador, o empreendedor vai adicionando novas funcionalidades ao produto/serviço, de modo que este atenda às necessidades e desejos do cliente ou optar por não lançá-lo.
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O MVP visa orientar as empresas para tomada de decisões mais assertivas de maneira mais ágil e com um custo muito inferior a grandes planejamentos, servindo para a redução de desperdícios na criação de soluções e a diminuição da distância com os clientes. Ele basicamente assume que a cabeça do empreendedor dificilmente acertará de primeira e poupará o tempo de quem está tocando o negócio, poupando-o de criar cenários fictícios detalhados que quase sempre estão errados. O racional desse conceito é outro: antecipar o mais rápido possível a ida do produto/serviço ao mundo, para que as hipóteses iniciais sejam validadas ou não pelo mercado.
Após a sua comercialização, podem advir cinco resultados possíveis:
a) o MVP pode resolver a dor do usuário, cumprindo a sua função;
b) ele pode revelar o que falta para resolver a dor do cliente;
c) o produto mínimo viável pode revelar um novo uso para o produto, diferente do originalmente pensado;
d) pode revelar um novo público, diferente do originalmente pensado;
e) o MVP pode mostrar que o produto é irrelevante para resolver a dor do usuário, mas revelar o porquê. Isso não é necessariamente ruim, pois se o empreendedor tivesse optado por não testar o produto nesse formato, teria ido adiante e teria lançado o produto, o que o levaria a um prejuízo muito maior.
É aprender com o cliente sobre sua própria criação e ter ou não dele sua validação. É uma investigação rápida sobre a criação de uma solução.
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Como vimos, o MVP não é um projeto inacabado, mas apenas uma formulação mais simples de onde queremos chegar.
Se formos usar o exemplo de um serviço, por exemplo, pode ser feito um MVP. Em um cenário hipotético, um indivíduo – vamos chamá-lo de José – quer abrir um restaurante de comida vegana, pois ele é vegano e do interior de SP e em sua cidade e dentro de um raio de 120km, contemplando outras cidades pequenas, não há nenhuma opção vegana para comer.
José poderia passar seis meses analisando o mercado vegano com tendências de mercado, aumento da aderência a esse novo estilo de vida, realizando planejamentos detalhados em planilha que "mostra" como seria o negócio nos próximos 5 anos. Assumir um endividamento para aluguel ou compra de local e mobília.
Ou José poderia validar a sua ideia, buscando o máximo de feedbacks do público, realizando pesquisas locais com moradores locais (amigos e familiares não contam) e entendendo seus hábitos de consumo. Além disso, José realizaria um MVP, ao iniciar uma pequena operação de comida vegana por delivery, na qual ele faria tudo da cozinha de sua casa. Ou em cenários não pandêmicos, ele poderia participar também de feiras gastronômicas locais, a fim de testar a receptividade do cliente. Outra opção, é a organização pequenos jantares em uma pequena chácara que a sua família possui nas proximidades. Para se ter uma ideia, é muito comum nos grandes centros que chefes de cozinha em início de carreira recebam em suas próprias casas, uma ou duas vezes por mês, clientes para testar suas criações.
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Nesse caso, José pode descobrir que não faria sentido se endividar e contratar tantos funcionários para abrir um local. Ou poderia descobrir que faz sentido abrir um restaurante, mas um bem menor e em um local diferente do que tinha pensado originalmente e com um ticket bem maior. Enfim, são "n" possibilidades que ele captaria por conta da interação com o público, algo que ele não teria aprendido se tivesse assumido a sua ideia inicial, que poderia levá-lo a dívidas e a um local vazio.
Do ponto de vista de criação de um produto, eu gostaria de trazer um conceito que gosto muito. A primeira coisa que eu tenho que encontrar é um problema, para então, pensar em qual solução que eu quero criar para solucionar um problema. Digamos que eu já achei um problema relevante pelo qual as pessoas querem pagar por ele.
Digamos que a dor das pessoas é não conseguirem se deslocar mais rápido de um ponto para o outro, em um mundo supostamente de pedestres. Logo, a minha empresa vai se dedicar a entregar soluções de transporte que levem as pessoas do ponto A ao ponto B. Então, eu sou uma empresa de transporte e não necessariamente de veículos.
Nesse caso, o meu MVP poderia ser um skate, pois leva as pessoas de maneira mais rápida de um ponto ao outro (resolve a dor), da forma mais simples possível: uma tábua com rodas. Depois de disponibilizar esse produto ao público, eu vou perguntar, por exemplo, para as 100 primeiras pessoas que o utilizaram, quais foram as boas experiências e as más experiências que eles tiveram. A tendência é que as pessoas falem com mais frequências de determinados pontos. Faça isso com a sua ideia de produto e no momento de organizar as respostas agrupe-as com post-its para visualizar de forma macro. Separe em boas e más experiências e depois agrupe as respostas semelhantes.
A partir dessa análise, eu defino o que eu posso ajustar o mais rápido possível, para poder fazer a atualização do meu produto e atingir a um grupo maior de pessoas. Então, quando eu avalio a experiência de uso do skate, eu posso ter recebido feedbacks como: o skate é muito instável e exige muita habilidade para andar; eu caí e me machuquei. Assim, talvez colocando um guidom e cortando a tábua ao meio, eu traga estabilidade e mais facilidades para transitar. Surge por consequência, o patinete.
