Planejamento Estratégico: o guia de implementação
Portal G4
>
Todas as Matérias
>
Planejamento Estratégico: o guia de implementação

Planejamento Estratégico: o guia de implementação

Por:
Julian Tonioli
Publicado em:
24/3/2022

Para alguns empresários, o planejamento estratégico pode soar como um “sonho” ou um processo distante feito para grandes empresas. Seu negócio é volátil e está em constante mudança. Planejar para um ano todo, portanto, parece reduzir a sua adaptabilidade — que é tão importante para sobreviver.

Mas e se eu te dissesse que essa concepção está completamente equivocada?

Algumas das startups mais ágeis do mundo utilizam o planejamento estratégico como uma ferramenta de direcionamento da companhia e seus recursos, e não como um plano burocrático que precisa ser seguido à risca.

Especialmente empresas de pequeno e médio porte devem usar o planejamento estratégico. Por que? É simples: para aumentar suas chances de GANHAR nos mercados que atuam (e não apenas sobreviver).

Neste artigo, vou te mostrar como fazer um Planejamento Estratégico na prática e como você pode usá-lo para aumentar a velocidade, controle e impacto das suas decisões de negócios durante o ano todo.

Tudo pronto para começar?

Veja também: Guia de implementação do Planejamento Estratégico

O que é Planejamento Estratégico?

Planejamento estratégico são os processos que as lideranças de uma empresa criam para coordenar suas estratégias, táticas e operações durante um longo período de tempo.

Em outras palavras, é como a companhia decide que vai conquistar o que deseja (Propósito), a partir das habilidades e conhecimentos que possui (Capacidades) e das limitações do contexto em que atua (Ambiente).

Framework do triângulo estratégico. (Crédito: G4 Educação)

Na maioria das empresas, o planejamento estratégico é feito no início do ano. As principais lideranças da companhia se reúnem para apresentar seus insights sobre o desempenho de suas respectivas áreas no ano que passou, o que esperam para o próximo ciclo e o que planejam fazer para chegar aos resultados esperados.

Esses rituais de trocas intensas entre as lideranças normalmente duram por volta de 20-30 dias. Ao fim do processo, a companhia cria um mapa estratégico com as principais estratégias, táticas e ações que farão ao longo do ano para atingir seus objetivos.

Vamos a um exemplo real.

Rockwater, uma subsidiária de uma empresa global de engenharia e construção tem como missão ser a indústria líder do seu setor. No seu planejamento estratégico, os líderes da companhia “conectaram” essa missão a diversas estratégias, que por sua vez se conectaram a projetos para viabilizar a estratégia e, por fim, conectaram-se às atividades necessárias para colocá-los de pé.

Na prática, é isso que significa fazer o planejamento estratégico da companhia.

Framework do planejamento estratégico da Rockwater (Crédito: G4 Educação)

Por que toda empresa deveria fazer um planejamento estratégico? 

Convenhamos, é impossível prever com precisão como uma empresa vai performar durante o ano todo — especialmente nos primeiros meses. Muitas variáveis externas (mercado, economia, tecnologia, política, etc…) e internas (colaboradores, processos, concorrência) influenciam no desempenho do negócio. Então por que se dar ao trabalho de planejar com antecedência? 

No artigo “Tired of Strategic Planning?” para a McKinsey & Company, os autores Eric D. Beinhocker e Sarah Kaplan ressaltam duas vantagens competitivas de grande importância para a empresa: 

  1. Mentes preparadas - ao colocar os principais tomadores de decisão da empresa para discutir sobre o futuro da companhia, você garante que os envolvidos realmente entendam o contexto do negócio, suas estratégias e (principalmente) as premissas por trás da estratégia. Com isso, as lideranças são capazes de tomar melhores decisões à medida que as imprevistos e oportunidades surgem.
  2. Inovação encorajada - o processo de pensar sobre o negócio incentiva a inovação estratégica, ou seja, mudanças que melhoram algum aspecto do negócio, seja através do desenvolvimento de um tecnologia que aumenta a eficiência, seja através de um novo modelo de precificação que reduz o churn e aumenta o LTV.

