Falar de alto desempenho virou lugar comum, mas pouca gente se refere à busca pela excelência como algo que perseguem em sua vida profissional e pessoal.
Quem busca a excelência não está preocupado em fazer um trabalho bem feito ou apenas superar metas no final do ano. Quer manter sempre os mais altos padrões em tudo, constantemente.
O conceito da busca pela excelência é muito antigo e foi discutido por filósofos como Sócrates, Platão e Aristóteles, que falavam então em “virtude”, como um aspecto importante para levar uma vida significativa e gratificante. Aristóteles, em particular, desenvolveu um trabalho sobre o florescimento humano, conhecido como eudaimonia, no qual enfatizou a busca da excelência ou virtude (areté) como o bem maior.
O conceito de eudaimonia de Aristóteles é uma expressão grega que se traduz como "felicidade" ou "realização plena". No entanto, ao contrário da compreensão moderna da felicidade, que pode ser vista como um estado emocional passageiro, Aristóteles considera a eudaimonia como um estado permanente de realização pessoal e excelência moral.
A eudaimonia é alcançada por meio da virtude, que é o conjunto de hábitos e ações que levam ao bem-estar pessoal e social. Aristóteles acreditava que a virtude é uma forma de mediania, ou seja, um equilíbrio entre dois extremos. Por exemplo, a coragem é a virtude que está no meio entre a covardia (falta de coragem) e a temeridade (excesso de coragem).
Para Aristóteles, a virtude não é algo que nasce com uma pessoa, mas algo que pode ser adquirido por meio da prática e da educação. A educação deve ser direcionada à formação de hábitos virtuosos que levem à excelência moral.
A eudaimonia é o fim último das ações humanas, e a busca pela virtude é uma forma de alcançá-la. Para Sócrates, também é importante buscar a virtude como meio para alcançar a felicidade. Em seus diálogos, especialmente em “A República”, ele defende a ideia de que a virtude é o caminho para uma vida plena e feliz.
A busca pela excelência, portanto, se constrói na prática, como bem colocou o filósofo inglês Will Durant em 1926 em uma frase até hoje atribuída a Aristóteles. “Nós somos o que fazemos repetidamente. Excelência, portanto, não é um ato e sim um hábito”.
A busca pela excelência refere-se ao esforço intencional e contínuo para atingir o mais alto nível de desempenho, caráter e crescimento pessoal, tanto no domínio pessoal quanto no profissional. Envolve a busca pela excelência em várias áreas, incluindo valores morais, habilidades, conhecimentos, relacionamentos e conquistas.
Em um contexto pessoal, a busca pela excelência pode envolver o cultivo de virtudes como integridade, compaixão, resiliência e autoconsciência. Também pode implicar estabelecer e lutar por metas pessoais, buscar o auto aperfeiçoamento, manter relacionamentos saudáveis e praticar o autocuidado. Implica um compromisso com o crescimento pessoal, autorreflexão e auto-aperfeiçoamento, com o objetivo de levar uma vida plena e significativa.
Em outras palavras, quando alguém persegue a excelência está olhando para sua saúde, relacionamentos e seu desenvolvimento intelectual.
Comer de maneira saudável, dormir bem à noite, cultivar amizades, dedicar tempo de qualidade à família, desenvolver novas habilidades, seguir uma jornada de aprendizagem constante, tudo isso contribui para uma vida marcada pela excelência.
Como você define excelência no trabalho? Ou um profissional que busca a excelência?
As definições podem variar, mas vamos ficar com esta: um profissional excelente não representa apenas um colaborador capaz de fazer entregas de alto padrão e se desenvolver continuamente. É um ativo importante da companhia e contribui para o seu sucesso.
A busca pela excelência em um contexto profissional envolve a melhoria contínua de suas habilidades e conhecimentos, estabelecer altos padrões de desempenho, ser proativo e inovador e buscar a excelência em seu campo de trabalho. Também pode implicar o cultivo de qualidades como profissionalismo, liderança e conduta ética.
Essa jornada de aprendizado e aperfeiçoamento contínuo implica dedicação, disciplina, resiliência, automotivação e uma mentalidade de crescimento (growth mindset). Envolve estabelecer e perseguir metas significativas, aceitar desafios e feedback como oportunidades de crescimento e refletir continuamente sobre as próprias ações e valores. Também implica um compromisso com a integridade pessoal, responsabilidade sobre aquilo que se está fazendo e conduta ética em todos os aspectos da vida.
A excelência vem acompanhada de uma abordagem holística em que os mais altos padrões de desempenho e caráter são um elemento essencial para essa melhoria contínua. Envolve ainda autorreflexão e compromisso com a aprendizagem ao longo da vida, com o objetivo de viver uma vida plena e significativa, ao mesmo tempo em que faz contribuições positivas para os outros e para a sociedade.
Em um artigo para a Harvard Business Review, o jornalista e escritor Tony Schwartz lista atitudes e ações que os líderes podem tomar para instigar suas equipes a perseguir a excelência — algo que o pesquisador Anders Ericsson define como “prática deliberada”.
Sai “especial”, entra “determinado”. Em vez de usar palavras como “talentoso” ou “especial” para se referir a alguém que é dotado de habilidades apreciadas pela empresa, por que não dar crédito às pessoas como “eficaz”, “determinado”, “habilidoso” ou “perseverante”? Nesse caso, o líder reconhece o esforço.
Reconheça os acertos, aprenda com as tentativas. Saber apreciar o que alguém fez de bom significa encorajar esse comportamento no time. Reconhecer regularmente as conquistas não apenas eleva a moral, mas incentiva a perseguir melhores resultados de forma positiva. E quando alguém errar, aproveite a oportunidade para tornar isso um aprendizado para todos de como fazer melhor.
