IKEA investe na venda de móveis de segunda mão, um mercado em ascensão
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IKEA investe na venda de móveis de segunda mão, um mercado em ascensão

IKEA investe na venda de móveis de segunda mão, um mercado em ascensão

Por:
G4 Educação
Publicado em:
19/4/2022

O mercado second hand ou mercado de segunda mão, está se tornando cada vez mais forte entre grandes empresas que acompanham as mudanças do consumidor, expandindo o negócio e seguindo em direção a um consumo mais consciente.

Contudo, para compreender esse movimento, é preciso entender que a industrialização foi fundamental nesse processo, afinal, antes dela, produzir em larga escala e até distribuir de maneira ágil, era inviável. Com o crescimento e a consolidação da indústria o processo foi otimizado.

Com mais tecnologia não foi possível somente aumentar o volume da produção, mas entregar valor com cada vez mais comodidade. Com a produção mais eficiente e abrangente, o surgimento de mais oferta, mais demanda e redução de preços, foi natural, impactando diretamente o consumo, aumentando-o consideravelmente.

Contudo, ao que parece, a conveniência de tantos produtos a disposição vem sendo repensada em muitos setores, como o de moda e o de móveis, isso porque com cada vez mais produtos disponíveis, o descarte tende a acompanhar esse crescimento.

O setor mobiliário americano, por exemplo, é responsável pelo descarte de cerca de 12 milhões de toneladas de móveis todos os anos. 

E se, ao invés de todo esse descarte fosse possível fazer com que esses móveis circulassem na economia? Essa é a principal ideia por trás do mercado de revenda.

A ideia não é nova, nos anos 90, já era possível adquirir itens usados em sites como o eBay, fora brechós e feiras de antiguidade. Essa fatia de mercado está se expandindo, e muitas empresas estão construindo grandes negócios em volta de objetos de segunda mão, e a tendência é que continue a crescer. 

O estudo “Global OFF THE SHELF Second Hand Furniture Market Report 2022, estima que o setor de revenda de móveis atingirá US$16,6 milhões em vendas até 2025, um aumento de 70% em relação a 2018. 

O mercado global também é animador, saindo de 36 bilhões de dólares para 77 bilhões em 2025, segundo report do ThredUp.

O contexto mostra-se como uma oportunidade de investimento, e muitas empresas estão começando a desenvolver iniciativas voltadas à revenda. Uma das mais recentes foi a IKEA, que implementará um programa permanente voltado a esse mercado e que promete abrir um leque de iniciativas para outras grandes empresas.

IKEA enxerga um plano sustentável na venda de móveis de segunda mão

De acordo com a Forbes, o programa desenvolvido pela gigante dos móveis foi anunciado recentemente, o chamado “Buy Back & Resell”, e funcionará em 37 lojas nos EUA.

Aplicado a móveis IKEA totalmente montados e funcionais, os consumidores interessados devem preencher um formulário para receber a cotação do seu valor de recompra por e-mail. 

Após isso, é preciso se direcionar a uma loja participante com o móvel totalmente montado onde o mesmo será avaliado pessoalmente, tal como o valor de recompra. Se o móvel for comprado, o cliente recebe crédito na loja.

O programa está alinhado com o objetivo da IKEA de tornar seu modelo de negócio circular e “climate positive”, até 2030. Especialistas apontam a iniciativa como promissora, tanto do ponto de vista sustentável quanto de negócios. 

Isso porque ao revender esses móveis cria-se um mercado secundário, abarcando pessoas que financeiramente não poderiam arcar com um móvel novo e que provavelmente, optariam por um outro marketplace com móveis de segunda mão.

Outro ponto positivo é a construção de um relacionamento pós-compra com o cliente, afinal como apontamos no início deste artigo, o descarte é feito com mais frequência do que o ideal e o mercado tende a ser naturalmente volátil. Essa iniciativa pode ajudar a manter o cliente no ecossistema de vendas.  

Além de compactuar com os objetivos de negócios referentes à sustentabilidade, a empresa que possui 466 lojas espalhadas pelo mundo, atende uma demanda cada vez mais latente dos consumidores: processos mais sustentáveis.

“Isso resolve várias necessidades do consumidor, incluindo tornar os móveis mais acessíveis tanto para o comprador quanto para o vendedor e ajudar os indivíduos a atingir suas próprias metas de sustentabilidade.”

Katie Thomas - líder do Kearney Consumer Institute

A movimentação de empresas ingressando no mercado de revenda está acompanhando a mentalidade dos consumidores, impulsionada principalmente pela Geração Z, que vem  influenciando práticas que viabilizam um consumo mais consciente. 

Em dois anos, a preferência por compras em loja de segunda mão aumentou em todas as gerações. Os Baby Boomers aumentaram em 56%, a Geração X 35%, Millennials 33% e a própria Geração Z, 44%.