Nas palavras do ex-presidente norte-americano Dwight D. Eisenhower: 

“Os planos são inúteis, mas o planejamento é indispensável!”

Os elementos de um bom planejamento estratégico

Não existe um planejamento estratégico perfeito. Toda companhia cria seus próprios rituais, processos e ferramentas para coordenar e alinhar as lideranças no planejamento do ano.

O que todas possuem em comum são momentos anuais dedicados exclusivamente ao planejamento estratégico da companhia. De acordo com uma pesquisa da McKinsey, CEOs de grandes empresa como GE, Coca-Cola e IBM gostariam de dedicar ao menos um terço do ano no planejamento estratégico.

Mas não há fórmulas mágicas. O que funciona para alguns negócios pode não fazer sentido para outros. O que todo planejamento estratégico precisa, no entanto, é ser coerente com os desejos da empresa e ser realizável no contexto do seu mercado.

No texto “How to Improve Strategic Planning” os autores Renée Dye e Olivier Sibony recomendam 5 ações fundamentais para o sucesso do planejamento estratégico: 

  • Entenda as motivações e desejos da empresa 
  • Selecione as pessoas “certas” para as reuniões
  • Adapte o ciclo de reuniões para as dinâmicas do seu negócio 
  • Utilize ao menos uma ferramentas de gestão estratégica

No vídeo abaixo, João Vitor Chaves (COO do G4 Educação) oferece uma forma prática de construir um planejamento estratégico do zero.

Planejamento Estratégico, Tático e Operacional

Por fim, para finalizar a base teórica e partir para a prática, é preciso dividir o Planejamento Estratégico em três dimensões:

  1. A Dimensão Estratégica define os objetivos a companhia quer conquistar no Planejamento Estratégico;
  2. A Dimensão Tática define como a empresa planeja conquistar esses objetivos;
  3. A Dimensão Operacional define quais as atividades operacionais necessárias para conquistar os objetivos.

Essa divisão permite que as lideranças de uma empresa definam o que planejam fazer, como pretendem atingir seus objetivos e quais as atividades necessárias para chegar lá.

O resultado da divisão garante que absolutamente todas as atividades propostas sejam vinculadas à Dimensão Tática e Dimensão Estratégica da empresa. Ou seja, toda ação faz parte de algo maior, que por sua vez tem um objetivo claro e métricas que mensuram o atingimento (ou não) do resultado esperado.

As etapas do Planejamento Estratégico

Como disse anteriormente, não existem fórmulas perfeitas sobre como fazer o planejamento estratégico. Diferentes ferramentas de gestão oferecerão diferentes nomenclaturas para o processo de criação do planejamento estratégico.

Agora, muito mais importante do que uma ferramenta específica para gerenciar o processo, é a compreensão dos princípios e conceitos por trás do planejamento estratégico.

Porque todo planejamento estratégico passa, invariavelmente, por 4 etapas — da construção inicial à execução/monitoramento.

  1. Conceituação. Etapa de definições gerais, desejos e objetivos abstratos do negócio.
  2. Fundamentação. Etapa de transformação dos conceitos em conjuntos de atividades e capacidades necessárias para atingir os objetivos.
  3. Planejamento. Etapa de coordenação e encadeamento das ações dentro do modelo do negócio.
  4. Detalhamento. Etapa de distribuição das atividades e projetos na cadeia operacional.

Não se preocupe. Vamos nos aprofundar em cada uma das etapas a seguir e mostrar como você pode colocá-las em prática na sua empresa.

#1 - Conceituação

Conceituação é tudo que efetivamente define a visão, ou seja, onde sua empresa quer chegar. Nesse ponto, é importante ir além de tópicos que são tidos como comuns nessa etapa, como inspiração e representação.

A conceituação precisa, de alguma maneira, mostrar o que será de fato entregue ao final, garantindo que sua estratégia seja executável. Por exemplo, a visão do G4 Educação é:

“Gerar 1.000.000 de empregos indiretos até 2030 e ajudar a transformar a realidade socioeconômica do país através da educação empreendedora.”

Essa visão precisa ser traduzida através de parâmetros que ajudem a entender como isso se desdobra na prática: 

  • A visão comunica a atuação da empresa?
  • É tangível? 
  • É capaz de mobilizar pessoas / há identificação? 
  • Pode ser memorizada facilmente? 

