Net Zero: as oportunidades por trás da sustentabilidade
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Net Zero: as oportunidades por trás da sustentabilidade

Por:
Iara Rodrigues
Publicado em:
21/7/2022
Atualizado em:

Saiba por que, ao longo da última década, as metas para um net zero carbon emissions (zero emissões líquidas de carbono, em tradução livre) se tornaram obrigatórias para uma empresa ser levada a sério no quesito sustentabilidade e quais as oportunidades escondidas nesse setor.

O compromisso de se zerar emissões líquidas na atmosfera – o ponto em que as emissões de uma empresa se igualam à quantidade de seus gases de efeito estufa sendo absorvidos pela terra, mar e, se comprovadamente funcionarem em escala, dispositivos de captura de carbono – é uma meta relativamente nova.

No entanto, a pauta da descarbonização global vem dominando as conversas no mundo da sustentabilidade. Grandes corporações e instituições estão se comprometendo cada vez mais em diminuir as suas emissões de gases de efeito estufa o máximo possível. E a pauta está presente nas principais agendas do mundo:

Isso significa que as empresas que se recusarem a reconhecer a crise climática e a adotarem medidas para atenuá-la provavelmente enfrentarão maior pressão de seus investidores e acionistas.

Mais que isso, a Geração Z (nascidos a partir de 1997) está surgindo como a geração de sustentabilidade - a proteção do meio ambiente foi listada como a preocupação número 1 dessa geração, de acordo com uma pesquisa da Deloitte.

Rotulados como os primeiros “nativos digitais” pela McKinsey, mas também conhecidos como a geração TikTok, as características da Geração Z e o seu comportamente de consumo estão inspirando outras faixas etárias a adotarem um estilo de vida mais ecológico.

Portanto, é hora de se analisar estratégias climáticas viáveis e pensar criticamente em como é possível desempenhar um papel protagonista nessa transição conforme o grau de maturidade do seu negócio.

O que é Net Zero?

De acordo com a Organização Meteorológica Mundial, o mundo teve os 20 anos mais quentes dos últimos 22 anos. Com o crescente aumento das previsões trazidas por esse dado alarmante, o mundo vem presenciando a necessidade de se combater as mudanças climáticas.

Assim sendo, o termo “Net Zero” objetiva balancear a quantidade das emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE) produzidas e retiradas da atmosfera. Ou seja, a intenção é reduzir ao máximo a quantidade de emissões de CO2 da atmosfera e removê-las através de iniciativas sustentáveis, como reflorestamento, implementação de fontes renováveis de energia ou extração direta do carbono.

Fato é que mudanças devem ser feitas tanto em nível doméstico quanto industrial, para viabilizar o alcance dessa meta nas próximas décadas. Afinal, as previsões são que as temperaturas globais aumentem até 5°C em 2100, o que é crítico.

Gráfico explica o que é Net Zero (Crédito: Green Match)

Devido a esse e outros acordos internacionais, aumento da pressão social, regulatória e de mercado, muitas organizações estão se comprometendo a reduzir as suas emissões de gases de efeito estufa. 

Nesse sentido, uma das estratégias adotadas como ferramenta política para inibir tais emissões é a "precificação do carbono" – estabelecer um valor para que o agente poluidor pague pelos danos causados ao meio ambiente.

Em linhas gerais, existem duas formas principais de se precificar o carbono:

  1. um imposto direto sobre as emissões geradas por uma empresa - considerado mais simples de administrar e capaz de fornecer maior segurança às empresas, pois o preço é mais previsível;
  2. ou um sistema de licenças ou autorizações para poluir, negociável em um mercado secundário, conhecido como “esquema de comércio de emissões” (ETS) ou e-commerce'.

Essa estratégia tem se mostrado muito eficaz na transição de geradores de energia para fontes renováveis ​​de energia, pois, na medida em que a agenda da descarbonização avança, os preços do carbono sobem para um nível que exige que as indústrias cumpram essas metas.

Gráfico com a evolução do preço do carbono de 2014 a 2021.
Como os mercados estão avançando Net Zero (Crédito: Visual Capitalist)

Vale ressaltar que se trata de uma área de oportunidade de desenvolvimento e investimento inédita, pois os objetivos do Net Zero implicam uma transformação dos mercados e o redesenho de políticas públicas, representando riscos e possibilidades para empresas, de qualquer setor, construírem negócios inteiramente novos.

Como escalar negócios sustentáveis?

O futuro reserva oportunidades sem precedentes para negócios que se tornarem sustentáveis. O case Patagonia, por exemplo, demonstra como uma marca pode se tornar referência em sustentabilidade ultrapassando o faturamento de US$1 bilhão em receita.

Em um recente estudo produzido pela McKinsey, inclusive, é possível perceber como gestores e líderes que se movem rapidamente conseguirão ver um crescimento exponencial nesse setor. Para tanto, o relatório listou 7 pontos-chave criados a partir da perspectiva de empresas que já construíram e escalaram os seus negócios verdes de maneira bem-sucedida.

