Fabricio Bloisi Rocha
Brasileira
1977
Salvador, Bahia
CEO do iFood, Fundador da Movile
Ciência da Computação pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), mestrado em Administração de Empresas pela Fundação Getulio Vargas (FGV/EAESP), Executive Program for Growing Companies, Strategy, Finance, Leadership pela Stanford Graduate School of Business
“Eu trabalho no mercado mobile”. É assim que Fabricio Bloisi, CEO do iFood, fundador da Movile e presidente da Fundação 1Bi, se apresenta em seu perfil no LinkedIn. Isso diz muito sobre a visão de Bloisi, que enxerga fronteiras muito mais tênues entre os segmentos do que a classificação tradicional do mercado. E explica, de certa forma, porque ele se tornou uma das personalidades de negócios mais inovadoras do país.
À frente do iFood desde janeiro de 2020, Fabricio Bloisi vem colecionando grandes números para a companhia. Em menos de um ano, a carteira de clientes do iFood saltou de 45 milhões para 60 milhões no início de 2024. O volume de pedidos teve um crescimento ainda mais surpreendente: saltou de 38 milhões para 88 milhões por mês. No Carnaval de 2024, o iFood virou hit de Carnaval com direito a letra de Nizan Guanaes, música de Carlinhos Brown e presença nos blocos de Daniela Mercury, Ivete Sangalo e Bell Marques.
A maior plataforma de entregas da América Latina vem numa ofensiva de marca semelhante apenas a grandes conglomerados, como Coca-Cola. Sob controle da Movile, a plataforma adotou uma estratégia inovadora, cresceu e expandiu suas frentes de negócio, sempre com muita tecnologia embarcada. A Movile é uma das principais holdings de tecnologia da América Latina – com investimentos em empresas como Sympla, Zoop e MovilePay, entre outras.
Fabricio Bloisi também é presidente da Fundação 1Bi, uma iniciativa que busca diminuir a desigualdade e criar oportunidades para jovens, a partir de educação e tecnologia. Por esse protagonismo, Bloisi foi nomeado porta-voz do ODS 4 - Educação de Qualidade do Pacto Global da ONU, em março de 2023. “Não precisamos ter síndrome de inferioridade. Temos de fazer nossa parte – é preciso acreditar no potencial disruptivo da tecnologia, e saber que trilhões de dólares irão trocar de mãos para empresas novas e inovadoras nos próximos anos, fomentar a inovação e investir cada vez mais em iniciativas que acelerem a transformação com tecnologia", afirmou Bloisi em entrevista.
A trajetória empreendedora de Fabricio Bloisi tomou um rumo certo quando ele começou a cursar Ciência da Computação pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), no interior de São Paulo, em 1995. Nem bem tinha deixado a UNICAMP, Bloisi já liderava os trabalhos da startup Intraweb, criada em parceria com Fábio Póvoa e incubada na Companhia de Desenvolvimento do Polo de Alta Tecnologia de Campinas (Cietec). Essa startup seria comprada pela GoWapCorp em 2001.
O empreendedor encontrou na cidade de Campinas um ambiente em que se falava e respirava tecnologia e com trocas e aprendizados comparáveis aos primeiros anos do Vale do Silício. "Campinas é um verdadeiro polo empreendedor de conhecimento e tecnologia, ambiente amplamente voltado para a inovação", contou ao Campinas.com.br.
“Minha história com Campinas começou lá atrás, como a cidade escolhida para dar início ao meu grande sonho de construir uma empresa gigante de tecnologia”, disse. Bloisi aproveitou a dinâmica do ambiente acadêmico, o fato de ter pessoas qualificadas e dispostas a experimentar novos modelos, assim como a proximidade da Companhia de desenvolvimento do Polo de Alta tecnologia de Campinas (Cietec), onde criou a Intraweb. A Movile mantém parceria com a Unicamp até hoje.