Forneça feedback constante. A maioria das pessoas não melhora suas habilidades com o tempo, em grande parte porque não recebe um feedback consistente e específico. Sempre que possível, concentre-se em onde e como ajudar a melhorar ou levar a pessoa para o próximo nível. O G4 Educação oferece gratuitamente o Guia Definitivo do Feedback, que você pode implementar na sua empresa.
Procure criar períodos de foco e eliminar interrupções. Em lugar de buscar sempre respostas instantâneas do seu time o dia inteiro, colabore para que tenham algo como 4 horas consecutivas para se concentrar em seus projetos e tarefas. O foco é um requisito para um trabalho de alta qualidade. Outra coisa: considere parar de avaliar os colaboradores pelo número de horas que trabalham e comece a olhar o valor que entregam.
Abra espaço para pausas. Para trazer sempre bons resultados, o trabalho focado necessita de pausas para “reenergizar” e permitir ao cérebro se afastar do problema e depois focar novamente. Criar um sistema em que os times trabalham por períodos de 90 minutos (uma hora e meia), fazem uma pausa e retomam vai alimentar a produtividade, especialmente à tarde. Se possível, crie um espaço em que as pessoas possam se afastar de suas mesas para relaxar, se alongar ou apenas conversar um pouco.
A excelência deve estar ligada a uma missão maior. Você precisa dar ao seu pessoal um motivo convincente para ir além de suas zonas de conforto. O que a maioria de nós anseia é a evidência de que o que estamos fazendo realmente importa e serve para algo além do resultado final. Comece definindo o que você realmente representa, compartilhe com os outros o que o faz acordar de manhã e incentive as pessoas a fazerem o mesmo exercício por si mesmas.
Apesar de ser um termo usado de maneira aleatória e nem sempre verdadeira por boa parte das companhias, a chamada busca pela alta qualidade se traduz em produtos ou compromissos com o cliente como um aspecto central do negócio.
Algumas empresas são capazes de expressar essa busca pela melhoria contínua em alguns aspectos do que fazem:
Apple. Conhecida por seu compromisso com a excelência em design de produto, inovação e experiência do cliente. O falecido Steve Jobs, cofundador e ex-CEO da Apple, era conhecido por sua busca incansável pela excelência e por instigar as equipes a ultrapassar limites do que era possível em tecnologia e design.
Google. Conhecido por sua ênfase na excelência em tecnologia de busca, inovação e cultura organizacional. Os fundadores do Google, Larry Page e Sergey Brin, defendem uma cultura de melhoria contínua e foco na excelência em engenharia e experiência do usuário.
Amazon. É conhecida por sua abordagem centrada no cliente e compromisso com a excelência operacional. A cultura da Amazon enfatiza a inovação, a tomada de riscos e uma busca incansável pela satisfação do cliente, o que a tornou uma das empresas de comércio eletrônico mais bem-sucedidas do mundo.
Johnson & Johnson. Tem uma reputação de longa data de excelência em qualidade, segurança e inovação no setor de saúde. O Credo da empresa, um conjunto orientador de valores, enfatiza a responsabilidade para com clientes, funcionários, comunidades e acionistas e serve como base para a busca pela excelência.
Toyota. É conhecida por seu Sistema Toyota de Produção (TPS) e seu foco na melhoria contínua, conhecida como "Kaizen". A cultura da Toyota está centrada no compromisso com a excelência em qualidade, eficiência e inovação, o que a tornou uma das principais montadoras do mundo.
Procter & Gamble (P&G). O ênfase está na excelência em inovação de produtos, pesquisa de consumo e gerenciamento de marca. A cultura da P&G é construída com foco no consumidor, inovação e melhoria contínua.
Entender o conceito do que faz uma empresa que busca os mais altos padrões e como isso se incorpora à sua cultura e seu desenvolvimento aparece de maneiras diferentes nos livros a seguir.
"Good to Great: Why Some Companies Make the Leap and Other Don't", de Jim Collins. Este livro analisa empresas que fizeram a transição de boas para excelentes e fornece informações sobre os pontos em comum que as ajudaram a alcançar o sucesso.
"The Lean Startup: How Today's Entrepreneurs Use Continuous Innovation to Create Radically Successful Businesses" de Eric Ries. Este livro explica como criar uma startup enxuta pode inovar rapidamente, reduzir o desperdício e permanecer ágil diante da mudança.
"Scaling Up: How a Few Companies Make It... and Why the Rest Don't", de Verne Harnish. Este livro fornece uma estrutura para expandir uma empresa e levá-la ao próximo nível, concentrando-se em áreas-chave como estratégia, pessoas, execução e dinheiro.
"O Dilema da Inovação: Quando as Novas Tecnologias levam Empresas ao Fracasso", de Clayton M. Christensen. Este livro explica como as empresas podem se concentrar demais em seus produtos existentes e perder inovações disruptivas que podem mudar o mercado.
"Feitas para durar: Práticas bem-sucedidas de Empresas Visionárias", de Jim Collins e Jerry Porras. Este livro examina empresas que resistiram ao teste do tempo e identifica as principais características que as ajudaram a alcançar o sucesso no longo prazo.
“The Pursuit of Excellence: The Uncommon Behaviors of the World's Most Productive Achievers”, de Ryan Hawk. Após entrevistar centenas dos empreendedores mais produtivos do mundo em seu aclamado podcast, The Learning Leader Show, para descobrir as melhores práticas para buscar e manter a excelência.