Sempre que alguém fala em inovar no negócio, em testar um produto ou serviço, entramos no território do Minimum Viable Product ou MVP. Ele torna possível que os donos de negócios analisem a demanda, recebam investimentos e testem e melhorem a usabilidade do produto, criando um ciclo de melhorias contínuas no produto.
Mas talvez a melhor maneira de ver o MVP é pensar nele como uma validação de seu aprendizado. Cerca de 25% das startups morrem com menos de um ano, conforme dados de um estudo feito pela Fundação Dom Cabral em 2015. Dentre as startups em operação entrevistadas, a causa apontada para a sobrevivência foi a aceitação do produto/serviço comercializado.
Se você pensar nas necessidades do cliente, no que busca, qual problema pode resolver, as chances de o seu MVP ser bem-sucedido são bem grandes. O Minimum Viable Product (Produto Mínimo Viável) é um conceito que foi introduzido pelo autor e empresário norte-americano Eric Ries em seu livro "A Startup Enxuta" (do inglês, “The Lean Startup”), publicado em 2011.
Para construir um MVP eficaz, o ideal é que a gestão estude o mercado, mapeie a jornada do cliente e considere as funcionalidades possíveis para o produto. Confira a seguir as diferenças entre o MVP, o POC e o protótipo, além das descrições dos principais tipos de MVP:
O MVP é a versão mais básica e funcional de um produto ou serviço e é criado com o objetivo de testar hipóteses. Ao usar o MVP, empreendedores e líderes de projetos conseguem levantar informações valiosas sobre seus produtos ou serviços, como feedbacks e insights coletados com o público potencial que compraria aquele produto ou serviço.
O MVP abre possibilidades para testar funcionalidades específicas do produto junto a um público específico ou mesmo para o mercado, antes de incluir oficialmente as novas features. Ou seja, é possível identificar se o mercado aceita ou rejeita mudanças planejadas para o produto e melhorar o que os clientes gostam para ampliar a satisfação e lealdade.
Algumas das hipóteses que o MVP pode testar são:
Muitas pessoas costumam confundir o MVP com o protótipo. O MVP existe para testar as funcionalidades do produto ou o produto como um todo. Já o objetivo do protótipo é testar o conceito, a ideia inicial da solução do negócio. Ou seja, o protótipo antecede o MVP.
Por sua vez, a prova de conceito ou POC (do inglês, Proof of Concept) testa a viabilidade técnica do projeto: se a ideia pode ser executada na prática. A prova de conceito é intermediária entre o protótipo e o MVP: ela testa a execução do protótipo para entender se a companhia conseguirá implementar, produzir e lançar o MVP.
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O MVP Concierge também é conhecido como No Product MVP (do inglês, “MVP sem produto”) ou No Code MVP (do inglês, “MVP sem código”). Esse tipo é o mais simples que existe, uma vez que não requer esforços de programação. O desenvolvimento é feito totalmente de forma manual e o objetivo é coletar insights sem que nenhum produto seja lançado.
Esse MVP serve para testar a hipótese de que existe uma demanda no mercado para determinado produto ou serviço pensado por um negócio. Para isso, esse MVP atua como um “recepcionista de um hotel”, estando próximo dos usuários para compreender e atender suas dores e necessidades. A finalidade é testar a hipótese de que existe uma demanda no mercado para determinado produto ou serviço pensado por um negócio.
A principal vantagem é o baixo custo de implementação, uma vez que os requisitos básicos são ter uma ideia, um papel e o tempo para validação. Os principais formatos utilizados no MVP Concierge são:
Caso os resultados obtidos pela experiência não sejam favoráveis, os empreendedores e líderes de projetos podem pivotar o seu produto ou serviço. Ou seja, provocar uma mudança fundamental no projeto, seja para redefinir o valor central do produto, alterar o segmento de clientes ou mudar o canal de vendas. Pivotar reduz o risco de investir num modelo de negócios que pode demorar a trazer retorno ou que não tem aderência junto ao público potencial.
A startup brasileira Melhor Envio utilizou o MVP Concierge para iniciar e identificar gargalos na operação. O MVP consistia em uma página online simples, contendo uma calculadora de fretes. O usuário fazia as cotações, e então o fundador da empresa tirava o pedido da plataforma manualmente, solicitava o serviço de distribuição e fazia o pagamento por carteiras digitais ou depósitos bancários.
Apesar da operação não ser escalável, o MVP permitiu que a Melhor Envio identificasse gargalos operacionais, gerando insights para o projeto de desenvolvimento do sistema. A Melhor Envio é uma das líderes em seu segmento hoje em dia, com uma operação 100% automatizada.
No filme clássico de Hollywood, o Mágico de Oz é um fantoche controlado pelo homem por trás das cortinas. O MVP que adotou o nome do personagem funciona da mesma forma, porém adaptado ao mundo digital: há uma preocupação na apresentação estética, no “palco”, mas poucos esforços investidos na estrutura técnica do produto/serviço, no “backstage” (bastidores).
O principal formato utilizado no MVP Mágico de Oz é a landing page. A ideia é apresentar o produto ou serviço através de um layout atrativo no desenvolvimento front-end, sem tanta preocupação com o operacional do back-end. Inclusive, o back-end não precisa ser automatizado, podem ser pessoas movimentando e articulando as partes necessárias, como coleta de dados, envio de respostas por e-mail, etc.
