Quais são os vieses cognitivos? [+ exemplos]
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Quais são os vieses cognitivos? [+ exemplos]

Quais são os vieses cognitivos? [+ exemplos]

Por:
G4 Educação
Publicado em:
3/1/2023

Compreender os vieses cognitivos é muito útil para aprender como eles podem nos levar a tomar decisões certas ou erradas todos os dias. Como líderes, isso pode gerar um efeito cascata em uma organização.

Existem várias razões pelas quais a tomada de decisões nos negócios é difícil. Algumas culturas são notoriamente lentas para decidir. No Japão, por exemplo, avesso ao risco, muitos grupos diferentes dentro de uma companhia tendem a refletir antes que a empresa concorde em uma nova direção.

No entanto, estar ciente da existência de vieses cognitivos e saber trabalhar para entendê-los e superá-los é um aspecto importante da liderança eficaz no momento de decisão.

De acordo com um estudo liderado por Vincent Berthet, pela Université de Lorraine na França, analisando o impacto dos vieses cognitivos em 4 principais áreas ocupacionais (gestão, finanças, medicina e direito), foi possível identificar como eles são capazes de afetar significativamente a velocidade e a capacidade de julgamento eficaz e informada de um líder.

No entanto, nem todos os profissionais são susceptíveis a vieses na mesma medida. Por isso, ao se expor a novas ideias e perspectivas, questionar ativamente suas suposições e se envolver em autorreflexão, é possível entender melhor as fontes de seus vieses para uma tomada de decisão mais assertiva.

O que são vieses cognitivos?

Cunhado pela primeira vez na década de 1970 pelos psicólogos israelenses, Amos Tversky e Daniel Kahneman, vieses cognitivos são atalhos mentais que nos permitem processar informações com mais eficiência.

Amos Tversky e Daniel Kahneman, os autores do estudo sobre vieses cognitivos (crédito: Arquivo Pessoal/Barbara Tversky)

No entanto, embora esses vieses possam ser úteis em certas situações, eles também podem levar a decisões erradas e prejudicar nossa capacidade de pensar de forma crítica e objetiva, levando a uma interpretação incorreta das informações do mundo ao nosso redor e afetando a precisão de nossas decisões e a racionalidade de nossos julgamentos.

Isso é especialmente verdadeiro para os líderes, que muitas vezes precisam tomar decisões importantes que podem ter consequências de longo alcance.

Nesse sentido, os vieses são, essencialmente, um processo automático formulado por nossos cérebros como uma tentativa de simplificar o processamento de informações para nos ajudar a entender o mundo mais rapidamente.

Um viés cognitivo pode ser consciente ou subconsciente e ser causado por vários fatores, como emoções, pressões sociais e atalhos mentais.

Quais são os diferentes tipos de vieses cognitivos?

Existem muitos tipos diferentes de vieses cognitivos, cada um com suas próprias características e consequências. Conforme códex divulgado pela Visual Capitalist, já foram mapeados, pelo menos, 188 vieses cognitivos. Alguns dos mais comuns incluem:

  1. Viés de ancoragem;
  2. Viés de disponibilidade;
  3. Viés de confirmação;
  4. Viés de afinidade ou semelhança;
  5. Efeito Halo;
  6. Efeito chifre;
  7. Efeito Dunning-Kruger;
  8. Efeito Bandwagon;
  9. Viés de autoridade;
  10. Ilusão de agrupamento, dentre outros.

Esses vieses podem ter consequências sérias para as organizações. Por exemplo, a falácia do custo afundado pode levar líderes a continuar investindo em um projeto que está falhando, mesmo quando seria mais eficiente de custo cortar as perdas e seguir em frente. O viés de confirmação pode levar líderes a ignorar feedback valioso ou pontos de vista opostos, o que pode atrapalhar o progresso e a inovação. Vejamos, então, o que significado daqueles que mais influenciam o nosso dia a dia.

#1 - Viés de ancoragem

O viés de ancoragem é um viés cognitivo que se refere à tendência de confiar demais na primeira informação encontrada, mesmo quando ela pode não ser relevante.

Esse viés pode levar as pessoas a fazer julgamentos e decisões que não se baseiam em todas as evidências disponíveis, mas sim em sua impressão inicial ou na primeira informação que encontraram.

Por exemplo, se um líder recebe uma proposta para um novo projeto e só baseia a sua avaliação da proposta nas primeiras informações que encontrar, como o orçamento ou o cronograma, isso pode levá-los a ignorar outros fatores importantes que podem afetar o sucesso do projeto.

Por isso, o viés de ancoragem pode ser especialmente problemático em situações em que há muita incerteza ou quando as pessoas estão sob pressão de tempo para tomar uma decisão. Também pode ser exacerbado pelo viés de disponibilidade, que é a tendência de basear as decisões em exemplos ou informações que são mais facilmente lembradas ou disponíveis.

