Tudo que você precisa saber sobre o efeito de rede
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Tudo que você precisa saber sobre o efeito de rede

Por:
G4 Educação
Publicado em:
13/11/2021

Os efeitos de rede estão remodelando o mundo, sendo, talvez, a principal e mais poderosa força conhecida para criar valor, de forma persistente, para bilhões de pessoas. Ironicamente, esse valor, seja de um produto, serviço ou plataforma, depende do número de usuários, consequentemente aumentando a medida que mais pessoas passem a utilizá-lo.

Em outras palavras, quanto mais usuários utilizem o serviço/produto/plataforma de uma empresa, maior será o valor desse serviço/produto/plataforma e maior será o efeito de rede dessa empresa.

A internet, apesar de hoje ser um facilitador para que muitas empresas consigam efeitos de rede, é também considerada como um exemplo de efeitos de rede. No inicio, poucos usuários acessavam a internet, pois não existia muito valor para pessoas que não fizessem parte do serviço militar e que não atuassem como pesquisadores científicos.

No entanto, a medida que mais usuários passaram a acessar o serviço e produzir conteúdo de valor, além dos desenvolvimentos e melhores em seus serviços oferecidos como, por exemplo, websites, a Internet experimentou aumentos constantes no tráfego, ou seja, passou a oferecer mais valor para mais pessoas, levando-a ter um efeito de rede.

Assim como mencionado, a internet passou a ser um grande facilitador e, atualmente, segundo dados divulgados pela Statista e NFX, cerca de 5 bilhões de pessoas estão conectadas a grande rede, representando 90% da atividade econômica do mundo. Existem novos efeitos de rede a serem construídos e esses se acumulam e reforçam uns aos outros em taxas cada vez menores.

Além disso, é visível a nossa mudança de uma economia de escala para uma economia de rede se observamos as mudança das 12 principais empresas do mundo. Em 2004, somente uma empresa possuía efeitos de rede em seu modelo de negócios. Hoje, 8 das 12 possuem efeitos de rede dentro do seu core.

(Na imagem: tabela comparativa entre as principais empresas do mundo em 2014 e em 2020 e quantas delas possuem efeitos de rede)

Essas empresas, as grandes “vencedoras” do efeito de rede, possuem um poder nunca antes visto, poder que vem de nós, os usuários/clientes, usando seus produtos e/ou serviços. Quanto mais nós os utilizemos, mais valiosos eles se tornam para todos nós e maior seria a dor caso tivéssemos que deixar de utilizá-los. 

É importante que entendamos o poder proveniente da economia de efeitos de rede e aceitemos que esses efeitos estarão cada vez mais presentes dentro dos modelos de negócio. Por conta disso, explicaremos o por que efeitos de rede são importantes, como eles funcionam, suas propriedades e como mantê-los.

Efeitos de rede: o que são e por que são relevantes?

Efeitos de rede são mecanismos em um produto ou negócio onde cada novo usuário torna o produto/serviço/experiência mais valioso para todos os outros usuários.

Efeitos de rede são importantes porque eles são as melhores formas de defensabilidade –ou seja, capazes de serem defendidos, protegidos ou justificados– e, portanto, melhores maneiras para a criação de valor dentro do mundo digital. 

Assim como antes mencionado, efeitos de rede são responsáveis pelo maior valor criado na indústria tecnológica nas últimas décadas e, ironicamente, muitas das empresas vencedoras deste setor foram justamente impulsionadas por efeitos de rede. 

Além disso, as empresas com efeitos de rede, sobretudo as de tecnologia, possuem uma capacidade de escalabilidade diferenciada.

Uma vez estipulado e validado o modelo de negócios, montada a operação e observado um crescimento no número de usuários, a preocupação da empresa passa a ser em lubrificar e facilitar a aceleração do crescimento do ecossistema, pois já possui um modelo que tende a crescer por si só.