A Movile é a holding dona das marcas iFood, Sympla (venda de ingressos), PlayKids (de conteúdo educativo), Zoop (plataforma de pagamentos e serviços), Wavy (que reúne negócios de tecnologia da informação), MovilePay (de pagamentos) e Mensajeros Urbanos (logística e entregas, sediada na Colômbia). A empresa, que nasceu da união de várias startups em 1998, foi fundada por Fabricio Bloisi e Eduardo Henrique.
A semente da Movile veio da Intraweb, startup fundada por Fabricio Bloisi e Fábio Póvoa incubada no Cietec. A empresa mudou de nome e passou a se chamar Compera. Em 2007, uniu-se à Movile e adotou esse nome. A partir daí, a companhia viveu várias fases, com fusões e aquisições no Brasil e em países latino-americanos.
A Movile cresceu rápido ao enxergar como o avanço da telefonia móvel poderia mudar radicalmente o comportamento e os negócios. Como líder em mobile commerce na América Latina, a Movile conta com mais de 4.000 colaboradores e está baseada em 6 países, atendendo mensalmente mais de 200 milhões de clientes móveis. Segundo dados da empresa, seu crescimento foi de 70% ao ano, nos últimos 5 anos.
Esse salto se deve e muito à abordagem inovadora da companhia na construção e melhoria contínua de suas plataformas. “Incentivo bastante as pessoas a continuar estudando o tempo inteiro. Depois de minha pós-graduação na FGV, fiz cursos na Universidade Stanford e Harvard, e estou sempre estudando pela internet”, afirmou Fabricio Bloisi em entrevista. Segundo ele, “ter a capacidade de aprender constantemente é o que me capacita a manter uma empresa que está sempre mudando e inovando”.
Para se manter inovador, Bloisi buscou aperfeiçoamento. Ele engatou um mestrado em que estudou modelos e estratégias de crescimento de startups na Fundação Getulio Vargas, entre 2005 e 2008. E continuou absorvendo tudo o que aparecia de bom e interessante na internet.
Em maio de 2023, a Movile anunciou o recebimento da maior rodada de investimento desde sua fundação: US$ 200 milhões vindos do Prosus, grupo global de internet que é o principal investidor desde 2008. A maior parte do investimento foi para o iFood (expansão de serviços financeiros para restaurantes e expansão de serviços de mercado), mas a estratégia contempla as outras verticais, fortalecendo o caixa para serviços de crédito (Zoop, que atende o iFood também), logística (puxado pelo aumento de consumo no e-commerce e pela lacuna no last mile, boa notícia para a argentina Moova e para o colombiano Mensajeros Urbanos). O movimento sinalizou para o mercado a aposta no crescimento das operações para acompanhar a escalada dos serviços móveis.
Desde que despontou no cenário das startups, a capacidade de entender as mudanças do mercado, se adaptar e explorar novos caminhos tornou-se uma das marcas da Movile. “O modelo de negócios da Movile por si só é único e inovador, somos uma investidora estratégica que não aporta somente capital nas empresas, mas gestão, cultura, finanças e inovação”, explicou Bloisi. “Trabalhamos em um formato de ecossistema, que nos garante andar mais rápido, trocar experiências e conhecimento, e muita sinergia. O maior diferencial da Movile e valores, entretanto, é sua cultura, colocando pessoas em primeiro lugar, e fortalecendo Inovação, Resultados, Ética e Foco no Cliente”.
Os caminhos da Movile e do iFood se cruzaram em 2013, quando a Movile começou a investir no iFood. Foram US$ 2,5 milhões em uma época em que a plataforma contava com 30 colaboradores e somava 200 mil pedidos por mês. Em 2014, a Movile comprou parte das ações e tornou-se acionista majoritária (o valor não foi divulgado na época).
No meio de 2018, a empresa fez um aporte de US$ 100 milhões e, no final do mesmo ano, a Movile participou do aporte de US$ 500 milhões, até então o maior para uma startup latino-americana. Parte do dinheiro veio do do grupo sul-africano Naspers, da Innova Capital (de Jorge Paulo Lemann), e do maior mercado global de delivery Just Eat, sediado em Londres. Na época, a Movile possuía 60% do capital do iFood, mas passou a ser a controladora em agosto de 2022, após comprar os 33,3% restantes da Just Eat.