Uma pesquisa realizada pelo World Economic Forum descobriu que 86% quer ver mais produtos sustentáveis no mercado pós-pandemia, enquanto outro estudo apontou que 57% está disposto a mudar o comportamento de compra a fim de ser mais responsável.

Ao redor do mundo, a procura tentando entender o que é economia circular e como é implementada, reforça a tendência global. 

IKEA investe na venda de móveis de segunda mão
(Na imagem: resultado de buscas por “economia circular” nos últimos 5 anos)
(Créditos: WGSN)

Quando falamos do mercado de móveis, fazer e enviar um único mobiliário emite cerca de 90 quilos de carbono. Apesar de “sustentabilidade” ter se tornado mainstream, torná-la uma preocupação real dentro das empresas não só desse setor como de outros, será essencial para se relacionar com os consumidores. 

De acordo com uma pesquisa realizada pelo Sustainable Furnishings Council, citada em um report da WGSN, 86% dos respondentes disse que materiais e processos que não danificam o meio ambiente é o quarto atributo mais crucial ao comprar um móvel.

Enquanto isso, o eBay constatou um aumento de 171% em pesquisas por “eco forniture” e “sustainable forniture”.

Apesar de ser um mercado em ascensão, já é possível vislumbrar um caminho menos incerto e de acordo com as necessidades atuais. Produtos mais duráveis, com menos impactos e contemplando modelos de revenda, parece “pavimentar” o futuro.

"Governos, negócios e indivíduos estão usando a agitação da pandemia como uma chance de “reset”, e isso se tornou intrinsecamente relacionado com construir novamente mais sustentabilidade [...]. Para as marcas, isso representa oportunidades imensas, mas também grandes riscos para aquelas que não se mobilizarem com o momento.”

Carla Buzasi - presidente e CEO da WGSN

Mercado de segunda mão está em ascensão

Uma coisa é certa: o comportamento do consumidor é um fator determinante para a sobrevivência de um negócio. Atuando de acordo com as novas percepções e desejos do mesmo, o programa da IKEA não é um caso isolado.

Muitas empresas estão aderindo a esse movimento de revenda em diversos setores, principalmente o de moda, construindo alternativas mais verdes, e com inovação. Essas iniciativas trazem benefícios para os clientes, além de aumentar a vantagem competitiva da marca.

#1 - Iguatemi e Etiqueta Única

Como dito anteriormente, um dos setores mais populares de revenda é o de moda, principalmente de luxo. De acordo com um report da The RealReal houve um aumento de quase 400% entre 2020 e 2021 na revenda desses itens.

A Etiqueta Única é uma plataforma online de economia circular especializada em produtos desse segmento, e recentemente foi comprada pelo Iguatemi por R$ 27 milhões. 

A parceria entre os dois já estava acontecendo em 2020, com as peças vendidas pela Etiqueta Única tendo seus valores convertidos em créditos para o marketplace do Iguatemi, o Iguatemi 365, também de itens de luxo.

A plataforma online trabalha com cerca de 600 marcas, entre elas, Gucci, Chanel, Louis Vuitton, entre outras.

IKEA investe na venda de móveis de segunda mão
(Na imagem: acervo da plataforma Etiqueta Única)
(Créditos: Etiqueta Única)

Com a fusão das empresas, a ideia é que a relação entre ambas plataformas se estreite ainda mais. A compra equivale a 23,08% da Etiqueta Única, e através do acordo firmado, o Iguatemi poderá assumir a startup por um período de três anos.

#2 - TROC e Arezzo&Co

Outra grande marca que está aderindo ao mercado de segunda mão é a Arezzo&Co, que fechou o ano de 2021 com 2,92 bilhões em receita. A loja comprou o brechó online TROC, que somente em 10 meses depois de fundado, em 2016, vendeu 1 milhão. O brechó é um dos maiores do Brasil e foca em roupas premium e de luxo.

A aquisição, feita em 2020, reforça a tendência das lojas de itens usados. Fora o impacto sustentável, que torna a compra bem relevante, existem algumas estratégias utilizadas por essas empresas que tendem a tornar a compra ainda mais atrativa. 

No site da TROC, por exemplo, encontramos as chamadas "lojinhas de influencers”, em que personalidades como Viih Rocha e Jade Seba, revendem seus itens usados de maneira exclusiva.

ikea investe em moveis de segunda mao
(Na imagem: Aline Penna, diretora de relações com investidores da Arezzo, Luanna Toniolo, CEO e co-fundadora da TROC, e Alexandre Birman, CEO da Arezzo&Co)
(Créditos: Divulgação)

“A companhia entendeu que o mercado de segunda mão é uma realidade no país, unindo moda, oportunidade e sustentabilidade.”