Para superar essa armadilha, é importante que os líderes estejam cientes desse viés e busquem ativamente diversas perspectivas e considerem todas as evidências disponíveis ao tomar decisões. Ao se expor a uma ampla gama de ideias e pontos de vista, os líderes podem ajudar a mitigar o impacto do viés de ancoragem em sua tomada de decisão.

#2 - Viés de disponibilidade

O viés de disponibilidade é um viés cognitivo que ocorre quando as pessoas estimam a probabilidade de um evento ou a frequência de um fenômeno com base na facilidade com que conseguem lembrar de exemplos similares na memória.

Isso pode levar a erros de julgamento, uma vez que as pessoas podem subestimar a probabilidade ou a frequência de algo se elas têm um exemplo particularmente vívido ou memorável dele ou se recentemente tiveram acesso a muitas informações sobre ele.

Por exemplo, se você acabou de assistir a um noticiário sobre um ataque de tubarão, pode superestimar a probabilidade de ser atacado por um tubarão, porque as informações estão frescas na sua mente.

Alternativamente, se você nunca presenciou um ataque de tubarão pessoalmente e só ouviu falar sobre eles raramente pode subestimar a probabilidade de ser atacado por um tubarão.

O viés de disponibilidade é um exemplo de como o julgamento e as decisões das pessoas podem ser influenciados por seus processos cognitivos, em vez de por evidências ou dados objetivos.

#3 - Viés de confirmação

O viés cognitivo da confirmação é uma tendência de se procurar, interpretar e lembrar de informações que confirmem suas crenças ou expectativas prévias.

Em linhas gerais, isso significa que quando as pessoas têm uma crença ou expectativa sobre algo, elas tendem a procurar evidências que confirmem essa crença e a ignorar ou minimizar evidências que a desafiam.

Assim, esse viés pode acabar levando a opiniões erradas ou decisões ruins, pois não se está sendo consideradas todas as informações disponíveis de forma equilibrada e imparcial.

Além disso, ele pode ser particularmente perigoso ao levar as pessoas a serem resistentes a mudar de opinião, mesmo quando apresentadas com novas informações que contrariam suas crenças prévias.

Por exemplo, se alguém acredita que determinado medicamento é inofensivo, mas na verdade ele é perigoso, essa pessoa pode tomar a decisão de usá-lo com base unicamente em sua crença, ignorando informações que indicam que o medicamento deve ser evitado.

#4 - Viés de afinidade ou semelhança

Esse é um viés de inclinação das pessoas para avaliar positivamente aqueles que são seus semelhantes e de avaliar negativamente aqueles que são diferentes, seja em termos de raça, gênero, idade, religião, nacionalidade, orientação sexual ou outros.

Apesar de levar as pessoas a se sentirem mais conectadas e próximas de seus iguais, acaba por gerar preconceitos ou discriminação contra os demais. Mais que isso, ele também pode afetar a forma como as pessoas se relacionam e tomam decisões, como a seleção de funcionários para uma empresa ou a escolha de amigos.

É importante reconhecer o viés de afinidade e tentar superá-lo para evitar atitudes nocivas ao convívio social, promovendo a igualdade e a justiça. Isso pode ser feito, por exemplo, tendo em conta as habilidades e qualificações de uma pessoa ao tomar decisões, em vez de basear as decisões apenas em características específicas.

#5 - Efeito Halo

O efeito halo ocorre quando um indivíduo deixa que uma primeira impressão positiva de alguém ou algo afete sua avaliação geral dessa pessoa ou coisa.

Ou seja, se alguém tem uma primeira impressão positiva de uma pessoa, por exemplo, ela pode tendenciosamente avaliar essa pessoa de forma mais positiva em outras áreas, mesmo que não haja evidências para apoiar essa avaliação.

Assim, o viés de efeito halo pode levar líderes e profissionais a tomarem decisões ruins ou a formarem opiniões erradas são considerar todas as informações de forma equilibrada e imparcial.

Por exemplo, se um gestor tem uma primeira impressão positiva de um candidato a emprego, essa pessoa pode tendenciosamente avaliar o candidato de forma mais positiva em outras áreas, como habilidades e qualificações, mesmo que não haja evidências concretas para apoiar essa avaliação.

É importante reconhecer o viés de efeito halo e tentar superá-lo, apoiando-se com todas as informações disponíveis e avaliando as pessoas ou coisas de forma equilibrada e imparcial, sem deixar que uma visão positiva parcial afete a sua avaliação geral.

#6 - Efeito Chifre

O viés cognitivo de efeito chifre pode ser considerado o avesso do efeito halo. Aqui, há uma tendência de se deixar que uma primeira impressão negativa de alguém ou algo afete a avaliação geral dessa pessoa ou coisa.

Por exemplo, imagine que você está procurando por uma nova casa para alugar. Você visita várias casas, mas uma delas tem um banheiro muito sujo e mal cuidado. Devido a essa primeira impressão negativa, você pode tendenciosamente avaliar a casa de forma mais negativa em outras áreas, mesmo que o resto da casa seja bem cuidada e atraente.

