Inovação: como inovar em tempos de crise econômica?

Inovação: como inovar em tempos de crise econômica?

Por:
Bruno Nardon
Publicado em:
6/8/2022
Atualizado em:

Em tempos de crise, você precisa fazer movimentos estratégicos e ousados, que ofereçam soluções simples e acessíveis, nas ofertas que mudam o jogo.

São em períodos de escassez que a abundância de alternativas surge, que para cada dor que grita, uma solução criativa é capaz de supri-la. Pode parecer contraproducente olhar para uma crise e enxergar uma oportunidade, mas, historicamente, não é. 

Modelos de negócio são como processos: nascem para ser desenvolvidos e otimizados. Uma crise é a tempestade perfeita para mostrar a delicadeza do que não se adequa aos novos tempos — e das necessidades que aparecem com isso. Surgem novos players e novas perspectivas.

O próprio Brasil exemplifica bem essa premissa: recorde de abertura de CNPJs em 2021, mesmo diante da pandemia da COVID-19. O país saltou de 3.391.931 para 4.052.796, de acordo com o Indicador de Nascimento de Empresas da Serasa Experian, representando um crescimento de 19,5% em relação ao ano anterior.

Este é o maior número de toda a série histórica do índice, iniciada em 2010. Ainda de acordo com o levantamento, o segmento de Serviços de Alimentação foi o que mais teve empresas criadas (8,7%). Em seguida estão as empresas voltadas ao setor de Reparos e Manutenção de Prédios e Instalações (5,9%) e os Comércios de Confecções em Geral (5,8%).

“Devido às restrições da pandemia, muitos bares e restaurantes ficaram totalmente fechados. Para suprir essa demanda e auxiliar a população, muitas pessoas viram neste segmento uma boa oportunidade de empreender e exercer suas atividades de maneira online”, esclarece o economista da Serasa Experian, Luiz Rabi. 

Mas afinal, o que é preciso para inovar em tempos de crise?

Você também pode gostar desse conteúdo: G4 Books: O lado difícil das situações difíceis [Principais Conceitos]

Tempos de crise historicamente criam oportunidades para inovação

Inovação é algo que gera “valor novo”. Você não precisa necessariamente investir dinheiro para inovar, mas você precisa investir tempo. Não estamos falando somente sobre a roda ou o iPhone. 

Ela é mais sobre processos do que resultados — é composta de uma constante busca por solucionar problemas de forma mais eficiente. Talvez em “solucionar problemas” esteja a grande sacada. Crises pedem pela solução de problemas. Uma funciona como tratamento da outra.

Não é bem uma fórmula de manipulação, talvez exista um pouco do intangível do capital de risco da tecnologia, mas é característica primária do empreendedorismo navegar por águas incertas para atingir a terra firme no horizonte.

De uma certa maneira, historicamente, há de se dizer que tempos de crise criam três oportunidades específicas para a inovação prosperar:

#1 - Tempos de crise requerem movimentos estratégicos e ousados

Shantanu Narayen assumiu o cargo de CEO da Adobe no final de 2007. Timing longe de estar entre os melhores.

Em 2008, a crise financeira e imobiliária dos Estados Unidos chegaria com toda força. Somado a isso, Narayen pegou uma Adobe que à época ainda parecia estagnada, parada no tempo — e começava a concorrer com negócios de software as a service (SaaS) operando em uma velocidade muito mais rápida. 

O então CEO e sua equipe empreenderam uma ousada estratégia de transformação: testaram um modelo do Photoshop entregue por software como serviço. Em 2009, a Adobe comprou a Omniture por aproximadamente US$ 1,8 bilhão, um preço 40% menor do que o pico pré-crise, mas 2,5 vezes acima do valor médio da crise. 

Essa aquisição serviu como a base dos esforços da Adobe para construir um novo negócio subsidiado pela infraestrutura SaaS. De 2009 a 2019, as receitas da Adobe triplicaram e o preço de suas ações subiu 29% ao ano, tornando-a uma das principais construtoras digitais da década.

Seus recursos precisam estar focados onde possam ter o maior impacto — essa é uma assertividade oriunda de uma cultura de growth hacking

Na tempestade de mudanças, é fácil para gestores congelarem e se concentrarem na sobrevivência. Não congele. Aproveite o lado positivo e encontre uma oportunidade única de transformar a ambiguidade de hoje na oportunidade de amanhã.

#2 - Tempos de crise pedem por soluções simples e acessíveis

Em 1948, logo após a Segunda Guerra Mundial, os irmãos McDonald tiveram que fechar algumas de suas lojas e reimaginar sua infraestrutura. Instalaram novos equipamentos e reabriram três meses depois com uma nova abordagem para preparar seus sanduíches. 

Em vez de ter um único cozinheiro habilidoso que faria diversos pedidos do seu cardápio, o McDonald's simplificou a oferta para que mais pessoas pudessem preparar a mesma coisa repetidamente. Ainda com um bônus: todos os itens do menu poderiam ser comidos com uma mão enquanto os consumidores dirigiam.

