Como melhorar a oratória? Exercitando sua "escutatória", como diria Rubem Alves.
Suor frio, mãos trêmulas, falta de voz… esse pode ser seu corpo sabotando você, caso sofra de glossofobia, termo popularmente conhecido simplesmente como “medo de falar em público”.
Isso acontece porque a comunicação talvez seja o caminho mais eficaz de simplificar a complexidade de atingir um resultado, em qualquer âmbito da vida, seja pessoal ou profissional.
Veja bem: ao conseguir se expressar e ser compreendido, você entra em comum acordo, coloca interlocutor e receptor no mesmo pé de igualdade. Ferramenta poderosíssima à gestão e ao empreendedorismo.
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O problema acontece quando você sente que não está nesse mesmo pé de igualdade; aí vem o nervosismo, o suor frio. Saber que existe um desequilíbrio entre a sua capacidade de oratória versus a atenção de um receptor pode causar danos até mesmo fisiológicos no seu organismo.
Justamente, glossofobia, ou medo de falar em público, é um tipo de ansiedade que acomete 77% da população dos Estados Unidos, segundo dados de entrevistas de diagnóstico da National Comorbidity Survey Replication (NCS-R).
O medo de falar em público não está tão relacionado com a qualidade de um discurso, mas sim com a forma como o orador se sente, pensa ou age quando se depara ao falar nesse tipo de circunstância.
Altos níveis de ansiedade deixam o sistema nervoso em alerta contra um estímulo potencialmente ameaçador. Essa hiperexcitação leva à experiência emocional do medo, que interfere frontalmente em nossa capacidade de atuar confortavelmente, por exemplo, diante de um público.
Além disso, algumas pessoas experimentam o que os pesquisadores chamam de sensibilidade à ansiedade ou medo do medo.
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Sensibilidade à ansiedade significa que, além de se preocupar em falar em público, as pessoas estão preocupadas como sua ansiedade afetará sua capacidade de atuar em situações de comunicação desafiadoras.
Portanto, além de se preocupar se alcançarão seus objetivos com o discurso, as pessoas com alta sensibilidade à ansiedade também se preocupam com a possibilidade de ficarem extremamente ansiosas na frente de sua audiência, demonstrando fraqueza.
O medo do medo é um processo que se retroalimenta e pode gerar despertar diversas sensações “impostoras”, tais quais:
Outro fator que contribui para o medo de falar em público é o quão habilidoso você é no assunto que se propõe a discorrer. Embora muitas pessoas se considerem naturalmente boas oradoras, sempre há espaço para crescimento.
O aumento da competência leva ao aumento da confiança, que é um antídoto eficaz contra o medo. No entanto, a confiança por si só não se traduz em falar em público de maneira eficaz.
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A próxima pergunta lógica é: como vencemos esse medo? Felizmente, existem muitas abordagens que funcionam bem, tanto em termos de desenvolvimento de habilidades, quanto em termos de autoconhecimento.
Recebemos Luis Vabo Jr. em um episódio do podcast “Só Ensina Quem Faz”. Vabo, para os íntimos, é especialista em People Skills, OPM pela Harvard Business School e mestre pelo COPPEAD/UFRJ, com extensão na EM Lyon.
Foi diretor da Stone e B2W, fundou a Vabo23 Educação, é professor da Link School of Business, Empreendedor Endeavor, conselheiro de diversas empresas e autor do livro "Falar em público é para você!". Recentemente, se tornou “professor” do G4 Educação, nas Imersões G4 Oratória e Gestão de Pessoas.
No episódio, discorreu sobre como evoluir sua oratória e diversas práticas de gestão subjacentes à soft skill. Você pode complementar sua leitura assistindo ao videocast na íntegra:
O dicionário Michaelis define oratória como:
"A arte e a prática de falar em público; retórica.”
Destrinchando essa definição, a arte, material da ciência e da filosofia, é o subjetivo mais próximo do objetivo “técnica”. Logo, a oratória é a técnica que compõe as nuances da arte do discurso - e como usá-lo como ferramenta para impactar públicos.
A retórica, por sua vez, é a arte da eloquência, a arte de bem argumentar. A poderosa “granada” dos sofistas, que nasce como um conceito intrínseco da oratória, na democracia ateniense do Século V antes de Cristo, explorava os questionamentos de um novo mundo.