Luana Toniolo - CEO e co-fundadora da TROC

Saiba mais: Media for equity - startups ganham grande exposição sem grandes investimentos

#3 - Enjoei.com

Pioneiro no Brasil, o Enjoei foi fundado há 12 anos e tornou-se a maior plataforma de segunda mão do país, podendo ser considerada ainda, a primeira startup a abrir capital na bolsa brasileira, reforçando a potência desse mercado. 

Segundo uma matéria da Exame, as roupas representam 80% da receita, o que equivale a 106 milhões obtidos em 2021, um aumento de 32% se comparado a 2020.

IKEA investe na venda de móveis de segunda mão
(Na imagem: os fundadores do Enjoei, Ana McLaren e Tiê Lima)
(Créditos: Leandro Fonseca/Exame)

Diferente dos exemplos anteriores, o Enjoei é uma rede de várias “lojas” de revenda. Simplificando, a plataforma permite que os usuários comercializem diversos produtos e atualmente, 1 milhão de pessoas vendem itens usados em seus perfis, de móveis a roupas. Convergindo com uma mudança cultural e de consumo, 300 mil usuários abriram uma conta somente em 2020. 

#4 - Apartment Therapy Bazaar

Ao notar a forte tendência desses brechós focados em vestuário, como também o interesse do público pela sustentabilidade, Maxwell Tyler fundou a plataforma americana Apartment Therapy Bazaar, focada na revenda de móveis vintage.

Contudo, o fundador deixa claro que comercializar móveis é um pouco mais complicado logisticamente do que roupas, e quem deseja empreender nesse segmento deve estar atento, isso porque transportar móveis tende a ser mais caro.

Um dos aspectos que viabilizam o sucesso da venda de roupas online e de plataformas como o Enjoei, por exemplo, é a facilidade de envio como também, a utilização do ambiente digital como um diferencial estratégico.

Diante disso, quando pensamos em móveis de segunda mão para revenda, é possível observar não só o que o Apartment Therapy aprendeu e vem fazendo, mas também como outras startups de revenda de móveis estão atuando: se atentando aos detalhes, investindo em boas fotos e facilitando a compra, com um site otimizado, por exemplo.

Sustentabilidade está cada vez mais em voga e tornando-se sinônimo de inovação

Muitos negócios estão rumando para uma atuação mais sustentável e que atenda às novas demandas do consumidor, e isso não está conectado apenas com a criação de novos negócios, mas com aqueles que conseguem inovar com o que já está disponível, premissa fundamental do mercado de segunda mão.

Assim como ocorre com o descarte de móveis, no caso de roupas, não é muito diferente, o número estimado de roupas “paradas” no armário é de aproximadamente 9 bilhões de peças. Isso reforça o que apontamos no começo deste artigo: a aceleração da produção e do consumo tem gerado um gargalo ambiental relevante.

IKEA investe na venda de móveis de segunda mão
(Na imagem: Luisa Santiago, líder da Fundação Ellen MacArthur, principal promotora global da chamada Nova Economia do Plástico e da economia circular)
(Créditos: Francisco Aldunate)

“A produção de roupas mais do que dobrou entre 2008 e 2015, mas elas são usadas, em média, menos de 10 vezes antes de serem jogadas fora.”

Luisa Santiago - líder da Fundação Ellen MacArthur, focada em economia circular

É preciso estar atento e pensar estrategicamente: como sua  empresa pode atuar e ser relevante? As pessoas confiam nas empresas. Os consumidores esperam que a redução de sua pegada ambiental seja facilitada pelas organizações, isso pavimenta um caminho de oportunidades que podem ser exploradas e convertidas em ideias de negócios. 

Apesar da dinâmica da revenda de móveis ser um pouco mais desafiadora do que a de roupas, um dos maiores mercados nesse segmento, é possível observá-lo. Ou seja, ao realizar um benchmarking, coletar e aplicar algumas boas práticas, é possível tornar o processo de compra de móveis usados mais instigante e fácil para o cliente e isso se aplica a diversos outros setores.

“Móveis usados costumavam ser um negócio caseiro, agora tem pessoas brilhantes fazendo curadoria de produtos.”

Timothy Stump - presidente da Stump & Company, uma empresa de análise e investimento focada em móveis

Um dos maiores insights para quem quer revender é a atenção aos “detalhes”, isso é, invista em customer experience, promovendo a melhor experiência possível para o cliente. Com determinado apelo visual, comunicação correta, e uma entrega de valor clara, é possível se conectar com essa fatia crescente do mercado. 

A mentalidade mudou, assim como a ideia de brechó e itens usados. Usar a tecnologia a favor do seu negócio de revenda pode ser determinante para aumentar o sucesso, como a utilização de um site aprimorado e fotos de qualidade.

Além de atender esse público crescente preocupado com sustentabilidade, atende-se uma outra fatia igualmente relevante e muitas vezes deixada de lado, isso é, aqueles que investem menos ao realizar uma compra.

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