Vivemos em um momento que provoca enorme ansiedade nas pessoas, muito por conta do avanço da Covid-19, responsável por centenas de milhares de mortes ao redor do mundo. Essa ansiedade afeta como as pessoas tomam decisões, sejam elas financeiras, profissionais ou pessoais. Essa dificuldade para tomar melhores decisões impacta desde o cancelamento de uma provável viagem de férias, e até em como se proteger dessa pandemia.
Obviamente, isso é um grande problema. São várias as razões psicológicas que fazem com que seja difícil tomar decisões neste momento. Primeiro, é inegável que a Covid-19 é uma ameaça iminente, que se espalha muito rapidamente pelo mundo e pelo Brasil provocando dezenas de milhares de mortes, gerando medo. Em segundo lugar, há muita incerteza sobre a disseminação do vírus e o que será do futuro próximo.
Soma-se a isso um terceiro fator. As pessoas possuem pouquíssimo controle sobre a propagação do vírus. Você pode lavar as mãos, usar álcool gel, evitar tocar o rosto e praticar o isolamento social, mas não há como garantir que você está 100% seguro. Todas essas são tentativas de prevenção individuais, mas é impossível garantir que toda a sociedade as tome, o que cria a sensação de impotência.
São muitas decisões rápidas sobre todos os assuntos, motivadas justamente pela ansiedade, que você deveria evitar. Não tomar decisões baseadas neste medo, incerteza e impotência já é um bom começo.
Pegue o mercado financeiro, que viu seus principais índices acionários desabarem mais de 20% no começo de março, conforme as pessoas ficaram assustadas e se desfizeram de seus investimentos. É sábio fazer isso de supetão quando a história já mostrou que quedas como essas são anuladas em pouco tempo? Talvez a inação, ao invés da decisão tomada no pânico, fosse melhor.
Então, como você pode tomar boas decisões diante desse cenário de alto grau de incerteza, e sobre o qual você tem pouco poder de mudança? A melhor maneira é desacelerar, parar e raciocinar antes de qualquer coisa. O pânico pode fazer com que as pessoas queiram agir agora para evitar uma ameaça, mas a maioria das decisões que você tomará apressadamente não serão as ideais. O correto é parar e utilizar as ferramentas corretas para chegar à melhor decisão.
Ao desacelerar, você pode desenvolver uma linha de raciocínio com base em dados para chegar a uma decisão. Aproveite o tempo para estudar e se aprofundar no cenário antes de tomar decisões pessoais e de negócios importantes. Há muitas ações que as pessoas devem tomar nas próximas semanas e meses, mas a decisão de agir deve ser baseada em deliberação, reflexão sóbria a partir de dados e discussão com especialistas — não em reação a uma manchete ou um tweet.
Para conseguir encontrar a melhor decisão entre várias opções, é muito bom que você use os modelos mentais corretos. Mas o que são modelos mentais? São conjuntos de ferramentas que traduzem nossa forma de entender o mundo. Eles não só moldam o que pensamos e como entendemos, mas também as conexões e oportunidades que vemos. Modelos mentais são como simplificamos a complexidade e traduzem por que consideramos algumas coisas mais relevantes do que outras, e como raciocinamos.
A qualidade do nosso pensamento é proporcional aos modelos em nossa cabeça e sua utilidade na situação em questão. Quanto mais modelos você tiver —uma caixa de ferramentas ampla — maior a probabilidade de você ter os modelos certos para ler e compreender a realidade. É notório que, quando se trata de melhorar sua capacidade de tomar decisões, a variedade importa.
A maioria de nós, no entanto, é especialista em alguns poucos modelos mentais. Em vez de uma rede de modelos diferentes à disposição, temos acesso a apenas alguns que desenvolvemos ao longo de nossas vidas. Cada especialista vê algo diferente. Por padrão, um engenheiro terá a tendência de pensar em sistemas, enquanto um psicólogo pensará em termos de incentivos e traumas e um biólogo pensará em termos de evolução. Juntando essas disciplinas em nossa cabeça, podemos abordar um problema de uma forma diferente, eliminando possíveis pontos cegos que prejudicam a tomada de decisões.
