Metaverso: será esse o futuro do varejo?
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Metaverso: será esse o futuro do varejo?

Metaverso: será esse o futuro do varejo?

Por:
Alfredo Soares
Publicado em:
18/12/2021

O mundo do varejo já percorreu um longo caminho desde as primeiras transações: comércios da vizinhança desenvolverem E-commerces com catálogos simples e adotaram lojas físicas com showrooms virtuais. Agora, o varejo (e o E-commerce) vem desenvolvendo uma experiência de comércio envolvente, estabelecendo um novo padrão para o cliente moderno.

Neste caso, nos referimos a um comércio imersivo, especificamente dentro do tão falado “metaverso”, uma experiência de compra muito mais engajante e que, potencializado pelas novas tecnologias como realidade aumentada (AR) e jogos online, é natural que essa tendência se estabeleça e eventualmente se consolide em diversos segmentos, incluindo o varejo online.

O “metaverso” é muito mais do que um jogo, website, aplicativo ou plataforma, ele vem se convertendo em uma interface pela qual nós vivenciaremos uma nova realidade que terá suas próprias regras e sua própria economia.

Desde um ponto de vista puramente comercial, a “meta economia” trará mudanças fundamentais no comércio à medida que seguimos caminhando ruma a uma época em que a compra de bens e serviços online se torna uma experiência tridimensional e imersiva, desde novos produtos e recursos de comércios a novos (e quiçá melhores) canais de distribuição. 

Dito isso, devemos pensar cuidadosamente sobre a construção dessas interfaces/mundos virtuais que formarão o futuro do omniverso, pois as construções econômicas e sociais que criaremos moldarão o comportamento humano e as interações das gerações futuras.

Varejo no “metaverso”: visão geral

Certas tendências já estão e vem se tornando cada vez mais presentes no panorama geral e atual da economia. Conversas sobre criptomoedas e criptoativos, compra e vendas de tokens não fungíveis –os famosos NFTs– e tecnologias blockchain são mais e mais recorrentes, sobretudo em plataformas sociais como Twitter e LinkedIn.

Dito isso, todas essas tendências, impulsionadas pelo constante avanço tecnológico, vem ajudando e irão ajudar a impulsionar as oportunidades de comunicação e vendas, tanto para marcas como para varejistas, dentro dessa nova interface virtual, o “metaverso”. 

Além das anteriormente citadas, outras já vem ganhando destaque há algum tempo como, por exemplo, realidade aumentada (AR) e realidade virtual (VR) –de fato, estima-se que o mercado combinado entre as duas tecnologias, junto a realidade mista (MR), tenha um valor de US$296,9 bilhões em 2024– e as identidades digitais, mais conhecidos como avatares. 

Nos próximos anos, talvez décadas, outras tecnologias se tornarão mais presentes, como no caso das finanças e os comércios descentralizadas, e serão desenvolvidas com o intuito de introduzir novos veículos de distribuição e faturamento, começando com lojas virtuais entregando experiências imersivas e, consequentemente, o modelo de negócio direto para avatares, ou D2A. 

Por que considerar comércio imersivo no metaverso?

Experiências imersivas são o futuro das compras e, para 2035, estima-se que 80% da atividade comercial das pessoas seja realizada online, especialmente via dispositivos móveis. Logo, é possível dizer que essas experiências contribuirão para o crescimento global nas vendas de E-commerce, escalando de US$585 bilhões em 2020 a mais de US$16 trilhões daqui há duas décadas. 

Atualmente, segundo reportado pela Statista, existem quase 15 bilhões de dispositivos móveis ativos, quase o dobro da população global, e, para 2025, estima-se que esse número ultrapasse os 18 bilhões. Além disso, em 2020, os dispositivos móveis foram responsáveis mais de 80% do tempo que as pessoas passam online em 8 países, com o Brasil ficando na 4ª posição com 88%. 

Consumidores estão alienados e cada vez mais incomodados com o atual ambiente de varejo bidimensional. Experiências de marca vem perdendo potência e popularidade com o aumento da atividade online e o “metaverso”, neste caso, será uma nova maneira de alcançar essa interação, essa conexão tão procurada pelos “consumidores modernos” durante sua jornada de compra online.