Para exemplificar de forma rápida, temos o WhatsApp e o WeChat, ambos aplicativos de utilidade pessoal, criados para conectar as pessoas através de mensagens de texto e com modelos de negócio focados em efeitos de rede.

As duas plataformas foram crescendo exponencialmente à medida que seus serviços se tornavam cada vez mais requisitados entre as pessoas, se tornando mais indispensáveis (must-have products) e vendo seu valor escalar. Atualmente, o WhatsApp possui mais de 2 bilhões de usuários ativos e o super-app chinês WeChat conta com mais de 1,2 bilhões.  

No entanto, nem todos efeitos de rede são iguais e entender suas nuances é essencial para construir efeitos de rede dentro do seu próprio produto. Para isso, é importante saber quais são os 13 tipos de efeitos de rede mais utilizados:

  • Físico (telefone fixo)
  • Protocolo (ethernet)
  • Utilidade pessoal (WhatsApp)
  • Pessoal (Facebook)
  • Rede de marketing (AngelList)
  • Marketplace (bilateral) (eBay, Amazon)
  • Plataforma (bilateral) (Windows, iOS, Android)
  • Marketplace asintomático (Uber)
  • Data (Waze)
  • Desempenho tecnológico (Skype)
  • Bandwagon (Apple, Slack)
  • Linguagem (Google)
  • Crença (moedas, religiões)
(Na imagem: mapa ilustrativo dos principais efeitos de rede)
(Crédito: NFX)

Efeitos de rede: como as redes funcionam?

"Nós" e "links"

Em um nível bem básico, redes são compostas de "nós" e "links" –os nós são os participantes da rede: consumidores, aparelhos, clientes, compradores, vendedores, corretores etc. 

  • Diferentes tipos de "nós" podem ter diferentes funções dentro da mesma rede; 
  • "Nós" dentro da mesma rede podem se diferenciar em relação ao nível de impacto, influência, poder e valor que cada um tem; 
  • "Nós" centrais são "nós" dentro da rede que possuem um maior número de "links" e são, normalmente, mais valiosos; 
  • "Nós" marginais tem relativamente menos "links" e, neste caso, praticamente menos valor, ainda que existam algumas exceções.

O tamanho da rede pode ser mensurada pelo número total de "nós" que ela possui, porém o tamanho dessa rede não determina seu valor. 

"Links" são as conexões entre "nós" ou grupos de "nós" em uma rede, porém nem todos os "links" são iguais e podem variar dependendo da direção de cada. Além disso, "links" variam em termos de força, (função de durabilidade) proximidade e atividade entre dois "nós". Tomemos, por exemplo, o Facebook Messenger:

  • O "link" do Messenger entre você e seu melhor amigo é muito mais forte do que o "link" do Messenger entre você e alguém que você não fala desde o ensino fundamental;
  • No entanto, os dois contam como "links" dentro da rede do Facebook Messenger.

Densidade de Rede

A densidade de rede é determinada pela proporção de "links" para "nós" e, quanto maior a proporção, mais densa é a rede. Além disso, normalmente, quanto maior for a densidade da rede, mais potente será o efeito de rede. 

A interconexão de "links" serve para reforçar e fortalecer as conexões entre outros "nós". Se você for amigo de alguém, por exemplo, e, além disso, também conhecer os amigos dessa pessoa, a força do seu vínculo será muito mais forte do que se esse vínculo fosse mais isolado. 

Normalmente, a densidade é distribuída de forma desigual dentro da rede e certas áreas podem ter uma densidade muito maior do que outras. Dentro da construção de produtos é aconselhável prestar atenção em como os "nós" formam conexões entre si para assim poder desenvolver o produto e promover uma maior densidade de rede. 

Procure pela parte mais densa e com maior atividade dentro da rede e foque os recursos e linguagem do produto na ativação de outros usuários para que eles se comportem da mesma forma do que o grupo de maior densidade. Sua atividade atrairá outros "nós" que serão inspirados pela atividade desse grupo com maior densidade que, consequentemente, radiará para outros grupos de uma forma muito mais rápida. 

