O novo paradigma: da era da escassez à era da abundância
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O novo paradigma: da era da escassez à era da abundância

O novo paradigma: da era da escassez à era da abundância

Por:
Tallis Gomes
Publicado em:
28/3/2022

O novo paradigma na sociedade é saber como lidar em um contexto em que o maior problema já não é a falta, mas sim o excesso.

O mundo mudou e tivemos um shift nas últimas décadas. Passamos de um histórico da humanidade de uma mentalidade e modelo econômico de escassez, para um modelo de abundância. Somos a primeira geração a testemunhar a inversão total desse sistema.

Como disse Salim Ismail, fundador da Singularity University:

“Nunca tivemos tantas oportunidades para gerar abundância. Nada impede que em poucos anos a oferta de energia, saúde e educação seja acessível para todos a custo quase zero.”
O futurista Salim Ismail, evangelizador da Singularity University (Crédito: Reprodução/Instagram)

O acesso à informação segue rumo à gratuidade, assim como o acesso a alimentos e a outros recursos deixou de ser um grande fator complicador para a humanidade.

O problema ainda existe, mas caiu de forma abrupta nos últimos 50 anos, e a obesidade (o excesso), por exemplo, tornou-se o maior desafio relacionado à alimentação.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a obesidade adulta mundial mais do que dobrou desde 1990, e a obesidade adolescente quadruplicou. Em 2022, 2,5 bilhões de adultos (18 anos ou mais) estavam acima do peso. Além disso, a maioria da população mundial mora em países em que o sobrepeso e a obesidade matam mais pessoas que o fato de estar abaixo do peso.

O ponto que eu gostaria de trazer é que o acesso a recursos a um baixo custo é algo novo e essa disponibilidade irrestrita traz novos desafios: o consumo excessivo e não consciente. Com esse novo cenário, o autocontrole e foco tornaram-se habilidades ainda mais relevantes do que já eram. 

Seja você um gestor ou não, os principais diferenciais de produtividade e de resultados estarão diretamente ligados à sua capacidade de eliminar ou atenuar distrações, assim como em ter disciplina. Como definição sobre o que é ter disciplina, segue uma de que gosto:

“Disciplina é saber priorizar o que você mais quer, em detrimento do que se deseja agora.”
Abraham Lincoln, presidente dos Estados Unidos (1861-1865)


Além disso, tenho uma frase própria de que também gosto bastante em relação a isso:

“Disciplina é a capacidade de cumprir no final do dia os acordos que você fez consigo mesmo.”

Obesidade tornou-se um problema que atinge mais pessoas que a desnutrição

No passado, de longos em longos períodos, secas ou inundações impactavam a produção de alimentos a ponto de levar milhares de pessoas à fome. Atualmente, a humanidade produz tanta comida e consegue transportá-la tão rapidamente e de forma tão barata que os desastres naturais raramente resultam em fome em massa.

Os locais que ainda sofrem de fome de forma sistêmica o enfrentam por questões políticas, como guerras.

Como disse Yuval Harari, pesquisador e autor do livro "Sapiens: Uma Breve História da Humanidade":

“De fato, na maioria dos países, hoje, comer demais tornou-se um problema muito pior do que a fome. No século XVIII, Maria Antonieta supostamente aconselhou as massas famintas a que, se ficassem sem pão, comessem brioches. Hoje, a população menos favorecida segue este conselho à letra. Enquanto os habitantes ricos de Beverly Hills comem salada de alface e tofu cozido a vapor com quinoa, nos guetos, a população come bolos industriais, pacotes de salgados, hambúrgueres e pizzas. Em 2014, mais de 2,1 bilhões de pessoas tinham excesso de peso, contra 850 milhões que sofriam de desnutrição. Calcula-se que em 2030 metade da humanidade sofra de excesso de peso. Em 2010, a fome e a desnutrição cmbinadas mataram cerca de um milhão de pessoas, enquanto a obesidade matou três milhões.”

O aumento do desafio relacionado à obesidade não é diferente no Brasil. Uma pesquisa do IBGE mostrou que a proporção de obesos entre as pessoas com 20 anos ou mais de idade mais que dobrou no país entre 2003 e 2019, evoluindo de 12,2% para 26,8% da população.

Outro dado alarmante é de que, em 2019, a cada 4 pessoas com 18 anos ou mais de idade, 1 já estava obesa, enquanto o excesso de peso atingia 60,3% da mesma população.

No geral, o acesso ao alimento é muito mais fácil hoje do que já foi antigamente. É possível comer em um posto de gasolina quando para pra abastecer e ter acesso a alimentos até em uma farmácia. Essa opção existe quase em qualquer lugar e o preço de industrializados costuma estar ao alcance da grande maioria das pessoas.

O novo paradigma: o excesso de informações e a obesidade cerebral

A comparação que fiz acima transcende o universo físico e também se aplica ao universo mental. O acesso a conteúdo infinito e a um custo baixo já é uma realidade.

