CEO Brasil da BYJU’s e cofundador do ClickBus, Fernando Prado atuou por 12 anos em negócios tradicionais. Quando se juntou a um fundo internacional de Private Equity, se aproximou de outros empreendedores e do mundo digital, chegando a fazer parte da 1ª onda de startups nacionais.
Em entrevista exclusiva para a Revista G4 Club, Fernando fala sobre os desafios de estar à frente de um negócio em momentos turbulentos, características e conceitos de gestão, como o "learning mindset” e “winning attitude".
Além disso, compartilha como foi migrar de segmentos tradicionais para empresas digitais e como será o aprendizado do futuro.
Minha família sempre foi a minha maior inspiração. Primeiramente, meu pai que sempre foi uma referência nos valores e na forma de se relacionar com as pessoas. Desde a infância o tenho como um espelho para desenvolver competências e características para me tornar um líder e um homem de negócios como ele.
Tenho, também, a felicidade de contar com o suporte e apoio incondicionais da minha esposa e dos meus filhos que me inspiram diariamente a seguir em busca de melhora e aperfeiçoamento constantes. São eles que me motivam a liderar com o propósito de contribuir para um futuro melhor, especialmente por meio da educação.
Um bom gestor é acima de tudo um bom líder. A habilidade de conduzir um time inteiro em uma mesma direção é uma característica fundamental para um bom líder.
Para suceder nesta missão destaco alguns pontos importantes: simplificando os desafios por meio de comunicação efetiva, o líder deve ser um grande contador de histórias.
Criando um ambiente de confiança, e para tal, é necessário construir relações positivas, ter conhecimento e entendimento sobre os principais temas e principalmente ter consistência nas ações ao longo do tempo.
Adicionalmente, acho importante ilustrar as características essenciais de um líder humanizado. É preciso: (i) contagiar o time com energia positiva – por meio do respeito e equidade; (ii) ter resiliência e flexibilidade – lidar com imprevistos e novidades; e (iii) ser humilde – vivenciar e estimular o "learning mindset e winning attitude".
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Poderia listar aqui uma série de competências técnicas importantes, mas prefiro iniciar destacando uma comportamental: a atitude.
No mundo em que vivemos, as competências técnicas podem ser desenvolvidas paralelamente com as necessidades, enquanto as comportamentais – como proatividade, comunicação efetiva e inteligência emocional - precisam ser inatas.
Somente com atitude positiva e determinada, um profissional vai conseguir impor uma dinâmica de melhoria contínua e aprendizagem constante, e, como consequência, vai garantir seu desenvolvimento.
“A atitude é o que nos leva a vencer em qualquer situação, mesmo naquelas que ainda não enfrentamos.”
Posso citar três conceitos importantes:
1. Objetivos claros e mensuráveis: é preciso deixar claro para todos o que buscamos enquanto time e quais são as principais alavancas atreladas a cada um desses objetivos; isso garante o norte, o compromisso e a responsabilidade com os resultados.
2. Transparência e contexto: é importante todos terem uma visão ampla sobre o negócio, além de deixar claro o contexto e não ter agendas ocultas. Nossos desafios, fraquezas, principais indicadores e metas são sempre abertos para as equipes, afinal, estamos todos no mesmo barco;
3. Decisões baseadas em dados: isso abre espaço para um ambiente colaborativo e inclusivo – do estagiário ao CEO, ganha o argumento mais bem embasado. As discussões se tornam mais produtivas e transparentes.
Sem dúvidas foi na ClickBus, mais especificamente no dia 15 de março de 2020, quando começou o lockdown por conta da COVID-19. Liderar uma empresa de mobilidade, em um momento em que a grande orientação era justamente não se locomover, foi um desafio imenso.
De um dia para outro a empresa perdeu grande parte da receita e demorou algum tempo para se restabelecer.
Como CEO, meu papel foi tentar manter o time engajado em um negócio que estava passando por um momento complexo. Somado a isso, precisamos enfrentar a pressão de caixa, dos investidores e stakeholders.
Nossa força de trabalho passou a atuar remotamente da noite para o dia, então, foi necessário termos total transparência, jogar aberto e enfatizar que estávamos passando por problemas, mas que juntos superaríamos aquele momento adverso.