Note, que a partir da conceituação da visão, conseguimos ter um entendimento claro e simples do que realmente queremos, ou seja, se tudo que sua empresa almeja der certo, qual será o resultado no final?

Como aplicar na prática: pergunte a si mesmo e aos sócios da companhia o que pretendem conquistar com a empresa. Qual é o grande sonho que as lideranças compartilham? A partir disso, defina objetivos estratégicos que “traduzem” o sonho em números tangíveis.

Por fim, faça uma adequação do número para o ciclo do planejamento estratégico (1 ano, por exemplo).

#2 - Fundamentação

Uma vez que a etapa anterior alinhou toda a companhia na mesma direção e definiu alguns indicadores de resultado esperado, agora é hora de conceber as iniciativas estratégicas que farão com que o negócio vá do ponto A para o ponto B.

Em outras palavras, a Fundamentação é a etapa em que saímos do mundo dos sonhos e pensamos como transformá-los em realidade.

Uma iniciativa estratégica - ou projeto estratégico -, é um alvo que ajudará seu negócio a se atualizar e realizar seus objetivos. Diferente dos objetivos, que são mais aspiracionais, as iniciativas precisam passar por uma Matriz 5W2H para ter as perguntas mais importantes respondidas:

  1. O que será feito? 
  2. Como a iniciativa será executada? 
  3. Por que essa iniciativa foi proposta? 
  4. Quem será o responsável?
  5. Quando será concluída? 
  6. Onde a iniciativa acontecerá?
  7. Quanto custará para empresa? 

Como aplicar na prática: com os objetivos em mãos e alinhados com os sócios, faça um esboço das iniciativas que você julga necessárias para atingir o resultado esperado. Depois de uma rodada com os sócios, faça uma rodada com os principais líderes, para que possam colocar suas visões (oportunidades e limitadores) específicas das suas áreas.

Ferramenta gratuita: baixe a matriz 5W2H agora!

#3 - Planejamento

A etapa de Planejamento consiste em conectar os objetivos mapeados na primeira etapa às iniciativas criadas na segunda etapa, para:

  1. Identificar competências e recursos necessários para colocar os projetos em pé;
  2. Garantir que as iniciativas sejam priorizadas a partir do que gera maior impacto para o negócio com o menor esforço.

É importante ressaltar que essa avaliação de competências e recursos poderá gerar demanda por cadeiras na companhia, ou seja, pessoas com habilidades e conhecimentos específicos para operacionalizar o projeto.

Quando as contratações são feitas dessa forma, tanto os líderes quanto o colaborador sabem exatamente o que é esperado deles. E isso é ótimo para a companhia!

Como aplicar na prática: faça um mapa estratégico, com os objetivos e iniciativas para o próximo ano (como no exemplo da Rockwater). Avalie o quão executável são as iniciativas e objetivos. Tenha coragem para ousar nos objetivos, mas seja realista na execução. Corte o excesso. Incentive a inovação.

#4 - Detalhamento

Por fim, o resultado desse material é a combinação do objetivo macro, valores,  objetivos estratégicos e as metas de cada projeto/iniciativa, traduzidos em termos de receita, custos e investimentos. Essa etapa dará suporte e estrutura ao planejamento.

É neste momento que é criada a Modelagem Operacional — normalmente liderada por um especialista financeiro — que nada mais é do que um documento de acompanhamento mensal/trimestral dos objetivos que apresentam o status atual dos KPIs, em comparação com o número que deveriam estar.

A etapa só é encerrada quando todas as iniciativas e objetivos estão detalhados e podem ser acompanhados mês a mês, trimestre a trimestre, com seus principais indicadores de desempenho e orçamento planejado vs utilizado.

Como aplicar na prática: documente em uma ferramenta de sua preferência. Existem ferramentas específicas para a gestão do planejamento estratégico, mas isso depende do nível de maturidade e profundidade do seu planejamento. Para aqueles que estão começando, muitas vezes uma planilha já é o suficiente.

