Em tempos de crise, você precisa fazer movimentos estratégicos e ousados, que ofereçam soluções simples e acessíveis, nas ofertas que mudam o jogo.
São em períodos de escassez que a abundância de alternativas surge, que para cada dor que grita, uma solução criativa é capaz de supri-la. Pode parecer contraproducente olhar para uma crise e enxergar uma oportunidade, mas, historicamente, não é.
Modelos de negócio são como processos: nascem para ser desenvolvidos e otimizados. Uma crise é a tempestade perfeita para mostrar a delicadeza do que não se adequa aos novos tempos — e das necessidades que aparecem com isso. Surgem novos players e novas perspectivas.
O próprio Brasil exemplifica bem essa premissa: recorde de abertura de CNPJs em 2021, mesmo diante da pandemia da COVID-19. O país saltou de 3.391.931 para 4.052.796, de acordo com o Indicador de Nascimento de Empresas da Serasa Experian, representando um crescimento de 19,5% em relação ao ano anterior.
Este é o maior número de toda a série histórica do índice, iniciada em 2010. Ainda de acordo com o levantamento, o segmento de Serviços de Alimentação foi o que mais teve empresas criadas (8,7%). Em seguida estão as empresas voltadas ao setor de Reparos e Manutenção de Prédios e Instalações (5,9%) e os Comércios de Confecções em Geral (5,8%).
“Devido às restrições da pandemia, muitos bares e restaurantes ficaram totalmente fechados. Para suprir essa demanda e auxiliar a população, muitas pessoas viram neste segmento uma boa oportunidade de empreender e exercer suas atividades de maneira online”, esclarece o economista da Serasa Experian, Luiz Rabi.
Mas afinal, o que é preciso para inovar em tempos de crise?
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Inovação é algo que gera “valor novo”. Você não precisa necessariamente investir dinheiro para inovar, mas você precisa investir tempo. Não estamos falando somente sobre a roda ou o iPhone.
Ela é mais sobre processos do que resultados — é composta de uma constante busca por solucionar problemas de forma mais eficiente. Talvez em “solucionar problemas” esteja a grande sacada. Crises pedem pela solução de problemas. Uma funciona como tratamento da outra.
Não é bem uma fórmula de manipulação, talvez exista um pouco do intangível do capital de risco da tecnologia, mas é característica primária do empreendedorismo navegar por águas incertas para atingir a terra firme no horizonte.
De uma certa maneira, historicamente, há de se dizer que tempos de crise criam três oportunidades específicas para a inovação prosperar:
Shantanu Narayen assumiu o cargo de CEO da Adobe no final de 2007. Timing longe de estar entre os melhores.
Em 2008, a crise financeira e imobiliária dos Estados Unidos chegaria com toda força. Somado a isso, Narayen pegou uma Adobe que à época ainda parecia estagnada, parada no tempo — e começava a concorrer com negócios de software as a service (SaaS) operando em uma velocidade muito mais rápida.
O então CEO e sua equipe empreenderam uma ousada estratégia de transformação: testaram um modelo do Photoshop entregue por software como serviço. Em 2009, a Adobe comprou a Omniture por aproximadamente US$ 1,8 bilhão, um preço 40% menor do que o pico pré-crise, mas 2,5 vezes acima do valor médio da crise.
Essa aquisição serviu como a base dos esforços da Adobe para construir um novo negócio subsidiado pela infraestrutura SaaS. De 2009 a 2019, as receitas da Adobe triplicaram e o preço de suas ações subiu 29% ao ano, tornando-a uma das principais construtoras digitais da década.
Seus recursos precisam estar focados onde possam ter o maior impacto — essa é uma assertividade oriunda de uma cultura de growth hacking.
Na tempestade de mudanças, é fácil para gestores congelarem e se concentrarem na sobrevivência. Não congele. Aproveite o lado positivo e encontre uma oportunidade única de transformar a ambiguidade de hoje na oportunidade de amanhã.
Em 1948, logo após a Segunda Guerra Mundial, os irmãos McDonald tiveram que fechar algumas de suas lojas e reimaginar sua infraestrutura. Instalaram novos equipamentos e reabriram três meses depois com uma nova abordagem para preparar seus sanduíches.
Em vez de ter um único cozinheiro habilidoso que faria diversos pedidos do seu cardápio, o McDonald's simplificou a oferta para que mais pessoas pudessem preparar a mesma coisa repetidamente. Ainda com um bônus: todos os itens do menu poderiam ser comidos com uma mão enquanto os consumidores dirigiam.