Em novembro de 2019, o iFood anunciou que Fabricio Bloisi assumiria o cargo de CEO. Não foi um choque para quem já acompanhava de perto os movimentos da Movile e fazia todo sentido. Há seis meses, Bloisi já dividia o cargo com o então CEO, Carlos Moyses, que havia assumido como parte da investida da Just Eat. Com a mudança, Moyses passou a atuar como vice-presidente corporativo, de olho nas operações do iFood na América Latina.
Para quem se surpreende com o avanço das operações do iFood, uma startup que surgiu como Disk Cardapio em 2011, Fabricio Bloisi afirma que é uma questão de acreditar e ter ambição. Para que mais startups possam chegar a esse patamar e operar além das fronteiras, é importante mudar o mindset. “É preciso ser local com uma mentalidade global. Aprender com os líderes de mercado é essencial”, diz ele.
O iFood está acelerando suas operações internacionais. Após se fundir com a colombiana Domicilios, o objetivo é alcançar mais restaurantes e cidades. A empresa contava com um impressivo marketshare de 40%.
“O que fazemos no iFood é referência mundial em food delivery, comparável aos grandes players norte-americanos e europeus. Acredito que temos um enorme potencial como país e que podemos ter muitas empresas com potencial global para expandir o ecossistema brasileiro. Tornar-se global deixou de ser uma opção – é uma necessidade. Portanto, ao visar apenas o mercado interno e não planejar uma estratégia para impactar vidas de maneira global, várias empresas brasileiras têm sido reféns de suas próprias limitações”.
Bloisi vai mais longe e cita a tão famosa “síndrome de vira-lata” que até hoje afeta muitos empreendedores brasileiros. “Não precisamos ter síndrome de inferioridade”, diz o CEO do iFood. “Podemos perceber um grande movimento de crescimento nessa área [de empresas novas que aplicam tecnologia] nos últimos anos, grandes investidores começaram a olhar para a América Latina e acredito que a tendência será de muito crescimento”.
Como alguém que construiu sua carreira acreditando no “poder da tecnologia” e da transformação e inovação, faz todo sentido que Fabricio Bloisi esteja no comando da Fundação 1Bi, uma iniciativa que apoia projetos de educação e negócios sociais com conhecimento, tecnologia e muita experiência. O objetivo da instituição, que conta com apoio do iFood, é diminuir a desigualdade e criar oportunidades para jovens. Por esse protagonismo, Bloisi foi nomeado porta-voz do ODS 4 - Educação de Qualidade do Pacto Global da ONU, em março de 2023.
“Tenho uma visão indiscutível de que o único caminho de mudança sustentável no desenvolvimento econômico e social é por meio da educação de muita gente. É importante que os CEOs falem disso”, afirmou em entrevista à Época Negócios.
“Tenho uma visão indiscutível de que o único caminho de mudança sustentável no desenvolvimento econômico e social é por meio da educação de muita gente. É importante que os CEOs falem disso.”
“Acredito muito que as empresas vão ter impacto positivo na sociedade e vão ser medidas por isso.”
“Todos dizem que a cultura é importante, mas quase ninguém está pronto para gastar o tempo necessário em criar uma cultura forte.”
“Você tem que escutar feedbacks negativos, se expor à experimentação. É necessário muita energia e esforço para que as pessoas se sintam parte de uma cultura. São as 5 mil pessoas que trabalham no iFood que o fazem funcionar. Eu posso ser um guia, mas quem faz são eles.”
“Costumo dizer que há vítimas e empoderados. O empoderado vai buscar conhecimento quando as coisas não dão certo. Vá atrás das fontes, de dados, a internet é uma grande aliada nisso. Aprenda e apresente o conhecimento na empresa.”
“Acho que, entre cinco e dez anos, vai começar a ser tão barato [pedir comida feita fora de casa] quanto comprar no mercado e fazer.”