Esse mesmo racional vai levando à sequência da imagem, levando as pessoas a menos esforço, facilidade de uso e a chegarem menos suadas no trabalho, até chegar no carro, onde também é entregue o elemento: segurança.
Entenda que desde a primeira versão (MVP) a dor primária do cliente em tese já poderia ser resolvida. Por isso, a linha um da imagem não constitui um exemplo de desenvolvimento do produto pelo conceito de produto mínimo viável.
Em minhas aulas explico como isso funciona de forma detalhada, mas darei uma breve explicação por aqui também. De forma simples, a criação da SPRINT do MVP dura uma semana de trabalho. Desde a construção da ideia, até o momento em que vai para a fase de testes:
Em todo o ciclo do feedback, existe a aplicação do “menos é mais”. Mais chances de melhorias de valoração do produto por menos tempo e custos. É a evolução do produto desde sua forma mais básica a uma estrutura de melhor atendimento à dor do cliente.
Um exemplo clássico de MVP de uma empresa famosa é o Dropbox. Aqui está uma explicação das etapas que levaram ao seu MVP:
1. Identificação da necessidade: Drew Houston, o fundador do Dropbox, enfrentava problemas comuns relacionados ao armazenamento e compartilhamento de arquivos enquanto estava na faculdade. Ele percebeu que muitas pessoas tinham problemas semelhantes e que havia uma oportunidade de negócio para resolver isso de forma mais eficiente.
2. Validação da ideia: Antes mesmo de construir qualquer software, Houston criou um vídeo explicando a ideia do Dropbox e como funcionaria. Ele lançou esse vídeo online e obteve uma resposta positiva de potenciais usuários, que expressaram interesse no produto.
3. Desenvolvimento do MVP: Com a validação da ideia, Houston desenvolveu um MVP simples, que consistia em um protótipo básico de software que permitia aos usuários carregar, armazenar e compartilhar arquivos facilmente na nuvem.
4. Testes e iteração: O MVP foi lançado para um grupo limitado de usuários para testes. Isso permitiu que a equipe do Dropbox coletasse feedback valioso sobre o que os usuários gostavam, o que não gostavam e quais recursos eram mais importantes. Com base nesse feedback, eles iteraram continuamente no produto, adicionando novos recursos e refinando a experiência do usuário.
5. Lançamento oficial: Depois de várias iterações e melhorias com base no feedback dos usuários, o Dropbox lançou oficialmente seu produto completo para o público. Ao usar uma abordagem baseada em MVP, eles foram capazes de lançar um produto que atendia às necessidades reais dos usuários e estava bem posicionado para o sucesso.
Essas etapas demonstram como o Dropbox começou com uma ideia simples, desenvolveu um MVP para validar essa ideia e, em seguida, construiu um produto completo com base no feedback dos usuários. Essa abordagem permitiu que eles minimizassem riscos e maximizassem as chances de sucesso.
1. Identificação da necessidade: Os fundadores do Airbnb, Brian Chesky e Joe Gebbia, perceberam que havia uma demanda por hospedagem alternativa durante eventos lotados na cidade.
2. Validação da ideia: Para validar sua ideia, eles alugaram colchões infláveis em sua própria sala de estar para os participantes de uma conferência, oferecendo café da manhã e uma experiência personalizada. Eles viram uma resposta positiva dos hóspedes, que estavam dispostos a pagar por uma experiência única.
3. Desenvolvimento do MVP: Com base na validação da ideia, eles criaram um site simples que listava espaços de hospedagem alternativa durante eventos. O MVP permitia que os usuários encontrassem e reservassem acomodações temporárias.
4. Testes e iteração: O MVP foi lançado para um grupo limitado de usuários e os fundadores do Airbnb coletaram feedback sobre a experiência de reserva e estadia. Eles iteraram no produto com base nesse feedback, melhorando a usabilidade e adicionando recursos necessários.
5. Lançamento oficial: Após várias iterações e melhorias, o Airbnb lançou oficialmente sua plataforma completa. Com o tempo, eles expandiram sua oferta para incluir uma ampla variedade de opções de hospedagem em todo o mundo, tornando-se uma das maiores empresas de hospedagem do mundo.
1. Identificação da necessidade: O fundador da Zappos, Nick Swinmurn, teve a ideia da empresa quando teve dificuldade em encontrar um par específico de tênis em lojas locais.
2. Validação da ideia: Para validar sua ideia, Swinmurn tirou fotos dos sapatos em lojas locais e os colocou em um site simples. Ele apenas compraria os sapatos de um varejista local após a venda online, garantindo que houvesse demanda suficiente para o produto.
3. Desenvolvimento do MVP: Com base na validação da ideia, ele construiu um site básico que permitia aos usuários navegar e comprar sapatos online. O MVP não mantinha estoque, mas encomendava os sapatos de fornecedores assim que uma compra era feita.
4. Testes e iteração: Swinmurn testou o MVP com um pequeno grupo de usuários e coletou feedback sobre a experiência de compra. Ele usou esse feedback para melhorar a interface do usuário, o processo de compra e a seleção de produtos.
5. Lançamento oficial: Com base nas iterações e melhorias feitas, a Zappos lançou oficialmente sua plataforma completa. Eles expandiram seu estoque e aprimoraram sua experiência de compra, tornando-se um dos principais varejistas de calçados online do mundo, conhecido por seu excelente serviço ao cliente e ampla seleção de produtos.