Estamos (im)produtivos ou exaustos?
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Estamos (im)produtivos ou exaustos?

Estamos (im)produtivos ou exaustos?

Por:
Rodrigo Casagrande
Publicado em:
5/12/2021

Esses dias, num encontro com um grupo de trabalho, refletimos sobre a seguinte pergunta: “Qual foi a última vez que você fez algo pela primeira vez?”

Depois de longos segundos de profundo silêncio, nenhum ruído entre as telas, alguém se rompeu em uma constatação: “Nossa, não faço ideia. Acho que foi há muitos anos”. E, depois daquela frase e quase com total consentimento, nos olhamos e nos dizemos: “não temos tempo” ou “estou exausto(a)”.

Essa sensação de "não fazer algo produtivo", no sentido de  algo que "vale a pena" e que nos parece ser impedido por falta de tempo e/ ou cansaço, é fruto de uma (auto) percepção de não sermos suficientes ou de não conseguirmos alcançar nosso objetivos – sejam eles quais forem e por quem forem estabelecidos: si mesmo, sociedade, trabalho, estudos, etc. 

Quem não ouviu um amigo ou um colega dizer: “nossa, não rendi nada hoje…” O fato é que essa frase carrega consigo uma série de questionamentos e a tal “improdutividade” pode decorrer de uma sociedade exausta, que busca incansavelmente a realização, seja ela profissional ou pessoal; mas que, de maneira ambígua e inversa, emperra nas realizações - sobretudo pessoais.

Cansaço homem de corda

A questão é: qual o motivo dessas sensações serem tão frequentes e por vezes intensas?

O cérebro humano já está cognitivamente “programado” a associar a ideia do “estar em casa” a momentos de descanso e lazer. Para algumas pessoas, a rotina de trabalhar em home office já era uma prática comum, porém, para a maioria da população, a rotina foi alterada para seguir as normas do distanciamento social e isso diz respeito tanto ao trabalho, como aos estudos, cuidados com os filhos, lazer e tarefas domésticas.

Ao que tudo indica essas adaptações já vêm sofrendo algumas mudanças com retornos à (aparente) normalidade e à volta da presença dos colaboradores nos espaços de trabalho.

De acordo com Karoline Peixoto, Psicóloga Clínica e Especialista em Terapia Familiar e de Casal, o sentimento de improdutividade tem maior recorrência e se intensifica em pessoas que sofrem de quadros de ansiedade, que correspondem a cerca de 18,6 milhões de brasileiros; e depressão, que no Brasil atinge 5,8% da população, segundo dados da OMS.

Para combater a “improdutividade”, podemos trazer algumas dicas que são essenciais e podem ajudar no nosso dia-a-dia. Veja abaixo:

  1. Primeiro de tudo, reconheça os seus sentimentos e respeite os seus limites. Não é sempre que é possível dar conta de tudo. E está tudo bem. Por trás de um corpo físico, existe um ser humano e é importante compreender que não há nenhum problema, um dia ou outro, não conseguir realizar tudo o que foi programado. Respeite seus limites e, quando estiver melhor, continue.
  2. Crie uma rotina, estabeleça horários para cada atividade que pretende fazer durante o dia, é importante que a mente e o corpo se adaptem com uma rotina para facilitar a qualidade de vida. Neste ponto reforçamos a importância das atividades físicas, seja ela qual for, corpo em movimento é de extrema importância.
  3. Estabeleça ambientes. Como dito anteriormente, o cérebro associa estar em casa com momentos de descanso e lazer. Logo, é importante estabelecer onde será seu local de estudo ou trabalho e onde será o local de descanso. Dessa forma, a mente associa os ambientes com as atividades e há um foco maior para realizar o que precisa.
  4. Nunca se compare ao “outro”. Cada pessoa é única e tem uma forma especial de ser e se relacionar. O uso de redes sociais, como, por exemplo, os stories do Instagram, nos quais todos postam o que estão fazendo a qualquer momento do dia, pode dar a sensação de que o outro pode estar sendo mais produtivo do que você e isso, muitas vezes, não é verdade.
Exaustão

Redes sociais se limitam a pequenas coisas e somente ao que o outro quer mostrar, e fazer comparações é dar mais importância ao outro do que a si próprio. Ser produtivo não necessariamente é estar envolvido o tempo todo em atividades, por exemplo, mas também ao autocuidado, bem-estar e momentos de relaxamento e tranquilidade.

Estar comprometido consigo mesmo e inclusive reaprender a aproveitar o tal “ócio criativo” podem contribuir durante pequenas pausas, possibilitando retornarmos as atividades ainda mais concentrados e dedicados.

Deixar de vilanizar a pausa, o descanso, o silêncio, os cinco minutos do café, o "fazer nada" e se permitir ouvir uma música que relaxa e o desconectar-se de telas são caminhos possíveis de equalizar nosso cérebro que, sim, é sedento por novidades e estímulos, mas também por respiros. Afinal, a produtividade passa por saber descansar, para que nossas sinapses, saudáveis, possam conectar o aleatório e dele vir a criatividade, a graça, a leveza e a diversão.

