Eleita como uma das empresas com melhor cultura corporativa, um dos segredos para o sucesso do Google está na paixão atrelada à missão: organizar toda a informação do mundo.
O Google construiu seus valores fundamentais priorizando a inovação rápida. Ao colocar o usuário em primeiro lugar e enfatizar a criatividade, o Google se afastou dos elementos organizacionais associadas ao que é chato e criou um ambiente que encoraja a inovação, as ideias diferentes que vêm associadas ao desafio de "fazer diferente".
A história do Google começou oficialmente em 1998, quando os fundadores Sergey Brin e Larry Page assumiram uma missão ambiciosa: organizar as informações do mundo para que fossem universalmente acessíveis e úteis para todos.
O Google é parte da Alphabet, empresa que foi criada como guarda-chuva das companhias do grupo. Além do buscador, a empresa possui inúmeros serviços, incluindo o Gmail, o Youtube, o Android, Google Maps e Adsense, entre outros. Apesar da quantidade de produtos, a ideia original ainda é o core do sucesso.
Em 2023, a Alphabet atingiu uma receita anual de US$ 305,63 bilhões, seu maior valor até o momento. com a maior parte de seus ganhos sendo alimentada por publicidade nos sites do Google e em sua rede. O Google Ads respondeu por quase 57% dos resultados. Na sequência aparecem o Google Cloud (10,75%) e o YouTube Ads (10,26%). Para muitos especialistas, o Google só alcançou essa posição por causa da sua cultura organizacional.
Como cultura organizacional e inovação se unem? No caso do Google, a informação é uma constante importante no desenvolvimento da empresa e da sua proposta de valor, e o ambiente preza pela busca de soluções inovadoras com foco na excelência, permitindo que a criatividade se una a performance.
Neste artigo, explicaremos por que a cultura organizacional deve ser uma prioridade desde o começo do seu negócio, impactando no desempenho e na abordagem na resolução de eventuais problemas, de modo que a inovação seja inerente.
Seja para gerar conhecimento para a tomada de decisão ou para oferecer soluções personalizadas através de anúncios, a pesquisa possui papel central na estratégia e diferencial competitivo do Google.
Porém, a pesquisa é uma parte do trabalho. Para que faça sentido, é preciso que gere informações úteis, informações de valor. Afinal, uma das maiores prioridades da empresa é o foco no usuário. Mas como isso se mostra na prática?
Para além do uso de tecnologias cada vez mais precisas, como é o caso do algoritmo, que garante resultados de pesquisas relevantes para os usuários, há uma constante tentativa de estender a missão externamente, para além das pesquisas online.
Na página dedicada à missão, a empresa deixa claro os desdobramentos práticos baseados em seu propósito, fazendo referência aos compromissos que focam em melhorar a vida das pessoas, abrindo espaço para assuntos como práticas responsáveis de IA e maior equilíbrio entre o uso da tecnologia e hábitos mais saudáveis, por exemplo.
Além disso, logo após deixar claro seus valores, compartilha exemplos reais, ocasionados sobretudo, pela tecnologia desenvolvida pela empresa.
Diante dessa abordagem, podemos aprender algumas estratégias fundamentais para empresas que desejam gerar valor e impacto, principalmente em um mundo pós-pandemia, em que muitos consumidores estão interessados em um consumo cada vez mais alinhado aos seus valores e estilo de vida.
Por exemplo, no caso do Google, o foco é o usuário, mas o usuário é uma pessoa, que vive e experimenta a tecnologia desenvolvida em um mundo em constante transformação, e sobretudo, cheio de desafios.
Nesta perspectiva, o Google não é uma empresa de tecnologia que se importa com a experiência do usuário, e sim o contrário, se importa com o usuário e por isso desenvolve tecnologias. Tecnologia que faz sentido e que transforma o mundo para melhor. O propósito precede o como, assim como na teoria “Golden Circle”, desenvolvido por Simon Sinek.
Por isso, o ideal é que a missão, visão e valores, sejam o cerne de qualquer negócio desde o começo, não uma justificativa determinada posteriormente.
Desse modo, a cultura já nasce forte, pois torna-se uma consequência do que todos acreditam e trabalham todos os dias. Um dos insights do livro “Como o Google Funciona”, defende que “o caráter de uma empresa é a soma dos caráteres de sua gente”, e questiona de maneira instigante:
“Que valores você gostaria que aquele funcionário de olhos cansados considerasse?”