Basicamente, foi a abordagem de linha de montagem de Henry Ford aplicada ao serviço de alimentação. Os irmãos chamaram o modelo de “Sistema de Serviço Speedee”.
Isso facilitou muito que o McDonald's reduzisse os preços e preparasse seus sanduíches mais rapidamente. Em 1953, a empresa começou a franquear suas lojas para outros empreendedores, momento em que Ray Kroc comprou o McDonald’s dos irmãos e o transformou na potência global de hoje.
Para saber mais sobre esta história, você pode acessar o estudo de caso do McDonald’s e conhecer os pormenores de uma das maiores empresas do mundo, que soube aproveitar um momento complicado para catapultar seu negócio e possibilitar com que se tornasse no colosso que é hoje.
Veja o Airbnb. A razão pela qual a oportunidade da empresa é tão grande é, em parte, porque criou uma nova categoria. Possui como conceito de marca o “pertencimento” e surgiu como uma alternativa de melhor custo-benefício ao mercado de hotelaria.
Embora a companhia descreva seu mercado simplesmente como “o crescente mercado de viagens e economia de experiências”, isso subestima o efeito do Airbnb na indústria. Ao criar confiança na plataforma, o Airbnb normalizou o aluguel de quartos vagos ou casas vazias.
O resultado foi um enorme influxo de nova oferta. Hóspedes que talvez não fossem atendidos pelo modelo antigo foram recebidos nesta nova categoria de hospitalidade. Isso quer dizer que o Airbnb não apenas mudou a indústria de viagens, mas também expandiu o mercado no processo.
Você não pode fazer “mais com menos”, até definir o que “mais” significa. Para o cliente, pode ser tudo. O foco em customer experience deve ser um componente central dos esforços de redução de custos, de modo que você faça movimentos estratégicos e ousados com soluções simples e acessíveis, gastando o menos possível.
Essas são as “ofertas que mudam o jogo”.
Nunca foi tão fácil experimentar, o que torna ainda mais importante fazê-lo com a devida disciplina. Como um bom cientista, comece com uma hipótese. Projete um experimento com objetivos claros. Faça uma previsão sobre o que você acha que vai acontecer. Teste de uma maneira que você possa medir e avaliar sua previsão.
Hipótese, objetivo, previsão, plano de execução e mensuração são uma boa combinação para conseguir tornar boas ideias em realidade e ver se elas, de fato, se confirmam. Caso negativo, isso não torna-se um problema, mas sim um aprendizado para melhorar da próxima vez.
As pessoas pensam que os empreendedores de sucesso procuram o risco inadvertidamente. Não é bem assim. Empreendedores de sucesso gerenciam o risco de maneira inteligente, por meio de novos experimentos na forma de fazer os processos, de pensar nos produtos e de atender ao público.
O resultado são soluções mais eficientes e clientes mais satisfeitos. Quanto mais você pensa, mais você enxerga o contexto do que você está tentando resolver. Com isso, você otimiza os processos, para, consequentemente, aumentar a eficiência de suas operações.
Solucionar uma dor significa encontrar o problema de um cliente. Crises evidenciam oportunidades para serem capitalizadas.
Os dados do Serasa Experian mostram que o setor de Serviços de Alimentação foi o que mais teve empresas criadas em 2021, justamente no ano subsequente ao do início da pandemia da COVID-19 e do isolamento social.
Com as pessoas consumindo mais digitalmente, os canais de comunicação e vendas remotos explodiram. Isso reflete diretamente no aumento de oferta disponível nessas plataformas. Players que antes não prestavam atenção para esse tipo de distribuição agora precisam fazê-lo.
“A pandemia e o desemprego em alta no país evidenciaram a necessidade de começar a empreender e fez com que as pessoas encontrassem no seu CNPJ uma fonte de renda. Muitos brasileiros perderam seus empregos e se viram obrigados a criar uma empresa para pagar suas contas e, com isso, se manter. Com os altos níveis de desemprego e a crise econômica em decorrência da pandemia, abrir um negócio e gerar a própria fonte de renda foi um meio vantajoso de conseguir lucros para arcar com as despesas do dia a dia.”
Crises são verdadeiras alavancas de transformações e parecem acelerar a velocidade com a qual acontecem. Adaptar-se é um imperativo inegociável em tempos que mostram oportunidades de movimentos estratégicos e ousados para execução de soluções mais simples e acessíveis, nas “ofertas que mudam o jogo”.