Os sofistas se tornaram os primeiros “professores” do estudo da oratória. Contraditórios para a história, muito pelo oportunismo, usavam do poder da argumentação para convencer o público a concordar com as ideias daquele que discursava.
Essa perspectiva mudou a partir das teorias de Sócrates e Aristóteles, que passaram a considerar a retórica uma importante ferramenta da filosofia.
Recebeu um sentido mais amplo e passou a instigar a imaginação, favorecer a compreensão, despertar paixão e influenciar determinações.
De acordo com a Michael Page, 91% das pessoas são contratadas pelas empresas devido às suas habilidades técnicas – o que está no currículo, seu diploma, cursos realizados ou até de idiomas aprendidos -, entretanto, elas acabam sendo demitidas em razão das suas soft skills.
O estudo leva em conta as respostas de 1.400 executivos de Recursos Humanos, de janeiro até agosto de 2022, de empresas dos setores de varejo, vendas, TI, propriedade e construção, marketing, finanças e engenharia.
"O profissional precisa ter uma forte inteligência emocional e buscar novas habilidades, como trabalhar em equipe, respeito ao próximo, inspirar e desenvolver pessoas. Muitos executivos acabam sendo atropelados pelo próprio ego e pagando um preço alto, muitas vezes acarretando em demissão.”
Segundo o estudo, as 15 soft skills mais procuradas entre os principais empregadores são:
Comunicação em 1º lugar, porque se comunicar bem está diretamente relacionado a sua capacidade de atingir suas metas pessoais e profissionais.
“Comunicar-se bem é a arte de tornar algo comum, a ação de simplificar o que você quer passar. É o caminho fundamental para qualquer empreendedor se expressar e ser compreendido.”
Tudo o que você faz na vida está atrelado na busca de um resultado. Se ao comunicar algo para um receptor, seja ele seu time, seu cliente, seu sócio, seu investidor, seu pai, sua mãe, seu marido, sua esposa, ou a sociedade em geral, e ele compreender o que você está tentando transmitir, você está mais próximo de atingir seus resultados.
É um dos fundamentos de uma liderança de alta performance. Aquela que símbolo do que sua embarcação representa – e a ordem de sua manutenção é reflexo do elo de confiança criado na relação entre ambas as partes. Exige comprometimento. A figura do líder precisa ser mais a de um “mentor” e menos a de um líder que microgerencia.
Também um dos fundamentos de gestão estratégica de pessoas. Cabe às lideranças sempre comunicarem sobre o desempenho de cada colaborador para minimizar falhas na troca humana. Quando há surpresa em cada processo corporativo, há sinais de mau funcionamento na comunicação. Todos precisam estar na mesma página.
A oratória é uma ferramenta poderosa para um empreendedor que deseja dominar essas valências. Não é garantia de sucesso, mas é um jeito eficaz de simplificar o caminho para o sucesso.
Na base de todas as dicas, está o treino constante. Um bom orador é aquele que está preparado, não o livre ao acaso. Como melhorar a oratória passa por muito exercício mental, tal qual o fisiculturismo exige o modelismo muscular.
Sem autoconhecimento, disciplina e preparação, você não chegará ao encantamento que equilibra a balança em qualquer negociação ou apresentação. Dominar os pormenores da comunicação é dominar uma habilidade social, de conexões.
Na abertura de seu livro, “Falar em Público é para Você!”, Luis Vabo Jr. traz a referência do texto “Escutatória”, de Rubem Alves:
“Sempre vejo anunciados cursos de oratória. Nunca vi anunciado curso de escutatória. Todo mundo quer aprender a falar. Ninguém quer aprender a ouvir. Pensei em oferecer um curso de escutatória. Mas acho que ninguém vai se matricular. Escutar é complicado e sutil…”.
Seu livro é de oratória, mas saber ouvir é seu imperativo de abertura. Como falar bem se você não entende quem é sua audiência? Antes de conseguir falar, é preciso saber ouvir. E esse é um ato profundo de autoconhecimento.
É a soft skill para quem quer dominar seu próprio estilo, entender suas próprias nuances, controle de voz, a segurança de palco. É entender o seu corpo e sua comunicação não verbal. Dominar sua presença e sua imposição.
Entender quem você é enquanto orador. Não é sobre qualidade de discurso, mas sim sobre qualidade de personagem, presença de quem conduz. Encontrar o tom da sua personalidade, o ponto de conforto que ilumina toda sua naturalidade. Essa é a essência.
“Com treino, o cerebelo, o CTO do corpo humano, irá naturalizar o processo.”
