Miguel Guellert Krigsner
Boliviano-brasileira
9 de janeiro de 1950
La Paz, Bolívia
Presidente do Conselho Administrativo do Grupo Boticário
O Boticário
Faculdade de Farmácia e Bioquímica da Universidade Federal do Paraná (UFPR)
Miguel Gellert Krigsner é um empresário boliviano-brasileiro, fundador e Presidente do Conselho Administrativo do Grupo O Boticário, uma das maiores empresas do Brasil e um dos maiores conglomerados de cosméticos e perfumaria do mundo.
Sob sua gestão, a empresa passou de uma pequena loja na cidade de Curitiba para uma operação com mais de 1.000 unidades e uma das pioneiras em e-commerce de beleza no país. Ele também foi o idealizador do “Malbec”, o primeiro perfume criado com álcool vínico e uma das fragrâncias mais vendidas no Brasil.
Com um patrimônio líquido de US$ 3,3 bilhões em 2022, de acordo com a Forbes, ele integrou a famosa lista de bilionários brasileiros da publicação.
Filho de um polonês e uma alemã de origem judaica, os pais de Miguel Krigsner deixaram a Europa devido à perseguição local que teve início pouco antes da Segunda Guerra Mundial com destino à América Latina. O casal desembarcou na capital boliviana La Paz, onde o empresário nasceu no dia 9 de janeiro de 1950. A família Krigsner permaneceu até 1961, quando se mudou para Curitiba (PR), no Brasil.
Na capital paranaense, seu pai abriu um comércio de roupas, no qual Miguel Krigsner trabalhou desde o começo de sua adolescência.
“Aprendi muito coisa ao trabalhar com meu pai”, ele comentou em entrevista a Veja. “Principalmente o respeito pelo consumidor e como você tem que acolher as pessoas”.
Após completar o ensino médio, o executivo ingressou na Faculdade de Farmácia e Bioquímica da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Sua primeira opção de carreira era Medicina, mas ele não conseguiu passar no vestibular.
Ao longo de sua jornada universitária, Krigsner estagiou em um laboratório de uma indústria farmacêutica. Segundo o empresário, por mais interessante que fosse a perspectiva de cumprir uma rota farmacêutica, ele preferiu criar seu próprio negócio em vez de seguir trabalhando para outras pessoas. Após conseguir um empréstimo de cerca de US$ 3.000 com um tio, Miguel Krigsner abriu uma pequena farmácia de manipulação.
Ao longo do tempo, ele se mostrou um grande visionário. A ideia inicial para O Boticário veio de um curso em que o executivo e um grupo de amigos testemunharam um tratamento humanizado na área da dermatologia. Da experiência na farmácia, surgiu a ideia de criar um espaço que oferecesse esse mesmo tipo de atendimento. Em março de 1977, nascia a primeira loja “O Boticário”, que contava com um ambiente aberto e um atendimento diferenciado. Os primeiros produtos eram feitos usando uma batedeira de cozinha.
“Foi através dessa batedeira que eu comecei a fazer cremes de 1 kg e vender em potinhos de 50 g”, disse o empresário.
A loja foi bem aceita pela população curitibana, especialmente pelo fato de os clientes serem atendidos pelos próprios farmacêuticos, que ofereciam medicamentos artesanais feitos in loco usando matérias-primas naturais. Com esse conceito diferenciado, o estabelecimento se tornou um sucesso na cidade e ganhou uma nova linha de cosméticos produzidos com algas marinhas e colágeno, uma fórmula exclusiva da empresa.
À medida que aumentava o número de clientes, O Boticário também incrementava o leque de oferta de produtos, que incluíam fórmulas capilares e até desodorantes. Em 1979, a empresa lançou sua primeira colônia, a Acqua Fresca.
Na mesma época, um encontro inusitado mudaria a vida do empresário. Pouco depois do lançamento da colônia, Miguel Krigsner descobriu que Senor Abravanel, mais conhecido como Silvio Santos, estava se desfazendo de mais de 60.000 embalagens de perfume em formato de ânfora. A negociação não foi fácil e o dono do SBT foi bastante duro quanto ao preço cobrado. Krigsner assumiu o risco e decidiu comprar os frascos, mesmo sem saber se poderia arcar com o valor das parcelas posteriores. De acordo com o empresário, a negociação fez com que ele começasse a pensar em outros perfumes para aproveitar o lote de embalagens.
“Eu tinha uma série de amostras que eu recebia dos fornecedores de fragrância”, contou ele em uma entrevista. “Eu peguei uma caixa enorme e comecei a selecionar o que poderia se tornar um perfume”.
Sua visão se mostrou acertada. Tanto o Acqua Fresca quanto outros perfumes posteriormente lançados obtiveram bons resultados. Em 2022, o segmento de perfumaria cresceu 33% em relação ao ano anterior.
Com o sucesso dos produtos, O Boticário ganhou uma segunda unidade no Aeroporto Internacional Afonso Pena, na Grande Curitiba. A localização foi estratégica e fez com que os produtos da empresa se tornassem os preferidos das aeromoças e viajantes, ampliando a presença da empresa ao redor do país. Esse movimento também trouxe interessados em vender os produtos em território nacional, consolidando a primeira leva de revendedores da marca. “As comissárias de bordo enchiam sacolas e levavam para vender em suas respectivas cidades”, disse o empresário.