No entanto, vale ressaltar que, apesar de que a interação do varejo vem mudando e se adaptando ao longo dos anos, os compradores, sobretudo no Brasil, possuem uma conversão mais alta com atendimentos mais humanizados, especialmente tratando-se de vendas a partir de dispositivos móveis como o WhatsApp, utilizando métodos como o conversational commerce.

Reestruturando o modelo atual de varejo para refletir o comércio imersivo moderno

O “metaverso” irá redefinir o que são as empresas e como elas devem operar, revolucionando a interação humana. Algumas empresas estão de olho nessas mudanças e aprendendo à medida que elas avançam, mas poucas estão tomando a posição de líderes ousados e, como ficou estabelecido no cenário pandêmico atual, quem não se adaptar e inovar, ficará para trás.

Empresas enxergam o “metaverso” como uma oportunidade de expandir suas linhas de produto e incluir experiências digitais completamente imersivas.

Um exemplo recente foi a Gucci Garden Experience, uma vitrine espetacular das mais atualizadas ferramentas de desenvolvimento e tecnologia de iluminação da plataforma online de games Roblox, com produtos inspirados nas exposições vistas na cidade de Florença e parte das icônicas campanhas da Gucci. 

Dito isso, é possível dizer que mais marcas eventualmente migrarão em direção ao comércio imersivo dentro do “metaverso” uma vez que esse tipo de user experience (experiência do usuário) realmente agrega valor e pode se tornar um grande diferencial no momento de escolha entre uma marca e outra.

Imagine como seriam as taxas de conversão caso seus clientes pudessem andar por um showroom onde todos os itens são marcados com preços, tabelas de tamanho/medidas disponíveis, diferentes ângulos para visualização, tudo dentro de seu próprio espaço virtual? A Nike, de fato, é uma das grandes marcas de roupas e calçados que decidiu aventurar-se dentro do “metaverso”. 

Nikeland 

No dia 18 de novembro, a Nike oficialmente anunciou sua entrada no “metaverso” com o mundo virtual Nikeland, uma colaboração com a Roblox –a plataforma de games possui quase 50 milhões de usuários ativos diários.

A Nikeland segue o mesmo modelo da sede da empresa em Beaverton, Oregon, e inclui edifícios, campos e arenas da marca para que os jogadores possam competir em diversos minijogos.  

Além do jogo, a Nikeland serve como um showroom virtual, permitindo que usuários vistam seus avatares com os últimos produtos digitais da marca como, por exemplo, Air Force 1, Air Force 1 Fontanka, Air Max 2021 e Nike Blazer. Para completar o visual, usuários podem escolher roupas das linhas ACG e Tech Pack, prevendo que a Nike em breve oferecerá roupas personalizáveis dentro da Nikeland.

À medida que o “metaverso” se torna uma nova vanguarda para o varejo, a Nike é uma das muitas que busca se conectar com as novas gerações através de jogos e realidade virtual. Por enquanto, usuários não precisam pagar para ter acesso a Nikeland dentro do Roblox, mas, uma vez que essas interações virtuais cresçam, conseguir os últimos pares de Nike, mesmo que virtualmente, não será nada barato.

Varejo no “metaverso”: o estado dos NFTs

Antes de mais nada, o que são tokens não fungíveis –os famosos NFTs? Em poucas palavras, não-fungível se refere a algo que é único e não pode ser trocado por outro objeto/peça/acessório/produto etc. No caso de tokens não-fungíveis, nos referimos a qualquer peça digital que seja única (por exemplo, artes, música, GIFs).

No caso do comércio, algumas estratégias inovadoras que giram ao redor desses tokens digitais vem surgindo com uma alternativa de impulsionar as compras, além de, consequentemente aumentar a lealdade com seus públicos/clientes e, por último, acelerar o envolvimento e alimentar sentimento de e com suas comunidades. 

