Demissão em massa nas startups: o que está acontecendo?
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Demissão em massa nas startups: o que está acontecendo?

Demissão em massa nas startups: o que está acontecendo?

Por:
Bernardo Rossatti
Publicado em:
5/7/2022

Após um ano recorde em captações e crescimento, o mercado das startups aperta os cintos em um novo período de incertezas e demissão em massa.

O mercado das startups no Brasil foi marcado por uma onda de otimismo nos últimos anos, vivenciando rodadas de investimento com captações recorde, alto crescimento e exits através de IPOs, o que acarretou na geração de diversos empregos e movimentação da economia.

Para se ter uma ideia, o ano de 2021 superou até as melhores projeções. O total de investimentos de Venture Capital superou os US$ 9,4 bilhões, representando uma alta de 165% em relação ao ano anterior, de acordo com a consultoria especializada em startups Distrito.

Gráfico demonstrando os investimentos em Venture Capital no Brasil de 2011 a 2021.
No gráfico: valor de investimentos em Venture Capital no Brasil de 2011 a 2021, em milhões de dólares.
Créditos: Statista

No entanto, estamos vivendo uma recente e não pontual diminuição nas captações de investimento, o que acaba gerando uma severa onda de demissões em massa nessas companhias.

Há uma série de exemplos:

  • O recém unicórnio Facily, que no fim do ano passado recebeu um aporte de US$ 250 milhões, demitiu entre 200 e 300 funcionários esse ano;
  • As startups no ramo de imóveis QuintoAndar e Loft desligaram cerca de 160 colaboradores cada;
  • A mexicana Kavak e a varejista Olist também enxugaram suas equipes, desligando aproximadamente 300 e 150 pessoas, respectivamente.

O Brasil também vem replicando este movimento no mercado. Nos EUA, por exemplo, a Netflix demitiu cerca de 300 pessoas de seu quadro de colaboradores.

Gráfico mostrando as demissões em startups desde a pandemia de COVID-19, por trimestre.
No gráfico: novas demissões em startups desde a pandemia de COVID-19, por trimestre.
Créditos: layoffs.fyi

Analisando o atual cenário macroeconômico que o mercado enfrenta, a aceleradora de startups norte-americana Y combinator, que auxiliou no crescimento de empresas como Stripe, Airbnb, Reddit, Coinbase e Twitch enviou uma carta aos fundadores das startups que estão em seu portfólio.

Nesta carta, a Y Combinator alertou-as para que se preparem para o pior, cortando custos e diminuindo o seu burn rate.

Isso ocorre pelo fato de as startups serem, nas palavras de Steve Blank, um dos educadores mais notórios do Vale do Silício: “organizações criadas em busca de um modelo de negócios repetível e escalável”, o que na maioria das vezes necessita uma operação baseada em tecnologia.

E para isso, há startups que são construídas com base em incerteza. Desta maneira, muitas delas acabam sendo “imaturas”, dependendo de captações de investimento para crescer por não serem lucrativas ou não estarem ainda em uma fase chamada de breakeven, onde a receita e o custo total se equivalem.

Isso tudo para crescer rápido e, assim, alcançar e reter o maior número de clientes e dominar o mercado no tempo mais curto possível, em algo chamado de “winner takes it all”, traduzido como “o vencedor toma tudo”, em uma alusão ao que dominar o mercado antes, vence.

Empresas como Uber, Spotify, Wework e Nubank são exemplos conhecidos disso.

Leia também: Startup em ideação: qual deve ser o foco neste momento?

Por que agora o momento é de cautela?

O atual cenário macroeconômico gerado em grande parte pela pandemia é o principal conjunto de fatores que causa essas alterações no mercado.

O forte aumento da inflação em escala global fez com que os governos aumentassem as taxas de juros, assim afastando os investidores de mercados mais arriscados, como startups, para ativos mais seguros como o tesouro, por exemplo.