Direção

Em teoria, "links" entre "nós" podem ser direcionados ou não direcionados e, em muitos casos, dependerá da natureza das conexões entre os "nós" de uma rede. Caso as conexões forem direcionadas, isso significa que um "nó" aponta para outro de uma forma não correspondida. 

Em uma rede pessoal como, por exemplo, o Twitter, diversas celebridades, influenciadores e políticos possuem uma base enorme de seguidores, porém a grande maioria desses seguidores não são “seguidos” por essas celebridades. O fluxo de informação é praticamente unilateral. 

Por outro lado, em redes de utilidade pessoal como WhatsApp e Messenger, por exemplo, as conexões são necessariamente recíprocas e, consequentemente, o fluxo de informação e interação será bilateral. Neste caso, o WhatsApp e o Messenger são exemplos de redes com conexões não direcionadas. 

A direção de um "link" entre os individuos dentro uma rede é determinada por qual direção flui a interação entre os  indivíduos dentro dessa rede. A interação pode incluir transferência de dinheiro, informação, comunicação ou qualquer coisa que possa "passar" entre esses "nós" enquanto eles interagem.

"Um-pra-um" vs "um-pra-muitos"

Relacionamentos entre "nós" dentro de uma rede podem ser "um-pra-um" ou "um-pra-muitos". O aspecto chave de conexões "um-pra-muitos" é que elas são "links" diretos onde o fluxo da interação é unidirecional. Em contrapartida, relacionamentos "um-pra-um" são normalmente recíprocos e, neste caso, não direcionados, tendo a interação fluindo nas duas direções. 

Em plataformas como Twitter, YouTube e Instagram, por exemplo, existem usuários centrais com muitos seguidores/inscritos e existem usuários marginais sem muitos seguidores/inscritos. Neste caso, os marginais são primordialmente observadores e os centrais são os criadores de conteúdo. 

Usuários centrais também podem existir em redes de conexão personalizadas como Facebook, onde alguns usuários possuem muitas “amizades” e outros não. No entanto, a disparidade, neste contexto, não é tão vasta como em redes "um-pra-muitos". 

Usuários centrais com relacionamentos mais abrangentes podem transmitir para usuários marginais, mas, por outro lado, a interação que reflui é normalmente pequena e, às vezes, não existente.

Clustering

Dentro de redes concretas é improvável que os indivíduos sejam dispersos uniformemente. A tendência é que eles se agrupem ou formem agrupamentos que são mais unidos do que a rede em geral. Quando somente um "link" une dois agrupamentos, esse "link" é chamado de ponte. 

Agrupamentos podem ser observados em redes virtuais de utilidade pessoal como, por exemplo, Slack, onde pessoas formam subgrupos que são mais ativos do que a rede mais vasta. Um fenômeno similar de agrupamento também pode ser visto publicamente entre membros populares dentro do Twitter ou no YouTube. 

Uma rede com um alto coeficiente de agrupamento aumentará exponencialmente em valor enquanto cresce. Por outra lado, uma rede com baixo agrupamento aumentará seu valor em uma velocidade muito menor. Ainda que nem todas as redes sejam igualmente sucetíveis a formar agrupamentos, existem táticas para aumentar o coeficiente da sua rede.

Massa crítica

A massa crítica de uma rede se refere ao ponto onde o valor produzido pela rede ultrapassa o valor do produto em si e o de produtos competidores, e isso pode acontecer em momentos diferentes dependendo do tipo da rede. 

Tomemos como exemplo as redes telefônicas que ganharam massa crítica desde muito cedo. Uma vez que um telefone sem muitas conexões é praticamente inútil, uma rede telefônica com somente dois usuários já tem valor suficiente para exceder o valor inerente de um único produto por conta própria. 

Se contrastamos isso com as rede de plataforma Windows ou iOS, por exemplo, o valor do sistema operacional do Windows, mesmo sem programas ou aplicações, é bastante alto por conta própria.