Falando especificamente de NFTs, houve um aumento de 704% no volume de negócios entre o segundo e terceiro trimestre de 2021, percentual equivalente a US$10,67 bilhões. Dito isso, à medida que os NFTs ganhem mais presença e gerem mais confiança dentro da nossa cultura, novas oportunidades aparecerão, oportunidades que vão além dos investimentos propriamente ditos:

  • Combate a falsificações;
  • Construção de envolvimento duradouro através de souvenirs digitais;
  • Tokens após comprar realizadas em marketplaces/E-commerces e;
  • Colecionáveis digitais. 

Do mesmo jeito que a Nike e a Gucci aproveitaram a oportunidade para criar experiências imersivas dentro do “metaverso”, a crescente popularidade e o “hype” dos NFTs viu como empresas de praticamente todos os segmentos, incluindo Pizza Hut Canadá, Coca-Cola e Mattel Hot Wheel, tentando lucrar não só lucrar com esses colecionáveis digitais, como também criar tokens. 

Nike e Artifact Studios (RTFKT)

No dia 13 de dezembro, foi anunciada a aquisição do fabricante de calçados NFT, a Artifact Studios (RTFKT), pela Nike, ajudando a marca a entrar no “metaverso” em grande estilo. 

Em parceria com a RTFKT, a Nike pode olhar a revolução do tênis digital. Além de ser uma ótima maneira de lançar calçados digitais em plataformas virtuais, isso representa um potencial aumento para seus tênis existentes com sobreposições em realidade aumentada, transformando qualquer calçado da Nike em algo ainda mais interativo.

Em outubro de 2020, a RTFKT vendeu seu primeiro par de tênis virtuais por 30 Ethereum (segunda principal criptomoeda depois do Bitcoin), aproximadamente US$115.000. Em fevereiro, a startup vendeu uma coleção de calçados NFT em apenas 7 minutos, arrecadando US$3,1 milhões.

“Esta aquisição representa mais um passo para acelerar a transformação digital da Nike e permitir que nós possamos atender a atletas e criadores bem na interseção de esporte, criatividade, gaming e cultura. Nosso plano é investir na marca RTFKT, servir e aumentar sua comunidade inovadora e criativa e estender a presença digital e as capacidades da Nike”

John Donahoe
CEO da Nike

Por que se pode considerar o metaverso como uma evolução lógica do E-commerce?

O modelo atual do E-commerce é simples e estático e é baseado em informação sendo consumida ao invés de experimentada, com consumidores clicando em páginas intermináveis de descrições de produto sem nunca ver ou sentir o que está diante deles.

Uma vez que o mundo do E-commerce continua evoluindo, é hora que marcas e consumidores adotem uma forma alternativa de negócios online, permitindo que ambas as partes se envolvam de maneiras mais significativas entre si por meio do comércio imersivo, onde produtos ganham vida usando jogos e tecnologia de realidade aumentada.

Ao conceder aos compradores o acesso à história da sua marca, conteúdos dos bastidores ou imagens e vídeos assistam a vídeos de eventos conforme eles acontecem ao vivo, as empresas podem:

  • Criar vínculos mais fortes com seus clientes ao fornecer conteúdos exclusivos e;
  • Permitir que compradores vejam seus produtos através de uma experiência em, por exemplo, realidade aumentada, ao invés de simplesmente ver esses mesmos produtos em uma prateleira digital.

No caso do Alibaba, um dos maiores E-commerces do mundo, a empresa chinesa lançou uma exposição de artes dentro dos dois principais marketplaces a nível global, os também chineses Taobao e Tmall. 

Dentro deste evento que reuniu diversas marcas e foi projetado por realidade virtual, o avatar denominado Ayayi oferecia ao público presente a oportunidade de comprar obras NFT, todas patrocinadas por marcas de alto escalão como, por exemplo, Burberry, Coach a Longiness. 

Além disso, dentro do modelo tradicional de E-commerce, tanto compradores como vendedores precisam, em muitas ocasiões, pagar empresas intermediarias como eBay, Amazon, Mercado Livre, Meta/Facebook, PayPal e Shopify para a gestão de riscos e confiança. Em outras palavras, muitas das grandes empresas de tecnologia realizam um intercambio de vendas garantindo uma segurança. 