A cultura organizacional pode ser considerada como uma potência invisível que impulsiona os colaboradores a agirem sem que lhe peçam, ou sem que seja sua função, simplesmente porque estão tão alinhados com o propósito que não atuar dessa maneira não é uma opção.
Um exemplo simbólico, apresentado no livro “Como Funciona o Google”, deixa esse "espírito" organizacional em evidência, o que resulta no sucesso do ambiente laboral Google.
Ao se deparar com anúncios na página de pesquisa do Google, Larry Page não gostou do que viu. Apesar de suas considerações, não convocou uma reunião, nem enviou e-mails aos responsáveis.
Ao invés disso, imprimiu a página de anúncios e escreveu explicitamente: estes anúncios são horríveis. Colando em um mural visível a todos:
Engenheiros que não eram oficialmente responsáveis pela tarefa viram o aviso em uma sexta-feira, e trabalharam em uma solução durante o final de semana, que foi apresentada na segunda-feira.
Quando priorizamos a cultura, viabilizamos um ambiente mais propício à inovação tanto incremental quanto disruptiva, pois desenvolvemos um senso de unicidade em que as os colaboradores se sentem responsáveis de uma maneira que os move para a ação.
Como já deixamos claro, a inovação precisa de um contexto adequado, propício para seu desenvolvimento. No Google, isso é extremamente importante, já que trabalha em um setor de constante inovação. Em linhas gerais, segundo a empresa, inovação implica em ideias surpreendentes e úteis.
Levando em consideração o ambiente e uma cultura voltada para a inovação, há uma tendência a não acreditar em setores voltados à inovação ou até cargos “disruptivos”, e preza pela oportunidade de inovação para todos.
“É importante dar a todo mundo a oportunidade de inovar, em vez de transformá-la no reino reservado às poucas pessoas naquele prédio afastado no campus cujo trabalho é inovar. Tornar esse espírito abrangente dá a quase todo mundo a chance de criar aquelas novidades de fatos sensacionais.”
Isso porque é muito fácil instrumentalizar até que perca o sentido. Inovação não é uma disciplina que combine com abordagens tradicionais do mundo corporativo, geralmente centralizadoras e burocráticas.
“Pessoas inovadoras não precisam de ordens para inovar, elas precisam de permissão.”
Nesse sentido, existem alguns princípios que regem o Google desde os primeiros anos de fundação, intitulado “10 coisas que sabemos ser verdade.”, em tradução livre. São eles:
Para fins didáticos, escolhemos não nos aprofundar em cada um dos pontos, mas já é possível notar como a cultura organizacional, a inovação e a missão da empresa são manifestadas no dia a dia, em todas as decisões, por todos.
Estabelecer uma filosofia é estabelecer diretrizes que são conhecidas por todos, e mais que isso, que são praticadas por todos. Ou seja, ela apoia a missão central da empresa.
“A diferença entre as empresas bem-sucedidas e as fracassadas é se os funcionários acreditam ou não nas palavras.”
“O otimismo é um ingrediente essencial para a inovação. De que outra maneira o indivíduo escolhe a mudança em vez da segurança, a aventura em vez de permanecer em um lugar confortável?”
Os princípios organizacionais que regem o Google são simples, e evocam praticidade, além de serem fáceis de lembrar no dia a dia. Mas de maneira geral, sua abordagem “simplista” de como seus colaboradores devem agir, não existe como regras, existe como filosofia.
Isso significa que de maneira geral, a cultura da empresa funciona porque as pessoas que trabalham lá não seguem regras como dever, mas simplesmente, que a cultura é tão consolidada que é como se não houvesse outra opção.
Em suma, uma cultura forte cria uma corrente de pensamento única, de modo que ao se deparar com algum desafio, os colaboradores sabem naturalmente como agir, e principalmente, o que não fazer. A seguir, listamos algumas ações que fazem a cultura do Google ser um sucesso:
A burocracia pode ser um grande obstáculo para fomentar uma cultura forte, ainda mais se você deseja cultivar um ambiente favorável à inovação.
No ambiente de trabalho Google, as ferramentas e processos são pensados para facilitar a comunicação, a resolução de problemas e a inovação. Além disso, a empresa é organizada de maneira mais descentralizada do que hierarquizada. Como isso funciona na prática?
A empresa é organizada “em torno de pessoas que têm o maior impacto, sem se basear na função ou experiência, mas sim no desempenho e no entusiasmo.”
Desse modo, você deixa de ouvir somente quem tem mais “poder de decisão” e que muitas vezes está distante das práticas e problemas cotidianos e aumenta o leque de escuta, permitindo que todos os funcionários possam contribuir com novas ideias.