No entanto, foi somente depois que a rede de usuários e desenvolvedores cresceu de forma significativa que o valor de todos os programas de terceiros, somados ao valor de interoperabilidade com outros usuários, excedeu o valor (para usurários) dos programas da Microsoft por si próprios.

A maioria dos produtos com efeitos de rede devem, por fim, alcançar massa crítica para aproveitar ao máximo a defesa providenciada por seus efeitos de rede.

Antes que o tamanho da rede alcance massa crítica, o produto permanece bem vulnerável e pode não ter tanto valor para os usuários. Neste caso, o desafio é, normalmente, construir bastante valor inicial para incentivar que os primeiros usuários comecem a usar o produto mesmo antes de que valor dos efeitos de rede comecem.

"Os efeitos de rede podem ser poderosos, mas você nunca os colherá a menos que o seu produto seja valioso para os primeiros usuários, momento onde a rede é normalmente pequena"

Peter Thiel
Fundador do PayPal, Palantir e um dos primeiros investidores externos do Facebook
(Na imagem: o empresário Peter Thiel, fundador do PayPal e um dos primeiros acionistas do Facebook)
(Crédito: CNBC / Kiyoshi Ota / Bloomberg / Getty Images)

Propiedades de rede

Identidade real vs pseudônimos vs anonimidade

Muitos negócios de efeitos de rede requerem que usuários criem um perfil que seja visível para outros indivíduos dentro da rede. Redes com perfis vinculados a identidade real de um usuário como, por exemplo, o nome real da empresa ou pessoa são normalmente mais efetivos em construir efeitos de rede que redes com perfis pseudônimos (por exemplo, Twitter ou Reddit).

Não é uma coincidência que as maiores e mais bem sucedidos redes sociais como LinkedIn, Facebook e Twitter, também são as primeiras que conseguiram apresentar, em escala, perfis com identidades reais –vale lembrar que o Twitter, também possui perfis pseudônimos. 

A identidade real é também crucial em marketplaces bilaterais e negócios com plataformas de efeitos de rede onde a confiança e a reputação facilitam a liquidez das transações. 

Uma ressalva: existem algumas exceções onde o anonimato é uma característica necessária para a rede. No entanto, essa redes normalmente colapsam por três razões:

  • Quando o anonimato da rede é quebrado e a confiança no sistema termina;
  • Quando o que está sendo transferido entre dois usuários se converte em algo de baixa qualidade;
  • Uma vez que a rede anônima se torna inaceitável para o resto do mundo e autoridades de qualquer tipo (como governos) interferem.

Além disso, vale ressaltar que, por exemplo, no caso do Telegram, ainda que as mensagens entre usuários sejam encriptadas, usuários utilizam a plataforma porque ela permite a conexão entre identidades reais. Privacidade é diferente de anonimato. 

Assimetria

Esse termo é relacionado, sobretudo, em marketplaces, onde um dos lados é mais difícil de adquirir do que o outro. 

Em alguns casos, o lado difícil do marketplace é o lado da demanda (os compradores). Neste cenário, se você consegue atrair pessoas que estão dispostas a pagar (compradores), fornecedores aparecerão mais rápido e sem tanto esforço. Fiverr e UpWork são exemplos de empresas que focam em encontrar demanda e confiam em que a oferta aparecerá de forma orgânica. 

Em outros casos, o lado difícil é o da oferta, e usuários são atraídos organicamente a esse marketplace uma vez que o lado da oferta seja robusto. Por exemplo, Uber e 99 Taxi gastam a maior parte do seu orçamento em aquisição de novos motoristas– o lado da oferta. 

Nem toda oferta ou demanda é feita da mesma forma e, normalmente, existem certos “nós” que serão mais importantes de ter em sua rede. Encontre essas assimetrias, priorize quais tipos de oferta ou demanda são melhores de atrair e, por último, foque em desenvolver táticas para decifrar o target de maior valor primeiro. 