Dessa forma, você pode decidir não alugar essa casa, mesmo que ela seja perfeitamente adequada para as suas necessidades, simplesmente porque você teve uma primeira impressão negativa devido ao banheiro sujo.

É importante reconhecer esse viés e administrá-lo para que ele não acabe prejudicando o seu julgamento em áreas e momentos mais sensíveis.

#7 - Efeito Dunning-Kruger

Esse viés foi identificado pelos pesquisadores David Dunning e Justin Kruger em um estudo de 1999, no qual os participantes que tiveram as pontuações mais baixas em testes de conhecimento geral sobre assuntos como gramática, lógica e senso comum tendiam a avaliar suas próprias habilidades de forma muito mais positiva do que os participantes que tiveram as pontuações mais altas.

No efeito Dunning-Kruger, as pessoas tendem a subestimarem sua própria ignorância ou falta de habilidades em determinadas áreas e de superestimarem suas próprias habilidades ou conhecimentos.

Isso significa que as pessoas que realmente têm poucas habilidades ou conhecimentos em um dado assunto podem acreditar que são muito boas e acabarem tendo dificuldade em reconhecer quando estão erradas ou precisam aprender mais.

É importante reconhecer o viés de efeito Dunning-Kruger e se dispor a aceitar críticas e feedback construtivo para melhorar suas habilidades e conhecimentos.

#8 - Efeito Bandwagon

O viés cognitivo de efeito Bandwagon é uma tendência das pessoas de seguirem a maioria ou a opinião predominante, mesmo que essa opinião esteja incorreta ou se baseie em informações incompletas ou falsas.

Nesse sentido, as pessoas podem ser influenciadas pela pressão social ou pelo desejo de serem aceitas por outros e, por essa razão, seguirem a opinião da maioria, mesmo que não concordem com ela.

Uma maneira de superar o viés de efeito Bandwagon é buscar informações de fontes confiáveis, ler notícias de qualidade, fazer boas perguntas e procurar respostas, além de discutir com outras pessoas de forma crítica e equilibrada.

#9 - Viés de autoridade

Como o próprio nome já diz, essa é uma inclinação para seguir a orientação ou a liderança de pessoas que são percebidas como autoridades ou especialistas em determinada área, mesmo que essas pessoas não tenham realmente o conhecimento ou a experiência necessárias.

Desta feita, as pessoas acabam se influenciando pelo título, poder ou posição de um terceiro e tendem a acreditar e seguir suas orientações, mesmo que essas orientações sejam incorretas ou prejudiciais.

Uma maneira de superar esse viés é questionar a autoridade de uma pessoa e verificar suas qualificações e experiências antes de seguir os seus conselhos, seja através de pesquisa online ou perguntando a outras pessoas sobre o seu real track record.

#10 - Ilusão de agrupamento

O viés cognitivo de ilusão de agrupamento é uma tendência das pessoas de perceberem padrões onde eles não existem e acreditarem que determinados eventos estão relacionados de alguma forma, mesmo que esses eventos sejam independentes uns dos outros.

Por exemplo, imagine que alguém está jogando uma moeda e observando o resultado de cara ou coroa. Se ela obtiver vários resultados seguidos de cara, pode começar a acreditar que há algum tipo de padrão ou relação entre os resultados, mesmo que a probabilidade de cada resultado seja exatamente a mesma.

Códex com todos os vieses cognitivos conhecidos.
Códex de vieses cognitivos (Créditos: Visual Capitalist)

Estratégias para compreender e dominar os seus vieses

Para superar esses vieses e tomar decisões mais eficazes e informadas, líderes podem adotar algumas estratégias como veremos a seguir.

O primeiro passo para compreender e dominar os seus vieses é estar ciente de que eles existem. Afinal, todos nós temos pontos falhos e é importante reconhecê-los para que possamos trabalhar ativamente para superá-los.

Além disso, busque diversificar as suas fontes de informação, expor-se a uma ampla gama de perspectivas ajuda a enxergar as coisas de diferentes ângulos e a considerar todas as evidências antes da tomada de uma decisão ou da emissão de uma opinião.

De igual modo, certifique-se de considerar sempre que possível todos os fatos e dados, não apenas as informações que confirmam suas crenças ou vieses preexistentes.

Se não tiver certeza sobre algo, peça esclarecimentos ou busque conhecimento adicional. Isso pode ajudá-lo a entender melhor o problema e chegar a uma cognição mais informada.

Se necessário, dê um passo para trás e não tenha pressa, permita-se pensar criticamente sobre os elementos que você tem disponíveis antes de seguir em frente.

Considerações finais: qual é o seu framework de tomada de decisão?

Vieses cognitivos ameaçam nossa capacidade de tomar decisões imparciais em uma fração de segundo, algo que é valioso para a maioria, se não para todas as lideranças e empresas.

Apesar de não ser possível evitá-los completamente, é possível desafiar suas antigas crenças e expandir seu conhecimento para a construção de uma estrutura de tomada de decisão mais robusta e eficaz.

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