Essa diminuição na liquidez desse mercado, que também se aplica a outros mercados de risco como o de tecnologia, demonstra que existe um risco até nas empresas líderes de mercado, fazendo com que as startups tenham que redesenhar suas estratégias para lidar com suas contas e fazer bom uso das captações.

No caso dos fundos de Venture Capital, o horizonte de investimentos deve demonstrar mais cautela dos mesmos, adotando uma postura mais diligente. Com isso, a tendência é vermos valuations menores.

Dessa forma, a escassez de recursos e liquidez fizeram com que as empresas tivessem que cortar despesas, o que em alguns casos significa o corte de funcionários.

Segundo Scott Galloway, professor da escola de negócios da universidade de Nova York e escritor reconhecido no Vale do Silício, os períodos de pós-crise estão entre as eras mais produtivas da história.

Scott Galloway, professor da escola de negócios da Universidade de Nova York e escritor reconhecido no Vale do Silício, falando no SXSW 2022.
Na imagem: Scott Galloway, professor da escola de negócios da Universidade de Nova York e escritor reconhecido no Vale do Silício.
Créditos: Divulgação | SXSW 2022

Alguns exemplos que corroboram para isso são Londres, reconstruída após o Grande Incêndio com uma nova arquitetura grandiosa, bem como a Europa como um todo, que após a pior de suas pragas, passou por uma grande revolução comercial.

Isso explica o crescimento exponencial das startups no último ano, onde a economia vivia um “respiro” após a chegada da pandemia. De acordo com o estudioso, estes são períodos onde estímulos governamentais e poupança sem precedentes que ocorreram durante a crise resultam em uma onda de gastos do consumidor.

E este foi o exato contexto que antecede esse pessimismo no mercado.

Segundo um estudo feito pelo Techcrunch, esta correção tende a ser diferente. Por ter sido mais lenta para chegar, acaba por dar às startups mais tempo para se ajustar às mudanças nas condições do mercado.

Além disso, o movimento também foi antecipado pela queda dos mercados públicos, o que possibilitou que empresas pudessem se preparar, resultando em um ritmo mais brando de demissões.

Situação da demissão em massa: quais as perspectivas para o futuro?

Embora tenhamos tido um grande número de demissões em massa de algumas startups que, inclusive, figuram entre os líderes de seus segmentos, este deve ser um movimento finito — mas que, por outro lado, inspira atenção.

Até os últimos meses, investir em startups era algo visto com ótimos olhos, o que continua sendo verdade, desde que se faça uma análise bem cautelosa não apenas de valuations milionários e resultados destoantes, mas de algo realmente perene e estável.

Este movimento, inclusive, traz uma comparação interessante entre startups unicórnios vs. camelos.

O ponto mais interessante na comparação é o crescimento dos camelos, que se dá de maneira sustentável, ao passo que muitos unicórnios buscam crescer a qualquer custo, mas sem pensar tanto na sustentabilidade. É o desenho dos gráficos, inclusive, que traz a comparação entre as corcovas do camelo e o chifre do unicórnio.

Se as demissões foram importantes para reduzir os custos, a partir de então, espera-se que as startups ajam com mais cautela. Porém, isso não indica que seus resultados serão minados, mas sim que o planejamento estratégico em startups deve ser ainda mais rigoroso.

Segundo Gustavo Gierun, managing partner do Distrito, é necessário que os empreendedores de startups organizem suas operações para que não sejam reféns de novas captações.

Para o médio prazo, o desafio das startups será pautado em tentar manter o caixa sem perder a eficiência e entregando resultados aos investidores, considerando adotar estratégias que verifiquem o montante de contratações e demissões de acordo com fatores macroeconômicos e de mercado.

Ao mesmo tempo, elas devem evitar a escassez de capital humano e também buscar um crescimento saudável de receita, o qual traga os devidos recursos financeiros para ajudar a financiar sua tão desejada perenidade.

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