Antônio Ermírio de Moraes foi um escritor, engenheiro e presidente do Grupo Votorantim de 1973 a 2001. Ele é neto de Antônio Pereira Inácio, que fundou a empresa em 1918.
Sob sua gestão, o Grupo Votorantin ganhou escala e tornou-se uma multinacional, com atuação de destaque nas áreas de cimento, siderurgia e química. Também conquistou projeção mundial, especialmente após entrar nos segmentos de papel e celulose. Em seu último ano como presidente, ele liderou a compra da cimenteira canadense St. Marys Cement, marcando oficialmente a entrada da Votorantim Cimentos no mercado norte-americano.
Antônio Ermírio de Moraes faleceu em agosto de 2014 aos 86 anos. Na época, sua fortuna foi estimada em US$ 12,7 bilhões, segundo a Forbes, tornando-o uma das pessoas mais ricas do Brasil e do mundo. Fiel à sua liderança, os herdeiros mantêm o Grupo Votorantim como uma empresa de capital fechado.
Nascido em 1928 na cidade de São Paulo, Antônio Ermírio de Moraes nasceu sem um rim, um fator que muitos consideram determinante para o espírito de luta que o acompanhou durante toda a sua vida.
No ano em que nasceu, a Votorantim completou 10 anos de existência. Em 1918, seu avô, o imigrante português Antônio Pereira Ignácio, comprou uma fábrica de tecelagem no bairro de Votorantim, na cidade de Sorocaba, interior de São Paulo.
Antônio Ermírio completou o Ensino Médio no tradicional Colégio Rio Branco, em São Paulo, e, em 1949, se formou em Engenharia Metalúrgica pela Escola de Minas do Colorado, nos Estados Unidos, mesma universidade cursada por seu pai, José Ermírio de Moraes. Uma vez graduado, ele passou por um “período de testes” de um ano, no qual trabalhou de graça para seu pai.
Em 1955, a empresa – liderada por José Ermírio há mais de 10 anos – decidiu desafiar os céticos e entrou para o segmento de alumínio com a fundação da Companhia Brasileira de Alumínio (CBA). No início, as operações da empresa produziam apenas 4.000 toneladas do metal; 50 anos depois, a produção havia atingido 400.000 toneladas.
No ano seguinte, ao visitar uma das unidades da empresa, Antônio Ermírio sofreu uma queimadura que o forçou a ficar de cama por 1 mês. Nesse período de reflexão, ele consolidou sua visão de que o Grupo Votorantim deveria ser conduzido de maneira mais conservadora, o que significava evitar contrair dívidas ou fechar negócios arriscados. Esse modelo conservador se manteve até o fim de sua gestão.
Em 1973, com a morte de seu pai, Antônio Ermírio assumiu o cargo da presidência junto a seu irmão, José Ermírio Moraes Filho. Na década seguinte, os dois guiaram o conglomerado industrial a se lançar no segmento de papel e celulose, fazendo com que a companhia ganhasse projeção internacional.
A Votorantim foi, durante muitos anos, o motor de crescimento em um período de grandes obras públicas. Um exemplo foi o novo Viaduto do Chá, reconstruído com cimento da empresa e inaugurado em 1940. O crescimento da companhia acompanhou o desenvolvimento econômico e urbano que marcaram os anos 1970 e 1980, revitalizando escolas, praças e até a reurbanização de trecho do Rio-Sorocaba. Durante muito tempo, o resultado da Votorantim estava atrelado ao cimento, mas foi mudando diante da desaceleração do mercado de cimentos, com queda nas vendas desde 2014. Nos últimos anos, a Votorantim vem buscando no agronegócio e na tecnologia formas de driblar essa crise.
Em 1986, Antônio Ermírio lançou sua candidatura política, assim como seu pai havia feito na década de 1960, quando se tornou senador. Ele já havia adotado posições políticas em 1978 ao ser o porta-voz do Documento dos Oito, manifesto dos maiores empresários do país que pediam o fim do governo militar. Também apoiou o movimento Diretas Já em 1984, que pedia eleições democráticas e reuniu milhões de pessoas no Brasil.
Sua campanha ao governo do estado de São Paulo tentou emplacar a imagem de um homem que havia feito fortuna trabalhando duro (o que de fato era uma característica marcante, pois era sempre um dos primeiros a chegar à companhia e um dos últimos a sair), gerando empregos (durante sua gestão, a companhia chegou a ter 60.000 funcionários e foi a maior empregadora do Brasil) e que não partilhava de uma vida glamurosa (ele não gostava de ir a festas e preferia manter um perfil discreto). No entanto, o empresário perdeu as eleições para Orestes Quércia.