Efeitos de rede assintomáticos

Efeitos de rede assintomáticos são efeitos de rede com rendimentos decrescentes. Em alguns casos, o valor para cada usuário também cresce a medida que o produto cresça, no entanto, o efeito de rede passa a enfraquecer após um certo ponto durante crescimento dessa rede. Crescimento em uma rede assintomática, após um certo tamanho, não beneficia mais os usuários existentes.

Tomemos, por exemplo, o caso do Uber. Sabendo que os efeitos de rede são centrais para o seu negócio, quando a Uber preencheu o formulário S-1 requisitado pela Comissão de Valores Mobiliários do Estados Unidos antes da abertura de capital na bolsa de valores, ela incluiu o seguinte diagrama com seu efeito de rede, descrevendo-o como “efeito de rede de liquidez".

(Na imagem: ilustração do efeito de rede utilizado pelo Uber)
(Crédito: Uber / S-1)

Através desse diagrama, a empresa tentou mostrar exatamente como cada novo usuário da Uber agrega valor a todos os outros, distribuindo essa explicação em 5 etapas onde cada etapa leva a próxima. 

  1. Oferta de motoristas;
  2. Menor tempo de espera e menores tarifas;
  3. Mais passageiros;
  4. Mais passageiros por hora, maior potencial de ganhos para os motoristas;
  5. Mais motoristas.

No entanto, após esperar por uma corrida por mais ou menos 4 minutos, os passageiros não se beneficiam mais de um aumento no número de motoristas. Neste caso, o Uber teria que mais do que dobrar a “frota” de motoristas para reduzir pela metade os tempos de espera.

Muitos efeitos de rede de dados são assintomáticos e, uma vez que a base de dados alcance um certo tamanho, o algoritmo não melhora de forma significativa à medida a base de dados cresça. No entanto, empresas como Waze conseguem evitar isso uma vez que dependem de dados em tempo real que devem ser atualizados de forma contínua por milhares de usuários para ser minimamente útil. 

Efeito de rede same-side e cross-side

Os efeitos de rede same-side são aqueles mais diretos que ocorrem no mesmo lado de uma rede que, por sua vez, contem vários lados. Esses efeitos de rede se referem a uma mudança de valor que ocorre para usuários que se encontram em um mesmo lado uma vez que mais usuários são adicionados juntos a eles neste mesmo lado.  

Para ilustrar isso, tomemos novamente o caso do Uber. Em qualquer momento, um número maior de passageiros significa um nível maior de preços ou um maior tempo de espera por viagem. O mesmo é verdade para os motoristas, quanto mais motoristas estiverem trabalhando para a empresa, maior a competição para outros motoristas. 

No entanto, os efeitos de rede same-side também podem ser positivos, e esse é o caso de usuários Windows, usuários que se beneficiam da adição de novos usuários Windows devido à compatibilidade de arquivos. Dois usuários Windows podem compartilhar arquivos entre si e o número de pessoas com as quais você pode compartilhar arquivos cresce à medida que essas pessoas usem a mesma plataforma.

Efeitos de rede cross-side são efeitos de rede diretos que surgem de bens ou serviços com vários lados. Ao contrário dos efeitos de rede indiretos, os cross-side se referem especificamente ao aumento de valor direto para os usuários de um dos lados de uma rede pela adição de usuários ao outro lado. 

Dentro do próprio Uber, existem grandes efeitos de rede cross-side porque cada motorista adicional agrega valor direto a todos os usuários “do lado” dos passageiros, e vice-versa. 

