Entre os grandes investidores, parece ser instintivo: nem sempre um excepcional benchmark garantirá um lugar ao sol, é preciso ter convicções e timing para grandes líderes e ideias.
Não existe uma única maneira de ser um grande investidor. Alguns fundos de investimento alcançam o sucesso sendo ágeis em suas decisões; outros dependem de intensa abordagem e estratégia. Um investidor pode aportar nas startups mais quentes do mercado, enquanto outro capitaliza nas ideias que ainda estão incipientes.
Tudo isso para dizer que é improvável que a “sabedoria atemporal” de apenas um grande investidor ressoe universalmente. Segundo Mario Gabriele, fundador e editor do The Generalist, parte da graça em estudar as grandes venture capitalists é descobrir as diferentes maneiras que elas competem.
Segundo um gráfico elaborado pelo Statista, a maior concentração de aportes de capital de risco (Venture Capital), de 2013 até o terceiro trimestre de 2021, está em startups das Américas - corresponde a mais de 50% de todos os investimentos da modalidade feitos em escala global.
O continente asiático vem na sequência, com uma participação de quase 30% de todos os investimentos de capital de risco, enquanto a Europa teve menos de 20% do total de aportes durante o mesmo período. Diversas escolas, com diversas abordagens.
Fundos como Union Square Ventures, Coatue Management, Multicoin Capital, DST Global, Y Combinator e Tiger Global podem até ir atrás da mesma empresa, mas muitas vezes parecem estar praticando esportes diferentes.
Mario Gabriele, do The Generalist, decidiu então, repassar por essas estratégias e extrair 10 lições que considerava valiosas. No mínimo, em suas palavras, “lições que incitem novos pensamentos à medida que você começa a investir ou construir seu próprio negócio”.
Esses são os conselhos de 8 grandes investidores para atingir o sucesso. Confira!
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“A sorte é onde a oportunidade encontra a preparação”.
Sêneca, filósofo
O fundo Crossover Coatue Management exemplifica bem essa afirmação. Uma de suas armas mais eficazes para obter sucesso em um investimento era fazer um minucioso benchmark do negócio antes de se encontrar com seu fundador. Chegar à reunião com a lição de casa feita.
Essa abordagem ajudou a Coatue a acessar empresas como Snap e Lyft. Embora conduzir um “pitch reverso” nem sempre seja adequado – especialmente em rodadas mais incipientes – chegar com o máximo de contexto possível demonstra um interesse a mais pelo problema que uma startup está resolvendo.
Também ajuda a levar as primeiras conversas para além da formalidade e da boa educação, para uma discussão mais significativa.
Venture capitalists são frequentemente criticados por serem impulsionados pelo FOMO - acrônimo para “Fear of missing out”, ou em tradução livre, “medo de ficar de fora”. Segundo o fundador do The Generalist, “os céticos argumentam que os investidores de risco costumam seguir os sinais sociais, sempre em busca das rodadas mais quentes”.
Isso quer dizer que se o Sequoia Capital liderar um investimento, já funciona como prova suficiente para embarcar na empreitada. O problema é que tomar emprestado a convicção de outro negócio impede que você desenvolva a sua própria tese, seus próprios princípios de investimento.
A Multicoin Capital é um excelente exemplo de um fundo que opera a partir de sua tese, daquilo que acredita serem seus princípios. Isso mostra janelas que não estão abertas para todos, porque cria identidade aos investidores.
Quando o ecossistema de criptomoedas se concentrou no Ethereum, a Multicoin se convenceu da necessidade de uma alternativa que operasse em alta velocidade. Esse pensamento acabou levando ao seu investimento na Solana.
Os melhores investimentos muitas vezes parecem contraproducentes para o resto do mercado. Nem sempre ir atrás do consenso é uma estratégia adequada para a necessidade do seu fundo. Uma das maneiras de encontrar as grandes ideias com consistência é pensar a partir da sua própria tese, dos seus primeiros princípios.
De acordo com Mario Grabriele, “é comum ouvir os venture capitalists dizerem que investem em pessoas, não em ideias”. Ele quer dizer que a incerteza inerente ao contexto de prototipação de uma startup significa que se apegar muito a uma ideia em particular pode soar contraproducente.
Desenvolve-se então todo um discurso de foco por trás dos construtores excepcionais, aqueles que levarão meras ideias ao olimpo das mais geniais, com capacidade de execução como ninguém outro.
A Union Square Ventures não é um fundo de investimento que adere a essa abordagem. Embora a empresa se preocupe com quem está por trás de um projeto, ela está mais disposta ainda em aportar em ideias excepcionais.
Twitter, Etsy e Tumblr são exemplos de empresas criadas por fundadores que muitos outros investidores rejeitaram. A USV viu além disso e reconheceu a singularidade de cada um desses negócios. A ideia, mais do que qualquer outra coisa, era o que contava.
Não caia em jargões do Vale do Silício, questionando o valor de uma ideia. Enquanto grandes fundadores e excelência operacional desempenham papéis essenciais no sucesso de uma startup, ideias únicas são a engrenagem de crescimento.
Normalmente, o grande timing está associado aos investidores do mercado público. Aqueles que sabem quando entrar ou sair de uma posição são elogiados como gerentes excepcionais.
Timing é outro elemento chave para esse tipo de investimento. A USV mostrou um talento notável para cronometrar seus investimentos. Aportou no Twitter antes que a rede social se tornasse essa gigante da tecnologia e a Coinbase quando o bitcoin era considerado trivial.
Tão crucial quanto entrar, a USV reconhece quando é hora de sair de seus investimentos. Isso parece resultar da intuição, experiência e uma abordagem estruturada.
Os investidores devem estudar a história do mercado, desenvolver convicção sobre as tendências e criar uma estrutura para sair de posições para adicionar um senso de oportunidade ao seu arsenal.