Com atenção ao mercado, Miguel Krigsner decidiu apostar no sistema de franquias, uma modalidade até então pouco conhecida no Brasil – na época, não havia muitas referências e uma regulamentação específica. Em 1980, surgiu a primeira loja franqueada da marca em Brasília.
A decisão do empresário se mostrou correta e fez com que a empresa desse um grande salto. Aproveitando seu caixa encorpado, O Boticário inaugurou uma grande fábrica na capital paranaense em 1982. A planta seria capaz de produzir 400.000 unidades de produtos anualmente. No mesmo ano, a empresa lançou a linha infantil “Dr. Botica”, contendo sabonetes, xampus e cremes para crianças. Em 5 anos, O Boticário somava mais de 500 lojas espalhadas pelo Brasil e, em 1985, entrou no mercado português – dois anos depois, a empresa abriria sua milésima unidade.
Também em 1985, Miguel Krigsner teve a ideia de investir em ações de merchandising durante a novela “A Gata Comeu”, da Rede Globo. A ação trouxe ótima repercussão e retorno para uma linha de produtos para pernas e pés.
O período entre o final da década de 1980 e o começo dos anos 1990, no entanto, mostrou-se difícil para o executivo e sua empresa devido ao cenário econômico vivido no país. Em determinado momento, inclusive, ele chegou a pedir prazo para os fornecedores para que a empresa não fosse à falência.
Ao ver a situação melhorar, uma das estratégias adotadas foi a padronização de seus produtos e das lojas da rede. Além de ter embalagens iguais em todos as unidades, O Boticário também criou um código de conduta rigoroso que trazia um manual de atendimento ao cliente e uniforme para seus colaboradores. O foco: criar uma experiência memorável para o consumidor e fazê-la de forma consistente em todas as lojas da companhia, fossem próprias ou franquias.
A marca também foi pioneira na criação de uma loja virtual na internet no final de 2002. Na mesma época, a empresa investiu em diversificação de produtos e expandiu sua presença internacional abrindo lojas no Uruguai e nos Estados Unidos. Dois anos depois, criou o Malbec, o primeiro perfume produzido com álcool vínico no mundo.
A inspiração veio de uma viagem ao Chile. Ao ver os tonéis de carvalho, ele disse: “Aqui pode ser uma forma legal de fazer perfume”. Aos poucos, eles foram desenvolvendo o produto utilizando os barris de carvalho – até para fazer a finalização da maturação – e, em 2020, o Malbec já era o perfume mais vendido do Brasil.
Em 2010, ele supervisionou a implementação do programa “Bioconsciência”, que ajuda na preservação ambiental e na reutilização de embalagens. No ano seguinte, a empresa lançou a marca Eudora, tornando-se agora o Grupo Boticário – atualmente, o grupo possui 14 empresas.
Em 2019, a rede faturou US$ 15,3 bilhões, consolidou a marca de 4.000 espalhadas por 15 países e produziu mais de 435 milhões de itens. No mesmo ano, Krigsner tornou-se um dos homens mais ricos do Brasil, com uma fortuna estimada em US$ 1,5 bilhão, de acordo com a Forbes.
Em março de 2021, Miguel Krigsner deixou o cargo de CEO e passou a ocupar a cadeira de Presidente do Conselho Administrativo da empresa. O sucessor do empresário foi seu cunhado, Artur Grynbaum.
“Ele [Artur] começou a trabalhar na empresa com 15 anos”, disse à Veja. “Foi fazendo de tudo, começou carregando caixas e, aos poucos, foi crescendo. Virou Gerente Financeiro, depois Diretor Financeiro, Diretor Comercial etc. E sempre aprendendo. Hoje [2017], é um dos maiores executivos do Brasil”.
Para Krigsner, foi importante a separação de “chapéus” entre ele e Artur Grynbaum: o de sócios, o de cunhados e o de grandes amigos.
O Grupo Boticário fechou 2022 registrando R$ 23,6 bilhões em vendas, um crescimento de 31% em relação ao ano anterior, com um total de mais de 4.000 pontos de venda e uma base de 21,2 milhões de clientes ativos identificados.
Em 2011, o executivo criou o Museu do Holocausto de Curitiba, o primeiro dessa temática no país. O objetivo era preservar a memória das vítimas e sobreviventes e retratar as barbaridades cometidas contra judeus pelo regime nazista. Além disso, busca destacar o Holocausto como um exemplo poderoso na luta contra o ódio, a intolerância, o racismo e o preconceito.
Miguel Krigsner também criou a Fundação O Boticário, uma iniciativa voltada à preservação ambiental e que recebe 1% de todas as vendas do grupo.
“Tudo fará sentido quando você olhar para trás. Desde que nasci, nunca consegui separar a minha vida pessoal da minha vida profissional.”
“É ótimo ganhar dinheiro, mas se a nossa vida é apenas ganhar dinheiro, acho que, talvez, seja a maior pobreza que a gente pode ter.”
“Crescimento e desenvolvimento são coisas que você só consegue através de pessoas.”
“Ser empreendedor é estar atento às oportunidades de fazer da melhor forma com o que se tem à mão. Acredito que a maior qualidade de um empreendedor é não ter receio de errar.”
“Nunca deixe que as suas memórias sejam maiores do que os seus sonhos.”