De acordo com o "Digital 2024 - Global Overview Report", o usuário médio de internet em todo o mundo gasta 6 horas e 58 minutos por dia online, tempo distribuído entre todos os seus dispositivos.

Gráfico mostra o tempo médio gasto na internet (Crédito: Statista)

Os brasileiros aparecem em segundo lugar na lista, com impressionantes 9 horas e 13 minutos usando a internet todos os dias. Ficamos atrás apenas de África do Sul (9h24m) e acima de Filipinas (8h52m).

Segundo o recorte do relatório apenas com dados de Brasil, havia 187,9 milhões de usuários de internet no país no início de 2024. A penetração da internet era de 86,6%.

Olhando apenas para redes sociais, o Brasil contava com 144 milhões de usuários de mídia social em janeiro de 2024, o que equivale a 66,3% da população total.

No Brasil, 210,3 milhões de conexões móveis celulares estavam ativas nesse mesmo período, um número equivalente a 96,9% da população total.

Com isso, a obesidade cerebral já é um problema – pessoas que passam uma enorme parte do dia se nutrindo em excesso de conteúdos de baixa qualidade.

Saber filtrar o que deve ser consumido e fazer uma curadoria do que vale à pena se nutrir de conteúdo é o grande desafio do momento. Mais uma vez, a abundância supera a escassez e os desafios são outros.

Com tanto conteúdo disponível, uma questão que vejo muito, por exemplo, são aspirantes a empreendedor que passam o dia inteiro estudando e que não vão à execução.

Arte ou habilidade, é necessário executar. É fundamental entender que você não precisa ser nenhum gênio para buscar seu sucesso, só precisa ter atitude, e essa atitude significa sair da cadeira e tomar risco e executar todos os dias. Você não vai ficar perito em nada se só ler sobre o assunto. 

Você precisa estudar, aplicar, ver o que pode ser melhorado e retroalimentar esse ciclo e, se você passa a maior parte dele só estudando, você está fazendo isso de forma errada. A etapa de execução é a que se deve gastar mais tempo.

Estudar é importante, mas ela pode estar sendo uma ótima desculpa para procrastinar o que você sabe que deve ser feito. Portanto, preste atenção nisso e lembre-se: você está estudando com o objetivo de aplicar os novos conhecimentos.

No final das contas, ideia nova não paga boleto. O que gera resultado e transformação no final sempre será a execução.

Uma prática que deve ser desenvolvida todos os dias

O objetivo é dizer que temos acesso a recursos como nunca tivemos antes. Os nutrientes tanto para o corpo quanto para a mente estão disponíveis a quase todos, assim como ferramentas e dispositivos de baixo custo.

Há várias ferramentas com versões gratuitas para gestão, vendas, CRM e outros. Além disso, existem as redes sociais, como veículos de transmissão e geração de valor. Com tantas opções em nossas mãos, o principal desafio é saber priorizar.

Para priorizar, o primeiro ponto é saber onde se quer chegar. Tendo isso em vista, faça um planejamento e fatie-o – não precisa ser um planejamento estratégico completo, mas sim uma orientação.

Todos os dias à noite, faça uma lista do que deve ser feito no dia seguinte. Escolha três ou no máximo cinco coisas que precisam ser feitas e execute. Parece simples, mas é algo que pode fazer muita diferença na sua vida. Isso vai facilitar muito qualquer confusão mental sobre o que precisa ser feito.

Você pode, por exemplo, aos domingos, organizar as coisas que precisa fazer na semana. Então, a cada noite, leia e reorganize o que deve ser feito no dia seguinte. Durante o dia, é só execução e se preocupar no agora, em dar o próximo passo, lembrando que todo o planejamento é direcionado em prol do longo prazo.

Assim, naturalmente você vai aprender a dizer não para as coisas que não agregam, e dizer “não” é um dos principais aspectos da construção de foco e de uma boa gestão de tempo.

Quando temos muitas abas abertas, muitas informações, muitas redes sociais, muitas horas online e, o pior, muitas notícias negativas a toda hora, tudo isso tira o nosso foco. Tudo são escolhas, você escolhe onde dedica a sua atenção. Simplifique a sua vida e corte as distrações.

Esse é um processo que desenvolverá autocontrole e disciplina, elevando de pouco em pouco a sua capacidade de entrega e coerência entre o que você almeja e o que você faz, o famoso “walk the talk” – uma das principais virtudes que você pode se debruçar, a atitude de fazer o que se fala e ser coerente.

Tal esforço naturalmente elevará a sua barra, te desenvolverá e trará resultados melhores para a sua vida. Logo, ter o planejamento como um hábito te trará clareza e executar o que foi planejado, sem desculpas, trará resultados.

Fatie o planejamento a nível diário e o execute, sem desculpas, que a sua vida ficará mais simples e clara e, conforme elevar a barra da execução, estará desenvolvendo uma melhor gestão, além de algumas das habilidades mais importantes para essa nova era: o autocontrole e a disciplina.

Com o novo paradigma, uma curadoria acurada de conteúdos é fundamental para consumir apenas o que há de mais relevante.

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