A Y Combinator é talvez o melhor exemplo de uma empresa que trata o investimento como um desafio de produto. Além de seu renomado programa de aceleração, a YC desenvolveu um conjunto de produtos adicionais, incluindo uma rede social interna e uma plataforma de contratação.
A YC faz seus investimentos em startups em estágio inicial. Essas ferramentas ajudam os empreendedores a enfrentar seus desafios mais recorrentes, permitindo que eles construam seu networking e recrutem talentos, em um ecossistema que vai muito além do aporte financeiro.
O resultado é uma entidade que investe como uma venture capitalist, mas que pode apoiar startups ao longo de sua vida útil, em escala, pré e pós aceleração.
De certa forma, a ascensão do modelo Solocapitalists é surpreendente. Como um único investidor pode competir com fundos munidos dos melhores recursos?
Mover-se rapidamente é, sem dúvida, parte do apelo de investidores solo, ou investidores anjo que constroem sua própria cartela de investimentos. Os últimos dois anos foram especialmente competitivos, e poder decidir sem os entraves de uma grande hierarquia corporativa tem sido um imperativo para aportes vencedores.
A vantagem mais tangível e durável de um solocapitalist, para o editor do The Generalist, parece ser um senso de empatia. Muitos desses investidores possuem experiência operacional excepcional e ainda estão muito próximos do mercado. Elad Gil, Lachy Groom e Josh Buckley se encaixam nesse molde.
Em um setor que pode parecer impessoal, a empatia tem valor.
Desde sua estreia em 2001, o fundo de Chase Coleman passou por várias facetas.
O que começou como um hedge fund focado em ações de telecomunicações, passou a abraçar mercados emergentes, especialmente China e Índia, e capital de risco.
Como poucos, a Tiger Global demonstrou o valor da adaptabilidade, refinando sua abordagem para se adequar às oportunidades. A velocidade com a qual transformações disruptivas acontecem é sem precedentes — e se adaptar parece ser um imperativo inegociável.
Observamos a concorrência sendo impactada transversalmente, isto é, mercados que antes não brigavam diretamente, agora precisam olhar para uma mesma direção. De repente, plataformas de ride-sharing estão se tornando fintechs.
Em 2009, Yuri Milner investiu US$ 200 milhões no Facebook, com uma avaliação de mercado de US$ 10 bilhões. Na época, outros investidores sentiam que o valor justo da rede social trafegava entre US$ 1 bilhão e US$ 4 bilhões.
A DST estava disposta a investir nesses termos porque sua equipe tinha uma visão incomum sobre o potencial de monetização das redes sociais. Milner esteve intimamente envolvido na criação e crescimento de várias plataformas russas, observando como elas transformaram a atenção do consumidor em receita publicitária.
Foi um exemplo clássico de estratégia global da DST. De fato, o fundo de Milner prosperou primeiro identificando novos modelos de negócios de alto potencial e depois encontrando vencedores nos mercados nacionais.
Ela transformou mercados através da Gojek, Rappi, Deliveroo, Doordash, Kavak, Auto1 e Cars24. Esses investimentos abrangem países e continentes, mas compartilham um DNA fundamental.
Cada vez mais, grandes empresas são construídas fora dos Estados Unidos. Fundos como DST Global são construídos para encontrá-las.
Segundo Mario Gabriele: “acompanhar o trabalho da Sequoia e conhecer algumas de suas empresas de portfólio forneceu algumas dicas. Uma das características que mais se destaca é a sinceridade em expressar verdades impopulares”.
A Sequoia é ostensivamente franca com os empreendedores que apoia. Também traz essa franqueza para o mercado. O memorando “R.I.P. Good Times”, compartilhado durante a crise de 2008, é um excelente exemplo. No texto, a Sequoia percorreu a turbulência econômica e o efeito prejudicial que provavelmente teria no mercado de risco.
Embora a Sequoia, como protagonista, tenha se posicionado com perspectivas relativamente sombrias, ela ajudou muitos a navegar pela incerteza. No início deste ano, compartilhou uma série semelhante de materiais com seu portfólio, intitulada “Adapting to Endure”.
Mais uma vez, destacou as dificuldades do ambiente provocado pela pandemia da COVID-19 e aconselhou uma ação decisiva.
A honestidade nem sempre pode ser bem recebida no momento. Mas a longo prazo, é essencial ganhar a confiança e o respeito dos empreendedores. Sequoia faz isso bem.
Entre os grandes investidores, nem sempre um excepcional benchmark garantirá um investimento certeiro. Parece que as estratégias levantadas por Mario Gabriele, fundador e editor do The Generalist, partem de premissas como convicção, fator humano e timing para grandes ideias.
Um pouco do valor intangível de um investimento, que retorna avassalador a longo prazo. Talvez esse seja o ponto de fricção que impele os VCs ao capital de risco. Desvendar as minúcias de um possível aporte, muitas vezes em momento incipiente, para compreender seu retorno lá na frente.
O Vale do Silício sempre fez questão de levantar a bola: são os construtores, ou as ideias? Dentre os fundos de investimentos mais famosos do mundo, há instinto para ambas as facetas de um negócio. Há evidências para isso.
Há casos os quais foram os construtores os responsáveis por manter seus empreendimentos vivos e há casos os quais as ideias eram simplesmente geniais. Saber equilibrar e entender o momento certo para entrar e sair dessas ondas é uma questão também de timing.
As reflexões levantadas por esses grandes investidores passam também pela Imersão G4 M&A, a oportunidade de aprender com mentores que já participaram de mais de quinhentos processos (somados) de captação de investimento, fusões e aquisições de empresas, em uma trilha de aprendizado prática, aplicável e moderna.