1. Lidere com a ambição de mudar o jogo

Tomadores de decisões sustentáveis de sucesso tendem a se concentrar em criar algo de valor desde o início e a pensar sobre o que será necessário para alcançar uma participação de mercado mais significativa no curto prazo. Assim, conseguem, com mais frequência, atingir as metas desejadas rapidamente;

2. Garanta uma vantagem de custo identificando um ponto de interrupção de escala para qualquer nova tecnologia

Construir algo em torno de uma tecnologia limpa pode exigir a análise de diferentes caminhos e recursos tecnológicos, incluindo algumas opções que sequer foram comercializadas. Assim, ao se considerar novas possibilidades, é fundamental analisar a competitividade de custos, com o objetivo de viabilizar o negócio o mais rápido possível. Desse modo, antes de se pensar em escalabilidade, torna-se imperativo conhecer a maturidade relativa das tecnologias e avaliar a sua performance para entender a melhor abordagem e estratégia a serem adotadas.

3. Registre a demanda cativa antes de escalar

Administre o lado comercial do risco de investimento trazendo a sua demanda cativa para participar e investir na sua solução desde o início. Assim, os interesses e objetivos de ambas as partes estarão muito mais alinhados antes de se escalar fisicamente, como a fabricante sueca de baterias Northvolt AB fez com a Volkswagen e a BMW.

4. Desenvolva escalas paralelas

Em um mundo VUCA (volátil, incerto, complexo e ambíguo), a capacidade de se conduzir vários investimentos ou iniciativas no mercado concomitantemente e em curto espaço de tempo é essencial. Por isso, “paralelizar a escala” é o ato de se criar ondas de crescimento adicionais ao seu negócio, incorporando as principais lições de cada onda de crescimento para a próxima.

5. Crie ecossistemas de negócios de forma proativa

O Conselho de Armazenamento de Energia de Longa Duração (LDES) é um exemplo de players que se uniram em suas cadeias de valor para criar um novo ecossistema. O objetivo dessas associações é ajuda mútua para garantir que a infraestrutura e os investimentos necessários para o setor se unam de maneira coordenada.

6. Lidere em operações sustentáveis por meio de metas ambiciosas, inovação e parcerias

Pensar um negócio sustentável é ir além da minimização das emissões de carbono e pensar também em outros impactos ambientais. Por exemplo, a Northvolt estabeleceu uma meta para produzir baterias com menos carbono, mas, para tal, utilizou eletricidade verde e materiais de entrada reciclados. Dito isso, fica claro que empreendedores desse ramo procuram fazer parcerias com organizações que compartilhem da mesma mentalidade. Como resultado, é possível gerar maior credibilidade e incentivar cooperação e inovações para se destacar no  mercado.

7. Dedique recursos de recrutamento antes do início do processo

Todas as empresas bem-sucedidas estão constantemente buscando talentos para escalar os seus resultados rapidamente. Aqui não é diferente e a variedade de competências necessárias  costuma ser ampla. Por isso, avaliar as habilidades que serão recrutadas, antecipadamente, pode ser um catalisador para escalar rapidamente e atingir as metas do negócio, especialmente em territórios onde há escassez de talentos.

Como enumerado acima, a criação de um negócio sustentável bem-sucedido apresenta uma linha de raciocínio bem parecida com a dos líderes digitais do nosso tempo: exige uma velocidade sem precedentes e um mindset de growth hacking  apurado para pensar e produzir além do óbvio rumo à transição necessária para se atingir o Net Zero.

Como empresas mais tradicionais podem se adequar ao conceito de sustentabilidade?

Atualmente, as emissões globais de GEE podem ser enquadradas em quatro grandes categorias: energia, agricultura, indústria e resíduos. O setor energético e suas subcategorias (como transporte, edifícios e energia relacionada à indústria), em especial, correspondem a quase 3/4 dessas emissões.

infográfico com os setores responsáveis pelas emissões de gases do efeito estufa. Em primeiro lugar, o setor energético com 73.2% das emissões.
Emissão de GEE por setor (Crédito: Our World in Data)

Fica claro, a partir dessa divisão, que uma série de setores e processos contribuem para as emissões globais. Ainda que seja importante se concentrar nos setores que produzem maior impacto, é falho e contraproducente focar apenas neles.

É imprescindível que todas essas áreas estejam alinhadas e comprometidas com uma transformação, entendendo que a descarbonização não apenas criará oportunidades econômicas imediatas, mas também trará outros benefícios, como melhores índices de saúde e qualidade de vida.

A Ambev, por exemplo, conta com uma campanha para alcançar o Net Zero até 2040, conquistando o título de primeira grande cervejaria carbono neutro do Brasil e já tendo neutralizado as emissões em três fábricas: Arosuco Aromas, em Manaus (AM), Cervejaria Minas Gerais, em Juatuba (MG), e a Refrigerantes Curitibana, em Tamandaré (PR).