Treinar, treinar, treinar, treinar, treinar.
É como aprender a dirigir. Chega uma hora que você não pensa. Você simplesmente executa. Você precisa alcançar esse nível de oratória. De uma naturalidade que lhe transborde. Aplicar até sair do mecânico e entrar em um fluxo natural, das mãos do subconsciente. Resistir até entrar no sangue.
É uma jornada que requer muita disciplina. E disciplina é aquela coisa: uma meta lá na frente, construída no agora com muita resiliência. Por muitas vezes mais distante do que palpável, mas que todos os cases de sucesso mostram que a recompensa paga o esforço despendido.
É o jogo dos campeões. Só levanta a taça quem se preparou realmente para estar lá. Você só se tornará um ótimo orador apenas se treinar o suficiente para dominar quem você é enquanto orador. Autoconhecimento, disciplina e preparação.
Luis Vabo Jr., ao podcast “Só Ensina Quem Faz”, do G4 Educação, fala um pouco sobre técnicas de storytelling e menciona a básica regra dos três “D”s:
Criar desejo parte da escassez. Quando tem uma dor de mercado e não existe uma oferta, certamente há lugar para uma oportunidade. Pensando como liderança, o objetivo é criar uma narrativa que encante e crie o efeito “interessante-interessado”.
Interessante aquele que narra, interessado aquele que ouve. Interessante oratória, interessado escutatória. Efeito “interessante-interessado” que une interlocutor e receptor no comum de uma mesma mensagem.
A comunicação clara conecta-se com o cérebro, que é o nosso mecanismo de garantia para a sobrevivência. Se eu sou interessante, eu sou interessado. Contar histórias é algo que conecta, que gera empatia. Empatia é encantamento.
Aqui é onde a retórica entra no campo da oratória e ambas tratam da arte da palavra, do domínio do discurso: instigar a imaginação, favorecer a compreensão, despertar paixão e influenciar determinações.
Um dos desafios mais comuns na gestão de pessoas: a comunicação.
Imagine que uma pessoa é desligada de uma empresa. Ela se surpreende com o fato, ao passo que a empresa trata o processo de desligamento de forma natural. Qual o motivo da dissonância de compreensão sobre o assunto?
Independentemente das razões das perspectivas, é bem claro nesse exemplo que há uma falha de comunicação em como uma liderança conduziu a trajetória desse ex-colaborador pela empresa. Será que foram dados os devidos feedbacks? Será que as expectativas de entrega estavam alinhadas?
Essa pessoa foi pega de surpresa. Ao longo de sua jornada corporativa, alguma falha de comunicação aconteceu para que aquele ponto chegasse sem que ela fosse alertada com algum sinal prévio.
Erros de oratória e comunicação podem ser fatais, ainda mais quando falamos de:
Pense em uma apresentação de pitch.
Vamos usar, como exemplo, um elevator pitch, a famosa “carta de vendas de elevador”. Imagine que você irá pegar um elevador do térreo ao 15º andar com um investidor. Nesses 30 segundos de subida, você tem que estar apto a explicar o que é o seu negócio e vender seu peixe.
Deve abordar o problema a ser resolvido, a proposta de valor e os diferenciais de seu negócio em relação ao que já é oferecido pelo mercado. Não conta com apoio visual e serve para despertar a curiosidade e conquistar um próximo passo.
O conteúdo naturalmente já é a espinha dorsal de uma apresentação de pitch. Como você torna aqueles segundos memoráveis? Fuja do discurso genérico e saiba como contar uma história encantadora, lembrando dos três “D”s.
Os estudos do professor Mehrabian, conhecido por seu trabalho pioneiro no campo da comunicação não-verbal, principalmente da linguagem corporal, mostram que a grande maioria do que transmitimos por meio de nossas interações é inata e instintiva.
Movimentos e postura corporal, expressões faciais, contato visual, gestos com as mãos e tom de voz, são responsáveis por 70 a 93 por cento de toda a comunicação não-verbal.
Não se atentar à comunicação que vai além do discurso é um erro crítico da oratória. É elemento mais fundamental do que a própria palavra em si. Está relacionado à dica sobre autoconhecimento, sobre sua postura enquanto orador.
De que forma você criará o efeito “interessante-interessado”, com uma presença de palco implacável? Aquela aura gravitacional, que puxa a audiência com um magnetismo vibrante? Ignorar esse tipo de poder é negligência de um orador que deseja despertar todo seu potencial.
