Gestão empresarial: como o esporte pode ajudar o empreendedor?
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Gestão empresarial: como o esporte pode ajudar o empreendedor?

Gestão empresarial: como o esporte pode ajudar o empreendedor?

Por:
Tallis Gomes
Publicado em:
26/11/2021

Há muito mais em comum entre um esportista e um empreendedor de sucesso do que você pode imaginar, e conseguir ser os dois ao mesmo tempo é uma combinação e tanto rumo ao sucesso.

O que te faz ser você? Esta é uma boa pergunta, pois às vezes vivemos os dias de forma tão corrida que nem paramos para pensar nos valores, comportamentos e atitudes que, em conjunto, resultam em cada um de nós.

Eu empreendo desde os meus 14 anos, como já contei em meu livro “Nada Easy”. Porém, com certeza, algo que me ajudou muito a ter uma mentalidade tão obcecada em conquistar bons resultados e uma determinação tão intensa é algo que nem sempre é associado ao cenário de gestor: o esporte.

Na verdade, a relação entre esses dois pontos é muito mais próxima do que se imagina, o que é refletido por vários dos maiores CEOs e empresários do mundo – e, como bons observadores data-driven, essa correlação não denota mera casualidade, pelo contrário.

Leia mais: Os 25 microhábitos de um gestor empresarial de alto desempenho

O esporte tem alguma conexão com o empreendedorismo?

Sem sombra de dúvidas, e exemplos não faltam para comprovar este ponto.

Eu, pratico musculação, Wakeboard e Jiu-Jitsu atualmente. Porém, a paixão pelo esporte não vem de agora, pois fui vice-campeão carioca de Muay Thai em 2009 – dois anos antes de fundar a Easy Taxi.

Porém, usar apenas a mim como exemplo poderia soar oportunista, e é por isso que separei outros grandes nomes que têm no esporte uma fonte de inspiração e comportamento para o sucesso.

Walter Robb era CEO da Whole Foods, Brian Moynihan é o CEO do Bank of America e Mark Zuckerberg é o fundador e CEO do Facebook. Os três são empreendedores de muito sucesso, mas suas semelhanças vão além disso: todos têm alguma ligação com o esporte.

De acordo com a CNBC, Robb era o capitão do time de futebol da Stanford University, enquanto Moynihan jogou rugby na Brown University. Zuckerberg, por sua vez, praticava esgrima.

Leia mais: Liderança, como construir uma equipe de alta performance?

Olhando para o Brasil, como já mencionei em um artigo no site da Exame, temos como exemplo Guilherme Benchimol, fundador e CEO da XP Inc., que joga tênis e já participou de maratonas, enquanto Alexandre Birman, CEO da Arezzo Co., é triatleta de alta performance, já tendo realizado provas como o Ironman.

Para concluir este ponto, vale comentar sobre as semelhanças que Cristina Corrêa, escritora e jornalista que escreveu as biografias de JP Lemann, Abilio Diniz e Vicente Falconi, enxerga nos três: a disciplina. De acordo com ela, todos cuidam da saúde, fazem exercícios e se alimentam bem.

Como disse antes, isso não é obra do acaso. A mentalidade necessária para ser um esportista se reflete muito no dia a dia de um empreendedor, o que ajuda a entender porque tantos CEOs e executivos possuem no esporte uma semelhança importante em suas trajetórias.

Lições valiosas que o esporte ensina aos empreendedores

Os ensinamentos trazidos aos empreendedores pelo esporte são práticos e acionáveis, e todos eles ajudam a entender porque essa é uma característica tão comum entre eles. Fica o destaque para as seguintes lições:

Tirar a palavra “desistência” do vocabulário

A obstinação é uma das maiores qualidades dos maiores atletas do mundo.

Roger Federer, um dos melhores tenistas de todos os tempos, é um ótimo exemplo disso. O suíço praticou diversos esportes, como futebol, natação, esqui, luta livre, handebol, basquete, skate e tênis de mesa até encontrar sua maior vocação: o tênis de mesa.

Ao invés de desistir na segunda ou terceira empreitada esportista, ele continuou até encontrar aquilo em que era excelente. Hoje, ele tem 20 títulos de Grand Slam, nome dado aos eventos de maior destaque no tênis (Roland Garros, US Open, Australian Open e Wimbledon).