Contudo, aquele também foi um momento de novas oportunidades, já que a mobilidade também fez parte da recuperação, especialmente no transporte de médicos e vacinas – o que ajudou a inspirar e motivar nossa equipe.
Além do mais, nos adaptamos às regulações sanitárias junto aos nossos parceiros e atualizamos nossa plataforma online para atender novas demandas de serviços digitais.
Após esse período turbulento, hoje, a companhia está surfando uma onda muito positiva da tecnologia e turismo no pós-pandemia.
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Enquanto líder de uma empresa de educação, recomendo sempre a interação para compartilhamento de experiências e aprendizado em conjunto.
Cursos executivos e programas de ensino, por exemplo, unem pessoas e profissionais com interesses semelhantes e oferecem uma oportunidade única de trocas e, potencialmente, colaborações no futuro.
A educação une pessoas e, além de trazer conhecimento, possibilita networking.
No caso da ClickBus, com certeza foi o serviço prestado. Nossa principal missão foi apresentar uma conveniência que a internet trouxe para o público, enquanto nosso aplicativo foi crescendo e evoluindo ao longo do tempo.
Foi um desafio fazer com que as pessoas compreendessem que o hábito de compra de passagem e organização da viagem não precisava ser tão custoso e burocrático.
Com nosso aplicativo, já não era necessário se deslocar até uma rodoviária, procurar o guichê e, manualmente, comparar os preços das passagens. Conseguimos consolidar tudo em um único lugar e simplificar todo o processo.
É verdade, antes de mergulhar no universo das empresas digitais, tive experiências relevantes em segmentos tradicionais em transporte e farma. Logo após este período, a virada ocorreu durante uma vivência no papel de investidor em Private Equity.
Nos primeiros 12 anos da minha carreira, nem existia um ecossistema consolidado de startups , mas quando decidi me juntar a um fundo internacional de Private Equity observei o início do segmento de Venture Capital e, ao mesmo tempo, tive a chance de conhecer e me aproximar de empreendedores e de suas jornadas empresariais.
Conhecer mais a fundo como eles começaram seus negócios do zero me inspirou a sair do mundo de negócios tradicionais e partir para o digital.
Em 2014, tive o privilégio de fundar a ClickBus e posso dizer que fiz parte da 1ª onda das startups no Brasil. Vivenciar o cenário desde o início e ver como o ecossistema de startups evoluiu nos últimos 10 anos tem sido marcante.
O grande destaque de estar à frente de uma edtech é o impacto que podemos causar em milhares de crianças e famílias espalhadas por todo Brasil.
Sempre comento com o time que se tivermos sucesso no nosso projeto, na nossa empresa, automaticamente geraremos um futuro melhor para nossa sociedade, para o nosso país e isso é muito potente.
Além disso, trabalhar com educação de crianças e adolescentes traz uma responsabilidade ainda maior. Um ensino que não seja, no mínimo, excelente em termos de conteúdo e acessibilidade é inaceitável. Como toda startup, a empresa aprende e cresce com erros, mas aqui temos pouco espaço para errar.
Eu não acho que isso é uma pressão, pelo contrário, é uma motivação. Quando passamos por situações desafiadoras, nossa equipe da BYJU’S tem o costume de assistir algumas de nossas aulas e acompanhar o aprendizado de crianças e adolescentes.
Com isso, reforçamos ainda mais nosso propósito enquanto pessoas, profissionais e entusiastas da educação como ferramenta transformadora.
A grande mudança que vivenciamos é a do aluno no centro: ele que vai direcionar o próprio processo de aprendizagem e desenvolvimento. O professor segue como uma figura importante, atuando como um tutor para apoiar os alunos a explorar diferentes perspectivas para encontrar a melhor forma de aprender.
Vemos o aluno como protagonista no seu próprio desenvolvimento. Com essas mudanças, também vejo uma necessidade de aprendizagem constante, e por meio da tecnologia podemos alcançar uma educação ainda mais acessível e atual.
“Em um mundo cada dia mais dinâmico, precisamos aprender ao longo de toda a vida.”
Eu posso dividir minha principal missão atual em três: unir pessoas em torno de um objetivo comum; simplificar os principais desafios; e comunicá-los de maneira correta. Além disso, é muito importante garantir um ambiente seguro, onde as pessoas consigam trazer a sua essência e contribuir com o que elas têm de melhor.