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Neste ponto, é possível que as mesas de pingue-pongue, pets correndo felizes pelo escritório e snacks à vontade venham a sua mente quando imagina um ambiente criativo. Contudo, construir um ambiente propício à inovação, e por sua vez, criativo vai além.
Para criar uma atmosfera voltada à criatividade é preciso construir uma cultura que celebra as conquistas individuais e em equipe. Portanto, para fomentar a criatividade é preciso valorizar os criativos, isso é, é preciso valorizar os funcionários.
Além de suas conquistas profissionais, construa relações que possam abranger sua vida como um todo, mantendo o ambiente enérgico e apaixonado, além de diferentes experiências e estilos de vida. Desse modo, as ideias são enriquecidas, nascendo de abordagens distintas.
O importante de uma cultura organizacional que tem como força motriz a inovação é propiciar às pessoas um ambiente em que se sintam encorajadas a pensar em soluções extraordinárias, e que é tão natural, que essas ideias podem surgir na fila do café.
Uma cultura organizacional forte é feita por pessoas. Sendo assim, não importa o que está escrito se não é praticado, se não é lembrado, se não é vivido. Sendo assim, para começar uma cultura que é voltada à inovação, comece investindo em pessoas que tenham experiências diferentes, mas propósito convergente.
Funções e ferramentas podem ser facilmente ensinadas, mas valores dificilmente serão mudados. O Google atua com um grupo de pessoas apaixonadas por soluções criativas, inovação constante, e democratização da informação, e a cultura acaba como um desdobramento natural.
A mentalidade de crescimento do Google é uma característica forte de seu sucesso e serviços disruptivos. Estipulando metas quase inalcançáveis e encontrando soluções inéditas.
Apoiados pela inovação, possuem um mindset totalmente voltado para mudanças constantes, que estabeleçam novos parâmetros de qualidade e entrega, ou seja, ótimo não é bom bastante, sempre é possível fazer melhor.
Desse modo, é possível manter o espírito de inovação sempre em movimento, guiando os colaboradores a agir sempre com os mais altos padrões, antecipando necessidades e melhorando percepções já existentes.
“Quando um de nossos engenheiros viu que a pesquisa funcionava bem para palavras escritas corretamente, ele se perguntou como ela lidava com erros de digitação. Isso o levou a criar um corretor ortográfico intuitivo e mais útil.”
“Mesmo que você não saiba exatamente o que está procurando, encontrar uma resposta na web é um problema nosso, não seu.”
Facilitar o acesso à informação para todos, de maneira útil e fazendo a diferença. Ter clareza do propósito da empresa traz clareza ao processo de inovação, e apresenta um leque de ferramentas que farão com que o propósito seja cumprido.
Ou seja, para manter o objetivo vivo, o Google entende que está em mais países, mapeando suas eventuais lacunas e apresentando soluções relevantes.
Provavelmente você encontrou esse artigo através de uma pesquisa no Google, acessando conhecimento e informações relevantes para o desafio de inovar. No filme “Piratas do Vale do Silício" de 1999, o personagem de Steve Jobs diz: informação é poder, e no mundo dos negócios, essa premissa parece fazer ainda mais sentido em 2022.
Com a emergência de tecnologias cada vez mais refinadas, focar em personalizar experiências, mesmo com as empresas tornando-se cada vez mais globais e escaláveis parece ser a regra, não a exceção.
Mas se adequar a esse novo mundo requer novas habilidades, estar aberto à inovação e construir um time de colaboradores com o mesmo propósito, só desse modo, é possível estabelecer uma inovação que vá além de documentos institucionais.
“Todas as empresas querem ser inovadoras e precisam começar criando um ambiente no qual os diferentes componentes da criação tenham liberdade para colidir de maneiras novas e interessantes, e dar a essas novas criações tempo e liberdade para evoluir e viver ou estagnar e morrer - o que é muito mais comum.”
Com um mindset consolidado, é possível desenvolver uma espécie de confiança competitiva. O que isso significa? O Google acredita que ao focar no consumidor, conhecendo suas necessidades atuais e futuras, é possível adquirir um conhecimento considerável sobre seu público, ao ponto de começar a pensar como o seu cliente.
Como consequência, cria-se tanta intimidade com o propósito e o público, a empresa se baseia nas próprias habilidades para descobrir o que os consumidores querem. Nesse sentido, o Google deixa mais que claro: “acreditamos na nossa visão”.