Cristiano Ronaldo é outro exemplo de persistência e obstinação. Hoje com 36 anos, sua forma física é até melhor do que quando era um jovem de vinte e poucos anos. Considerado um dos melhores jogadores de futebol de todos os tempos, seu poder de decisão e seus números são impressionantes.

Cristiano Ronaldo
Reprodução | Instagram

A mesma situação também acontece no universo do empreendedorismo. Assim como esses e outros esportistas de sucesso são totalmente focados no sucesso, quem deseja se destacar precisa ter a mesma obstinação.

Se eu tivesse desistido quando me falaram que a Easy Taxi devia fracassar, com a alegação de que se a ideia fosse boa, alguém nos Estados Unidos já teria feito, eu não teria conseguido chegar a 35 países em 4 continentes em apenas 4 anos e nem fazer com que ela fosse avaliada em R$ 1 bilhão.

Correr rumo ao estresse, não para longe dele

Não, eu não fiquei maluco. Embora o estresse seja considerado como um dos maiores males do século XXI – e realmente é –, na relação entre esporte e empreendedorismo, isso funciona de forma um pouco diferente.

Vamos pensar no Ironman, uma das competições mais intensas do esporte. São mais de 220 km percorridos, com quase 4 km de natação, 42,2 km de corrida e insanos 180 km de ciclismo.

Natação
Reprodução | Unsplash (Jon Del Rivero)

Neste caso, até mesmo os atletas mais preparados do mundo sentem cansaço e dor – em grande intensidade, inclusive. Porém, a chave está em não se deixar vencer por isso e continuar na prova, rumo ao tão esperado final e à merecida medalha.

Logo, em meio a uma situação que leva o corpo ao extremo, não há outra forma de vencer senão correr em direção ao estresse. Caso contrário, a alternativa é a desistência, algo certamente indesejado e que deixaria de coroar todo o esforço investido ali.

O mesmo se aplica no contexto empreendedor. Especialmente quando se está em uma empresa com grande crescimento ou passando por momentos turbulentos, quer por mudanças abruptas ou mesmo por dificuldades, correr em direção ao estresse não é uma opção, mas sim uma necessidade.

Assim como a recompensa de um Ironman tem um sabor único e especial, o mesmo acontece depois de superar todo o estresse com a sua empresa e se chega àquele ponto tão alto, o qual muitos podem ter duvidado que fosse possível atingir.

Cabe trazer aqui duas citações que têm tudo a ver com o tema. A primeira é de meu sócio e amigo Bruno Nardon, e se você o conhece, é bem provável que já tenha ouvido essa frase:

“Não existe conforto na zona de crescimento. Não existe crescimento na zona de conforto.”

A segunda é de outra pessoa que admiro muito: Ray Dalio, fundador da Bridgewater Associates, maior fundo de hedge do mundo.

“Dor + reflexão = progresso.”

Desenvolver habilidades de relacionamento em equipe

Ninguém duvida que as pessoas estão entre os maiores bens de valor de qualquer empresa. Afinal, sozinho, é bem difícil chegar muito longe, para não dizer impossível.

Quem me acompanha nas redes sociais sabe que eu tenho um baita orgulho da equipe que construímos (e estamos construindo) aqui no G4 Educação. Neste sentido, honramos com mérito um dos nossos valores mais fortes: somos uma tropa de elite.

Porém, além de ter uma excelente equipe, é essencial saber como lidar com ela. Caso contrário, a ausência de sinergia pode fazer com que algo com tamanho potencial se transforme em um verdadeiro fracasso.

O esporte também nos ensina muito sobre isso. Afinal, para atingir os melhores resultados, é fundamental trabalhar bem com a sua equipe, já que todo atleta de sucesso tem vários outros profissionais que estão junto com eles.

Quando fui vice-campeão carioca de Muay Thai, em 2009, tenho certeza que só consegui alcançar essa marca graças a todo o apoio do meu professor. Sem a sua ajuda, não conseguiria melhorar minhas técnicas e práticas para extrair o máximo de meu desempenho.

Em esportes coletivos, a mesma lógica se aplica. Há casos em que a reunião dos melhores traz os resultados esperados, como o magnífico Dream Team, seleção de basquete dos Estados Unidos que foi campeã invicta e absoluta nas Olimpíadas de Barcelona, em 1992, e encheu os olhos de todo fã de esportes ao redor do mundo.