A “improdutividade” não é o contrário da produtividade. Ela é o resultado de repetidas ações estafadas, da ausência dos acasos.

Tirarmos a "mão do controle" e nos permitirmos focar no tempo que nos gera qualidade de vida, com foco e entusiasmo, e não no tempo que nos exaure a vida é fundamental para a produtividade, seja lá o que isso signifique para você.

São inúmeros os textos motivacionais que encontramos sobre como o tempo passa rápido. A grande sacada é perceber que desacelerar o tempo é questão de ponto de vista.

O que você pode fazer para aproveitar mais e melhor a sua dose diária de 24h? Já dizia o grande escritor e palestrante Mário Sérgio Cortella: a agenda nossa de cada dia é um tanto complicada, mas entenda que tempo é uma questão de prioridade. Você não vai mudar o calendário. Você tem que mudar suas prioridades.

Quando você diz que não tem tempo para algo, na verdade, está dizendo que esse algo não é prioridade para você. O dia terá 24 horas, quer queira, quer não. Você tem o poder de escolher o que fazer com cada uma delas.

Estamos escolhendo, e devemos escolher, sempre conscientes de que cada escolha implica uma renúncia, uma renúncia de opção, de oportunidades, de resultado, ou simplesmente de tempo. Mas escolher implica, sobretudo, focar em um ponto e desenvolvê-lo ao máximo e até o fim. Isso vale tanto para a carreira quanto para o lado pessoal.

Temos o vício de achar que não fazer nada é perder tempo, o tal “mito do ocupado”, a falsa impressão de que quanto mais estamos ocupados, mais coisas estamos fazendo. E esse mito não é de todo errado, você pode estar direcionando seus esforços para fazer muitas atividades paralelas e finalizando uma ou duas medianamente.

Se preocupar com a acabativa de um trabalho é tão importante, senão o ponto mais crucial, das responsabilidades de um profissional dentro da empresa onde ele atua.

Na tentativa de atender a tudo e todos, entramos em uma rotina exaustiva, sem fim! Com tanta tecnologia entremeada em nossas vidas, conseguimos estar em vários lugares ao mesmo tempo, mas por outro lado, as vezes não estamos presente onde de fato estamos fisicamente.

Gerenciar incêndios ou simplesmente apagá-los?

Mentalmente exausto

Sair da loucura do presente para aprender com os erros e acertos do passado e pensar em como transformar o futuro é fundamental. Estamos em constante mudança e em busca de nos tornarmos cidadãos ainda melhores. Já parou pra pensar que estamos sempre imersos nas pendências e mal molhamos os pés com as tendências?

O Bruno Nardon, um dos fundadores do G4, já falou algumas vezes em suas aulas que quando estamos imersos em algo, de maneira tão intensa, não conseguimos olhar ao redor e enxergar coisas tão importantes e necessárias para tomadas de decisão e em prol dos nossos negócios.

Se não conseguimos parar, raciocinar, planejar e executar com clareza, certamente teremos problemas em algum momento dessa jornada.

Nos preocupamos muito com o que temos para fazer e quase nada em como podemos fazer diferente para ganharmos saltos em qualidade e quantidade de tempo.

Apagamos incêndio dia sim e outro também e nós, sobretudo gestores, sabemos a importância disso. Somos bombeiros de uma vida louca e acelerada e mal nos preparamos para o dia seguinte, quem dirá para o mês, semestre ou ano que estão logo ali.

A gestão da excelência passa por equilibrar as pendências com as tendências. A partir dessas possibilidades, conseguimos nos organizar e de fato performar como grandes profissionais, “puxando” conosco os demais integrantes do nosso time.

Verdade seja dita, as pendências têm que ser resolvidas. Mas investir um pouco do tempo presente para pensar em como otimizar seu tempo no futuro não é mais uma escolha, é sobrevivência no cenário em que atuamos, onde saber ser produtivo é a chave para a autorrealização.

Se nossa mente está exausta, certamente não iremos conseguir produzir, e aquela sensação de estagnação começa a surgir, trazendo consigo um pacote de problemas, como ansiedade, nervosismo e irritação e, principalmente, um sentimento de incapacidade ou incompetência.

Por fim, um ponto importante é entender todo este contexto com base em modelos mentais. Como encarar momentos desafiadores onde temos que ser produtivos e evitar ao máximo atingir níveis de exaustão. Com isso, é importante sabermos o que somos bons e conseguimos seguir com maior fluidez e o que não sabemos e exigirá um esforço maior para cumprir determinada tarefa.

Foco e objetivo nas nossas funções e responsabilidades permitirão uma convergência de energia no que realmente importa, evitando que a gente se desgaste com algo que para aquele momento, por exemplo, não faça tanto sentido.

Antes de (re)começar, pause. Toda ação requer reflexão.

* Artigo criado por Rodrigo Casagrande, Community Manager do G4 Club; e por Felipe Barreto Veiga, sócio da BVA – Barreto Veiga Advogados.

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