Ferramentas de gestão do Planejamento Estratégico

Existem algumas ferramentas razoavelmente comuns na gestão do planejamento estratégico. Mas a verdade é que a decisão pela adoção de uma ou outra varia muito.

A ferramenta mais popular, especialmente entre empresas tradicionais, é o Balanced Scorecard. Ele oferece uma visão mais equilibrada sobre os principais aspectos para a prosperidade do negócio, que vão além da perspectiva financeira.

Ferramenta gratuita: baixe o Balanced Scorecard do G4 Educação 

Por outro lado, a gestão por OKRs tem ganhado cada vez mais aderência, devido à agilidade e incentivo à mensuração detalhista.

Ferramenta gratuita: baixe o guia de gestão por OKRs

Por fim, as NCTs começaram a ganhar espaço nos últimos anos, por sua simplicidade  de uso e acompanhamento.

Vá mais longe: tudo que você precisa saber sobre NCTs 

Os erros mais comuns no Planejamento Estratégico e como evitá-los

O planejamento estratégico pode gerar verdadeiras armadilhas para os líderes de uma companhia. O motivo é simples: planejar é a parte “fácil”. Em um cenário cada vez mais volátil, competitivo e imprevisível, o planejamento estratégico é só o começo do processo. 

Ser capaz de se adaptar continuamente às mudanças repentinas no comportamento do usuário, no contexto político-econômico ou mudanças imprevistas internas é a chave do sucesso.

Para aproveitar o verdadeiro valor do planejamento estratégico, evite cometer erros como: 

Não entender o que é estratégia na prática

É preciso ter em mente que sem uma boa estratégia, ou seja, a resposta de como chegamos no lugar desejado, não conseguirá avançar de maneira promissora, por isso, investir tempo para elaborá-la é fundamental.

Uma má interpretação desse conceito pode comprometer negativamente um planejamento.

Tenha em mente que a estratégia deve responder a uma só pergunta: como alcançamos o objetivo levando em consideração nossas competências e as limitações do ambiente? 

Conexão entre tarefas e objetivos

O que sua empresa está se propondo a fazer e a execução para que seja alcançado faz sentido? Ou seja, é necessário estabelecer uma relação coesa entre o processo de definir objetivos e como alcançá-los, do contrário, você não conseguirá atingir seus resultados.

Muitas vezes, por falta de sinergia entre tarefa e objetivo, não conseguimos os resultados esperados. Não necessariamente porque o objetivo não é alcançável, e sim, porque está sendo buscado de uma maneira ineficiente.

Se acomodar com o planejamento 

O exercício de previsão dos principais indicadores de uma companhia pode gerar a percepção (errada) de que é possível “controlar” o futuro. Mas a verdade é que são poucas as vezes que conseguimos analisar com precisão o que acontecerá nos próximos meses. 

Nesses momentos, a “segurança” do planejamento faz com que os gestores sigam com um plano que foi pensado para outro contexto — a fórmula para o desastre.

Para escapar dessas armadilhas, Roger L. Martin (um dos maiores especialistas em estratégia do mundo) propõe três regras que precisam ser seguidas à risca:

  1. Mantenha as estratégias simples - não há nenhuma razão pela qual as estratégias precisam ser longas ou com palavras difíceis. No fim do dia você precisa fazer com que seu cliente compre seu produto/serviço;
  2. Reconheça que estratégia não é sobre perfeição - as melhores estratégias são “apostas” que gestores fazem. Planejamento não é eliminar os riscos e sim aumentar as chances de sucesso; 
  3. Deixe a lógica da estratégia explícita - se estratégias são apostas, deixe claro para todos no que você está apostando. Seja no comportamento do cliente, na percepção de valor do seu produto, etc… 

Planejar nada mais é do que tentar traduzir onde queremos chegar, definindo um conceito, alavancas básicas para execução, objetivos alcançáveis e portanto entregáveis, iniciativas estratégicas e ações necessárias para implementação.

Ou seja, constitui-se em sua essência, como um conjunto coordenado de ações e atividades, e um modelo de acompanhamento.

Matérias relacionadas
Thank you! Your submission has been received!
Oops! Something went wrong while submitting the form.
Algum termo te deixou com dúvidas?
Saiba o que significa no nosso glossário do empresário.
Acessar agora