Nem tudo precisa ser dito. Uma história bem contada tem muito para ser sentida.
O nervosismo não é um erro, é um sentimento humano.
Erro é ser dominado pela sensação e permiti-la que estrague tudo o que foi planejado cuidadosamente com antecipação.
Esse é o contraponto à dica “disciplina e preparação”. Treinar é uma ação preventiva e propositiva, contra o improviso do acaso. Além de evolução, você chega gabaritado para lidar com todos os cenários possíveis.
Falta de preparação te coloca em sinucas de bico, aquelas jogadas as quais você não tem saída - precisa entregar uma bola ao seu oponente. Um bom orador sempre está no controle.
Só com treino um bom orador consegue controlar narrativa e audiência nas mãos. Esse sempre fora um ás nas mangas dos grandes líderes, que usaram de técnicas de repetição, ênfase e pausa para eternizarem discursos na história.
Steve Jobs ensaiava por cerca de 8 horas antes de cada uma de suas apresentações.
O treino, para Jobs, visava lapidar, além de sua performance, o próprio roteiro de seu discurso, com o mesmo rigor que aplicava ao desenvolvimento dos produtos da Apple.
Martin Luther King é lembrado pelo clássico “I have a dream”, usado repetidamente no famoso discurso de 1963 no Lincoln Center.
A repetição, combinada com a ênfase, deixa aquela que deverá ser a grande marca do discurso, a sua mensagem central.
Barack Obama enfatiza histórias pessoais que se conectam com as pessoas.
Enfatiza palavras concretas, que evocam imagens, que nos trazem personagens: o pai, a criança, o idoso. Fala de pessoas e as situa dentro do contexto mais amplo: o país.
Nelson Mandela é um líder que aplica perfeitamente os intervalos de suas frases, mostrando serenidade e calma. Faz parte de sua personalidade, de sua comunicação não-verbal.
Além de ajudá-lo a respirar e planejar melhor sua interlocução, a pausa possibilita que seu público assimile com melhor clareza cada mensagem.
Sinopse: Como vencer o medo de falar em público? Como se preparar para fazer apresentações eficientes e impactantes? Como transmitir as mensagens desejadas da melhor forma possível?
Neste livro, o consultor e professor Luis Vabo Jr parte da ideia de que “oratória e escutatória precisam andar juntas” para explicitar aquilo em que acredita: para desenvolver a habilidade de falar em público, é preciso aprimorar a escuta ativa. Ser capaz de ouvir, segundo ele, é o que permite formar conexões, criar e nutrir relacionamentos.
Com Prefácio de Bernardinho, trata-se de um guia essencialmente prático para ajudar quem quer melhorar sua performance em apresentações, superando medos e inseguranças com o uso de técnicas e recursos acessíveis a qualquer pessoa.
Mostra, também, como é fundamental preparar-se com cuidado e antecipação para se expor ao público. Checklists e exercícios, assim como indicações de livros e palestras, complementam o conteúdo e incentivam a seguir sempre se aperfeiçoando.
Sinopse: Aprenda as técnicas de apresentação do criador da Apple! Cativar o público durante uma apresentação de produto é o momento crucial que define o sucesso ou o fracasso de um projeto que consumiu meses de trabalho. Por isso, empresários do mundo inteiro procuram se espelhar no CEO que mais causa admiração ao falar em público: Steve Jobs.
Ao revelar o método das apresentações de Steve Jobs, Carmine Gallo mostra que não há segredos. Por meio de uma análise da estrutura das famosas palestras do líder da Apple, o autor oferece técnicas simples com as quais qualquer pessoa pode conquistar seu público, seja qual for o seu produto, transformando consumidores em defensores fiéis de suas ideias.
Como melhorar a oratória passa por uma jornada de treino e disciplina. O momento do palco é resultado de um processo preparatório, preventivo e propositivo. Não é malabarismo. Você chega preparado para todos os cenários possíveis. Isso gera confiança.
Elementos esses que combatem a ansiedade e o medo de falar em público, ou em termos científicos, glossofobia. Ao se preparar, sob as premissas de oratória e escutatória, você equilibra a balança e trata “interessante-interessado” de forma humana, da forma que gostaria de ser tratado.
Comunicação é tornar algo comum, em torno de união, conexão. Ser um comunicador é tornar-se capaz de usar essa ferramenta para atingir um objetivo.