No entanto, como praticamente todos sabemos, esses gigantes de tecnologia/marketplaces/E-commerces praticamente controlam os preços de mercado, bem com as redes de distribuição e formas de pagamento, uma grande desvantagem se consideramos o que se quer alcançar, o hoje nomeado “comércio descentralizado”. 

Dito isso, uma das soluções que vem sendo proposta é que, em questões de segurança, o “comércio descentralizado” poderá estabelecê-la, diretamente e de forma mútua, entre vendedor e consumidor. Como? 

  • Blockchain rastreável;
  • Inteligência artificial;
  • Compartilhamento OPCIONAL de dados e;
  • Contratos inteligentes. 

Isso não só trará mais transparência e equidade para o mercado de E-commerce, como também oferecerá muito mais controle aos fornecedores em relação aos seus dados e pagamentos, além de sua reputação.

Realidade aumentada, tecnologia de jogos, e modelo Direct-to-Avatar (D2A) para promover a experiência de varejo

No passado, o varejo era um processo muito simples e relativamente seco. Agora, a tecnologia e a inovação estão abrindo novas portas e estimulantes para o envolvimento do consumidor com os varejistas.

Dito isso, clientes podem receber recompensas digitais por comprar certos produtos em suas lojas favoritas através do uso de realidade aumentada e tecnologia de jogos para criar uma experiência de compra interativa. 

Varejistas como, por exemplo, a marca de cosméticos francesa Sephora, utilizou a realidade aumentada para criar um tutorial virtual de maquiagem quando seus clientes se encontram nas lojas da marca. 

A Sephora’s Virtual Artist permite que os usuários experimentem diferentes tons de base, sombra, batons, entre outros ao simplesmente tirar uma foto. Esses tipos de ações não só são excelentes como experiência do cliente, mas também evitam diversos passos em sua jornada de compra ao oferecerem a opção de compra imediata através de seus dispositivos móveis.

Referente ao modelo D2A (direto para avatar), vemos isso muito presente nas plataformas de jogos como Roblox, Fornite, Animal Crossing e Counter Strike, especialmente na venda das populares skins, uma espécie de pele para a customização dos avatares e de seus acessórios dentro dos jogos.

De fato, esse mercado movimenta bilhões de dólares em receita e, como dado curioso, em maio deste ano, o Fortnite arrecadou US$50 milhões vendendo skins da NFL, principal liga de futebol americano. 

Outras parcerias de sucesso incluem: Louis Vitton x League of Legends, Balenciaga x Fortnite e Gucci x Roblox. De fato, uma bolsa virtual da Gucci foi vendida por quase US$800 a mais do que sua versão física. O preço: US$4.115 no Roblox.

Por último, o modelo D2A termina sendo uma opção mais sustentável para as marcas. Assim como vimos com a Nikeland, onde cada usuário poderá personalizar seu avatar, isso concede a chance de que as marcas experimentem protótipos e designs antes mesmo de produzi-los. 

Conclusão

Tendências que já são realidade para alguns dentro do “metaverso” vêm entrando na realidade física de mais pessoas, gerando uma provocação para que diversas empresas considerem os vários motivos pelos quais você deve pensar em adicionar um elemento relacionado ao “metaverso” à sua estratégia de vendas no digital. 

NFTs, realidade aumentada, blockchain e a tecnologia de jogos, especialmente as que já seguem o modelo D2A, estão mudando o cenário de como usamos a tecnologia e o comércio imersivo no “metaverso”, oferecendo uma experiência de compra envolvente, única e exclusiva para cada cliente. 

As empresas e os consumidores devem se mover nessa direção, pois isso oferece e oferecerá um nível nunca visto de engajamento. Assim como a nossa experiência de compra digital evoluiu de imagens estáticas para conteúdo de vídeo em sites de comércio eletrônico, essas experiências também evoluirão para interações imersivas junto aos clientes.

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