Efeitos de rede indiretos

Efeitos de rede indiretos ocorrem quando o valor de uma rede aumenta como resultado de um tipo de “nó” beneficiando outro tipo de “nó” diretamente, mas não beneficiando diretamente os outros “nós” do mesmo tipo. “Nós” do mesmo lado se beneficiam indiretamente porque eles criam um maior incentivo para que usuários complementares do outro lado da rede a utilizem, que, por sua vez, beneficia a todos os “nós” do mesmo lado. 

eBay: 

  • A adição de um novo vendedor não beneficia diretamente outros vendedores e, de fato, outro vendedor significa uma maior competição para todos os outros vendedores dentro do eBay;
  • No entanto, uma vez que um inventário expandido de mercadorias torna o marketplace (como um todo) mais atraente para compradores, vendedores adicionais acabam beneficiando, indiretamente, outros vendedores por causa do aumento total em potencias clientes. 

Plataformas de sistema operativo como Microsoft Windows são outro bom exemplo de efeitos de rede indiretos no ambiente de trabalho. Novos desenvolvedores Windows não beneficiam outros desenvolvedores diretamente, mas, com o aumento da biblioteca de programas do Windows, o número de usuários do Windows crescerá.

Esse aumento no número de usuários é benéfico para todos os desenvolvedores uma vez que aumenta a quantidade de potenciais clientes para seus programas.

Construindo e mantendo os efeitos de rede

Single vs Multiplayer

Um produto single player ajuda cada usuário de forma individual e não necessita de outros usuários para ser utilizado, além de que o usuário obtém valor desse produto/serviço de forma isolada como, por exemplo, comprar algo na Amazon. Essa compra funciona imediatamente para uma pessoa, porém essa mesma pessoa não obtêm nenhum valor pelo fato que outros também estão comprando no site.

Usuários pagam por produtos single player baseados no valor que esses lhes oferece de forma direta, valores que tendem a ser lineares. Como empresa, toda a responsabilidade recai sobre você para fazer com o que seu produto seja cada vez mais valioso para os seus clientes.

Em contrapartida, produtos multiplayer deixam que seus usuários sintam a presença e o impacto de outros usuários do produto, porém tem dificuldade em serem úteis sem esses outros usuários. Esses produtos permitem que os usuários agreguem valor ao outros usuários por meio de suas ações, mesmo que seja apenas uma visualização, como, por exemplo, no YouTube.

No caso do YouTube, se ele não tivesse comentários ou contagem de visualizações de vídeo, se converteria em uma experiência single player. No entanto, com a contagem de visualizações e a possibilidade de que os usuários "curtam" e deixem comentários, ele passa a ser uma experiência multiplayer

É possível que produtos tenham valores single player e multiplayer, além do fato de que empresas podem adicionar modos single player ou multiplayer para um produto já existente ou trocar de um modo para o outro. 

A Amazon, por exemplo, adicionou experiências multiplayer ao disponibilizar as avaliações dos produtos feitas pelos próprios usuários, beneficiando futuros compradores de cada produto. 

Multi-locação

A multi-locação ocorre quando há custos baixos ou nenhum custo para participar simultaneamente de redes concorrentes. 

Essa ação é bem comum em redes sociais onde as pessoas costumam compartilhar, por exemplo, fotos em várias plataformas ao mesmo tempo. Além das redes sociais, a multi-locação é frequente em marketplaces, onde muitas pessoas utilizam tanto os serviços do Uber como os da 99 Taxi, eBay e Craigslist, Amazon e Mercado Livre.

A multi-locação pode prejudicar a defesa de uma rede e diminuir os efeitos de rede até certo ponto, mas, no final das contas, a maior rede vencerá, pois terá um perfil mais elevado para potenciais clientes e será mais propensa a reter os clientes existentes, mesmo se esses clientes forem, ocasionalmente, multi-locação.

“Se você for o #1 nos negócios de efeitos de rede, você ganhará em tudo. Os efeitos de rede criam monopólios naturais, além de serem extremamente poderosos. No Vale do Silício, muitos dos negócios vencedores são monopólios naturais. O Uber sempre terá uma economia melhor do que o Lyft. Em relação ao Twitter, onde mais você irá para encontrar conteúdo de microblogging. Até o YouTube, que não tem um efeito de rede tão forte, mas é poderoso o suficiente que realmente não existe site competidor que você acessa regularmente para consumir seus vídeos.”