Antônio Ermírio era um defensor fervoroso de que para o crescimento do país, era preciso que as indústrias gerassem produção e empregos. Ele era um crítico da especulação financeira que acompanhou os anos de inflação crescente no país, em que empresários diziam que era melhor fechar empresas e deixar o dinheiro "rendendo no banco". Apesar de suas críticas, o Grupo Votorantim inaugurou o Banco Votorantim (BV), hoje a sétima maior instituição financeira do Brasil.
Durante a década de 1990, Antônio Ermínio liderou a criação da Votorantim Finanças, holding controladora da área financeira do grupo, que concentra as participações societárias do segmento financeiro da empresa tanto no Brasil como no exterior.
Sua decepção na política o motivou a escrever 3 peças de teatro que posteriormente se tornaram livros: Brasil S.A., S.O.S Brasil e Acorda Brasil. Ele mesmo investiu US$ 250.000 na montagem da primeira peça em 1996, citando que não achava “nem justo nem honesto que empresários e editores apostassem dinheiro” em algo que poderia ser “somente uma aventura”. Acorda Brasil, sua última produção, inspirada na história da Sinfônica de Heliópolis (projeto social apoiado pela Votorantim) estreou em 2006 e foi assistida por 26.000 pessoas.
Em 2001, Antônio Ermínio guiou o Grupo Votorantim na aquisição da cimenteira canadense St. Marys Cement, marcando a entrada da Votorantim Cimentos no mercado norte- americano. Hoje, a empresa de cimentos é a maior do país e a oitava maior do mundo, com plantas em 13 países.
No mesmo ano, ele foi diagnosticado com Alzheimer, um dos motivos que o fez deixar a liderança da empresa para seus filhos. Em seu último ano à frente do negócio, o Grupo Votorantim fechou 2001 com uma receita líquida de R$ 7,69 bilhões e um lucro líquido de R$ 2,035 bilhões.
Por muitos anos, Antônio Ermírio foi presidente do Hospital Beneficência Portuguesa (1971-2009). Ele comandava as reuniões do conselho da instituição, acompanhando os gastos de perto e tinha o costume de visitar as enfermarias nos finais de semana. Em 2008, Antônio Ermínio recebeu a Medalha de Mérito Oswaldo Cruz pelo trabalho da Instituição com o SUS. Ele também presidiu a Cruz Vermelha no Brasil e apoiou uma série de projetos sociais.
Antes dos problemas de saúde, seu ritmo de trabalho era intenso, com jornadas de trabalho de 12 horas nos anos 1990. Sua liderança também foi marcada pela humildade, gentileza e respeito com as pessoas. Mesmo após entrar para lista dos homens mais ricos do mundo em 1987, ele se orgulhava de nunca ter andado com seguranças e de ter ficado 20 anos sem comprar ternos novos.
Segundo sua esposa Maria Regina, “ele não sabe descansar". "Tem vergonha de ficar na piscina, enquanto os empregados estão trabalhando”, disse uma vez.
Em agosto de 2014, Antônio Ermírio de Moraes faleceu aos 86 anos na cidade de São Paulo em decorrência de uma insuficiência cardíaca. Ele é considerado um dos maiores ícones de uma geração de empresários que transformou o Brasil e sua morte repercutiu em diversos setores do país.
“O País perdeu um pioneiro na criação da economia brasileira moderna. Foi-se um homem de crenças e coragem na defesa dos valores do investimento, do emprego e da produção”, afirmou Lázaro de Mello Brandão, então presidente do Conselho de Administração do Bradesco.
Em 2013, foi publicada a biografia “Antônio Ermírio de Moraes: Memórias de um diário confidencial”, escrita pelo professor e sociólogo José Pastore. Seu nome também é citado no livro “Votorantim 90 Anos: Uma História de Trabalho e Superação”.
Antônio Ermírio de Moraes sempre foi um amante das letras e sua decepção na política o motivou a escrever 3 peças de teatro que posteriormente se tornaram livros:
“Se eu não acreditasse no Brasil, seria banqueiro.”
“Não acredito em nenhum guru. Acredito em dois mais dois é igual a quatro. Tudo o que estiver fora disso me parece esquisito.”
“O fundamental é seguir a lógica, o bom senso, e ouvir as boas cabeças que você tem na empresa.”
“O que eu faço de donativo, só eu e Deus ficamos sabendo. Meu pai me ensinou que donativo com propaganda não é donativo, é comércio.”
“O melhor que posso deixar para eles [meus filhos] é educação e apego ao trabalho. Ganhar sem trabalhar pode ser bom para o bolso. Mas é péssimo para o caráter.”
“Parece simples, mas responder 'não sei' é uma das coisas mais difíceis de se aprender na vida corporativa.”
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