Basicamente, foi a abordagem de linha de montagem de Henry Ford aplicada ao serviço de alimentação. Os irmãos chamaram o modelo de “Sistema de Serviço Speedee”. 

Isso facilitou muito que o McDonald's reduzisse os preços e preparasse seus sanduíches mais rapidamente. Em 1953, a empresa começou a franquear suas lojas para outros empreendedores, momento em que Ray Kroc comprou o McDonald’s dos irmãos e o transformou na potência global de hoje.

Para saber mais sobre esta história, você pode acessar o estudo de caso do McDonald’s e conhecer os pormenores de uma das maiores empresas do mundo, que soube aproveitar um momento complicado para catapultar seu negócio e possibilitar com que se tornasse no colosso que é hoje.

#3 - Tempos de crise criam as “ofertas que mudam o jogo”

Veja o Airbnb. A razão pela qual a oportunidade da empresa é tão grande é, em parte, porque criou uma nova categoria. Possui como conceito de marca o “pertencimento” e surgiu como uma alternativa de melhor custo-benefício ao mercado de hotelaria. 

Embora a companhia descreva seu mercado simplesmente como “o crescente mercado de viagens e economia de experiências”, isso subestima o efeito do Airbnb na indústria. Ao criar confiança na plataforma, o Airbnb normalizou o aluguel de quartos vagos ou casas vazias. 

O resultado foi um enorme influxo de nova oferta. Hóspedes que talvez não fossem atendidos pelo modelo antigo foram recebidos nesta nova categoria de hospitalidade. Isso quer dizer que o Airbnb não apenas mudou a indústria de viagens, mas também expandiu o mercado no processo.

Você não pode fazer “mais com menos”, até definir o que “mais” significa. Para o cliente, pode ser tudo. O foco em customer experience deve ser um componente central dos esforços de redução de custos, de modo que você faça movimentos estratégicos e ousados com soluções simples e acessíveis, gastando o menos possível.

Essas são as “ofertas que mudam o jogo”.

Nunca foi tão fácil experimentar, o que torna ainda mais importante fazê-lo com a devida disciplina. Como um bom cientista, comece com uma hipótese. Projete um experimento com objetivos claros. Faça uma previsão sobre o que você acha que vai acontecer. Teste de uma maneira que você possa medir e avaliar sua previsão.

Hipótese, objetivo, previsão, plano de execução e mensuração são uma boa combinação para conseguir tornar boas ideias em realidade e ver se elas, de fato, se confirmam. Caso negativo, isso não torna-se um problema, mas sim um aprendizado para melhorar da próxima vez.

As pessoas pensam que os empreendedores de sucesso procuram o risco inadvertidamente. Não é bem assim. Empreendedores de sucesso gerenciam o risco de maneira inteligente, por meio de novos experimentos na forma de fazer os processos, de pensar nos produtos e de atender ao público. 

O resultado são soluções mais eficientes e clientes mais satisfeitos. Quanto mais você pensa, mais você enxerga o contexto do que você está tentando resolver. Com isso, você otimiza os processos, para, consequentemente, aumentar a eficiência de suas operações. 

Tempos de crise exigem soluções de dores

Solucionar uma dor significa encontrar o problema de um cliente. Crises evidenciam oportunidades para serem capitalizadas. 

Os dados do Serasa Experian mostram que o setor de Serviços de Alimentação foi o que mais teve empresas criadas em 2021, justamente no ano subsequente ao do início da pandemia da COVID-19 e do isolamento social.

Com as pessoas consumindo mais digitalmente, os canais de comunicação e vendas remotos explodiram. Isso reflete diretamente no aumento de oferta disponível nessas plataformas. Players que antes não prestavam atenção para esse tipo de distribuição agora precisam fazê-lo.

“A pandemia e o desemprego em alta no país evidenciaram a necessidade de começar a empreender e fez com que as pessoas encontrassem no seu CNPJ uma fonte de renda. Muitos brasileiros perderam seus empregos e se viram obrigados a criar uma empresa para pagar suas contas e, com isso, se manter. Com os altos níveis de desemprego e a crise econômica em decorrência da pandemia, abrir um negócio e gerar a própria fonte de renda foi um meio vantajoso de conseguir lucros para arcar com as despesas do dia a dia.”
Luiz Rabi, economista da Serasa Experian

Crises são verdadeiras alavancas de transformações e parecem acelerar a velocidade com a qual acontecem. Adaptar-se é um imperativo inegociável em tempos que mostram oportunidades de movimentos estratégicos e ousados para execução de soluções mais simples e acessíveis, nas “ofertas que mudam o jogo”.

Inovação: como inovar em tempos de crise econômica?
Matérias relacionadas
Thank you! Your submission has been received!
Oops! Something went wrong while submitting the form.
Algum termo te deixou com dúvidas?
Saiba o que significa no nosso glossário do empresário.
Acessar agora