Dream Team 1992
Reprodução | GE

Porém, essa união, por si só, não é garantia do sucesso. O Real Madrid dos Galácticos, em 2003, tinha Figo, Zidane, Ronaldo e Beckham entre suas estrelas, mas passou longe de ser uma equipe soberana em conquistas.

Trabalhar bem com a sua equipe é a forma ideal de extrair o que há de melhor em cada pessoa e, consequentemente, do todo.

Tornar-se um líder melhor

Outra habilidade inerente ao esporte é a liderança. Seja em esportes coletivos ou individuais, saber como ser um bom líder é indispensável para otimizar o desempenho.

Ainda usando meu exemplo no Muay Thai, embora seja um esporte individual, eu precisava ter habilidades de liderança. Era necessário saber quando partir para a luta e quando evitá-la para guardar minhas energias, decisão que não cabia somente ao professor, mas também a mim.

Quando pensamos em esportes coletivos, isso se intensifica. Grandes equipes dos mais variados esportes contam com bons líderes para que toda a engrenagem funcione, estejam eles dentro dos campos e quadras ou fora deles.

De fato, existem vários tipos de liderança, e não quero aqui apontar apenas uma como sendo a ideal, já que isso depende de cada pessoa. Eu sou um grande adepto da gestão libertária, aplicada em meus negócios, como G4 Educação, Singu e Easy Taxi, ao longo dos últimos 20 anos, mas a escolha is up to you.

De qualquer forma, assim como é preciso ser um bom líder no esporte, o mesmo se aplica ao empreendedorismo. Decisões difíceis precisam ser tomadas, e se você deseja ser bem-sucedido, será sua responsabilidade assumir este papel.

Leia também: Líder do futuro: os 11 pilares que todos devem ter

Planejar estrategicamente

Você já parou para pensar porque alguns underdogs, esportistas e equipes menos cotados para desbancar os grandes, às vezes conseguem conquistar este feito, mesmo com um orçamento muito menor e uma capacidade de execução por vezes limitada?

Há várias respostas para esta pergunta, mas sem dúvidas, uma delas é o planejamento estratégico

O conceito de estratégia vem do meio militar e está relacionado à arte de tratar das operações e movimentos de um exército até chegar, em condições vantajosas, à presença do inimigo. Em outras palavras, potencializar forças e aproveitar-se das fraquezas do oponente.

Olhando para o esporte, o planejamento estratégico pode ser representado no fato de explorar fragilidades para ter vantagem. No futebol, por exemplo, se um dos defensores rivais é lento, colocar seu atacante mais ágil para enfrentá-lo pode ser uma válvula de escape para atingir a vitória.

No contexto empreendedor, não é diferente. Há bastante semelhança, inclusive, com a análise SWOT, em que você identifica suas forças e fraquezas, bem como oportunidades e ameaças, para avaliar sua posição competitiva.

Olhar para a sua companhia com um bom planejamento estratégico em mente pode fazer com que ela atinja resultados extraordinários.

Um exemplo de sucesso é o Nubank, que foi criado em maio de 2013 e, depois de pouco mais de oito anos, chegou à incrível marca de 40 milhões de clientes, investindo pesado em algo que os bancos tradicionais deixavam muito a desejar: Customer Experience.

David Vélez e Cris Junqueira, respectivamente CEO global e diretora presidente do Nubank

Esporte e empreendedorismo: dois universos intrinsecamente interligados

Viu como não é casualidade que muitos dos maiores e melhores CEOs e líderes de empresas de sucesso de todo o mundo são apaixonados por esportes? Mesmo em meio a uma rotina tão corrida, eles ainda reservam tempo para essa atividade que tem um grande peso na composição de seu caráter e comportamento.

Além de todas as lições práticas e aplicáveis que o esporte oferece aos empreendedores, quem cuida bem de sua saúde física e mental ainda tem o privilégio de ter mais qualidade de vida e, consequentemente, maiores chances de desfrutar de tudo o que construiu ao longo de vários anos no front.

Se você já pratica esportes, continue. Se não o faz, ainda é tempo de começar. Assim, suas chances de chegar mais longe como um empreendedor de grande sucesso tendem a ser ainda maiores do que suas capacidades naturais de gestão e liderança poderiam levá-lo.

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