Assim como o MVP Concierge, que também depende de funções manuais, o MVP Mágico de Oz tem baixa ou zero escalabilidade. A diferença entre os dois tipos é que o MVP Concierge tem por objetivo ficar próximo do cliente – por meio de mock ups, entrevistas, micro-pesquisas etc –, enquanto o Mágico de Oz “engana” o cliente com uma apresentação chamativa e uma operação manual por trás das cortinas.
A Easy Taxi foi criada para intermediar as chamadas dos passageiros e as corridas de táxis por meio de um aplicativo. Como o lançamento do app envolveria o custo de profissionais qualificados, ferramentas e tempo de planejamento e execução, os fundadores decidiram criar um MVP Mágico de Oz.
O serviço era novo no Brasil e o negócio ainda precisava testar a demanda do público. Será que as pessoas buscavam facilidades ao solicitar um táxi? Para testar a hipótese, a EasyTaxi lançou uma landing page na qual os usuários preenchiam um formulário para solicitar um táxi.
Então, os próprios fundadores ligavam para uma companhia de táxi e enviavam um carro até o ponto de embarque. Isso acontecia por trás das cortinas: o cliente acreditava que o processo era automatizado.
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O MVP Duplo, como o próprio nome sugere, consiste na construção de duas versões diferentes do produto ou serviço. Assim, o principal formato para esse tipo é o teste A/B, podendo ser também um modelo 3D ou uma versão funcional do produto. Com dois modelos distintos, é possível coletar as impressões dos potenciais clientes e fazer uma comparação, identificando qual das opções mais agradou ao possível comprador.
Para que a comparação seja eficiente, é fundamental que apenas um aspecto seja diferente entre as duas versões. Ou seja, os dois modelos são idênticos entre si, exceto por um único aspecto escolhido previamente. É possível fazer mais testes, mudando sempre um elemento por vez.
Outro requisito do MVP Duplo é que seja funcional, ou seja, que realmente seja como uma prévia ou uma versão de testes da ideia final. Como o objetivo é comparar resultados entre as opções, aqui é preciso contar com automação para capturar os dados dos leads e viabilizar a análise de métricas relacionadas à experiência do usuário, como a taxa de conversão.
Por contar com a apresentação de dois modelos ao público ao mesmo tempo, o MVP Duplo demanda maior investimento de tempo e recursos. Como os usuários acessam duas versões do produto ou serviço, os feedbacks e insights tendem a ser mais profundos, quando comparados com os outros MVPs citados anteriormente.
Esse tipo de MVP pode ser utilizado várias vezes em um negócio, não somente quando uma empresa está entrando no mercado ou desenvolvendo o primeiro produto. O formato pode ser útil sempre que houver dúvida sobre duas opções de uma mesma função.
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O MVP Single Feature (do inglês, “recurso único”) é um protótipo desenvolvido com o recurso básico do produto, ou seja, a funcionalidade principal. Qual é a tarefa primordial que o produto realiza? A resposta para essa pergunta é a single feature, e o MVP busca mostrar ao usuário essa função.
Apesar desse foco na função principal do produto ou serviço, o MVP Single Feature não implica necessariamente no desenvolvimento de apenas um único recurso. A proposta central é fazer a melhor apresentação possível de um único recurso.
É um requisito desse tipo de MVP que o modelo seja funcional, o que envolve o investimento em programação e desenvolvimento. Os dados do experimento devem ser registrados para posterior análise.
Esse tipo de MVP pode ser utilizado várias vezes em um negócio, não somente quando a empresa está estreando no mercado. Sempre que houver a inclusão de uma nova funcionalidade do produto, o MVP Single Feature pode ser utilizado.
O MVP Fumaça tem por objetivo divulgar a proposta de valor do produto ou serviço para validar se o investimento no desenvolvimento trará retorno. Esse tipo de MVP é utilizado em serviços complexos, como produtos de tecnologia, uma vez que a produção efetiva implicaria em um alto custo inicial.
Para que os leads tenham uma noção do valor da solução do negócio, o MVP Fumaça foca na demonstração. Ou seja, mostrar ao usuário todas as funcionalidades e recursos do produto ou serviço.
Os principais formatos utilizados no MVP Fumaça são:
A empresa norte-americana de armazenamento na nuvem Dropbox utilizou o MVP Fumaça para se apresentar ao mercado. Por meio de um vídeo que apresentava a proposta de valor e as funcionalidades do produto, a empresa tentava entender se o serviço tinha um público consumidor.
Em uma noite, 75 mil pessoas se inscreveram na lista de espera do serviço de sincronização de dados. A hipótese do MVP estava validada. Confira o vídeo abaixo:
Conclusão: Um empreendedor, empresário ou líder de projeto está tentando trazer algo diferente para o mercado, não apenas um produto. E nessa tentativa de fazer algo que nunca foi feito antes, pode não apenas encontrar um mercado, como criar um. Para os novos negócios, o MVP é uma ferramenta muito útil que vai ajudar a testar o “apetite” do público por um novo produto ou serviço e para mensurar se um recurso ou característica (feature) agrada ou desagrada um mercado estabelecido. Assim, conhecer os MVPs Concierge, Mágico de Oz, Duplo, Single Feature e Fumaça e quando usá-los pode colocar um negócio à frente da concorrência.