Naval Ravikant
Empresário e investidor indiano-americano, cofundador e ex-CEO da AngelList
(Na imagem: Naval Navikant, empresário e investidor indiano-americano, cofundador e ex-CEO da AngelList)
(Crédito: Tim Ferris Show / AngelList)

Retenção

A retenção se refere a frequência com a qual os usuários retornam para utilizar o seu produto e isso faz uma grande diferença nos efeitos de rede. Se você tiver uma retenção baixa, será bem difícil capturar qualquer tipo de efeito de rede, mesmo que a sua base de usuários cresça, uma vez que o uso geral do seu produto não aumentará e você perderá sua posição defensiva. 

Logo no inicio, o Facebook tinha uma excelente retenção e pessoas que entrassem na rede continuavam utilizando-a. Redes sem retenção efetiva possuem baixos efeitos de rede e baixos efeitos de rede levam a uma baixa retenção. É importante lembrar de que os efeitos de rede não dependem tanto do tamanho da rede, mas sim do uso geral e, por conta disso, aumentar o tamanho de uma rede não é o suficiente, mas sim focar, também, no aumento do uso.

Efeitos de rede: conceitos relacionados

Efeitos virais 

Efeitos virais são diferentes dos efeitos de rede, porém muitos confundem os dois. 

Os efeitos de rede agregam valor ao produto quando mais pessoas o utilizam, e quanto mais pessoas utilizam um produto com efeitos de rede, maior utilidade cada usuário existente ganhará com isso, tornando mais difícil que esse usuário troque o seu produto por o de um competidor. Efeitos de rede são sobre retenção e defesa.

Efeitos virais se referem a conseguir novos usuários para utilizar o seu produto. Um produto é considerado viral quando usuários existentes trazem mais usuários de forma gratuita como, por exemplo, o Facebook. 

A confusão entre efeitos virais e efeitos de rede origina-se do fato que:

  • Os dois possuem loops de Feedback positivo;
  • Eles foram, juntos, experimentados por empresas famosas como Facebook, Twitter e WhatsApp durante os últimos 15-20 anos. 

No entanto, é mais simples criar efeitos virais em produtos do que construir produtos com efeitos de rede. Produtos com redes integradas permitem, naturalmente, mais linguagem para construir ganchos e loops virais.

Muitos produtos podem ter efeitos virais sem terem efeitos de rede, mas não é porque um produto é viral que isso significa que todo novo usuário tornará o produto mais valioso e defensável. Efeitos virais ajudaram a impulsionar o Facebook a sua posição atual porque o Facebook também tinha uma efeito de rede. 

Dito isso, vale mencionar que o inverso também é verdade, produtos com efeitos de rede não necessariamente possuem efeitos virais. Um marketplace B2B pode facilmente utilizar publicidade paga para atrair compradores e vendedores e construir um efeito de rede de mercado bilateral com zero viralidade.

Reforço

Uma das coisas mais importantes que você deve saber sobre os efeitos de rede é que, uma vez que você tenha algum em andamento, é muito mais fácil de construir todas as outras defesas encima disso, incluindo outros efeitos de rede.

O “efeito de reforço” é, as vezes, subvalorizado por fundadores de empresas, especialmente quando esses estão preocupados com growth.

A procura e o lançamento contínuo de novas defesas é importante porque ele reforça cada uma delas: quanto mais defesas você tiver operando, melhor cada uma dessas trabalha (embora isso é apenas até certo ponto uma vez que tentar fazer muito de uma só vez pode distrair do foco operacional).

No caso do Uber, ao observar os problemas enfrentados pelo tempo que o usuário esperava por corridas e o que isso poderia ocasionar, -essa vulnerabilidade originou uma multi-locação desenfreada onde usuários passaram a utilizar aplicativos competidores como Lyft– a empresa começou a procurar soluções para corrigir esta debilidade, incorporando o “reforço” de algumas defesas adicionais para assim reforçar o seu efeito de rede central.