Aqui está outra maneira de pensar sobre isso. Quando um biólogo olha para uma floresta, pode se concentrar no ecossistema, um ambientalista vê o impacto das mudanças climáticas e um empresário o valor da terra, gerando visões que podem ser muito diferentes e antagônicas. Nenhum deles provavelmente está errado, mas nenhum deles é capaz de descrever a floresta em sua totalidade. Compartilhar conhecimento, ou aprender o básico das outras disciplinas, levaria a um entendimento melhor que permitiria boas decisões sobre a gestão dessa floresta. Em uma hora de tantas incertezas, pode ser positivo estudar diferentes modelos mentais, aprendê-los e usá-los para tomar melhores decisões.
Tão importante quanto um bom modelo mental é conseguir ver além e pensar nas consequências de seus atos no momento, que é o chamado pensamento de segunda ordem. Um pensamento de primeira ordem é rápido e fácil, resolvendo problemas imediatos sem pensar nas consequências. Algo na linha de “Estou com fome, vou comer um chocolate”.
Pensamento em segunda ordem é mais complexo. É necessário pensar em termos de interações e tempo, entendendo que, apesar de nossas intenções, nossas intervenções muitas vezes causam danos. Pensadores de segunda ordem se perguntam: “E depois?" Isso significa pensar nas consequências de comer chocolate quando você está com fome e usar esse pensamento para tomar uma melhor decisão, o que pode fazer com que você opte por comer algo mais rico em nutrientes, de baixo teor calórico e com potencial de conferir maior saciedade – ou seja, uma substituição mais saudável.
O pensamento de primeira ordem é raso e, portanto, semelhante para todos, já que a maioria vai chegar às mesmas conclusões. Mas, para ter uma performance acima dos demais nas suas decisões, você vai precisar de um pensamento de segunda ordem. Desempenho extraordinário acontece quando você enxerga coisas que outras pessoas não podem ver.
Há algumas formas de você incluir o pensamento de segunda ordem em seus modelos mentais e naturalizá-lo. O primeiro: sempre se pergunte "E depois?", quais são as consequências dessa decisão em 10 minutos? 10 dias? 10 meses? 1 ano? 10 anos?
Se você está usando isso para pensar em decisões de negócios no meio desse período de incertezas, pergunte a si mesmo o que as partes interessadas do seu segmento farão como consequência de seu ato. Como os seus funcionários vão lidar com isso? O que meus concorrentes provavelmente farão? E meus fornecedores? E os reguladores? Você quer entender as consequências imediatas e futuras antes de tomar qualquer decisão.
Muitas coisas extraordinárias na nossa vida são resultado de coisas que não possuem efeitos imediatos, mas têm impactos futuros. Investimentos, saúde, decisões profissionais, tudo isso depende de um pensamento de segunda ordem, o que dá muito trabalho. Não é fácil pensar em termos de sistemas, interações e tempo. No entanto, isso é muito melhor para suas decisões, especialmente em épocas de crise.
Tenha cuidado para que esse trabalho de raciocinar demais antes de uma decisão não se transforme em um problema para você – não adianta tentar ser perfeito em todas as suas decisões. Para cada decisão, você vai ter que decidir de antemão se essa é uma questão que requer grande pensamento ou não. Para decisões sem importância, você deve decidir rapidamente ou terceirizar a decisão.
Os perfeccionistas costumam ter dificuldade para avaliar quais decisões são sem importância. Tendem a acreditar que todas as decisões são importantes. Com isso, tornam-se cegos. Eles habitualmente e automaticamente classificam tudo como digno de seu esforço total. Na vida moderna, a fadiga da decisão pode ser intensa, então não tente ser perfeito sempre, use o pensamento de segunda ordem para decidir o que precisa de mais cuidado.
Se uma decisão é reversível, podemos tomá-la rapidamente e sem informações perfeitas. Se uma decisão for irreversível, é melhor retardarmos o processo de tomada de decisão e garantir que consideramos informações amplas e compreendemos o problema o mais detalhada possível.
Jeff Bezos, o fundador da Amazon, usou esse pensamento para tomar a decisão de empreender. Ele chegou à conclusão de que se Amazon falhasse, ele poderia voltar ao seu emprego antigo tendo aprendido muito e sem arrependimentos de tentar. A decisão era reversível, então ele se arriscou. Podemos estar preparados para extrair sabedoria da experiência se a decisão se mostrar incorreta.