"Seguimos avançando em busca de soluções ao longo dos anos e já contamos com todos os nossos centros de distribuição e cervejarias abastecidos com energia 100% renovável".
Rodrigo Figueiredo, vice-presidente de Sustentabilidade e Suprimentos da Ambev


Além da gigante de cerveja na América Latina, a Embraer - terceira maior fabricante de aviões do mundo - planeja alcançar o Net Zero em suas operações até 2040. Para isso, assinou um acordo com a Raizen para estimular o desenvolvimento de combustível de aviação sustentável.

Embora esses exemplos nos mostrem que o mundo avança, ainda que em passos lentos, em direção a uma revolução de energia verde, na maior pesquisa sobre sustentabilidade feita com CEOs já realizada pelo Fórum Econômico Mundial e a Accenture, com mais de 1.230 entrevistados em 113 países, evidenciou-se o quanto eles acreditam que as empresas não estão preparadas para lidar com as mudanças climáticas.

Além disso, a influência dos investires em ações sustentáveis cresceu significativamente desde os objetivos  de desenvolvimento estabelecidos pelo Acordo de Paris, sendo, inclusive, um dos grupos de stakeholders com o maior impacto na forma como tais políticas são implementadas, atrás apenas dos consumidores e funcionários:

Gráfico mostrando a evolução da influência de stakeholders nas tomadas de decisão sustentáveis. Em primeiro lugar, clientes, seguido por funcionários e investidores.
Gráfico mostra impacto dos investidores na sustentabilidade (Crédito: Fórum Econômico Mundial e Accenture)

Embora muitos desses sistemas e indústria ainda estejam sendo operadas pelo status quo, o investimento sustentável já tem sido visto como uma realocação significativa e inteligente de capital.

Em sua última carta aos CEOs, o CEO da Blackrock (maior empresa em gestão de ativos do mundo), Larry Fink alertou que não gerenciar os riscos relacionados ao clima e outras ações prejudiciais destruirão o valor da empresa para os acionistas.

"Nunca foi tão essencial para os CEOs ter uma voz consistente, um propósito claro, uma estratégia coerente e uma visão de longo prazo. O propósito da sua empresa é sua estrela norte nesse ambiente tumultuado. (...) Colocar o propósito de sua empresa na base de seus relacionamentos com seus stakeholders é fundamental para o sucesso a longo prazo".
Larry Fink, CEO da Blackrock


É claro que a adaptação das companhias ao conceito de Net Zero varia, é claro, dependendo da sua geografia, mercado-alvo e do seu tipo de gestão, mas, alguns aspectos são evidentes:

  • é necessário projetar produtos/serviços para minimizar o desperdício e serem apropriados para reutilização ou reciclagem;
  • o relacionamento com stakeholders precisa ser otimizado para se pensar na melhor maneira de implementar as medidas apropriadas para o gerenciamento dos desafios futuros;
  • cuidado para não prejudicar a reputação da marca com o greenwashing - rotular algo como bom para o meio ambiente, quando, na verdade, não é;
  • a estratégia corporativa precisa estar alinhada aos interesses do mercado, mas com a mitigação e adaptação às mudanças climáticas.

A Siemens, por exemplo, desenvolveu um “portfólio ambiental” com uma linha de produtos eficientes em carbono. Já a Saint-Gobain, gigante da construção e embalagens, adotou tecnologias de habitação sustentável no cerne do desenvolvimento de seus projetos.

Assim, tais organizações se colocam não só em posição de enfrentar os riscos relacionados ao clima, mas também de aproveitar as oportunidades escondidas no setor.  

Net Zero: uma oportunidade verde para a sua empresa

Além de ajudar a melhorar o ambiente mundial, a adoção de estratégias focadas em sustentabilidade pode ajudar sua empresa a crescer, economizar dinheiro e aumentar o valor da marca no mercado.

Um levantamento realizado pela consultora Simon-Kucher deixa claro que 85% dos consumidores se tornaram mais "verdes" em suas compras e 34% está disposto a gastar mais por isso.

Portanto, a sustentabilidade continuará a se tornar o principal fator de compra da população, especialmente à medida que os consumidores migram para as gerações mais jovens. Empresas com ofertas sustentáveis e preços competitivos estarão em vantagem e continuarão a conquistar uma grande participação em seus segmentos.

Ademais, é fundamental citar a iniciativa da empresa Carbon Streaming Corporation, que está financiando a luta contra as mudanças climáticas com o modelo de streaming - tal qual o efeito Netflix no varejo - para o crescente mercado de créditos de carbono.

Afinal, de acordo com o último Relatório de Lacunas de Emissões das Nações Unidas, limitar o aumento da temperatura global a 1,5°C requer uma redução de 50% nas emissões de GEE até 2030 e são eles que podem nos ajudar a nos aproximar dessa meta.

Por isso reflita, como o seu negócio está aproveitando o impulso criado pelo Net Zero para demonstrar seus valores e crenças por meio de ações e compromissos concretos? Nas palavras de Larry Fink, CEO da Blackrock:

"Todas as empresas e todos os setores serão transformados pela transição para um mundo net zero. A questão é: você vai liderar ou você será liderado?"
Net Zero: as oportunidades por trás da sustentabilidade
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