Efeitos de escala

Escala, assim como os efeitos de rede, é uma importante defesa na era digital, e efeitos de escala são normalmente confundidos com efeitos de rede porque os dois são fortalecidos com o aumento no número de usuários. 

No entanto, eles operam de forma distinta e a melhor maneira de compreender a escala é saber que uma vez que empresas bem geridas crescem, seus custos de produções por unidade ficam mais baratos. A partir do momento que o efeito de escala começa a funcionar, a empresa com uma vantagem de escala se torna a escolha óbvia para os consumidores. 

Em outras palavras, um número maior de usuários significa um maior volume, que significa preços mais acessíveis por parte dos fornecedores, que significa menores preços para os clientes, que significa uma maior taxa de conversão para a publicidade, tornando a publicidade mais efetiva do que a de seus competidores, e assim por diante. 

Com escala, os números começam a girar a seu favor, conceito atualmente conhecido como economias de escala, sendo a Amazon a empresa líder em efeitos de escala dentro do setor de tecnologia.

"Para um fundador, focar em conseguir efeitos de rede é bem importante porque eles são mais baratos, mais acessíveis e mais poderosos do que escala, incorporação (embedding) e marca (brand)"

James Currier
General Partner na NFX
Managing Partner da NFX, James Currier
(Na imagem: James Currier, General Partner na NFX)
(Crédito: TechCrunch / Christopher Michael / Flicker)

Marca

A marca é uma poderosa defesa, mas é fundamentalmente diferente de outros efeitos de rede. Assim como a escala, sua marca é correlacionada com o crescimento e o uso do produto e, neste caso, é fácil confundir marca com efeitos de rede. 

A marca surge quando as pessoas sabem quem você é e o que você faz. Além disso, as pessoas são menos propensas a mudar para uma marca desconhecida ou menos conhecida porque, desde um ponto de vista psicológico, essas pessoas escolherão a marca com a qual estão mais familiarizadas.

Pessoas tendem a evitar riscos e tendem a evitar o desconhecido, e, ao ter reconhecimento de marca, você tem uma vantagem competitiva. O reconhecimento de marca é extremamente crítico na atual economia da atenção uma vez que existem muitas opções disponíveis e, quanto mais reconhecida for sua marca -sempre desde um ponto de vista positivo– mais chance você terá de sair adiante de seus competidores.

Efeitos de rede: conclusão

Assim como vimos na tabela logo no início, hoje em dia (e possivelmente no futuro), muitas das principais empresas do mundo possuem efeitos de rede pois tem seu crescimento atrelado ao número de pessoas que utilizam seus produtos/serviços/plataformas que termina tornando esses produtos/serviços/plataformas mais valiosos para outros usuários.

"Efeitos de rede são um conceito muito poderoso. Quando você estiver escolhendo um modelo de negócios, é uma boa ideia selecionar um modelo onde você possa se beneficiar de efeitos de rede, baixos custos marginais e economias de escala, esses tendem a andar juntos. Qualquer coisa que tenha zero custos marginais de produção possui economia de escola e qualquer coisa que tenha zero custos marginais de reprodução muitas vezes tendem a ter efeitos de rede. Você sempre deve pensar em como seus usuários e clientes podem agregar valor uns aos outros. Essa é máxima forma de alavancagem”

Naval Ravikant
Empresário e investidor indiano-americano, cofundador e ex-CEO da AngelList

Negócios com efeitos de rede são extremamente beneficiais para a sociedade e fundadores/gestores que comandam as principais empresas a nível global –além dos que comandam novas empresas/startups–  devem ter uma perspectiva clara sobre o que seus negócios estão oferecendo tanto para seus funcionário como para seus usuários. 

Além disso, considerando o papel cada vez maior das redes (não só sociais) na sociedade, o caminho que elas decidam possivelmente será o cenário para os novos contratos.

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