Contudo, as decisões reversíveis não são uma desculpa para você agir imprudentemente, mas elas mostram que é importante adaptar as decisões aos tipos que estamos tomando. O pior que pode acontecer é tomar decisões antes da hora em questões que sejam irreversíveis. Já o maior risco para os reversíveis é esperar até o último minuto. De maneira geral, tome decisões reversíveis o mais rápido possível, desde que bem embasadas, e tome decisões irreversíveis o mais tarde possível.
Mas como garantir que tenhamos um processo de decisão correto, com um pensamento de segunda ordem? Baseando-as em dados e informação. No entanto, não se engane: dados não são nada sem conhecimento. É preciso experiência humana para traduzir dados em insights. Dados sem insights não têm sentido, e insights sem ação são inúteis.
Dados baseiam diversas decisões nossas, principalmente quando são “mastigados” pela tecnologia. Por exemplo, quando você decide comprar um produto que a Amazon te recomendou, assistir a um filme que a Netflix sugeriu ou ouvir uma música que o Spotify correspondeu às suas preferências, você está fazendo decisões baseadas em dados anteriores em sua vida. Na mesma linha, se você usar o Waze ou o Google Maps para decidir qual rota tomar quando estiver dirigindo ou verificar previsão do tempo antes de se vestir, você está sendo orientado por dados. E eles te ajudam a tomar decisões melhores e mais eficientes.
Humanos são perfeitamente capazes de agir de maneira racional, e não teríamos uma sociedade moderna se não fosse pelo fato de que a razão prevalece, no longo prazo, sobre a ignorância e superstição. Mas, se você entrar na maioria das organizações hoje e pedir aos departamentos de pessoal para qualificar o trabalho das equipes, ou determinar talentos e potenciais, a resposta será muito mais subjetiva do que se fôssemos checar a previsão do tempo. E isso prejudica a qualidade da gestão.
Isso, naturalmente, passa pela complexidade da questão que está sendo analisada. É muito mais fácil determinar a eficácia de um motorista de Uber do que de um Presidente da República. Para avaliar o primeiro você tem dados como a) quantidade de viagens, b) nota média e c) quilômetros rodados. No segundo caso, são decisões muito mais subjetivas, como ideologia, cenário internacional e outras tantas informações subjetivas que, cruzadas, representam o desempenho do Presidente em seu cargo.
Muitas vezes, a sua intuição entra no caminho e atrapalha. Vou usar o exemplo do nosso e-mail: imagine que você esteja jogando um dado não viciado. Na primeira vez em que você jogar esse dado, cada número de 1 a 6 tem a mesma probabilidade de cerca de 16,7% de chances de aparecer como sendo a face virada para cima. Saiu 1, 2, 3, 4 e 5 em sequência. Pense rápido: qual número você acredita ter maior probabilidade de ser mostrado?
Se você respondeu 6, ou na verdade acredita que qualquer número tenha uma probabilidade maior do que outro, você pode estar cometendo alguns erros sérios no seu negócio. Parar para pensar, avaliar e conseguir mais dados pode ser decisivo para você tomar uma boa decisão ou não.
Como resultado, podemos perceber que tomar as decisões corretas depende tanto da qualidade de informações disponíveis quanto do grau de urgência daquela decisão. Para não ficar em uma encruzilhada e gastar seu tempo tomando decisões de questões menores, é necessário saber priorizar suas decisões.
Como? Há uma infinidade de maneiras. Você pode, por exemplo, construir uma matriz de importância, muito parecida com essa figura abaixo. Ou usar aplicativos, listando tudo que você precisa decidir naquele momento. Alguma forma de organização vai ser boa para você e te ajudar a priorizar e tomar decisões melhores.
Estas ferramentas são particularmente úteis para aqueles momentos em que você está com um milhão de coisas para decidir, pois te ajudam a visualizar o que é realmente importante e o que pode esperar. Só de você parar para pensar se aquela questão é importante ou urgente o fará raciocinar um pouco mais.
Dessa forma, você pode focar realmente naquilo que é realmente relevante para aquele momento e tomar suas decisões no tempo correto, o que te permitirá melhorar a qualidade dessas decisões. Desacelerar, olhar por cima, entender a urgência e a reversibilidade daquela decisão, vai te ajudar neste processo. Torço por você!